Baptista-Bastos –
Diário de Notícias, opinião
Passos diz que
talvez; Portas diz que sim; Maduro diz por conseguinte; Pires diz que não;
Albuquerque diz que vamos ver. Nestas confusas afirmativas, as convicções
evaporaram-se. Ninguém, no Governo, está de acordo com coisa alguma; ninguém
nos convence e ninguém acredita. Surge o dr. Cavaco, o Presidente que não o
sabe ser, e ressuscita a necessidade do "compromisso", cujo
significado é uma amolgadela no sentido histórico da palavra. Impossível, no
momento, qualquer associação entre o PSD e o PS. Já a houve, mas ambos os
dirigentes dos dois partidos beneficiavam de condições pessoais que permitiam a
união, e a época dirimia-se em turbulenta luta de classes. Nessa altura, chegou
a falar-se na fusão do PS e do PSD, tal as semelhanças que os relacionavam.
Essa hipótese da
comunidade de ideias, de projectos e de processos de poder, insinuada por
alguns daqueles que, nos dois partidos, já se afeiçoavam às doutrinas
neoliberais, suscitou um movimento de repulsa, e a ideia pulverizou-se. Mas
deixou sementes, a atentar em alguns artigos e declarações públicas, embora
evasivas e tímidas, de dirigentes, sobretudo do PS, a conceitos conservadores.
A verdade é que, amiúde, as opções políticas do Partido Socialista se têm
confundido com as do PSD, e as coligações com a Direita, ao longo dos anos, já
não causam as perplexidades iniciais.
A sociedade
política portuguesa é um mimetismo do que ocorre na Europa, e o extravio
ideológico dos socialistas e dos sociais-democratas, acentuado com a queda do
Muro, como símbolo, concorre e estimula para o distúrbio. O mundo acelera--se,
e elide-se a resposta à crise com a afirmação de que a mudança é imperiosa e
necessária. Não se trata, unicamente, de "mudança": sim da imposição
brutal de um novo paradigma a que assistimos impotentes. A Europa social,
fundamento da sua razão de ser, está a passar do normal ao patológico,
provocando abismos dolorosos entre os povos e entre as nações.
A nova camada que
dirige os destinos do nosso país resulta dessa "desincorporação" dos
princípios e da ausência de uma Esquerda que não consegue enfrentar o que a
Direita imputa. É confrangedor ouvir o que eles dizem, como é penoso assistir
ao discurso da Esquerda, rotineiro e entediante.
Quando o Marcelo
pede, dramático, que os governantes Maduro e Rosalino sejam suprimidos das
funções que nulamente exercem, ele sabe, muito bem, o que distingue um pavão
medíocre de um funcionário competente. Porém, os outros não são melhores. De um
lado e do outro. A nossa desdita vai, certamente, dilatar-se. E os ventos que
sopram da Alemanha não são de molde a ficarmos satisfeitos. As restrições aos
países "periféricos", claramente asseguradas nos discursos de Merkel,
não se fidelizam à solidariedade. A política deixou de ser missão e devoção para
representar a face imunda do "negócio."
(Por decisão
pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
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