Direto da Redação,
em Espaço Livre
Muito embora, desta
vez, não esteja envolvido no caso como protagonista principal, o Ministro
Joaquim Barbosa deve ter vibrado com a prisão da jornalista Cláudia Trevisan,
correspondente do jornal Estado de São Paulo. Ela procurou-o por telefone,
interessada em entrevistá-lo durante a estada do ministro nos EUA, mas teve o
pedido de entrevista negado por JB. Até aí, nada demais. Todos sabem que JB
odeia jornalistas e não se poupa de mandá-los chafurdar na lama. Só que esta
intrépida jornalista não se deu por vencida. Avisou a assessoria de JB que
estaria no hall do prédio da Universidade de Yale, onde ele faria palestra em
um seminário e tentaria ainda assim entrevistá-lo. Ela foi até a universidade
na data e horário em que o ministro proferiria a palestra. Mas, dentro do
campus, logo antes de chegar no prédio onde estava JB, ela foi identificada por
policiais que já estavam alertas sobre a tentativa de entrevista (quem
adivinhar como os policiais sabiam da ida dela até lá ganha uma miniatura do MacGyver).
E o que se segue?
“Uma destas situações que seriam vergonhosas, antidemocráticas e, numa visão
bem estadunidense, típicas de país que precisa de corretivos, como Iraque,
Afeganistão ou Síria (bola-da-vez da mira do império ianque): os policiais identificaram
Cláudia e a prenderam, por “invasão de propriedade”. De nada adiantou ela
protestar, por encontrar-se numa área da universidade aberta a acesso público.
Colocaram-na sob algemas e tudo mais, como se ela fosse uma trombadinha pega em
flagrante delito. A profissional da imprensa brasileira foi assim tratada e
mantida, sob a truculenta e vexatória detenção policial, durante as 4 horas
seguintes. Por pura coincidência, foi o tempo necessário para o ministro
completar sua palestra e ir embora.. Este é mais um episódio que entra para o
rol das bizarrices obtusas que costumam ocorrer por onde circula a eminência de
Joaquim Barbosa.
Em nota oficial,
vide abaixo, o porta-voz da universidade esgarça-se pelo avesso na tentativa de
limpar a lama que respingou deste episódio no currículo da própria Universidade
de Yale, tudo em vão. A direção desta importante casa de ensino estadunidense
submeteu-a ao vexame de cumprir o papel baixo e ralo de ordenar a detenção
desta jornalista, que estava em local público e que exercia regular e
legitimamente sua profissão (talvez até com algum denodo, inspirada nos
exemplos cults de seus colegas estadunidenses Bob Woodward e Carl Bernstein).
Como diriam alguns, esta prisão em Yale seria apenas um acontecimento
“peculiar”, bem ao estilo Joaquim Barbosa, não ocorresse no seio de uma notória
universidade produtora de cultura e de ciências nas terras de Tio Sam, país que
se autoproclama “o paraíso” da democracia e “matriz mundial” da liberdade
(especialmente, a liberdade de imprensa).
Vivemos todos agora
aquele momento “mágico” em que a imprensa conservadora brasileira, aquela que
adora adular JB e lançá-lo toda semana para “Presidente da República”, cala-se,
fecha-se em copas, sem publicar rigorosamente nada a respeito desta infamante e
vergonhosa notícia, porque é de seu interesse que assim seja. Um daqueles
silêncios ensurdecedores. Todavia, se alguém do governo cogitar tratar de algum
“marco regulatório” para a imprensa, os mesmos jornalões saem a campo,
vociferando histericamente e bradando aos sete ventos: “há um golpe totalitário
em curso” e “estão querendo atentar contra a liberdade de imprensa no Brasil”.
É mole?
Contribuição de
Rogério Guimarães Oliveira, advogado em Porto Alegre (RS). Email: rgo@via-rs.net
* Este espaço é
preenchido com a colaboração dos leitores. Os textos serão publicados de acordo
com a oportunidade do tema e/ou seguindo a ordem de recebimento.
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