sábado, 5 de outubro de 2013

Moçambique: PAÍS DE COBARDES

 

Verdade (mz) - editorial
 
A liberdade dos povos, em qualquer parte do mundo, foi conquistada com sangue, abnegação, privação e sacrifícios hercúleos. A história de Moçambique é a prova disso. Foi preciso jorrar sangue das gerações de outrora para o país ganhar a sua soberania. Houve muita traição pelo caminho e soldados que apunhalaram pelas costas a causa comum. Os que venceram criaram os seus heróis e diabolizaram os seus oponentes.
 
Até nos países onde as mudanças tiveram um condão, diga-se, pacífico o chão continua coberto de sangue dos activistas da liberdade que tombaram pela arrogância dos que se julga(va)m donos e senhores dos direitos fundamentais dos demais. A democracia não seria possível sem a guerra dos 16 anos. Independentemente da causa primária da Renamo foi, diga-se, um processo manchado de sangue o que corrobora que não há liberdade sem sacrifício.
 
A liberdade de imprensa em Moçambique, por exemplo, floresceu com o sangue de Cardoso. Portanto, a narrativa nacional sobre a luta pela determinação jorrou, regra geral, do povo e de grandes homens, esse líquido vermelho que corre nas veias do ser humano. O fiasco da cesta b(fr)ásica só foi criado depois do sangue de Hélio regar a Avenida Acordos de Lusaka. Ou seja, tudo o que conseguimos envolveu sangue. As eleições de Daviz Simango e Manuel de Araújo, em contextos diferentes, contaram com sangue e injustiças. Agressões desnecessárias e a força das armas e das bastonadas de uma Polícia não foram suficientes para impedir as revoluções na zona centro.
 
Portanto, tudo foi conseguido com sangue. Não há meio-termo para libertar o país da garra dos opressores fantasiados de libertadores. Eles defendem o país que acreditam ser sua pertença com armas, perseguições e sonegação da liberdade. O que vemos, nos dias que correm, é que há muito pouca gente desposta a dar o seu sangue pela liberdade. Permanecemos, todos, em cima do muro a lançar impropérios, mas ninguém sai à rua para pregar um novo caminho.
 
Apenas protegidos por um computador é que conseguimos gritar: “ladrões, corruptos...”. Isso todo o mundo já sabe, mas não faz nada. Será que estamos dispostos a libertar o país dos opressores com o nosso próprio sangue? Ou vamos continuar a deixar ficar recados protegidos em condomínios e no conforto dos nosso carros topo de gama? Quando é que vamos abandonar a Julius Nyerere, as Somerchield 1 e 2 para falar para as massas? Quando é que vamos apoiar com instrução os povos oprimidos da periferia da torre de marfim onde habitamos?
 
Jamais seremos livres. Nós só gritamos, mas não abdicamos de uma única gota do nosso sangue pelo próximo. Somos mesmo um país de cobardes...
 
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