Carla Romualdo - Aventar
No país onde se
paga a electricidade mais cara da Europa, a EDP cortou hoje, com o apoio da
polícia, o fornecimento de electricidade no bairro do Lagarteiro, um dos bairros
mais pobres do Porto. Dezenas de moradores com facturas em atraso, muitos
deles considerados pelos serviços sociais da Junta de Campanhã como em situação
de “emergência social”, ficaram sem luz, sem aquecimento, sem fogão para
cozinhar, porque não podem pagar o que a EDP exige. Entre eles, havia gente com
crianças pequenas e até, como mostra a reportagem
da RTP, um deficiente motor que, a partir de hoje, deixa de poder
recarregar a cadeira de rodas eléctrica.
“Electricidade mais
cara da Europa” não é figura de estilo nem recurso demagógico. É isto: ver
quadro em cima.
E se mais detalhes
quiserem conhecer, recomendo-vos este
estudo elaborado pela consultora finlandesa VaasaETT, e onde fui buscar o
anterior gráfico. E a EDP não se debate, como sabem, com dificuldades que
ponham em risco a sua subsistência, antes reparte lucros milionários a uma
elite de gestores e accionistas. Por tudo isto, o que hoje se viu, com a
cumplicidade do Governo, é mais um acto indigno num país em que se perdoam os
grandes corruptos, fecha-se os olhos a quem se esquece de declarar milhões no
IRS, despejam-se milhões para tapar os buracos da ganância de meia dúzia de
banqueiros, e se trata com mão de ferro os mais pobres.
O que é legal nem
sempre é justo. O que a EDP fez hoje, sendo legal, é um atentado à dignidade
humana. Quando a lei é injusta, a desobediência impõe-se. Por isso, se esta
noite a luz for resposta ilegalmente em cada casa onde a EDP a cortou, e se de
cada vez que for cortada novas mãos conectem esses cabos, estaremos perante uma
acção justa e solidária e quem a executar estará apenas a assegurar o acesso a
um direito que é de todos.
Leia mais em
Aventar
Sem comentários:
Enviar um comentário