Ana Sá Lopes – jornal i, opinião
Se os cortes são
para “persistir”, é uma alucinação bolivariana falar de “viragem”
Qualquer português
de bom senso gostaria que fosse verdade o mais recente pregão do governo: o de
que o “milagre económico” está ao virar da esquina. Ontem, o debate do Orçamento
do Estado foi mais uma vez marcado por anúncios de milagres, de retomas, de
viragens económicas e de visões religiosas. Todas estas alucinações se parecem
demasiado com aquelas que Nicolás Maduro tem quando vê Hugo Chávez nas paredes
de Caracas. Maduro vê Chávez, Maria Luís Albuquerque vê “o momento da viragem”,
mas a ciência ainda não identificou nem a vida depois da morte nem o
crescimento depois da espiral recessiva.
Se “a austeridade é
para continuar”, os cortes para “persistir” e a procura interna para comprimir,
é uma alucinação bolivariana identificar “o verdadeiro momento de viragem”
e muito menos “o milagre económico” anunciado aos portugueses pelo novo ministro da Economia, António Pires de Lima, na semana passada.
e muito menos “o milagre económico” anunciado aos portugueses pelo novo ministro da Economia, António Pires de Lima, na semana passada.
As alucinações são
acompanhadas da tentativa de reatar o “compromisso com o PS”, através da
utilização de processos de chantagem cada vez mais requintados. Os portugueses
foram ontem informados pelo senhor primeiro--ministro de que a culpa de os seus
impostos não serem mais baixos é do PS, porque se recusa a dar o ámen à reforma
do Estado e à redução da despesa pública. “Quem se recusar a este compromisso
estará a sacrificar a redução da dívida [...] e estará a sacrificar a
necessária redução da carga fiscal e o crescimento da economia”, segundo Passos
Coelho, numa declaração mirabolante vinda de um governante com maioria absoluta
que não conseguiu reduzir dívida nenhuma, nem carga fiscal, e dificilmente
vislumbrará o crescimento da economia. Culpar o PS por isto é acreditar que os portugueses
são pouco inteligentes e que desculpam a Passos o facto de a famosa “retoma”
vislumbrada há um ano e pouco pelo chefe do governo numa festa do partido nunca
ter acontecido.
A manutenção de um posto de trabalho do governo em anos de troika parece, aparentemente, incompatível com mínimos de sanidade. Veja-se Álvaro Santos Pereira, sobejamente criticado dentro e fora de portas pela sua falta de jeito e de meios para recuperar a economia, que ontem veio dizer uma verdade inconveniente: a austeridade cega pode levar ao regresso das ditaduras à Europa. “Se não tivermos uma solução europeia, arriscamo-nos a ter novamente ditaduras na Europa”, disse Álvaro. Sair do governo faz bem à saúde.
Leia mais em jornal
i
Passos faz depender baixa de impostos de acordo com Seguro
Passos faz depender baixa de impostos de acordo com Seguro
Sem comentários:
Enviar um comentário