Joana Azevedo Viana com Lusa, em jornal i
Paris convoca
embaixador dos EUA para pedir explicações sobre registo de mais de 70 milhões
de telefonemas em 30 dias, incluindo de políticos
O primeiro-ministro
francês disse-se ontem "chocado" com as informações divulgadas sobre
espionagem norte-americana a chamadas telefónicas de cidadãos franceses.
"Estou
profundamente chocado. É inacreditável que um país aliado como os Estados
Unidos possa chegar ao ponto de espiar tantas comunicações privadas sem
qualquer justificação estratégica, qualquer justificação de defesa
nacional", disse , Jean-Marc Ayrault em Copenhaga.
O primeiro-ministro
francês pediu aos Estados Unidos "respostas claras que justifiquem as razões
pelas quais essas práticas foram utilizadas e, sobretudo, que criem as
condições de transparência para que lhes seja posto termo". "É a
própria base da confiança entre nós" que está em causa, acrescentou.
Questionado sobre
se França vai interpelar o presidente norte-americano, Barack Obama, Ayrault
afirmou que cabe ao presidente francês, François Hollande, "decidir as
disposições que se impõem" e acrescentou: "Definitivamente, impõem-se
medidas e elas serão tomadas". Até ao fecho da edição, mais nenhuma
informação foi avançada.
Horas antes, o
ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Laurent Fabius, anunciou ter
"convocado de imediato" o embaixador dos EUA em Paris para
explicações. A representação diplomática americana na capital francesa negou,
de imediato, que os EUA tenham estado envolvidos em qualquer tipo de
ciberataque ao governo francês.
As declarações e
acções dos dois ministros surgiram após a publicação de uma notícia ontem pelo
jornal "Le Monde" a dar conta de que a Agência Nacional de Segurança
(NSA) norte-americana fez 70,3 milhões de registos de dados telefónicos de
franceses num período de 30 dias, entre 10 de Dezembro de 2012 e 08 de Janeiro
de 2013.
Os milhões de
escutas integram documentos confidenciais da NSA que o ex-consultor da agência,
Edward Snowden, tem revelado nos últimos meses.
De acordo com os
documentos fornecidos pelo norte-americano exilado em Moscovo, as gravações da
NSA incluem escutas a suspeitos de terrorismo, bem como a políticos e agentes
económicos, passando por artistas franceses e civis.
No artigo do
"Le Monde" não é, contudo, especificado se o conteúdo das chamadas e
mensagens de texto a que a NSA acedeu ficou armazenado nos servidores da
agência ou se apenas os metadados, ou seja, os detalhes de quem participou nas
chamadas ou trocas de SMS, foram arquivados. O diário francês também não
explica se a operação US-985D continua em marcha.
França não é o
primeiro país a mostrar-se desagradado com as revelações de programas de
vigilância secretos das agências de informação norte-americanas. Em Setembro,
após as primeiras revelações de Snowden sobre o PRISM e outros programas, a
presidente do Brasil, Dilma Rousseff, cancelou aquela que seria a primeira
visita de Estado aos EUA por um líder brasileiro em quase 20 anos, dizendo que
primeiro há que restaurar a confiança no suposto aliado.
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