Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião
Os editoriais do
Jornal de Angola a desancar Portugal são insuportáveis. A forma é gongórica, o
tom arrogante, a visão distorcida, a sabujice evidente, a parolice risível.
Aquilo lembra a escola do pós-guerra do Diário da Manhã, num exercício de
jornalismo falsamente legitimado pelos interesses da Pátria e interpretado por
uma moral política inspirada em Salazar. Isto quer dizer que Portugal se tem
portado bem com Angola? Não.
Tenho hesitado em
escrever aqui sobre este diferendo. No entanto, quando o ministro Rui Machete
fez a estúpida figura de simular na rádio angolana um pedido de desculpas pelo
desempenho da justiça portuguesa estive quase, mesmo quase, a alinhavar um
comentário... Mas desisti. Desisti por muita coisa escondida nos bastidores do
palco onde esta peça se desenrola me escapar e por, supostamente, capitais
angolanos estarem a negociar a sua entrada no corpo acionista da empresa onde
trabalho. Isto coloca--me, apesar do meu estatuto de mero empregado da
Controlinveste, sob suspeita. Mesmo assim, hoje, ultrapassado o que considero
ser o limite de um comportamento aceitável por parte do meu país, arrisco.
Arrisco dizer,
contra o rebanho ideológico dominante, que Angola tem razão em achar que Portugal
não é um parceiro ideal para uma parceria estratégica.
Um país parceiro de
outro tem direito a fazer as investigações policiais que entender, desde que
estejam no âmbito da sua jurisdição. Um parceiro digno desse nome tem mesmo o
dever de repudiar abertamente, com franqueza e lealdade (e não fingir protestar
em voz baixa, de espinha curvada e má consciência) qualquer tentativa de
interferência, externa ou interna, feita ao percurso dessa investigação. Um
parceiro digno desse nome deve, simplesmente, ignorar as críticas àquilo que é
o normal funcionamento da sua instituição judicial. Portugal deveria ter
confrontado Angola com a gritaria insensata de uma parte das suas elites. Não o
fez...
Um parceiro
confiável não faz caixinha. É inaceitável uma investigação ao procurador-geral
de Angola ser encerrada no dia 18 de julho e o magistrado portugês responsável
pelo caso entender que não tinha de notificar ninguém disso. A notícia só se
soube três meses depois, com vários incidentes diplomáticos espetaculares a
acontecerem pelo meio perante a plácida, irresponsável e incompreensível
indiferença dessa figura de topo do Ministério Público português.
Que conclusões
podem tirar os angolanos disto? Que os portugueses têm tiques neocolonialistas?
Talvez sim, talvez não. Mas têm, de certeza, bons motivos para acharem que,
deste lado, são todos uns bons sacanas... E quem quer sacanas para parceiros?
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