Willam Tonet –
Folha 8, 30 novembro 2013
Hoje tenho mais certezas
do que dúvidas e sinto-me envergonhado por saber que o mais alto magistrado do país,
o senhor Presidente da República de Angola, montou uma máquina impiedosa que
tudo faz para inventar, prejudicar, prender e, pouco falta, para assassinar por
pensar diferente, como tem acontecido com outros angolanos. É quase uma
obsessão mental, um temor, um grande receio em relação à minha pessoa. “É
William fez, é William não fez, é William comunicado, é muita oficialidade e
propaganda sem necessidade, e isso porque não faço parte do grupo de corruptos
e delapidadores do erário público”.
Senhor Presidente,
a perseguição feita pelo regime por si capitaneado, não pauta pela lisura nem
pela honradez, recorre amiúde, sem a menor sombra de escrúpulos, a métodos que
frisam a ilegalidade e apenas são aceites por não haver equidade que valha em
certos meios jurídicos ligados ao partido no poder e à sua pessoa, enquanto presidente
de Angola, que se posiciona, apenas como sendo presidente dos angolanos do
MPLA&CIA, o que resulta numa persistente mostra de senilidade, sem sentido
nem juízo. Desde calúnias de fuga ao fisco a prisões arbitrárias, passando pelo
roubo de computadores do F8, comunicados despropositados e mentirosos do bureau
político do MPLA/JES, mais a retirada da carteira profissional e agora a
tentativa de anulação do diploma, tudo é feito para me combater e desacreditar através
de métodos “pidescos” e lamacentos.
Senhor Presidente,
quanto ao diploma, desde já uma prenda de Natal; ofereço-lhe o papel, porquanto
o verdadeiro, alojado no meu “disco duro mental,” é marca registada que tanto atemoriza
o seu regime e está livre de confisco.
Senhor Presidente,
longe de qualquer petulância, só pessoas mal formadas, mesquinhas e
incompetentes podem agir de forma tão saloia. Eu não me formei a cabular, nem
encomendei teses de mestrado e doutoramento, logo, confio na competência
jurídico-profissional, não precisando por isso de bajular nem de cartão de
comité de especialidade de partido político, para trabalhar em Angola ou no
mundo. Exemplos, para quê? Pode crer, o facto de o seu regime cancelar todos os
meus títulos e documentos é como chover no molhado, pois numa nova Angola que
havemos de ter, talvez a breve trecho, o quadro será diferente, haverá maior
justiça, democracia para todos, paz verdadeira na prática e o fim da
discriminação contra quem pense diferente.
Senhor Presidente,
a perseguição contra mim não é mera coincidência e como tal, deveria envergonhar
os seus actores, enquanto projecto demoníaco, só possível em ditaduras com
dirigentes intolerantes e sem verticalidade.
Senhor Presidente,
admito e aceito a fidelidade dos algozes ao seu serviço, USP/UGP, sem
preguiça, os agentes do SINSE (Segurança do Estado), cumpridores cegos ou a
DNIC, detentores de esquadrões da morte segundo o Supremo Tribunal Militar, cravarem
o meu corpo de balas no Campo da Revolução
(como fizeram ao nacionalista do MPLA, Sotto Mayor, sem ter
cometido crime algum) ou na Fortaleza São Miguel (onde assassinaram Nito Alves,
sem julgamento). Experiência para isso não falta do lado executor, ela está à mão
de semear…
Senhor Presidente,
acredite, até tinha uma certa admiração por si, como pessoa, e sentia-me confortado,
talvez, ingenuamente, por o considerar a suprema instituição da isenção, democracia,
imparcialidade e justiça. Enganei-me!
Senhor Presidente,
a minha pessoa atemoriza-o tanto ao ponto de lhe tirar o sono? Olhe que são
muitas as situações de ilegalidade contra um cidadão, demais os indícios de
maldade, má-fé e discriminação. Ainda que diga o contrário é isso que acontece,
a justiça está do avesso, e subvertida está a sua natureza, pois não parte do
crime para o autor, mas sim do autor para o crime.
Senhor Presidente,
com todas estas e outras situações, a reputação de Angola, como país soberano
mas dependente do petróleo, está a arrastar-se nas ruas da amargura. Com
efeito, quem pode acreditar num país ou num governo que não respeita sequer os
acordos académicos? Ninguém! Os diplomatas e empresários estrangeiros, mesmo
sabendo como é fácil fazer dinheiro pelo recurso a uma certa corrupção de
Estado, hesitam em investir na nossa Angola, porque o país está eivado da
perfídia que reina nas relações de negócios onde a lei muda quando mais convém e
transforma o que é legal em ilegal.
Senhor Presidente,
os esbirros do ministro do Ensino Superior, Adão do Nascimento, ao invalidar o
acordo assinado entre a AWU e a UAN, bem como todos os documentos académicos que
atestam a conclusão da formação graduada e pós-graduada na American World
University, apenas demonstraram e puseram a nu o desnorte governativo e a sua
demoníaca maneira de pensar política. Quem age de forma cega, corre o risco de
tanta bestialidade, que facilmente se questiona a sua capacidade, para tão
nobre empreitada.
Senhor Presidente,
acredite no que lhe vou dizer: precisa urgentemente de um ministro de Ensino
Superior com mais competência e visão, mas se for para premiar a incompetência,
peço perdão, este serve-lhe perfeitamente, tanto mais que, tendo sido um dos
governantes mais indisciplinados enquanto secretário de Estado da Ciência e
Tecnologia, ao ponto de não respeitar a ministra (coincidentemente, esposa do
director de gabinete do presidente do MPLA), foi premiado… Ora, na realidade,
quem age com irresponsabilidade, marginalizando a lei, não pode garantir um
ensino superior de excelência, nem uma imagem séria do governo, ao agir por
emoções partidocratas.
Senhor Presidente,
nesta passada discriminatória de, recorrentemente, serem marginalizados homens
competentes pela simples razão de não pensarem como os bajuladores do templo,
azo é dado aos augúrios de retaliações violentas, o que muito provavelmente
mais cedo ou mais tarde acabará por acontecer, se nada for feito.
Senhor Presidente,
a incoerência desta quadrilha de teólogos políticos, levou-os, pouco mais ou
menos, a dar um arroto de ilegalidade que se transformou em borrada fedorenta
que envergonha o nosso país pois o resultado da sua estupidez redundou na
apresentação formal de uma prova límpida e indesmentível de que a anulação
compulsiva da validade do diploma de mestrado de William Tonet e suspensão da
carteira de advogado, sentença lavrada pelo procurador adjunto da República, no
decorrer do julgamento do “Caso Quim Ribeiro”, de quem eu era um dos advogados,
não era anulação nenhuma, e que, portanto, a minha expulsão da defesa era
totalmente ilegal, pois não sendo possível anular o que foi antes anulado, o
meu diploma era válido nessa altura! Vergonha, perfídia, maquiavélica
destilação de ódio!
E hoje, Senhor
Presidente, pergunto-me como é que um ministério do Ensino Superior não tem
juristas capazes de evitarem esta borrada jurídica? Felizmente esta não é a
visão do verdadeiro MPLA, pese o partido ser refém de JES. O MPLA que
conhecemos, no passado, tinha mais lisura, cumpria acordos, envergonhava menos
os seus militantes. Goste-se ou não, a verdade é que a decisão actual desta
anulação peca por defeito, pois enquanto simples decisão, não pode sem
fundamentação anular vínculos anteriores. Isso é de lei, mesmo se sabendo ser
este Governo avesso à lei e à própria Constituição por si próprio lavrada.
Senhor Presidente,
ao caucionar toda esta perseguição, enquanto Presidente de Angola, está a
permitir que se vá longe demais na maldade e no desrespeito aos angolanos de
boa-fé. O senhor converte-me em seu principal inimigo, como se não tivesse mais
nada com que se preocupar, a nível do país e familiar, principalmente, enquanto
pai e avó.
Senhor Presidente,
dedique o seu tempo, não a perseguir um cidadão, mas ao bem-estar dos
angolanos, à consolidação da paz, mas na pratica diária e não no verbo inócuo.
Deixe, ao menos, um legado ao país, para não ser lembrado apenas como
anti-democrata, discriminador e insensível para com os que pensavam diferente
de si.
Senhor Presidente,
construa, nestes últimos tempos, uma imagem de verdadeiro patriota, não uma
imagem próxima do imperador César, mas de Martin Luther King. Será demais?
Talvez, mas ao menos tenha um sonho. Ouse, ao menos, sonhar reconciliar os
angolanos, todos sem excepção, num dia em que os angolanos do MPLA, os
angolanos da UNITA, os angolanos da CASA CE, os angolanos do PRS, os angolanos
da FNLA, os angolanos do BD e PP, todos os angolanos possam manifestar-se
livremente, sem os bastões e balas assassinas.
Senhor Presidente,
sonhe afastar a política de perseguição, de humilhação de prisões injustas e de
assassinatos, cometidos por quem tem a sua bênção.
Senhor Presidente,
não preciso de lhe implorar nada, pela plena consciência de o próximo passo dos
seus homens ser a retirada do Bilhete de Identidade, sob alegação de não ser
angolano, pois não se contentam em despojar-me vingativamente de tudo. Mas
desde já lhe digo, farei resistência, manifestar-me-ei contra a renovação do
actual, BI por ser partidário, contém as imagens de Agostinho Neto e José
Eduardo dos Santos, sem qualquer tipo de referendo popular.
Senhor Presidente,
vou confessar-lhe, não tenho ódio contra si, mas pena, por estar tão mal
rodeado e desguarnecido em relação ao futuro. Mas ainda assim, tenha de mim a
certeza que, não sendo possível ao seu governo retirar o meu “disco duro mental”,
os meus conhecimentos jurídicos, um dia, quem sabe, numa nova Angola sem
discriminação eu ainda lhe possa defendê-lo, a si e, ou, aos seus, como
advogado, por lhe fugirem os que hoje tanto o bajulam e o ajudam a errar.
Senhor Presidente,
a missão de um governo não pode reduzir-se a credibilizar a incompetência como
norma de gestão e promotora da violência extrema, dos julgamentos forjados e
dos assassinatos de inocentes, é mais que tempo de provar, nesta altura, em que
o país tanto precisa de quadros qualificados, nada justifica prescindir dos
angolanos competentes através do estratagema de fuzilamentos selectivos, como
aconteceu com o matemático, Mfulumpinga Landu Victor ou com o jovem engenheiro
de construção civil, Hilbert Ganga. Hoje matar um ser humano é tão fácil e
normal, pelo ruído (in)justificativo da corte de bajuladores do templo, que se divertem
com a morte dos angolanos de “segunda categoria” (os que não são do MPLA),
abrindo garrafas de champanhe, debitando argumentos esfarrapados.
Senhor Presidente,
em nome de Deus, pare com a sua perseguição inútil, pois não lhe devo nada, já
o inverso não é verdadeiro. Trabalhei honestamente para o seu gabinete em
1991/1992, mas o senhor não paga, nem restitui os bens perdidos, tudo para eu
vegetar à fome e depois rastejar até si, para ser humilhado com migalhas,
inferiores às que são deitadas aos vossos cães. Pergunte a José Leitão, Helder
Vieira Dias, Fernando Garcia Miala, ao ex-ministro das Finanças, Pedro de
Morais e até mesmo ao actual ministro das Finanças, numa altura em que era director
nacional do Tesouro.
Finalmente, senhor
Presidente, já que me retirou quase tudo, colocou a sua guarda pretoriana, os
seus juízes, o seu ministério público, a sua ordem de advogados e a sua
imprensa a forjar e a inventar coisas sobre mim, sem direito ao contraditório, mais
nada mais lhe resta, senão, como atrás verti, retirar-me a vida, Mas ao menos, diga-me
o dia e a hora, para eu poder ver de pé os meus cobardes algozes.
Na foto: William
Tonet
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