quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

BLOQUEIO IMPOSSÍVEL

 

Martinho Júnior, Luanda
 
“Ser internacionalista es saldar nuestra propia deuda con la humanidad”, Comandante Fidel de Castro.
 
1 – Esse pensamento do Comandante da Revolução Cubana é uma síntese dum conceito essencial que é intrínseco na definição da capacidade inteligente de resistência do povo cubano face ao tão desgastante quão injusto bloqueio que tem sido sujeito por parte do império, ininterruptamente e há mais de 50 anos!
 
Cuba bloqueada vocacionou a Revolução ao seu próprio povo, investindo sobretudo no homem e muito particularmente utilizando o eixo da educação e da saúde de modo a potenciar respostas que são insubstituíveis não só para os equilíbrios internos indispensáveis à consolidação do poder popular, mas também para estabelecer pontes vitais de relacionamento para com outros povos, sobretudo aqueles que têm sofrido o peso maior da opressão.
 
A história, em especial a gesta libertária nacional e de toda a imensa região latino-americana, socorreu a filosofia revolucionária: com ela haviam todos os motivos para mobilizar povo cubano e todos os povos da América Latina e de África face ao império e seus agentes, por mais poderosos que eles fossem e onde quer que eles se manifestassem: o próprio estágio de subdesenvolvimento imposto pelas desigualdades provocadas pelo capitalismo sob a égide deliberada do império, criava o espaço humano para agir!
 
Por isso a Revolução Cubana soube equacionar-se com o movimento de libertação em África, dando uma contribuição única na luta contra o colonialismo, o “apartheid” e as suas sequelas, incluindo aquelas que têm sido aproveitadas pelos expedientes da globalização neoliberal, mesmo tendo de enfrentar as condições adversas de ausência de parceiros como os que existiam durante o período da chamada Guerra Fria: os países socialistas e muitos outros que incorporaram e deram fundamento e substância ao Movimento dos Não Alinhados.
 
2 – A América Latina está madura para perceber o papel de Cuba face à presente conjuntura:
 
- Ao poder das oligarquias, “representadas” nos mecanismos de poder, as massas populares têm vindo a responder com as mais diversas organizações sociais, apostadas no aprofundamento da democracia em moldes de maior participação e vinculação de substratos sociais que nunca antes tiveram possibilidades de se fazer sentir nesses mesmos mecanismos de poder!
 
- Aos que implementam as políticas que conduzem a desequilíbrios sociais e injustiças sociais deliberadas, os progressistas têm-se assumido nos compromissos de resgate, começando por acabar com o analfabetismo e melhorar as condições humanas de saúde, de habitação e de trabalho!
 
- Às políticas que introduziram o pântano do subdesenvolvimento, os progressistas procuram a todo o transe ser pioneiros em políticas de desenvolvimento sustentável, socorrendo-se de processos sócio-culturais respeitadores de seus povos e introduzindo inovações em suas próprias constituições nacionais passando a respeitar os direitos da Mãe Terra!
 
- Ao poder das oligarquias sobre as capacidades energéticas, respondendo ao “diktat” da aristocracia financeira mundial por via de suas poderosas corporações, os progressistas vêm respondendo com alterações profundas no sentido de colocar grande parte das potencialidades e recursos em benefício dos mais vulneráveis e dos mais marginalizados estados de toda a região, inclusive importantes franjas sociais suburbanas em vários dos estados que compõem os próprios Estados Unidos!
 
Desse modo a contra-revolução liberal tem vindo a perder espaço de manobra e só o peso dos Estados Unidos, que se faz sentir através de todo o tipo de meios e de expedientes, tem impedido o seu completo colapso!
 
3 – Depois há um imenso contraste:
 
- Enquanto o império dissemina a manipulação, a mentira, as tensões, os conflitos e guerras de toda a ordem, impondo a lei da força (militar e de inteligência) e o terror, Cuba leva seus educadores, seus médicos seus construtores e sua experiência até aos pontos mais remotos e sofridos da humanidade, por vezes ali mesmo ao pé, como no caso do Haiti, ou do outro lado do Globo, como nos casos do Paquistão ou de Timor, curando traumatismos de toda a ordem, incluindo os traumatismos psicológicos tão bem estudados na Argélia por Franz Fanon!
 
- Desse modo Cuba não só faz recuar o terror provocado pelo exercício da hegemonia do império: é o próprio império que passa a ter medo do internacionalismo cubano, por que ele, sem armas (muito pelo contrário, respondendo sempre com expressões humanísticas de paz e de solidariedade), torna-se um exemplo-ameaça aos seus pérfidos desígnios de poder sobre a humanidade, quantas vezes às custas do desrespeito para com o próprio planeta (Cuba, é preciso lembrar, está na lista dos “estados terroristas” definida pelo império)!
 
- Por isso o império ilude-se com o bloqueio que impõe, tornado obsoleto face à estratégia humanística da Revolução Cubana, envolvendo a vocação do seu próprio Povo: o internacionalismo de Cuba interligando-se com os factores progressistas espalhados pelo mundo, está a vencer os obstáculos e faz sentir-se como um bálsamo terapêutico, por vezes mesmo em áreas tidas como de grande desenvolvimento (como no caso de algumas regiões de Portugal e de Espanha)!
 
4 – A lógica com sentido de vida, exercendo-se de forma cada vez mais extensiva e abrangente, é a única alternativa capaz de expandir o campo do progresso entre os povos, consolidando sua capacidade de resistência através de equilíbrios internos que se formam por via da solidariedade, da justiça social, do aprofundamento da democracia (que se deve abrir cada vez mais à participação), do socialismo e da paz!
 
É aí que Cuba constitui-se em vanguarda internacionalista e coloca ao dispor da humanidade sua própria experiência, em socorro das mais legítimas aspirações, dos mais legítimos resgates, precisamente em benefício daqueles mais sofridos por que oprimidos, dos que mais precisam!
 
Cuba tem sido ao longo dos 55 anos de sua Revolução, o único estado que proclama de forma dialéctica o seu internacionalismo como método para saldar a dívida para com a humanidade!
 
Em África, aqueles que deram corpo ao movimento de libertação só podem continuar a honrar essa filosofia, por que a lógica com sentido de vida é a única sequência possível ao próprio movimento de libertação, por que falta nos resgates seculares, aquele que implica a luta contra o subdesenvolvimento, numa conjuntura tão desfavorável como a presente!
 
Que melhor maneira de iniciarmos cada ano, agora o de 2014, senão bebendo o que nos for possível do exemplo humanístico da Revolução Cubana?
 
Foto: Reunião Extraordinária da ALBA e PETROCARIBE, entre 10 e 12 de Janeiro de 2013 – “Resaltan en Venezuela vigencia del ALBA y Petrocaribe” – http://www.granma.cu/espanol/nuestra-america/11enero-resaltan.html
 

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