Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
O referendo da
Suíça tem um resultado que não é só embaraçoso para a União Europeia. É uma
vergonha para os suíços. Ou melhor para os 50,3% dos suíços que foram na
cantiga da extrema-direita contra os imigrantes.
Preocupa-me o facto
de ver, em Portugal, muita gente, mesmo gente que se diz de esquerda,
'compreender' senão apoiar esta posição dos suíços. Vejam-se os comentários nos
sites onde Bruxelas e a sua comissária Vivianne Reding, por exigir
reciprocidade colocando em causa todos os acordos entre a UE e a Suíça, é acusada
de estar a pressionar a decisão de um país soberano.
As crises provocam
estas irracionalidades extremas. Um continente (e um país) onde as taxas de
natalidade são um desastre total, tem de abrir fronteiras e não fechá-las. A
Europa, fechada sobre si própria, a Europa fortaleza é, além de um
contrassenso, uma desumanidade. Já do Império Romano se dizia que uma das
causas para o seu declínio e queda foi querer ter sido um espaço demasiado rico
rodeado por famintos. É certo que a Suíça, no meio da Europa, sem pertencer à
UE, rodeada de montanhas, tem facilidade de preservar-se. Mas acontece que a
Suíça faz parte do espaço Schengen. Todos os dias entre Mulhouse (França) e
Basileia (Suiça) atravessam a fronteira milhares de pessoas (o aeroporto, do
lado francês, é comum às duas cidades). A decisão Suíça tem como consequência o
abandono de Schengen e o seu progressivo isolamento. Ao colocar restrições aos
europeus da União, a Suiça está no fundo a dizer que não quer marroquinos,
cabo-verdianos, turcos, chineses e outros cidadãos não europeus que entraram no
espaço Schengen. É xenofobia! Não tem outro nome nem pode ser tratado de outra
maneira.
Mais, os suíços,
bem como aqueles que pensam que este é um modelo a seguir, cedo descobrirão que
vivem em países que, sem imigrantes, demoram pouco tempo a perecer.
Se há coisa que
pessoalmente me revolta é ainda não haver mais liberdade de circulação entre
todos os povos do mundo (e nomeadamente entre os da CPLP). Quando vejo a
tendência contrária a ser vitoriada fico com a certeza que a nossa crise, longe
de ser apenas financeira, é sobretudo moral.
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