quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Guiné Equatorial pode fechar processo de capitalização do Banif e ficar com 11% do capital

 


Ana Luísa Marques, Diogo Cavaleiro, Maria João Gago, Celso Filipe – Jornal de Negócios
 
É um processo que ainda não está fechado mas o Banif chegou a um acordo de princípio para que uma empresa da Guiné Equatorial injecte 133,5 milhões de euros no banco. O novo país parceiro do Banif quer entrar na CPLP, mas Portugal tem resistido a essa proposta.
 
O próximo accionista de referência do Banif deverá ser uma empresa da Guiné Equatorial. A companhia poderá injectar 133,5 milhões de euros no capital do banco, concluindo um processo de capitalização avaliado em 450 milhões de euros. Mas este é um processo que ainda está no condicional.
 
"Está prevista a possível tomada de uma participação qualificada no capital social do Banif por uma empresa da Guiné Equatorial, se possível, no montante remanescente para a conclusão da segunda fase do processo de recapitalização do Banif, destinado a investidores internacionais (de cerca de 133,5 milhões de euros)", indica o banco num comunicado emitido através do site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
 
Segundo cálculos do Negócios, a concretizar esta injecção, a empresa da Guiné Equatorial poderá ficar com cerca de 11% do capital dirigido por Jorge Tomé (na foto), diminuindo a posição do Estado, que poderá a passar menos de 60% dos direitos de voto na instituição.
 
O nome da empresa não é divulgado nem se sabe quando é que tal irá acontecer. O "Correio da Manhã" noticiou, a 1 de Fevereiro, que se poderia tratar da Sonagas, empresa de gás natural da Guiné Equatorial. Ao Negócios, Jorge Tomé havia dito na semana passada que estava em negociações finais com um investidor, sem indicar quem seria. Hoje é confirmado que se trata de uma empresa do país africano.
 
Esta operação está inserida num memorando de entendimento "não vinculativo" entre o banco e a República da Guiné Equatorial que, além da injecção dos 133,5 milhões de euros, tem "em vista iniciativas de colaboração no sector bancário em condições que venham a ser acordadas entre as partes".
 
Em bolsa, antes desta notícia ser conhecida, as acções do Banif valorizaram 0,85% para fechar nos 1,18 cêntimos. No início do ano, cada título do Banif estava avaliado em 1,05 cêntimos. A instituição financeira apresenta um valor de mercado de 1.201 milhões de euros.
 
Em paralelo, estão ainda em aberto as negociações entre o Banif e a Direcção-Geral da Concorrência da União Europeia, relativas ao plano de reestruturação que o banco terá de adoptar pelo facto de ter recebido ajuda do Estado.
 
O banco sob o comando de Jorge Tomé já apresentou as contas relativas em 2013, ano em que conseguiu reduzir os prejuízos para 470 milhões de euros.
 
Portugal resiste a incluir novo parceiro do Banif na CPLP
 
A Guiné Equatorial, que chegou a este acordo com o Banif, é um país africano que fala espanhol mas que pretende entrar para a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os países que, juntamente com Portugal, constituem este grupo, do qual Guiné Equatorial tem o estatuto de observador associado desde 2006.
 
A nação do regime de Teodoro Mbasogo (no poder desde 1979, o mais antigo de África) quer, contudo, ser um membro de pleno direito. Portugal tem sido o mais forte opositor da concessão de tal estatuto.
 
No final de Dezembro, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Luís Campos Ferreira, mostrou-se convicto de que a Guiné Equatorial possa vir a integrar a CPLP. Mas, antes disso, tem um "caminho a percorrer, quer na promoção e uso efectivo da língua portuguesa, quer em matéria de direitos humanos, designadamente a adopção de uma moratória sobre a pena de mortea pena de morte", apontou o governante, citado pela Lusa.
 
Na próxima cimeira da CPLP, a realizar em Díli este Verão (Timor-Leste tem a presidência da comunidade neste momento), esta questão deverá um dos temas a debater.
 
Os passos da capitalização
 
Na sequência da crise financeira, e à semelhança de outros bancos como o BCP e o BPI, o Banif teve de recorrer a ajuda do Estado para se capitalizar. O Estado injectou 1,1 mil milhões de euros na instituição financeira, tanto através de acções (700 milhões) como de instrumentos obrigacionistas que se podem vir a converter em acções (400 milhões de euros). Foi concretizado no início de 2013.
 
O banco teria de recorrer a outros aumentos de capital para reduzir a posição do Estado, que chegou a deter mais de dois terços do capital social da instituição. A assembleia-geral da instituição dirigida por Jorge Tomé autorizou o banco a emitir acções avaliadas até 450 milhões de euros. Tal foi feito, até agora, em quatro fases. Até agora, conseguiu aumentar o capital em 311,3 milhões de euros. Falta uma fase. Aquela cujo memorando de entendimento, ainda sem valor vinculativo, foi anunciada hoje.
 
1) Junho de 2013. Colocação particular de 100 milhões de euros. Foi concretizada através do aumento de capital pelos já accionistas de referência Rentipar Financeira e Auto-Industrial.
 
2) Julho de 2013. Oferta pública de subscrição de acções destinada ao público em geral, avaliada em 100 milhões de euros.
 
3) Agosto de 2013. Colocação particular de 40,7 milhões de euros, através de empresários nacionais como Ilídio Pinho e Estêvão Neves.
 
4) Outubro de 2013. Oferta pública de troca de valores mobiliários, avaliada em 70,8 milhões de euros.
 
5) A concretizar. 2014. Colocação por empresa da Guiné Equatorial, avaliada em cerca de 133,5 milhões de euros.
 
O valor global é, neste momento, de cerca de 445 milhões de euros, perto dos 450 milhões acordados. Caso consiga chegar efectivamente a acordo com a empresa da Guiné Equatorial, o processo de capitalização acordado poder-se-á dar por concluído.
 

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