quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Manuel Torrão entrega documentos ao Arquivo e Museu da Resistência Timorense

 


Díli, 04 fev (Lusa) - O português Manuel Torrão andou durante mais de 30 anos a juntar documentos e recortes de jornal sobre Timor-Leste e hoje entregou "60 quilogramas de papel" ao Arquivo e Museu da Resistência Timorense.
 
"Foram 30 anos a colecionar papel, a juntar papel. O espólio é entre 1974 e 2006. São bastantes documentos, bastantes recortes. Serão entre 50 a 60 quilogramas de papel. São documentos, livros, revistas, boletins das mais diversas instituições, quer timorenses, quer internacionais, como a ONU e a Amnistia Internacional", afirmou à agência Lusa Manuel Torrão.
 
A ligação deste português, 69 anos, a Timor-Leste teve início em finais dos anos 1960 quando foi para o território cumprir serviço militar. Em 1971, regressa a Portugal já casado com uma mulher timorense.
 
Com Timor-Leste "no coração", o antigo engenheiro dos CTT de Portugal sente as dificuldades de se ligar ao território a partir de abril de 1974 e começa a recortar as notícias que aparecem nos jornais.
 
No final de 1975, dá-se a ocupação indonésia e Manuel Torrão e a mulher juntam-se à Comissão dos Direitos do Povo Maubere, já extinta, mas que chegou a ter sedes em Lisboa, Porto, Braga e Coimbra.
 
Os quilogramas de papel que hoje entregou ao Arquivo e Museu da Resistência Timorense são o resultado daquele "trabalho de acompanhamento da luta, de divulgação do que se passava, de tentar fazer sessões de esclarecimento e encontros e eventos de solidariedade", disse.
 
"Acabou por me passar pelas mãos muita papelada, muitos documentos, além de estar atento ao que vinha na comunicação social e fazer recortes de jornal. Isto é o resultante daquilo tudo", explicou.
 
Em casa passou a ter a estante com alguns metros vazios e admitiu que lhe custou entregar um acervo que levou 30 anos a construir.
 
"Mas com algum realismo percebi que aquilo nas minhas estantes não tinha utilidade nenhuma", sublinhou.
 
Depois de ter saído de Timor-Leste no início dos anos 1970, Manuel Torrão regressou ao país em 1999 para reconstruir o serviço internacional dos correios timorenses.
 
Desde então as visitas são mais frequentes, porque tem a viver no país uma filha e uma neta.
 
Sobre Timor-Leste, Manuel Torrão confessou que olha para o país com "alguma preocupação e alguma esperança também".
 
"Depois da independência colocaram-se muitas esperanças e expetativas e penso que as coisas não estão de acordo com aquilo que era a dinâmica que a liderança timorense queria empreender e fazer neste território. Penso que há muita coisa por fazer, mas acima de tudo acho que há duas apostas que não estão ganhas que é a educação e a saúde", disse à Lusa.
 
Na cerimónia de entrega dos documentos participaram algumas dezenas de pessoas, incluindo Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (FRETILIN).
 
MSE // VM - Lusa
 

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