Díli, 04 fev (Lusa)
- O português Manuel Torrão andou durante mais de 30 anos a juntar documentos e
recortes de jornal sobre Timor-Leste e hoje entregou "60 quilogramas de
papel" ao Arquivo e Museu da Resistência Timorense.
"Foram 30 anos
a colecionar papel, a juntar papel. O espólio é entre 1974 e 2006. São
bastantes documentos, bastantes recortes. Serão entre 50 a 60 quilogramas de
papel. São documentos, livros, revistas, boletins das mais diversas
instituições, quer timorenses, quer internacionais, como a ONU e a Amnistia
Internacional", afirmou à agência Lusa Manuel Torrão.
A ligação deste
português, 69 anos, a Timor-Leste teve início em finais dos anos 1960 quando
foi para o território cumprir serviço militar. Em 1971, regressa a Portugal já
casado com uma mulher timorense.
Com Timor-Leste
"no coração", o antigo engenheiro dos CTT de Portugal sente as
dificuldades de se ligar ao território a partir de abril de 1974 e começa a
recortar as notícias que aparecem nos jornais.
No final de 1975,
dá-se a ocupação indonésia e Manuel Torrão e a mulher juntam-se à Comissão dos
Direitos do Povo Maubere, já extinta, mas que chegou a ter sedes em Lisboa,
Porto, Braga e Coimbra.
Os quilogramas de
papel que hoje entregou ao Arquivo e Museu da Resistência Timorense são o
resultado daquele "trabalho de acompanhamento da luta, de divulgação do
que se passava, de tentar fazer sessões de esclarecimento e encontros e eventos
de solidariedade", disse.
"Acabou por me
passar pelas mãos muita papelada, muitos documentos, além de estar atento ao
que vinha na comunicação social e fazer recortes de jornal. Isto é o resultante
daquilo tudo", explicou.
Em casa passou a
ter a estante com alguns metros vazios e admitiu que lhe custou entregar um
acervo que levou 30 anos a construir.
"Mas com algum
realismo percebi que aquilo nas minhas estantes não tinha utilidade
nenhuma", sublinhou.
Depois de ter saído
de Timor-Leste no início dos anos 1970, Manuel Torrão regressou ao país em 1999
para reconstruir o serviço internacional dos correios timorenses.
Desde então as
visitas são mais frequentes, porque tem a viver no país uma filha e uma neta.
Sobre Timor-Leste,
Manuel Torrão confessou que olha para o país com "alguma preocupação e
alguma esperança também".
"Depois da
independência colocaram-se muitas esperanças e expetativas e penso que as
coisas não estão de acordo com aquilo que era a dinâmica que a liderança
timorense queria empreender e fazer neste território. Penso que há muita coisa
por fazer, mas acima de tudo acho que há duas apostas que não estão ganhas que
é a educação e a saúde", disse à Lusa.
Na cerimónia de
entrega dos documentos participaram algumas dezenas de pessoas, incluindo Mari
Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(FRETILIN).
MSE // VM - Lusa
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