Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Não há leilão mas
há uma indemnização para a leiloeira, que ganhará sempre coma incompetência
nacional
Naquela boa lógica
de que mais vale prevenir que remediar, a Christie's decidiu cancelar o leilão
de 85 Mirós (reduzidos pelo secretário de Estado da Cultura a meros activos)
que recebeu com o espólio do BPN.
O BPN era, como
todos os portugueses bem sabem através dos impostos, uma vigarice disfarçada de
banco que lhes custou cerca de 6 mil milhões de euros (para mais).
Em resultado de uma
imbecilidade qualquer, de incompetência ou de uma coisa parecida com uma
negociata, alguém decidiu mandar para Londres e vender sem a legítima
autorização da Direcção do Património Cultural a colecção de quadros para
reduzir os danos num montante que nunca chegaria sequer a 1% do prejuízo que o
banco deu até agora e que não pára de aumentar.
Ignorados e
arrumados durante anos numa cave ou em offshores sem que nenhum político ou
amante das artes se indignasse, os quadros só foram objecto de polémica quando
se soube que estavam para ir à praça em Londres, o que também diz muito da
forma como se procedeu ao desmantelamento do património do grupo BPN.
Aí caiu o Carmo e a
Trindade, com o PS, que nacionalizou o banco em vez de o deixar ir à falência,
a interpor uma providência cautelar para evitar a venda, coisa que um tribunal
rejeitou ontem de manhã em cima da hora do leilão com a explicação surrealista
de que a colecção não era propriamente do Estado mas da Parvalorem, uma empresa
que só tem capitais públicos.
Minutos após a
decisão, sabia-se que o PS pretende chamar o secretário de Estado da Cultura à
Assembleia para se apurar como isto aconteceu e que responsabilidades haveria
nesta bandalheira.
Como se sabe, tudo
o que se passa hoje em qualquer ponto do mundo está à distância de um clique.
Vai daí, a Christie's tomou uma decisão sensata. Parou de imediato a operação
invocando as incertezas legais criadas pela disputa, que levam a que não se
sinta em posição de oferecer os trabalhos para venda sem que sobrem problemas.
Fez bem. Foi
prudente, elegante e, fugindo a explicar os termos do contrato, em princípio
garantiu milhões. Talvez menos do que pensava, mas é provável que vão pingar
uns quantos nas suas contas, pois devemos estar perante um contrato blindado ao
jeito das PPP (interessava aliás saber quem representa a empresa entre nós).
De tudo isto fica
para Portugal a percepção, quando não de corrupção, pelo menos de que vivemos
numa república das bananas, que ainda por cima quando pagar a indemnização e
receber os quadros de volta (se é que isso vai acontecer) deverá abrir um
debate público para saber onde expô-los.
Fica a sugestão do
novo Museu dos Coches, vazio mas cuja manutenção custa um balúrdio todos os
anos.
A outra hipótese
seria sortear as obras por via das Finanças, esperando-se entretanto que no
meio da confusão não apareça ainda por cima uma factura ou uma obra falsa,
coisa que existe com alguma frequência tanto em contas como em Mirós.
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