Fernando Dacosta – jornal i, opinião
Muitas das
condições que, no passado, levaram ao surgimento da inquisição estão a
observar-se hoje - noutra escala, porém.
Os avanços
civilizacionais (na solidariedade, na cultura, na ciência, na técnica, no
conhecimento, nos costumes) conseguidos nesse passado pelos países da então
pujante Ibéria, Portugal e Espanha, devido aos Descobrimentos, fizeram os
poderes da época, bussolados pelo Vaticano, reagir - incendiando o mundo
através de tochas demencialmente empunhadas pelo Santo Ofício.
Nas últimas décadas
a Europa registou (tal como a Ibéria no passado), progressos assinaláveis na
cultura, na educação, na ciência, nos costumes, na saúde pública, na segurança
social, que a adiantaram sobre os outros continentes fazendo tremer (tal como
na Ibéria do passado, repita-se) os poderes instituídos que, de novo, reagiram.
Reagiram não pela
religião, mas pela economia, através de estratégias de austeridade congeminadas
não no Vaticano mas em clubes de "illuminati", contra milhões
(sobretudo do Sul da Europa) imolados em fogueiras de miséria e infâmia.
Pervertidas, a
mundialização, a democracia, a liberdade, viraram cavalos de Tróia engendrados
por bárbaros travestidos de tecnocratas, insaciáveis de ambição e cinismo,
desumanidade e amoralidade.
Há um século, o
grande Raul Brandão dizia que "por cada indivíduo que enriquece há mil que
empobrecem"; hoje, revela Viriato Soromenho Marques numa das suas
notabilíssimas crónicas no DL, cada novo "super-rico custa a miséria de 41
milhões e 170 mil pessoas", sacrificadas sem notícia nem estremecimento.
Enquanto isso, o
socialismo, a social-democracia, a democracia- -cristã, etc., assobiam para o
lado - só não lavando as mãos porque não têm toalhas (esgotaram-nas) para as
secar.
Escreve à
quinta-feira
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