A esperança média
de vida à nascença na Guiné-Bissau é de 47 anos, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS), cujos indicadores mostram que ter saúde na Guiné-Bissau
é quase um luxo.
O relatório
estratégico 2009-2013 da OMS regista o que se constata no terreno: os hospitais
e centros de saúde são precários e mal governados, como é o caso do Hospital
Simão Mendes, em Bissau, a principal unidade pública do país que a partir de
março pode ficar ainda pior.
Pode estar para
terminar o apoio da organização não-governamental espanhola AIDA
(www.ong-aida.org) que vigia os casos de maior pobreza que ali caem nas
urgências e internamento e lhes fornece curativos e medicamentos que o hospital
não tem.
A crise financeira
ditou que o financiamento da cooperação espanhola para a Guiné-Bissau
terminasse, pelo que, se até final de março não conseguir outros doadores, a
AIDA deixa o hospital e a mortalidade pode aumentar, alertam os profissionais
de saúde da unidade.
Mais de dois terços
da população da Guiné-Bissau vive com menos de um dólar por dia e 65 por cento
dos 1,7 milhões de habitantes não sabe ler, nem escrever, de acordo com os
dados da OMS e de outras agências internacionais.
Abundam os casos de
paludismo, doenças diarreicas, SIDA e há um ciclo quase estabelecido de
epidemias de cólera, "o que constitui uma situação de emergência no
país", continua a organização.
De acordo com o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em cada mil crianças 63
morrem com menos de um ano - uma taxa de mortalidade infantil quase 20 vezes
superior à que se regista em Portugal, por exemplo.
Não espanta por
isso que a Pediatria seja uma das especialidades em que há maior receio com a
saída da AIDA do Hospital Simão Mendes.
Augusto Bidonga,
diretor do serviço no Hospital Simão Mendes, teme assistir à "morte de
mais crianças".
"Mais de
metade das que entram no serviço de pediatria solicitam subvenção para
medicamentos. Até as consultas às vezes são pagas pela AIDA", refere.
Isto para além da
assistência social para alimentação e nutrição - 32% das crianças guineenses
sofre atrasos de crescimento moderados ou severos devido à falta de uma
alimentação equilibrada, segundo dados do UNICEF.
De acordo com a
estratégia de cooperação 2009-2013 traçada pela OMS, os grandes desafios para a
saúde pública na Guiné-Bissau passam por "melhorar a governação do
sistema, formar e recrutar recursos humanos qualificados, equipar e manter as
infraestruturas de saúde e garantir o abastecimento e o acesso aos produtos
farmacêuticos".
O país tem em
funções um governo e um presidente de transição, nomeados depois do golpe de
Estado de 12 abril de 2012, mas que não são reconhecidos pela generalidade da
comunidade internacional.
Eleições gerais
estão marcadas para 16 de março, mas o prolongamento do recenseamento eleitoral
deve obrigar o presidente de transição a adiar a data da votação para abril ou
maio.
LFO // PJA - Lusa
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