Jacarta, 18 mar (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, considerou hoje em Jacarta, na Indonésia, que, por vezes, existe demasiada demagogia nas críticas à possível entrada da Guiné Equatorial como membro pleno da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Penso que, às
vezes, somos demasiado teóricos e demagogos. Se formos a ver por isso tudo, a
Guiné-Bissau devia ter saltado fora da CPLP há 33 anos", defendeu o chefe
do Governo de Timor-Leste, referindo-se a "33 anos de golpes de Estado".
Várias vozes têm-se
feito ouvir contra a adesão da antiga colónia espanhola à CPLP, devido à
natureza repressiva do regime liderado por Teodoro Obiang, que recentemente
decidiu suspender a pena de morte.
A abolição da pena
de morte no país terá de envolver um referendo, porque está inscrita na
Constituição do país, explicou a presidente do Senado da Guiné Equatorial, Efua
Asangono, em declarações à Lusa na terça-feira, em Genebra.
Neste sentido,
reforçou Xanana Gusmão, "então os Estados Unidos não podem ter assento na
ONU [Organização das Nações Unidas], porque têm pena de morte".
A antiga colónia
espanhola em África tem o estatuto de país observador da CPLP desde 2006 e
pediu a adesão como membro pleno em 2010, ano em que oficializou o português
como a sua terceira língua oficial, a par do espanhol e do francês.
"Se eles
falassem alemão ou holandês, dizíamos que para aprender o português, seria
difícil, mas eles falam espanhol", comentou Xanana Gusmão, que prevê
deslocar-se em breve à Guiné Equatorial.
Timor-Leste vai
assumir, pela primeira vez, em julho, a presidência rotativa da CPLP, durante a
cimeira da organização que vai decorrer em Díli e na qual será, mais uma vez,
discutida a adesão do país africano como membro pleno.
Nas últimas
reuniões, apenas Portugal se opôs à adesão devido à natureza repressiva do
regime, mas em fevereiro os ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP
aconselharam, por unanimidade, a entrada da antiga colónia espanhola na
organização, sob a forma de uma recomendação à cimeira dos chefes de Estado e
de Governo de julho.
A mudança da
posição portuguesa face à entrada de um país visto como uma das piores
ditaduras africanas foi justificada pela pressão dos parceiros na CPLP e pelo
facto de o país ter dado sinais de abertura e empenhamento no cumprimento do
programa de ação a que se comprometeu com a CPLP.
A Guiné Equatorial,
que é um dos maiores produtos de petróleo de África, é liderada por Teodoro
Obiang desde 1979, mas o país procedeu a uma reforma política em 2011 para favorecer
a democracia.
AYN // VM - Lusa
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