Muitos ignoram
relatório que mostra que a cobertura da mídia televisiva venezuelana estava
igualmente dividida durante as eleições presidenciais.
Mark Weisbrot, para
o CEPR – Carta Maior
Além do fato de que
o New York Timesteve de fazer uma correção dia 26 de fevereiro por
declarar que aGlobovisión da Venezuela era a “única emissora de televisão
que transmitia regularmente críticas ao governo,” Daniel Wilkinson, doHuman
Rights Watch(Observatório de Direitos Humanos), repetiu o mesmo erro no New York Review of Books (NYRB) dia 9 de abril,
dizendo que:
Duas das quatro emissoras privadas diminuíram sua cobertura crítica
voluntariamente; uma terceira foi forçada a sair do ar, e a quarta foi cercada
de sanções administrativas e acusações criminais até que seu proprietário a
vendeu ano passado a investidores assumidamente ligados ao governo, que
reduziram dramaticamente o conteúdo crítico.
Na verdade, as emissoras que ele declara que “diminuíram sua cobertura
crítica,” Venevisión e a Televen, regularmente transmitem conteúdo crítico
contrário ao governo, como documentado aqui.
Assim que a declaração de que as emissoras “diminuíram sua cobertura crítica,”
se demonstraram falsas, a NYRB, como o New York Times, deveriam se retratar.
A quarta emissora que ele se refere é a Globovisión. Durante o período de
preparação para última eleição presidencial, de acordo com um estudo do Carter
Center, a Globovisión cobriu nove vezes mais o candidato da oposição
Henrique Capriles em comparação a cobertura dada a Nicolás Maduro. Os leitores
acostumados à televisão de direita dos EUA notarão que não seria possível que
um canal como a Fox News, por exemplo, se safasse de uma coisa dessas. Então,
se a Globovisión “reduziu dramaticamente” sua cobertura anti-governo -
Wilkinson não oferece nenhum dado - porque ela foi comprada por alguém que
queria praticar jornalismo convencional, a emissora ainda teria muito espaço
para criticar o governo.
E na verdade, no dia 17 de fevereiro, no calor dos protestos recentes, a
Globovisión transmitiu uma entrevista com a líder da oposição Maria Corina
Machado, onde ela denunciou uma série de supostos crimes cometidos pelo governo
e argumentou que as pessoas tinham o direito de derrubá-lo. Isto joga um pouco
de sombra sobre a declaração dada por Wilkinson de que “enquanto alguns
programas de notícias entrevistaram líderes da oposição e críticos do governo,
eles o fazem sob ameaça de leis e restrições políticas impostas pelo governo”
É uma pena que Wilkinson tenha ignorado ou talvez não tenha lido o relatório do Carter
Center sobre a mídia venezuelana durante a tão contestada campanha
presidencial de 2013. Os dados do relatório, que levavam em conta os índices de audiência, indicaram que a cobertura da
mídia televisiva estava igualmente dividida entre os dois candidatos. Isto
contradiz o exagero que ele coloca em seu artigo, o de que há um governo
“autoritário” tentando “controlar como as notícias são dadas na televisão
venezuelana.”
O artigo de 2800 palavras - que provê poucos links ou fontes que sustentem
dúzias de alegações - contém um sem-número de exageros e imprecisões. Por
exemplo, ao descrever os protestos, ele diz que “a maior parte deles foi
pacífico, apesar de que em muitos lugares os manifestantes construíram
barricadas nas ruas, e alguns jogaram pedra e coquetéis Molotov.” Isso contradiz
o noticiário diário da mídia internacional. Algumas das marchas realizadas
durante o dia foram pacíficas, mas todas as noites, por cerca de dois
meses, houve protestos violentos onde os participantes jogaram pedras e
coquetéis molotov nas forças de segurança e até sobre vizinhos que tentavam
passar pelas barricadas. Isso sem mencionarmos alguns tiroteios causados por
manifestantes. Ele não menciona este fato, mas metade das 39 mortes a que ele se refere
aparentemente foram causadas pelos manifestantes.
Não me entendam mal. É o trabalho dos grupos de direitos humanos denunciarem e
exporem todos os abusos cometidos pelos governos (e atores que não fazem parte
do Estado também), e eu não criticaria uma organização de direitos humanos por
ser muito dura com qualquer governo. E se Wilkinson quer ignorar ou fingir que
não consegue enxergar que esta é mais uma tentativa para derrubar um governo
democraticamente eleito, isto é direito dele. Mas porque os exageros grosseiros
e as declarações falsas? Não há tantas coisas a se preocupar sem ter de
inventar situações?
O Human Rights Watch podem continuar usando estes dois pesos e duas medidas se quiserem.
Eles não levantaram um dedo quando um golpe apoiado pelos EUA derrubou o
governo democraticamente eleito no Haiti em 2004. Os responsáveis pelo golpe
mataram milhares de pessoas, e funcionários do governo constitucional foram
colocados na cadeia. Isto não suscitou uma fração da preocupação que o HRW tem
tido com a “independência da poder judiciário” na Venezuela, que é claro que
não era mais independente antes que o inimigo Chávez ter sido eleito.
Em 2008, mais de 100 acadêmicos assinaram uma carta documentando
e “destacando os exageros e imprecisões” em um relatório “motivado
politicamente” pelo HRW na Venezuela. Está claro que o HRW não tomaram nenhuma
atitude para corrigir suas informações ou descuido com os fatos. Isto é uma
vergonha. E é claro, não há nenhum custo político nos EUA ao cometer exageros e
emitir informações falas sobre governos que Washington quer desestabilizar. Mas isto não serve à causa
dos direitos humanos; isto enfraquece o bom trabalho que o HRW faz em outros
países quando eles são vistos como aliados de uma “mudança de regime” apoiada
pelos EUA.
Tradução de Roberto
Brilhante
Você pode conferir
o artigo em inglês aqui.
Créditos da foto:
Andrés Azpúra / Flickr
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