Ana
Sá Lopes – jornal i, opinião
Não
há um movimento populista forte. O trabalhinho é feito pelo mainstream
Está
na rua uma campanha eleitoral para as eleições europeias - duas semanas
inteirinhas que deveriam servir para os cidadãos discutirem e escolherem o rumo
da União para os próximos anos. Mas nem com a maior crise depois da Segunda
Guerra Mundial, que está longe de estar resolvida por muito optimismo que
transpire dos discursos oficiais, é possível prever que a abstenção vá
diminuir. Alguns estudos admitem mesmo que possa aumentar ao inacreditável
nível de 70%.
As
"culpas" sobre este divórcio litigioso entre as instituições
europeias e os cidadãos nacionais são repartidas. Mas a questão vem de longe:
as elites portuguesas - e as outras - decidiram que a Europa deveria ser
tratada como uma espécie de segredo de Estado, de que as multidões ululantes
deveriam ficar à margem. Isto foi feito de várias maneiras, a começar pela
linguagem. O discurso europeu foi sempre transformado num impossível esperanto
- de dificílima apreensão para o cidadão comum. A complicadíssima burocracia
europeia e o desinteresse da comunicação social fizeram o resto. Sobre os
deputados ao Parlamento Europeu, aquilo que o cidadão comum sabe é que ganham
vencimentos elevadíssimos em comparação com os módicos 700 euros que são o
ordenado médio português.
Mas
as elites que decidiram tudo sobre a União Europeia nas costas das populações
(de Maastricht ao Tratado de Lisboa, sendo o maior dos passos a adesão ao
euro), prosseguem numa cegueira que está a transformar a Europa num sítio
cada vez menos democrático - se a definição de democracia continuar a ser o
direito dos cidadãos a eleger quem os governa.
No
que a isto diz respeito, a campanha do PSD tem sido de uma pobreza
avassaladora, ignorando as causas da crise europeia e, como ontem voltou a
insistir Paulo Rangel, invocando como "adversário" comum da coligação
e do PP espanhol "o despesismo socialista". É penoso ouvir Rangel
atribuir a crise do euro ao facto de Portugal e Espanha terem tido
"governações basicamente erradas até 2011". Do lado do PS, Seguro
promete o céu - menos austeridade - se os socialistas europeus forem
maioritários, ignorando o essencial. Todos os socialistas europeus estão
comprometidos com o Tratado Orçamental e cumpri-lo não vai diminuir num avo a
austeridade em
curso. Em Portugal não há nenhum movimento populista a sério.
O trabalhinho vai sendo feito pelo maintream e corrói a democracia, aqui e em
Bruxelas.
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