domingo, 20 de julho de 2014

A COPA DO POVO SEM POVO



Alberto Castro - Afropress

Finalmente viu-se negros nas arquibancadas da Copa, para alem de torcedores dos times africanos. Foi na apoteose da festa quando apareceram nas imagens da TV para o mundo no papel seguranças fazendo um cordel de proteção aos artistas da bola que subiam as escadarias do templo da glória para receber os troféus. Imagem apenas comparável ao carnaval de Salvador onde negros com corda tratam penosamente de proteger a diversão da elite branca.

No país de maioria negra (pretos e mulatos), fica o consolo de ver um negro, Jerome Boateng, no mais alto pódium da festa do futebol, paradoxalmente em representação da Alemanha, detalhe que certamente só em seus piores pesadelos Hitler imaginaria.

Mesmo com uma agenda política, parabéns a venezuelana TeleSur que fez, na minha opinião, com o programa De Zurda apresentado pelo astro Diego Maradona e pelo conceituado jornalista Victor Hugo Morales, a melhor cobertura da Copa fora dos gramados, apresentando a verdadeira cara do Brasil com reportagens em favelas, centros e em periferias de várias cidades brasileiras destacando os múltiplos aspectos da rica cultura popular e fazendo uma crítica a ausência de faces do povo-povo brasileiro nos estádios.

Nesse sentido uma nota tambem para as grandes cadeias de TV como a CNN, BBC, ITV etc, que tambem fizeram reportagens semelhantes embora com menor tempo de antena. Todas coincidem que foi o melhor ambiente dos mundiais dentro e, principalmente, fora dos relvados pela alegria e hospitalidade do povo brasileiro. Foi a grande Copa do Povo sem povo nos estádios.

Nota zero para a elite branca brasileira, ou parte dela, que demonstrou toda a sua falta de educação com vaias das mais ordinárias a sua presidente, coisa nunca vista em edições anteriores realizadas noutros países que tambem contestaram os gastos com as suas Copas.

Uma elite branca que sofre por não ser do primeiro mundo, que sofre quando confrontada a assumir a sua própria identidade latino-americana, uma elite complexada que julga que ser moderno significa ser do primeiro mundo. Uma elite que quer os efeitos da modernização mais do que a própria modernização no quadro de um desenvolvimento próprio. 


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