O
antigo Presidente de Timor-Leste José Ramos-Horta afirmou ontem concordar com a
adesão da Guiné Equatorial à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e
considerou "absurdo" ver a entrada do país com base no interesse
económico.
"Eu
concordo com a adesão da Guiné Equatorial pelo facto de acreditar que pela inclusão
da Guiné Equatorial temos mais chances de influenciar as transformações que são
necessárias e que vão acontecer", afirmou em entrevista à agência Lusa o
também Prémio Nobel da Paz.
Timor-Leste
assume pela primeira vez a presidência da CPLP durante a cimeira de chefes de
Estado e de Governo dedicada ao tema "CPLP e a Globalização", que se
vai realizar no dia 23 em Díli, e que deverá ficar marcada pela entrada da
Guiné Equatorial e pelo regresso da Guiné-Bissau, após suspensão decretada na
sequência do golpe de Estado de 2012.
A
entrada da Guiné Equatorial, liderada por Teodoro Obiang desde 1979, tem sido
fortemente contestada por várias organizações da sociedade civil, que acusam o
governo de vários atentados aos direitos humanos e à liberdade no país.
"Não
há regime hoje em África ou em qualquer lado do mundo que possa estar imune às
exigências e expetativas do seu povo. O que a CPLP pode fazer ao permitir a
adesão da Guiné Equatorial é discretamente, mas ativamente e firmemente
trabalhar com o regime no sentido de abertura incremental.
Primeiro
acabar com a pena de morto. Segundo acabar com prisões arbitrárias e tortura e
a pouco e pouco permitir liberdade de expresão e democracia
multipartidária", afirmou José Ramos-Horta.
Segundo
o antigo Presidente, aquilo foi o que aconteceu com a Birmânia quando aderiu à
Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). "O que prevaleceu na
ASEAN, apesar da oposição das Filipinas, foi trazer a Birmânia para dentro da
organização como a melhor forma de encorajar a evolução política do país",
salientou.
"Eu
aplico o mesmo regime à Guiné Equatorial acredito que é possível. Temos de
ouvir sempre os nossos amigos, aconselharmo-nos junto deles, trabalhar com
eles, para permitir ao único país de língua espanhola no continente africano
aderir à CPLP. Até porque a Guiné Equatorial tem história com os países da
CPLP", afirmou.
Para
José Ramos-Horta é "absurdo" associar a entrada na Guiné Equatorial a
razões de interesse económico. "O que eu rejeito é quando se diz que é por
razões económicas. A produção petrolífera na Guiné Equatorial é mínima quando
se compara com o gigante que é Angola, com o potencial de Moçambique.
Não
é a Guiné Equatorial que vai transformar as nossas economias quando temos uma
Angola e Moçambique. É um bocado absurdo vermos a adesão por um lado de
interesse económico", sublinhou.
O
antigo Presidente regressou a Timor-Leste no passado mês de junho depois de ter
estado 18 meses na Guiné-Bissau a representar o secretário-geral da ONU, Ban
Ki-Moon, na Missão Integrada das Nações Unidas para a Guiné-Bissau.
Lusa,
em Sapo TL
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