“Eu
quero que vocês digam aos meus fãs: peço desculpa, mas agora eu preciso de
descansar. Lamento profundamente ter de me ausentar devido à doença, eu queria
ainda dar prazer àqueles que me seguiram por tanto tempo”. Cesária Évora ao
jornal «Le monde».
João Chantre –
Expresso das Ilhas (cv)
Cesária
Évora emprestou seu nome ao Aeroporto Internacional de São Pedro, de onde ela
conseguiu voar em direcção à “liberdade/prosperidade” e “quel casinha” (como
cantou Adriano Celentano) no Centro do Mindelo for transformado num museu Cize
& Friends, Mindelo ganhará mais um cartão postal. Proteger as
personalidades que fizeram desta terra uma grande terra é um dever de todos os
cabo-verdianos. É altura de homenagear em vida quem merece ser homenageado.
Uma justa homenagem que o povo das ilhas pode prestar àquela que é a Diva dos
pés descalços, à Rainha da Morna, à criançinha que cantava morna baixinho
entre as pernas do pai enquanto este tocava violino nas noites de Mindelo
quando “até gote de Manejon tava cmê na gemada”.
No
Mindelo, foi crescendo de bar em bar, a terra que a viu nascer e da qual tem
sempre saudades quando longe dela fica . Para quem já a testemunhou, depois dos
seus “tournés” , quer sempre regressar à casa carregada de encomendas, disposta
a pagar o que for preciso de excesso de bagagem para os seus amiguinhos de
rua.
Quando,
um dia, a Cize teve oportunidade de cantar para o público, ainda que fosse nos
bares, entrou e nunca mais parou. Da única coisa que tinha a certeza era que
nunca gostou de ficar em casa das freiras onde o destino reservara o seu
primeiro retiro. Logo de imediato pediu à sua mãe a permissão e a liberdade de
viver longe daquele ambiente. Do seu pai herdou o gosto de cantar mornas, foi
sempre apaixonada pelos jogadores de futebol fisicamente bem constituídos até
que um dia se apaixonou por um e deu a luz a sua primeira filha…este foi viver
para Lisboa….
Cize
nasceu para cantar e assim foi procurando a sua oportunidade, no entanto, quase
que Mindelo perdia a sua Cize quando um desgosto lhe aprisionou durante 10 anos
dentro de casa. Isto aconteceu logo após a independência. Cize apenas saía de
casa para ver o mar, para ver a linha do horizonte, o fim do mundo, o
destino/curiosidade dos caboverdianos. Ao ver o mar inspirava pela música mas
foi via o ar que aconteceu o milagre…o melhor casamento de todos os tempos da
música e cultura Cabo Verdiana. Em Lisboa, Cize encontra Djô da Silva, o seu
amigo/adviser/manager que a abraçou e a guiou para a grande missão/aventura… cantar
e encantar o mundo inteiro…brilhou na Cidade das luzes, passou pela cidade
milenária do Coliseu, cantou em
Nova Iorque , teve a ousadia de emprestar a sua voz nos mais
prestigiantes clube de Jazz de Hong Kong e Tóquio, passou por Sidney e em
África navegava como peixe na água.
Césaria
Évora é/e será recordada como Património Cultural dessas maravilhosas ilhas
perdidas no atlântico. Um milagre económico desta Terra. A mais prestigiada
Embaixadora da Música e da Cultura cabo-verdiana juntamente com a Lusafrica,
que elevou o nome de Cabo Verde/bandeira ao mais alto nível com a sua música,
generosidade, alteza e ousadia. Cize promoveu Cabo Verde, trouxe turismo e
atraiu o IDE (Investimento Directo Estrangeiro) para essas ilhas maravilhosas
e por isso fará história e deverá ser coroada. Caso não houver coragem para a
coroar oficialmente, de certeza que o Samba Tropical um dia o fará nos seus
maravilhosos desfiles de Carnaval. Cize é rainha. Pois, acreditamos que uma
das raras personalidades que irá ser homenageada ilimitadas vezes antes do
fim da sua missão na terra como a rainha da morna e da coladeira. Cesária vai
libertar-se da lista dos que só vêem homenagem quando de terra estiverem
cobertos.
Nesse
dia Mindelo, a ilha cosmopolita, os mindelenses tidos como caboverdianos de
Santo Antão à Brava que ontem se encontravam no centro do Mindelo e
apaixonavam-se, e hoje, é na zona da Laginha onde tudo acontece, onde o mar
brilha durante todo o ano e aquece no Verão para receber os filhos da terra
que por uma razão ou outra estiveram fora, sob o olhar auspicioso do Monte Cara
que dorme e que um dia prometeu acordar para abençoar as suas gentes, quando
esses regressarem à casa «aprendados», e com recursos para fazer levantar o
moral dos Mindelenses. Já faltou mais…
Em
suma, o regresso definitivo da Cize ao torrão natal pode significar o reanimar
das esperanças dos Mindelenses e da zona Norte do país. Só falta o último
espectáculo, na maravilhosa ilha de Santo Antão programado para Dezembro de
2011…Cize…despede com apenas uma música e entregua o trono aos mais novos. Chegou
o momento de abrires as tuas portas e receberes as gentes que tu habituaste
com a tua voz doce e maviosa. Foste tu que abriste as janelas de Cabo Verde lá
fora, foste tu que encantaste o mundo, foste tu que levaste a música viva e
cativante além fronteiras, foste tu que levaste esses dez “grãoszinhos di
terra qui Deus plantá na mei di mar”… e que tanta “Sodade desse nha terra Cabo
Verde” vai fazer sentir aos teus fãs “espalhod na mundo” que um dia vão voltar
para visitar-te. Isto é turismo. Nesse dia Mindelo terá um teleférico que
ligará Fortim com vivendas de luxo ao nariz do Monte Cara e Fateja será
transformada numa arena natural com iates de luxo estacionados à espera dos
seus proprietários. O mundo ficará surpreso de tanta beleza natural, a Baia do
Porto Grande e a Baia/Arena da Fateja. A nossa homenagem à nossa Cize…It´s
time…
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