sábado, 30 de agosto de 2014

O LEGADO DE CESÁRIA ÉVORA




“Eu quero que vocês digam aos meus fãs: peço desculpa, mas agora eu preciso de descansar. Lamento profundamente ter de me ausentar devido à doença, eu queria ainda dar prazer àqueles que me seguiram por tanto tempo”. Cesária Évora ao jornal «Le monde».

 João Chantre – Expresso das Ilhas (cv)

Cesária Évora emprestou seu nome ao Aeroporto Internacional de São Pedro, de onde ela conseguiu voar em direcção à “liber­dade/prosperidade” e “quel casinha” (como cantou Adria­no Celentano) no Centro do Mindelo for transformado num museu Cize & Friends, Mindelo ganhará mais um cartão postal. Proteger as personalidades que fizeram desta terra uma grande terra é um dever de todos os cabo-verdianos. É altura de home­nagear em vida quem merece ser homenageado. Uma justa homenagem que o povo das ilhas pode prestar àquela que é a Diva dos pés descalços, à Rainha da Morna, à criançi­nha que cantava morna bai­xinho entre as pernas do pai enquanto este tocava violino nas noites de Mindelo quando “até gote de Manejon tava cmê na gemada”.

No Mindelo, foi crescendo de bar em bar, a terra que a viu nascer e da qual tem sempre saudades quando longe dela fica . Para quem já a testemunhou, depois dos seus “tournés” , quer sempre regressar à casa carregada de encomendas, disposta a pagar o que for preciso de excesso de bagagem para os seus ami­guinhos de rua.

Quando, um dia, a Cize teve oportunidade de cantar para o público, ainda que fosse nos bares, entrou e nunca mais parou. Da única coisa que tinha a certeza era que nunca gostou de ficar em casa das freiras onde o destino reserva­ra o seu primeiro retiro. Logo de imediato pediu à sua mãe a permissão e a liberdade de viver longe daquele ambiente. Do seu pai herdou o gosto de cantar mornas, foi sempre apaixonada pelos jogadores de futebol fisicamente bem constituídos até que um dia se apaixonou por um e deu a luz a sua primeira filha…este foi viver para Lisboa….

Cize nasceu para cantar e assim foi procurando a sua oportunidade, no entanto, quase que Mindelo perdia a sua Cize quando um desgosto lhe aprisionou durante 10 anos dentro de casa. Isto aconteceu logo após a independência. Cize apenas saía de casa para ver o mar, para ver a linha do horizonte, o fim do mundo, o destino/curiosidade dos caboverdianos. Ao ver o mar inspirava pela música mas foi via o ar que aconteceu o milagre…o melhor casamento de todos os tempos da música e cultura Cabo Verdiana. Em Lisboa, Cize encontra Djô da Silva, o seu amigo/adviser/manager que a abraçou e a guiou para a grande missão/aventura… cantar e encantar o mundo inteiro…brilhou na Cidade das luzes, passou pela cidade milenária do Coliseu, cantou em Nova Iorque, teve a ousadia de emprestar a sua voz nos mais prestigiantes clube de Jazz de Hong Kong e Tóquio, passou por Sidney e em África navegava como peixe na água.

Césaria Évora é/e será re­cordada como Património Cultural dessas maravilhosas ilhas perdidas no atlântico. Um milagre económico des­ta Terra. A mais prestigiada Embaixadora da Música e da Cultura cabo-verdiana juntamente com a Lusafrica, que elevou o nome de Cabo Verde/bandeira ao mais alto nível com a sua música, ge­nerosidade, alteza e ousadia. Cize promoveu Cabo Verde, trouxe turismo e atraiu o IDE (Investimento Directo Estran­geiro) para essas ilhas maravi­lhosas e por isso fará história e deverá ser co­roada. Caso não houver coragem para a coroar oficialmente, de certeza que o Samba Tropical um dia o fará nos seus maravilho­sos desfiles de Carnaval. Cize é rainha. Pois, acreditamos que uma das raras personalidades que irá ser ho­menageada ili­mitadas vezes antes do fim da sua missão na terra como a rainha da morna e da coladeira. Cesária vai libertar-se da lista dos que só vêem homenagem quando de terra estiverem cobertos.

Nesse dia Mindelo, a ilha cosmopolita, os mindelenses tidos como caboverdianos de Santo Antão à Brava que on­tem se encontravam no centro do Mindelo e apaixonavam-se, e hoje, é na zona da Laginha onde tudo acontece, onde o mar brilha durante todo o ano e aquece no Verão para rece­ber os filhos da terra que por uma razão ou outra estiveram fora, sob o olhar auspicioso do Monte Cara que dorme e que um dia prometeu acordar para abençoar as suas gentes, quando esses regressarem à casa «aprendados», e com recursos para fazer levantar o moral dos Mindelenses. Já faltou mais…

Em suma, o regresso defi­nitivo da Cize ao torrão natal pode significar o reanimar das esperanças dos Mindelenses e da zona Norte do país. Só falta o último espectáculo, na ma­ravilhosa ilha de Santo Antão programado para Dezembro de 2011…Cize…despede com apenas uma música e entregua o trono aos mais novos. Che­gou o momento de abrires as tuas portas e receberes as gen­tes que tu habituaste com a tua voz doce e maviosa. Foste tu que abriste as janelas de Cabo Verde lá fora, foste tu que en­cantaste o mundo, foste tu que levaste a música viva e cativan­te além fronteiras, foste tu que levaste esses dez “grãoszinhos di terra qui Deus plantá na mei di mar”… e que tanta “Sodade desse nha terra Cabo Verde” vai fazer sentir aos teus fãs “es­palhod na mundo” que um dia vão voltar para visitar-te. Isto é turismo. Nesse dia Mindelo terá um teleférico que ligará Fortim com vivendas de luxo ao nariz do Monte Cara e Fa­teja será transformada numa arena natural com iates de luxo estacionados à espera dos seus proprietários. O mundo ficará surpreso de tanta beleza natural, a Baia do Porto Gran­de e a Baia/Arena da Fateja. A nossa homenagem à nossa Cize…It´s time…

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