Folha
8, 04 outubro 2014
Governo
aumentou o preço dos combustíveis num momento particularmente difícil para a
vida dos angolanos, principalmente dos que se consideravam da classe média.
Trata-se da primeira subida, e logo de 46,4%, desde 2010. Uns dizem só foi
15,00, 10,00 Kwanzas, mas para quem tem um salário de 50.000,00 Kwz é muito elevado.
“Esta
actualização reflecte a compromisso do Governo em continuar a melhorar a
despesa e eliminar, de forma gradual, os subsídios que incidem sobre os preços
fixados de venda ao público”, sublinhou o Ministério das Finanças, indiferente
ao impacto brutal que esse aumento terá na vida dos angolanos.
Pior
ainda, foi o cinismo de nada terem falado sobre o fim das mordomias “combustíveis”
concedidas aos dirigentes governamentais, cuja factura é relevante para o
aumento das contas do Estado.
De
acordo com a mesma informação, a empresa Sonangol Distribuidora “está
autorizada, por Decreto do Executivo, a actualizar os preços dos produtos derivados
de petróleo”, insto em função de o preço dos combustíveis ser tabelado pelo
Estado.
Assim,
cada litro de gasolina passa a custar 75 kwanzas, um aumento de 15 kwanzas. O
preço do litro de gasóleo sobe para 50 Kwanzas, ou seja mais 10 kwanzas.
Na
mesma informação, o Ministério das Finanças esclarece que “não obstante este
ajustamento nos preços”, os combustíveis em Angola “continuam ainda a ser
subsidiados pelo Orçamento Geral de Estado”.
Sim!
É verdade! Mas por falta de sentido de Estado de uma grande maioria dos
governantes, quanto as benesses que se distribuem, escancarando os cofres públicos
para pagamento de contas particulares.
Muitos
até o combustível para as quintas pessoais sai do orçamento dos ministérios.
Nesse
sentido, não colhe a justificativa, pelo menos, para a maioria da população,
que “em 2013 foram transferidos 552,9 mil milhões de kwanzas, representando
cerca de equivalentes a 12% da despesa total neste mesmo ano”, acrescenta a
informação.
Os
últimos ajustes ao preço dos combustíveis aconteceram em 2005 e 2010, com
aumentos, respectivamente, de 138,35% e 46,4%.
Com
as alterações agora introduzidas o litro de petróleo iluminante passa a custar
35 kwanzas e uma botija de gás de 51 quilos 2.295 kwanzas.
Este
aumento surgiu precisamente três dias depois de uma missão do Fundo Monetário
Internacional (FMI) ter iniciado uma visita de trabalho a Angola, para prestar
assistência técnica ao Governo na reforma do programa de subsídios aos
combustíveis.
Ora
ao invés de começarem a cortar por cima, começa, por baixo, como de costume.
Mas
ainda assim, o Ministério das Finanças informa que esta missão pretende
“avaliar” a estrutura e a incidência de subsídios angolanos à energia, os
efeitos sobre competitividade e “propor uma estratégia que permite uma redução”
nesses apoios “que compense o custo social e económico” da sua remoção.
O
impacto directo de uma reforma deste género nos subsídios à energia nos diferentes
sectores e sobre a população deverá igualmente ser analisado pelos técnicos do
FMI, cujos trabalhos vão prolongar-se até 07 de Outubro, sendo a missão
coordenada pelo Departamento de Assuntos Fiscais do FMI, chefiada por Stefania
Fabrizio, chefe-adjunta da Divisão para a Política de Despesa daquela
organização internacional.
Recorde-se
que durante a visita que promoveu a Angola entre 14 e 16 de Setembro, o
director-geral adjunto do FMI, Naoyuki Shinohara, assumiu a disponibilidade da
instituição no apoio técnico ao executivo angolano, defendendo uma revisão da
política angolana de subsídio aos combustíveis, para “racionalizar” os
recursos financeiros públicos e alargar os apoios sociais, recordando que
estes custam 4% Produto Interno Bruto angolano.
Uma
“racionalização” destes subsídios, disse Naoyuki Shinohara, permitiria, por
exemplo, “libertar recursos” para expandir a rede social angolana ou fortalecer
o sector petrolífero a médio prazo.
Do
ponto de vista interno, depois das eleições o MPLA muda dE linguagem, de
estratégia e está-se nas tintas para o Povo.
Não
cumpre as promessas e nem se preocupa. É mais uma machadada de Eduardo dos
Santos depois de se ver com os votos dos que acreditaram nas suas garantias.
Se
os angolanos catalogassem as promessas feitas e não cumpridas não fariam,
certamente, outra coisa.
O
regime, sem qualquer fundamento de racionalidade económica, afecta com esta
medida a maioria da população activa, dependente do combustível, para o seu
dia a dia, desde o gerador de casa, transporte e outras situações colaterais.
É
o povo quem vai arcar com as despesas maiores.
A
minoria governante alojada no pedestal de uma arrogante e petulante insensibilidade,
visa compensar os milionários desvios de dólares do erário público, para as
contas particulares, com esta decisão, inspirada nas cartilhas do FMI.
José
Eduardo dos Santos e o seu regime, a par da política social do betão, que
“calça”algumas grandes estradas, um ganho, na verdade, naquilo que é uma das
funções primárias do Estado, garantir a circulação rodoviária, pouco mais tem
feito de amplo alcance social, para a vida da maioria dos angolanos. Os
condomínios, a inflação, a especulação imobiliária, os baixos salários, o
desemprego, a falta de oportunidades iguais, o cabritismo , a corrupção, a intolerância,
a discriminação, os assassinatos selectivos de opositores e intelectuais não
bajuladores, são a grande imagem de marca do eduardismo.
Por
muito que custe, a legião dos bajuladores essa é a realidade de um país onde
as liberdades estão cerceadas e cada medida é para atingir a vida da maioria
sofredora.
Veja-se,
por exemplo, antes desta, como o regime apunhalou o sonho de muitos autóctones
angolanos, que se julgavam da classe média baixa, com a introdução do Decreto
Presidencial 135/10 de 13 de Julho, que estipula para 3 (três) o limite de
vida dos carros a importar. Uma bestialidade.
Como
os dirigentes não conhecem o país real, nem sabem quantos empregos indirectos e
directos garantia essa actividade. Dos Santos com esta lei traiu, mais uma
vez, o sonho de muitos terem carro próprio, capaz de dignificar a profissão e a
própria condição de cidadania, nomeadamente os professores, enfermeiros e
outros técnicos, cujos salários não dão para comprar um carro novo. Proibindo
a importação de viaturas com mais de três anos, um país que nem peças de carros
produz, só pode ser uma autêntica aberração.
Foi
uma medida para decapitar a esperança de uma classe remediada, levando por
arrasto todos os serviços contíguos de pequenas e médias empresas, como são as
oficinas. É claro que a estratégia foi basilar para que os estrangeiros, em sociedade
com altos dignitários do regime, avançassem com a abertura de stands de carros
novos, só ao alcance da alta classe dirigente e afins.
Trata-se,
mas isso é irrelevante, de uma medida que nem nos países fabricantes de
automóveis existe, pois um carro se tiver bem tratado e com todas as revisões
em dia pode durar 20 anos. Cuba – um paradigma para o regime - tem carros com
mais de 50 anos.
E
com a subida dos combustíveis os aumentos dos restantes produtos vão acontecer
em cadeia. Num
país onde a energia normal é o gerador, tudo, absolutamente tudo, vai aumentar
de custo para a maioria dos autóctones, com realce para os mais pobres. Quando
as contas dão zebra pelos enormes desvios, praticados pela legião de corruptos
alojados no poder ou vivendo da babugem inerente, logo vem a solução
miraculosa de tirar a quem pouco tem para dar a quem tudo tem. Era assim nas
monarquias absolutistas, é assim nas ditaduras monárquicas como a nossa.
Em
Angola quem sente o aumento é a maioria que tem um gerador porque, importa
não esquecer, é a única forma de contornar a incompetência do regime em
fornecer energia eléctrica.
É
claro que o problema não se coloca aos dirigentes políticos e militares que
recebem senhas, tendo alguns um plafond ilimitado. Não é raro ver nos quartéis,
por exemplo, os oficiais superiores atestarem sempre que querem as viaturas da
mulher, dos filhos, dos irmãos, dos primos, dos tios, das amantes etc..
E
nesse inevitável aumento em cadeia, lá vão subir os preços das propinas, do
pão, porque 99,9 % das padarias funcionam com gerador e teremos então o “kibeu”
a sair dos 50 para 80, 100,00 ou mais. Os produtos agrícolas, o peixe, a fuba,
tudo vai mesmo ficar pela hora da morte. Mas só fica para a esmagadora maioria.
Os outros, os que mandam, nem dão conta disso.
É
claro que o regime está a escancarar as portas e as janelas para o início das
grandes e ininterruptas manifestações populares em busca da sua soberania.
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