domingo, 5 de outubro de 2014

Pequim recorre à máfia e à Igreja Católica para desmobilizar manifestantes em Hong Kong




Primeiro, na passada sexta-feira, surgiram contramanifestantes que atacaram os que integram o movimento pródemocracia e se manifestam há 11 dias. Daí resultou violência em confrontos que justificaram intervenções policiais com ainda mais violência e gás mostarda. Contramanifestantes detidos foram identificados pela polícia como elementos pertencentes às tríades, a máfia chinesa. A evidência da pressão sobre os manifestantes pródemocracia deixa perceber que os contramanifestantes aparecidos do nada foram “encomenda” de Pequim em figurino comum às ditaduras.

Depois, sábado, foi a Igreja Católica, um braço dessa religião em Hong Kong, que avançou com um apelo para que os pródemocracia desmobilizassem como podemos ler no jornal Público: “Ao 10.º dia da revolta, e com a ameaça da intervenção da polícia, surgiram os apelos: já se fizeram ouvir, agora salvem-se. Os manifestantes pró-democracia de Hong Kong perceberam a mensagem e, a meio da tarde de domingo, começaram a desfazer parte das manifestações e acampamentos.”

O apelo pretende insinuar que pode voltar a acontecer Tianamen ou algo semelhante, desta vez em Hong Kong. Mas isso é aquilo que naturalmente as pessoas pensam – por saberem da boçalidade dos ditadores chineses em Pequim – porque o apelo não especifica o que há a temer. A políicia tem intervido várias vezes e nem por isso os manifestantes desmobilizam... O que consta nos jornais é que “A Diocese Católica de Hong Kong publicou no seu portal um "apelo urgente" a todos os estudantes e cidadãos que participam nos protestos para que desmobilizem "o mais rapidamente possível". Ainda em palavras da diocese, reportadas pela Agência Lusa, alude que devem desmobilizar "Por razões de segurança, a Diocese insta os estudantes e os cidadãos que apoiam o 'Occupy Central' a abandonarem os locais de protesto o mais rapidamente possível", lê-se na breve nota, que data da noite de sábado.”

Facto é que a esta hora em Hong Kong se regista a desmobilização dos manifestantes pródemocracia. Não de todos, mas da maioria, como podemos ler no jornal Expresso: “Há sinais de cansaço e receio de repressão policial. Ativistas pró-democracia são menos nas ruas e concentram-se agora, sobretudo, junto à sede do governo de Hong Kong.”

Quer dizer: aquilo que a máfia chinesa não conseguiu, que era desmobilizar os manifestantes – pelo contrário, saíram mais pessoas para as ruas – foi conseguido pela Igreja Católica de Hong Kong. Falamos de máfias, como bem se sabe. Entre uns e outros que venha o diabo e escolha. 

Só não vê quem não quer. Pequim usou os “santinhos” para desmobilizar os que exigem mais democracia, porque constatou que com os “diabinhos” das tríades nada conseguiram. Foi uma boa jogada e tudo aponta para um grande bluff a que a diocese católica de Hong Kong se prestou, consciente ou inconscientemente. Nunca iremos saber.

A situação está a compor-se segundo as vontades de Pequim e isso significa menos democracia, a antítese daquilo que os manifestantes exigem há imenso tempo. Mas, dai tempo ao tempo e perseverança na luta pela liberdade de eleger democraticamente quem nos deve governar sem sofismas nem desonestidades tão comuns aos políticos da atualidade, na China como na maior parte do mundo.

A Agência Lusa revela o possível sobre o que está a acontecer em Hong Kong. Com vénias usamos os seus trabalhos. (MM / PG)

Diocese Católica lança apelo à desmobilização por razões de segurança

05 de Outubro de 2014, 14:55

Hong Kong, China, 05 out (Lusa) -- A Diocese Católica de Hong Kong publicou no seu portal um "apelo urgente" a todos os estudantes e cidadãos que participam nos protestos para que desmobilizem "o mais rapidamente possível".

"Por razões de segurança, a Diocese insta os estudantes e os cidadãos que apoiam o 'Occupy Central' a abandonarem os locais de protesto o mais rapidamente possível", lê-se na breve nota, que data da noite de sábado.

"Relativamente à reivindicação por um verdadeiro sufrágio universal, podemos continuar a lutar por este objetivo de uma forma adequada nos próximos dias".

DM/FV // DM

Jornal do PC chinês acusa manifestantes de incitarem "hostilidade"

05 de Outubro de 2014, 14:14

Pequim, 05 out (Lusa) -- Os manifestantes que ocupam as ruas de Hong Kong há mais de uma semana incitam a "hostilidade" no seio da sociedade de Hong Kong e vão contra a democracia, escreve hoje o Diário do Povo, jornal do órgão central do Partido Comunista chinês.

"O movimento ilegal 'Occupy Central' liderado, de forma inconsequente, por algumas pessoas guiadas pelo seu individualismo desprezam a maioria da opinião pública e vão contra a democracia e a autoridade da lei", refere em editorial.

Este movimento "incita as oposições sociais, destrói os pontos de concordância entre os diversos grupos da sociedade, o que resulta num grave clima hostil", diz o mesmo jornal.

Na ausência de uma declaração oficial dos dirigentes de Pequim sobre as manifestações em Hong Kong, o jornal estatal tem vindo a dar a "linha" do partido sobre a campanha de desobediência civil em curso.

Os manifestantes contestam a recusa de Pequim em garantir pleno sufrágio universal na Região Administrativa Especial chinesa nas eleições para o chefe do Executivo.

DM/FV // DM

Polícia voltou a usar gás pimenta contra manifestantes

05 de Outubro de 2014, 13:25

Hong Kong, China, 05 out (Lusa) -- A polícia de Hong Kong voltou a recorrer, esta madrugada, ao uso de gás pimenta para dispersar um grupo de manifestantes que se concentrou em frente a uma esquadra no bairro de Mong Kok, após escaramuças com os jovens.

Hoje, em conferência de imprensa, um porta-voz da polícia defendeu "a necessidade" do seu uso face ao escalar da tensão na zona: "Havia grupos que estavam a provocar a polícia e tentaram empurrar o cordão policial".

Um grupo de manifestantes concentrou-se em frente à esquadra de Mong Kok, depois de os jovens terem criticado a atitude "passiva" das autoridades perante os ataques de que foram alvo manifestantes por parte de grupos pró-Pequim naquele distrito.

"A polícia conteve-se muito. Os conflitos intensificaram-se muito nos últimos dias", disse a polícia.

Em comunicado, também emitido hoje, os agentes voltam a apelar aos estudantes para que abandonem o local: "A polícia pede ao público que mantenha a calma e que colabore com as instruções dos oficiais de polícia. Qualquer ato que coloque em perigo a ordem ou segurança públicas não será tolerado. A polícia tomará medidas decisivas contra atitudes ilegais", refere o comunicado.

Cerca de dois mil estudantes acordaram hoje nas ruas de Hong Kong depois de dezenas de milhares de outros terem participado numa concentração pela paz e contra a violência ignorando as advertências do Governo.

O chefe do Executivo, CY Leung, emitiu um novo alerta no sábado, afirmando que serão tomadas todas as medidas necessárias para restaurar a ordem nas ruas caso os protestos não se dissolvam até segunda-feira.

Várias linhas de transporte público continuavam hoje sem funcionar em diversos pontos da cidade, à semelhança de diversos estabelecimentos comerciais quando se cumprem oito dias desde o início dos massivos protestos na antiga colónia britânica.

Mais de mil manifestantes passaram a noite nas imediações dos edifícios governamentais em Admiralty -- zona onde se realizou a concentração pela paz, convocada pelos três grandes organizadores dos protestos: o movimento Scholarism, a Federação de Estudantes de Hong Kong e o 'Occupy Central'.

A concentração contra a violência e a favor da paz foi uma forma de contestar os ataques levados a cabo na véspera por pessoas que se opõem aos protestos na cidade, algumas das quais referenciadas até pela polícia como presumíveis membros de tríades.

Centenas de manifestantes acordaram também hoje nas ruas dos movimentados bairros de Causeway Bay e Mong Kok, as outras duas zonas onde bloqueiam diversas vias desde segunda-feira.

Em Mong Kok voltaram a registar-se escaramuças, ainda que com menor dimensão e incidência, entre manifestantes a favor e contra os protestos pró-democracia, depois de na sexta-feira os confrontos terem resultado em cerca de 20 feridos e 20 detidos.

DM/FV // DM

Multidão nas ruas para contestar violência sobre manifestantes pró-democracia

05 de Outubro de 2014, 04:46

Hong Kong, China, 04 out (Lusa) - Milhares de apoiantes pró-democratas em Hong Kong concentraram-se hoje em Admiralty, num protesto aos ataques contra manifestantes nos distritos de Mong Kok e Causeway Bay, na sexta-feira, segundo a imprensa local.

A multidão formada por milhares de pessoas rumou a Admiralty, após manifestação nas ruas de Hong Kong, onde estão situadas a sede do governo e secretarias governamentais, o gabinete do chefe do Executivo e o Conselho Legislativo (parlamento), segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

O movimento pró-democracia "Occupy Central" e dois grupos estudantis - Federação dos Estudantes e 'Scholarism' -, que lideram a campanha de desobediência civil nas ruas de Hong Kong, apelaram aos manifestantes para saírem de Mong Kok e Causeway Bay, e unirem forças no principal local dos protestos, em Admiralty.

Ao dirigir-se à multidão, o deputado do Partido Cívico Dennis Kwok disse que os manifestantes faziam parte de um movimento histórico de mudança.

"O que estão a ver em Hong Kong, esta noite, é a mais pura forma de coragem que alguma vez vão ver neste planeta", disse.

"É o tipo de coragem que vai mudar a política neste país para sempre", acrescentou.

A concentração em Admiralty contra a violência e em apoio à luta pacífica foi marcada na sequência dos incidentes ocorridos em Mong Kok, nomeadamente pelo movimento 'Occupy Central', através da rede social Twitter.

No início da noite, o chefe do Executivo, CY Leung, disse, numa mensagem gravada e difundida pela televisão, que a sede do governo e principais artérias da cidade devem ser desbloqueadas até segunda-feira, para que os departamentos governamentais e as escolas possam voltar a operar normalmente.

"Neste momento, o mais urgente é que as entradas e saídas da sede do Governo estejam livres na segunda-feira, para que todos os 3.000 funcionários do Governo possam trabalhar normalmente e servir os cidadãos", e que "as ruas nos distritos de Central, Western e Wan Chai também deixem de estar bloqueadas, de modo a que todas as escolas possam retomar as aulas na segunda-feira", afirmou.

Afirmando condenar veemente a violência de sexta-feira, o chefe do Executivo alertou que, se o conflito entre os grupos contra e a favor do movimento 'Occupy Central' se continuar a agudizar, haverá "graves consequências para a segurança pessoal dos cidadãos de Hong Kong e para a ordem social".

Neste sentido, frisou que o Governo tomará todas as medidas necessárias para restaurar a ordem social, considerando que os protestos de desobediência civil em curso estão a ameaçar ficar fora de controlo.

As palavras de CY Leung foram interpretadas desde logo por muitos, a começar pelos manifestantes, como um ultimato. Tanto que, na conta do Twitter do 'Occupy Central', se reproduz uma frase atribuída a Lester Chum: "Joshua Wong, 'líder do Scholarism', Alex Chow e eu [Lester Chum], 'líderes da Federação de Estudantes', talvez possamos ir todos para a cadeia, mas já alcançámos o nosso objetivo, porque as pessoas de Hong Kong acordaram".

Já Benny Tai, um dos líderes do 'Occupy' escreveu: "Não temos como alvo os funcionários públicos. Se lhe proporcionarmos acesso ao seu local de trabalho na segunda-feira, CY Leung já não terá desculpa para nos tirar daqui". Alex Chow complementou: "Temos de nos manter unidos, olhar uns pelos outros, perante as ameaças, não temos medo mas temos de estar preparados".

Um professor de Serviço Social, Law Chi-Kwong, também disse hoje que as palavras do chefe Executivo estão extremamente próximas de um ultimato para a retirada dos manifestantes, e que o governo pode não esperar até segunda-feira para o cumprir.

O académico da Universidade de Hong Kong acrescentou que o proposto diálogo entre estudantes e responsáveis do governo foi a primeira barreira contra uma possível "operação de limpeza", e que agora que a Federação de Estudantes anunciou o rompimento das negociações, o perigo está iminente.

Porém, o membro dos Conselhos Executivo e Legislativo de Hong Kong Regina Ip disse não considerar a intervenção de CY Leung como um ultimato aos manifestantes. Para a antiga secretária para a Segurança de Hong Kong, o chefe do Executivo tem a responsabilidade de restaurar a ordem social, acrescentando que a campanha 'Occupy' já vincou os seus objetivos, e que Hong Kong pode cair na anarquia se os protestos continuarem.

FV/DM/ // MAG

Violência "apagou a luz ao fundo do túnel" e tornou desfecho mais imprevisível

05 de Outubro de 2014, 02:55

Hong Kong, China, 04 out (Lusa) - Os violentos incidentes de sexta-feira em Hong Kong que levaram os estudantes a anunciar a rutura do diálogo com o Governo apagaram "a luz ao fundo do túnel" para solucionar o impasse, tornando o desfecho imprevisível, segundo um académico local.

A opinião é de Mok Hing Luen que, ao longo da última semana, tem passado largas horas no jardim de Tamar - uma das zonas ocupadas pelos estudantes, onde ficam situadas o parlamento, secretarias do governo e gabinete do chefe do Executivo - a dar palestras sobre movimentos sociais, mantendo vivo o espírito de professor, atividade que exercia até há poucos meses na City University.

Desde sexta-feira, confrontos entre apoiantes e oponentes dos protestos foram registados nas ruas de Hong Kong, tendo sido detidas pelo menos 19 pessoas por incidentes ocorridos em vários pontos da cidade, sobretudo em Mong Kok, na península de Kowloon, e em Causeway Bay, na ilha de Hong Kong.

Segundo a polícia, oito dos detidos estão referenciados como tendo ligações à máfia.

"Não vejo solução à vista. Na verdade, quando era suposto Carrie Lam [número dois do executivo de Hong Kong] reunir-se com os alunos, havia uma luz ao fundo túnel, mas os incidentes da noite passada nos distritos de Mong Kok e Causeway Bay destruíram todas estas esperanças, porque o governo está a lidar com estas situações de forma inadequada, disse, em entrevista à Lusa, Mok Hing Luen.

Para o antigo professor de Trabalho Social, os ataques contra os manifestantes pacíficos acabaram por aumentar a dimensão do movimento: "As pessoas voltaram e lutaram. E ficaram ainda mais fortes ao insistirem nos pedidos. A situação está realmente fora do controlo".

"Controlar não é pedir-lhes para sair, porque eles participam realmente no movimento e acreditam realmente na democracia. São pessoas muito comprometidas e dedicadas e é muito difícil persuadi-las a abandonarem o local", considerou.

Para Mok Hing Luen, o alegado envolvimento de membros de tríades em ataques aos manifestantes pacíficos aumentou a desconfiança da população no governo, até porque "os residentes de Hong Kong são pessoas muito disciplinadas e respeitadoras da lei, mas também sabem reconhecer quando uma situação é injusta e quando não podem influenciar o governo através dos canais normais".

"Metade das pessoas de Hong Kong apoia os protestos. No início não havia muita gente a apoiar a desobediência civil, mas os incidentes reforçaram os apoios às manifestações", afirmou.

"Mesmo que uses a força, a polícia, ou gás lacrimogéneo, não podes ganhar a confiança das pessoas. Como é que podes governar assim? O governo está a arruinar a confiança da maioria das pessoas", acrescentou, ao sublinhar que a desobediência civil "pode ganhar apoio da opinião pública, sobretudo dos jovens mais educados e dos jovens profissionais".

A insatisfação e raiva contra o governo são "muitos fortes", mas também contra a atuação da polícia, argumentou. "Não consigo imaginar como é que conseguiremos restaurar a confiança entre as pessoas e a polícia".

Os ataques da noite passada criaram uma divisão bastante vincada na sociedade na opinião de Mong Hok Lueng: "Nós, população de Hong Kong, estamos muito divididos, e isso vê-se nas redes sociais, com muitos a deixarem de ser amigos no Facebook".

O intelectual advogou ainda que o executivo de CY Leung tem uma grande responsabilidade na matéria: "Muitas pessoas acreditam que o governo tolerou as sociedades de crime organizado a atacarem os manifestantes na noite de sexta-feira, sem que a polícia atuasse. Isto é uma conspiração, não há provas, mas as pessoas só têm uma conspiração desta natureza quando não há confiança em relação ao governo e à polícia".

"Os ataques de ontem foram muito violentos. Raramente se vê isto em Hong Kong, mas aconteceu. É muito trágico", concluiu.
FV/DM // SMA

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