Jeremias
Langa – O País (mz), opinião
Em
jeito de fecho
As
celebrações do 3 de Fevereiro deixaram-nos transparecer o quão a Frelimo e o
seu Governo estão profundamente divididos na abordagem ao diálogo político com
a Renamo. De um lado, o do Presidente da República e seu Primeiro-Ministro,
temos a imagem da serenidade e abertura incondicional a conversar com Afonso
Dhlakama. De outro, o do Presidente do Partido, seu Secretário-Geral e
apaniguados mais próximos, a imagem sombria, nervosa, agressiva e impaciente.
Magnânimo,
e alheio a todo o ruído que o seu próprio partido faz, em torno do assunto,
Filipe Nyusi mantém-se fiel e coerente ao seu discurso de posse e continua a
surpreender tudo e todos pela sua inesperada firmeza até perante aqueles que
esperavam que lhes devesse vénias.
Há
muito que tinha ficado evidente que o sucessor de Guebuza não teria vida fácil
na direcção do Estado. Até 15 de Janeiro deste ano, e durante 50 anos, tinham
sido os próprios fundadores da Frelimo a dar as cartas em tudo e, no momento de
entregar o poder à nova geração, Nyusi parecera-lhes a escolha de menor risco,
aquele que, pelo seu passado, não se configurava de encetar grandes mudanças ao
rumo que elesachavam melhor ao país.
O
problema é que Filipe Nyusi está a sair-se, precisamente, o oposto do que a
Frelimo (ou apenas alguns dos seus mais proeminentes membros?) esperaria. A
começar pelo apaziguador e messiânico discurso da posse. O novo Presidente
entrou com estrondo, pela porta principal, quando em alguns guiões se lhe
tinha reservado a porta das traseiras.
A
mensagem de que “o meu patrão é o povo” é muito mais profunda do que alguns a
interpretaram e destina- se mais para dentro do partido do que para fora.
Quando,
em bloco, o partido mostra sinais de impaciência e responde com agressividade
aos incendiários discursos de Dhlakama, como se viu, no dia 3 de Fevereiro com
o ex-presidente Armando Guebuza, é sinal claro de que alguém na Frelimo
“está-se nas tintas” com os desvarios do líder da Renamo e as consequências que
deles podem advir para o país e estará a passar a ideia de que é necessário
activar um Plano B para resolver o assunto. Como há cerca de ano e meio, quando
se atacou, inesperadamente, Santugira.
Por
ora, Filipe Nyusi mostrou que é incólume à pressão, que a sua estratégia é
precisamente estender os braços ao líder da Renamo para o convencer a abandonar
o caminho errático em que se meteu e a voltar à normalidade. A velha máxima “a
alternativa ao diálogo é o próprio diálogo”. Uma posição que continua a valer
pontos a Nyusi, um presidente que muitos supunham cordeiro, mas está a
revelar-se um verdadeiro lobo. Pelo menos por ora.
Filipe
Nyusi prometeu, na sua posse, construir consensos nos momentos difíceis, uma
liderança onde em Moçambique,
jamais, irmãos se voltem
contra irmãos seja a que
pretexto for; um permanente e verdadeiro dialogo. Prometeu buscar no Presidente
Chissano o espírito de tolerância e de reconciliaçã
o da família moçambicana.
Em
menos de um mês de chefia do Estado, Nyusi enfrenta o primeiro grande teste à
sua liderança, enfrenta o primeiro momento difícil e a oportunidade de começar
a pôr em prática estas suas promessas, mesmo que isso implique colocar-se nos
antípodas das ideias do seu partido. Conseguir convencer os ultra-radicais do
partido, sem ter a liderança do mesmo, é o primeiro passo.
PS: Esta
semana, a Ordem dos Advogados insinuou que a Procuradoria-geral da República
devia intervir e autuar Afonso Dhlakama pelos seus pronunciamentos. Discordamos
completamente desta ideia. Prender Dhlakama seria pior a emenda que o soneto.
Todos somos iguais perante a lei, reza a Constituição. Mas como sabiamente nos
lembra George Orwell, há uns mais iguais que os outros.
Afonso
Dhalama não é António Muchanga. Olha-se para a enorme legião dos seus
seguidores e percebe- se o potencial de instabilidade em que o país pode
mergulhar se enveredar por este caminho. O problema de Dhlakama é político e
por essa via deverá ser resolvido.
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(mz)
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