quinta-feira, 30 de julho de 2015

Angola. MENSAGEM SIMPLES



Aline Frazão – Rede Angola, opinião

A mensagem é simples: há espaço para todos. Há espaço para a maioria que elegeu o MPLA nas eleições. Há espaço para a oposição partidária. Há espaço para a sociedade civil, para o jornalismo livre, para o debate, para a pluralidade de opiniões. Se a ética não nos chegar, temos a lei para estabelecer os limites desse acordo social. A Constituição Angolana garante os direitos e os deveres dos cidadãos. E, parafraseando Barack Obama, ninguém está acima da lei.

A mensagem é simples: ninguém quer um estado de sítio em Angola. Apreciamos a preocupação da PGR em relação à possibilidade de ameaça à segurança pública mas, contudo, o excesso de zelo, a atitude excessiva e o abuso de poder das autoridades angolanas em relação aos activistas presos faz-nos pensar que, em vez da máxima “mais vale prevenir do que remediar”, aqui se aplica o famoso “foi pior a emenda do que o soneto”.

O que há que prevenir, o que precisamos de defender é o direito à liberdade, não só de pensamento, não só de expressão. Também a liberdade de associação e reunião, a liberdade para a participação ordenada e pacífica de colectivos da sociedade civil. Não se pode cair no erro de associar qualquer manifestação de dissidência a uma tentativa de rebelião.

Esta crise política ganhou contornos cada vez mais caricatos ontem, com o impedimento, mais uma vez, da manifestação de solidariedade para com os presos políticos, no Largo da Independência. Enquanto isso, a JMPLA exibia no mesmo sítio a sua mobilização às pressas, desmesurada, fora de sítio, propagandística e forçada. Para afirmar o quê?

É preciso renovar a forma de se fazer política numa Angola nova, com outras metas para além da paz; uma Angola ambiciosa e cheia de capacidades, que tem mostrado que deseja mais: mais democracia, mais liberdade, mais igualdade social. É preciso saber ouvir o povo. O povo não é de um só partido. Há muita gente sem partido. O cidadão comum não é militante. É cidadão, é cidadã, angolano, angolana, contribuinte, trabalhadora, eleitor.

O tempo não pára. Especialmente para os presos políticos, que continuam em isolamento, em condições muito pouco dignas. Neste momento, mais do que nunca, apelamos ao bom senso das autoridades judiciais, para que os deixem aguardar por um possível julgamento nas suas casas, junto das suas famílias, que, a seguir a eles, são as mais lesadas por este processo. Se houve excesso de zelo, só a libertação imediata destes jovens pode nos devolver a confiança no sistema judicial e político angolano. Alguns ainda têm esperança, na certeza de que sairemos deste processo mais fortes.

Democracia é isso: divergência de opinião e espaço para ela. Discordar não é falta de respeito. É esperado que exista diferença na maneira como pensamos. Não nos menosprezem com a conversa de que quem critica o governo é manipulado por este ou por aquele. Não nos movemos só por paixões, também vemos os factos, saímos à rua, usamos a internet. Bem-vindos ao século XXI, onde um jovem angolano pode, felizmente, ter acesso à informação, debater nas redes sociais, nos corredores da faculdade, no cochicho entre as páginas de um livro. Não tenham medo da emancipação das nossas mentes. Sirvam-se dela para fazer crescer o país.

Vale muito mais um jovem que se dedica a debater sobre um país melhor do que aquele que se acomoda no seu salário de muitos dígitos, enchendo a boca para dizer que paga, que rouba, que é esperto, bem relacionado, bem vestido. Vale muito mais um jovem que quer ler, que quer participar na sociedade pelo bem comum, do que outro que segue a corrente sem se fazer qualquer pergunta. Silenciosos, assinam qualquer projecto de país, desde que saiam beneficiados. Assim, é demasiado fácil errar.

A mensagem é simples: convençam-se de que há espaço para todos. Só essa paz será de verdade, só essa união será honesta.

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