Aline
Frazão – Rede Angola, opinião
A
mensagem é simples: há espaço para todos. Há espaço para a maioria que elegeu o
MPLA nas eleições. Há espaço para a oposição partidária. Há espaço para a
sociedade civil, para o jornalismo livre, para o debate, para a pluralidade de
opiniões. Se a ética não nos chegar, temos a lei para estabelecer os limites
desse acordo social. A Constituição Angolana garante os direitos e os deveres
dos cidadãos. E, parafraseando Barack Obama, ninguém está acima da lei.
A
mensagem é simples: ninguém quer um estado de sítio em Angola. Apreciamos
a preocupação da PGR em relação à possibilidade de ameaça à segurança pública
mas, contudo, o excesso de zelo, a atitude excessiva e o abuso de poder das
autoridades angolanas em relação aos activistas presos faz-nos pensar que, em
vez da máxima “mais vale prevenir do que remediar”, aqui se aplica o famoso
“foi pior a emenda do que o soneto”.
O
que há que prevenir, o que precisamos de defender é o direito à liberdade, não
só de pensamento, não só de expressão. Também a liberdade de associação e
reunião, a liberdade para a participação ordenada e pacífica de colectivos da
sociedade civil. Não se pode cair no erro de associar qualquer manifestação de
dissidência a uma tentativa de rebelião.
Esta
crise política ganhou contornos cada vez mais caricatos ontem, com o
impedimento, mais uma vez, da manifestação de solidariedade para com os presos
políticos, no Largo da Independência. Enquanto isso, a JMPLA exibia no mesmo
sítio a sua mobilização às pressas, desmesurada, fora de sítio, propagandística
e forçada. Para afirmar o quê?
É
preciso renovar a forma de se fazer política numa Angola nova, com outras metas
para além da paz; uma Angola ambiciosa e cheia de capacidades, que tem mostrado
que deseja mais: mais democracia, mais liberdade, mais igualdade social. É
preciso saber ouvir o povo. O povo não é de um só partido. Há muita gente sem
partido. O cidadão comum não é militante. É cidadão, é cidadã, angolano,
angolana, contribuinte, trabalhadora, eleitor.
O
tempo não pára. Especialmente para os presos políticos, que continuam em
isolamento, em condições muito pouco dignas. Neste momento, mais do que nunca,
apelamos ao bom senso das autoridades judiciais, para que os deixem aguardar
por um possível julgamento nas suas casas, junto das suas famílias, que, a
seguir a eles, são as mais lesadas por este processo. Se houve excesso de zelo,
só a libertação imediata destes jovens pode nos devolver a confiança no sistema
judicial e político angolano. Alguns ainda têm esperança, na certeza de que
sairemos deste processo mais fortes.
Democracia
é isso: divergência de opinião e espaço para ela. Discordar não é falta de
respeito. É esperado que exista diferença na maneira como pensamos. Não nos
menosprezem com a conversa de que quem critica o governo é manipulado por este
ou por aquele. Não nos movemos só por paixões, também vemos os factos, saímos à
rua, usamos a internet. Bem-vindos ao século XXI, onde um jovem angolano pode,
felizmente, ter acesso à informação, debater nas redes sociais, nos corredores da
faculdade, no cochicho entre as páginas de um livro. Não tenham medo da
emancipação das nossas mentes. Sirvam-se dela para fazer crescer o país.
Vale
muito mais um jovem que se dedica a debater sobre um país melhor do que aquele
que se acomoda no seu salário de muitos dígitos, enchendo a boca para dizer que
paga, que rouba, que é esperto, bem relacionado, bem vestido. Vale muito mais
um jovem que quer ler, que quer participar na sociedade pelo bem comum, do que
outro que segue a corrente sem se fazer qualquer pergunta. Silenciosos, assinam
qualquer projecto de país, desde que saiam beneficiados. Assim, é demasiado
fácil errar.
A
mensagem é simples: convençam-se de que há espaço para todos. Só essa paz será
de verdade, só essa união será honesta.
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