terça-feira, 28 de julho de 2015

Angola. QUANDO O MAIS-VELHO DEIXAR O PODER




Kalaf Epalanka – Rede Angola (ao), opinião

Há quem questione quando será que o presidente José Eduardo dos Santos irá deixar o poder. Outros, mais calculistas, preocupados com questões práticas, interrogam-se “Quem será o próximo presidente da república?” Longe de mim menosprezar quem se entregue a tão importante raciocínio, mas ao invés de me perder nesse exercício hipotético de adivinhar o quem e o quando, prefiro antes apontar a minha curiosidade para tentar imaginar que tipo de país o próximo líder irá governar.

Essa é pergunta que todos devemos ter a coragem de formular e arriscar responder até. Todos temos responsabilidades, jovens e velhos, sociedade civil e classe política. Não nos podemos deixar sucumbir à ideia de que está tudo perdido e qualquer mudança está fora do nosso alcance. Muitas das regras e das leis sobe as quais nos regemos em sociedade não são mais velhas do que a maioria dos cidadãos deste país, ou, para termos uma ideia mais concreta, não são mais velhas do que o jornalista e activista Rafael Marques de Morais. As leis em vigor durante o reinado de Ngola Kiluanji ou Ekwikwi II não sobreviveram aos séculos de ocupação portuguesa. Nós enquanto nação independente, não temos o dobro da idade da maioria dos jovens activistas detidos em Viana, Calomboloca e Caquila. Se somos ainda candengues, porque não usar isso a nosso favor? Porque não aproveitar a pujança, vitalidade de uma nação jovem nesse continente que todos consideram o futuro? Evitando os erros cometidos por outras nações bem mais experientes nas lides democráticas, que entre outras barbaridades, tardaram a reconhecer o direito ao voto das mulheres e dos negros. Podíamos aproveitar essa pujança e vitalidade juvenil e liderar em pontos como igualdade de género, não fossem elas, nossas mães e irmãs, verdadeiras heroínas num continente onde os homens mais fortes e capazes foram continuamente sacrificados, deportados para as Américas ou então enviados para uma frente de combate.  Quem melhor do que nós, africanos, para descrever o verdadeiro significado da palavra liberdade?

Antes que o cansaço nos vença a todos, o que podemos fazer?  Os que reclamam mudanças aqui e agora, mas também os que estão dispostos a esperar, e até os cínicos que teimam em não entender que prosperidade económica e estabilidade política têm como inimigo maior a desigualdade social. São estes últimos que sentem que todos os angolanos conspiram contra, questionam a sua decência e invejam o seu sucesso financeiro. Esta é uma não questão, pelo menos diante daquela que todos já se colocaram de uma forma ou de outra – por quanto mais tempo o país vai conseguir esticar essa corda. Se nós, angolanos, acreditamos nas nossas capacidades, deveríamos aprender a deixar de concluir todos os argumentos sobre o nosso futuro com a questão: quem será o próximo presidente quando José Eduardo dos Santos deixar o poder? Angola vai precisar muito mais do que um presidente. Precisa dos que acreditam em sonhos – que se lhes dê voz. Acredito que não nos vamos arrepender.

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