Kalaf
Epalanka – Rede Angola (ao), opinião
Há
quem questione quando será que o presidente José Eduardo dos Santos irá deixar
o poder. Outros, mais calculistas, preocupados com questões práticas,
interrogam-se “Quem será o próximo presidente da república?” Longe de mim
menosprezar quem se entregue a tão importante raciocínio, mas ao invés de me
perder nesse exercício hipotético de adivinhar o quem e o quando, prefiro antes
apontar a minha curiosidade para tentar imaginar que tipo de país o próximo
líder irá governar.
Essa
é pergunta que todos devemos ter a coragem de formular e arriscar responder
até. Todos temos responsabilidades, jovens e velhos, sociedade civil e classe
política. Não nos podemos deixar sucumbir à ideia de que está tudo perdido e
qualquer mudança está fora do nosso alcance. Muitas das regras e das leis sobe
as quais nos regemos em sociedade não são mais velhas do que a maioria dos
cidadãos deste país, ou, para termos uma ideia mais concreta, não são mais
velhas do que o jornalista e activista Rafael Marques de Morais. As leis em vigor
durante o reinado de Ngola Kiluanji ou Ekwikwi II não sobreviveram aos séculos
de ocupação portuguesa. Nós enquanto nação independente, não temos o dobro da
idade da maioria dos jovens activistas detidos em Viana, Calomboloca e Caquila.
Se somos ainda candengues, porque não usar isso a nosso favor? Porque não
aproveitar a pujança, vitalidade de uma nação jovem nesse continente que todos
consideram o futuro? Evitando os erros cometidos por outras nações bem mais
experientes nas lides democráticas, que entre outras barbaridades, tardaram a
reconhecer o direito ao voto das mulheres e dos negros. Podíamos aproveitar
essa pujança e vitalidade juvenil e liderar em pontos como igualdade de género,
não fossem elas, nossas mães e irmãs, verdadeiras heroínas num continente onde
os homens mais fortes e capazes foram continuamente sacrificados, deportados
para as Américas ou então enviados para uma frente de combate. Quem
melhor do que nós, africanos, para descrever o verdadeiro significado da
palavra liberdade?
Antes
que o cansaço nos vença a todos, o que podemos fazer? Os que reclamam
mudanças aqui e agora, mas também os que estão dispostos a esperar, e até os
cínicos que teimam em não entender que prosperidade económica e estabilidade
política têm como inimigo maior a desigualdade social. São estes últimos que
sentem que todos os angolanos conspiram contra, questionam a sua decência e
invejam o seu sucesso financeiro. Esta é uma não questão, pelo menos diante
daquela que todos já se colocaram de uma forma ou de outra – por quanto mais
tempo o país vai conseguir esticar essa corda. Se nós, angolanos, acreditamos
nas nossas capacidades, deveríamos aprender a deixar de concluir todos os
argumentos sobre o nosso futuro com a questão: quem será o próximo presidente
quando José Eduardo dos Santos deixar o poder? Angola vai precisar muito mais
do que um presidente. Precisa dos que acreditam em sonhos – que se lhes dê voz.
Acredito que não nos vamos arrepender.
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