São
Tomé e Príncipe não pode esperar por um recurso "hipotético" como o
petróleo. Em vez disso, deve apostar já no turismo e no potencial humano,
defende o primeiro-ministro Patrice Trovoada.
"É
errado ficarmos à espera de um recurso hipotético, especulativo, como o
petróleo. Temos é que trabalhar com aquilo que temos", referiu em
entrevista à agência Lusa, ao fazer o balanço de 40 anos de independência e ao
apontar caminhos para o futuro.
Os
estudos duram há vários anos e o governo são-tomense espera agora que, dentro
de 18 a 24 meses, sejam feitos dois furos novos de prospeção de petróleo na
Zona Económica Exclusiva (ZEE) do país - mas para já não há planos além da
prospeção.
"Acho
que nós temos realmente mais-valias aqui em São Tomé e Príncipe que são conhecidas no mundo
inteiro. Precisamos é de transformá-las", numa referência à biodiversidade
e ao seu potencial turístico.
Para
o líder do governo, "o turismo será, provavelmente, um setor que irá
sustentar a economia do país a longo prazo. A biodiversidade é um fator de
atração, mas também de responsabilidade" tendo em conta a necessidade de
preservação da natureza.
Ao
nível das infraestruturas, o primeiro-ministro reconhece que a rede elétrica do
país é deficitária, mas refere que "a crise energética vai ser bastante
atenuada já no final de 2015".
"A
capacidade de produção de São Tomé e Príncipe irá aumentar em 50% este ano com
a aquisição de novos geradores" e ao mesmo tempo que haverá também uma
expansão da rede elétrica.
A
eletricidade é uma necessidade estrutural e Patrice Trovada disse à Lusa que
pretende abrir caminho noutra frente importante para cativar investidores: a
luta contra a corrupção.
"Estamos
a trabalhar com todos os atores da Justiça para que esse flagelo possa diminuir
em São Tomé
e Príncipe", sublinhou.
O
líder do Governo entende que é preciso "dar meios para a Justiça poder
trabalhar em boas condições. E com a informatização da administração pública
aliada a novas normas, haverá mais transparência".
Um
exemplo: o objetivo é fazer com que "as pessoas lidem menos com
dinheiro" e utilizem mais as transferências bancárias e meios
eletrónicos".
"Muitas
vezes complicamos o relacionamento com a administração para que a própria
administração venha a vender soluções e vamos acabar com isso", resumiu.
Passados
40 anos sobre a independência, ainda há muito por fazer (as Nações Unidas
estimam que cerca de metade de população viva na pobreza -- com menos de dois
dólares por dia), mas "entre o sonho e a realidade as coisas raramente
batem certo", destacou o primeiro-ministro.
Hoje,
São Tomé e Príncipe tem uma juventude que "dá razões para acreditar no
futuro".
"No
momento da independência tínhamos já uma forte percentagem de pessoas
alfabetizadas. Hoje, com a sociedade de informação e com novas tecnologias
vamos continuar a fortalecer esse ativo: uma juventude ávida de conhecimento e
cheia de vontade".
"Isso
deixa-me pensar que São Tomé e Príncipe tem um futuro assegurado e feito com
otimismo", acrescentou.
Olhando
de uma forma mais ampla para as independências em África, Patrice Trovoada
considera que, "em 50 anos, as coisas não são tão negativas assim".
"Podíamos
ter feito melhor? Podíamos. Temos que fazer melhor? Sim, senhor. Mas as
condições estão criadas: temos democracia, liberdade de expressão, temos uma
sociedade civil que se desenvolve cada vez mais".
"Temos
forças armadas cada vez mais republicanas, pertencemos a várias organizações
que nos obrigam a vários compromissos que estão a ser cumpridas, como seja na
área dos Direitos Humanos", acrescentou.
Um
cenário que deixa o líder do Governo "otimista".
"Estou
otimista e São Tomé e Príncipe, com essa vizinhança de grandes consumidores e
classe media a crescer quase a dois dígitos por ano, tem também uma
oportunidade de desenvolver melhor. Podemos desenvolver melhor o nosso país
através das trocas comerciais", concluiu.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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