Martinho Júnior, Luanda
1
– O Partido Republicano e os seus falcões de serviço, são os principais
instrumentos de que se servem aqueles 1% (aristocracia financeira mundial) que
a todo o transe procuram capturar domínio sobre o resto da humanidade, mantendo
as condutas exclusivas que gerem os processos de hegemonia unipolar tirando
partido do “modelo” de feição dos processos de globalização.
Fazem-no
por via de um leque de “incumbências”, que organizam de forma geo
estratégica, geo política e institucional, procurando prevalecer em todas elas,
impedindo que os objectivos escapem de seu controlo, ou sejam mitigados a seu
desfavor.
Por
causa da natureza desse domínio, uma constelação de contradições têm vindo a
germinar a partir do final da IIª Guerra Mundial, de há 70 anos a esta parte,
gorando todas as espectativas que foram criadas com o seu fim.
Desde
então o dólar norte-americano, a moeda padrão internacionalizada, foi
efectivamente“moldada” no âmbito do domínio, a fim de sem remissão servir
os processos da hegemonia unipolar, inclusive durante a época em que se
assistiu ao relativo impasse da “Guerra Fria”.
2
– Nos Estados Unidos, por vocação dos “lobbies” financeiros, da
energia e da indústria do armamento, de forma sincronizada foi estimulada a “representatividade” Republicana,
que tira partido do curso internacional do dólar norte-americano, para poder
aplicar o “equilíbrio do terror”, que absorve as esferas financeiras e
militares, assim como o seu curso, que tem vindo a derivar de “processos
tradicionais” em direcção ao “caos assimétrico” desde que
tiveram início as sucessivas campanhas nos Balcãs, no Iraque, no Afeganistão,
na Líbia, na Síria…
A
interpretação do economista cubano Osvaldo Martinez, em 2010, no contexto de
sua intervenção“Gasto militar mantém equilíbrio de terror financeiros nos EUA”,
é uma síntese que nos conduz à essência da crise global institucionalizada:
… “Os
países receptores de dólares (a China em especial) se vêem colocados diante de
um dilema. Não participam nem têm influência alguma sobre decisões económicas
do governo dos Estados Unidos, que se aproveita do privilégio do dólar. Se
aceitam a inundação de dólares, seja por excedentes comerciais ou pela baixa
taxa de juros norte-americana ou por ambos os factores, sofrem a pressão para a
elevação da sua taxa de câmbio, a perda de competitividade comercial e o perigo
de deixar aninhar perigosos capitais especulativos de curto prazo.
Para evitar essa inundação, a conduta imposta é comprar papéis de dívida emitidos pelo governo norte-americano e acumulá-los nas reservas monetárias, sofrendo o perigo de que qualquer desvalorização do dólar seja uma desvalorização de suas reservas. À China ou a outros países que acumulam grandes volumes de dólares ou de papéis da dívida norte-americana denominados em dólares, não se lhes permite comprar activos não financeiros nos Estados Unidos. Quando a China tentou (a compra de instalações para a distribuição de combustíveis) o governo dos Estados Unidos o proibiu. Nesse caso não valem o livre fluxo de capitais, o livre comércio e a retórica habitual. Só podem comprar activos financeiros para financiar os déficits estadunidenses.
Ao comprar os bónus do Tesouro os países entram no equilíbrio do terror financeiro e passam a contribuir para financiar um destino não previsto nem desejado: o gasto militar do Pentágono.
Ocorre assim para os países receptores de dólares surgidos dos déficits norte-americanos, uma dupla compreensão. São lesionados ao ver-se estruturalmente empurrados a financiar passivamente a máquina militar norte-americana por meio de um equilíbrio do terror financeiro baseado não em sua superioridade económica, mas no poderio militar. E ao fazê-lo, países como a China e a Rússia estão alimentando o mesmo gasto e poderio militar que aponta armas nucleares para eles.
O maciço gasto militar tem um objectivo geoestratégico hegemónico e sua lógica
última é a guerra”…
3
– Perante os alertas que foram sendo produzidos nos finais da primeira década
do século XXI, aos principais países que acumulavam dólares norte-americanos,
cujo destino foi adquirir títulos de tesouro no âmbito duma Reserva Federal
previamente formatada para o efeito pela aristocracia financeira mundial e sua “representatividade” Republicana, “tamponar” o
recurso ao dólar norte-americano, recorrendo a alternativas aferidas ao ciclo
de seus próprios interesses, tornou-se algo de vital.
O
concerto dos BRICS suscitou as questões referentes às alternativas e na
Euro-Ásia, a Rússia, a China e a Índia, têm já a possibilidade e a oportunidade
de abrirem novas condutas no seu relacionamento económico e financeiro
recíproco, escapando à armadilha que fundamenta os processos de globalização
que tendem para a hegemonia unipolar e seu cortejo interminável de tensões,
conflitos e guerras.
Desse
modo, os intercâmbios entre si devem urgentemente ser aplicados na configuração
alternativa, tendo em conta a “performance” das emergências, com a
República Popular da China à cabeça, escapando à armadilha do dólar
norte-americano.
É
assim que a Rússia é não só e já a primeira exportadora de petróleo para a RPC,
superando a Arábia Saudita que é agora a terceira (Angola é o segunda fonte de
exportação de petróleo para a China), mas também os negócios entre ambos,
Rússia e China, começaram a recorrer ao yuan, que desse modo inaugura um
processo de internacionalização que tende a ter cada vez maior e mais rápida
consistência, estendendo-se a outros sectores da economia, bilateralmente
primeiro, depois de forma cada vez mais extensa e envolvente.
Isso
é tanto mais premente e sensível, até aos anos 2020 e 2030, quanto em desespero
de causa os Republicanos vão assumir o papel mais repugnante: são eles que, por
via directa ou usando aliados seus intermediários, iniciaram a gestão do caos
disseminado com as “guerras assimétricas”, ao mesmo tempo que assumem as
mais graves potencialidades da eclosão de tensões, de conflitos, de guerras que
podem desembocar um dia num conflito nuclear.
Mesmo
com uma Administração Democrata no turno de poder dos EUA, os Republicanos
estão a montar as “performances” mais terríveis para as perspectivas
do sistema de inteligência e do Pentágono, arrastando a panóplia de vassalos no
âmbito sobretudo da NATO, do ANZUS e dos papéis que desempenham outros como o
Japão e a Coreia do Sul, a título de exemplo, ao mesmo tempo que a nível
interno fomentam a agudização das contradições que têm como pano de fundo os
expedientes antropológicos e históricos inerentes à complexa sociedade
norte-americana.
A
partir de agora uma coisa será certa, particularmente para os “emergentes” da
Terra: é premente encontrar soluções financeiras como encontraram a Rússia e a
China entre si, abandonando definitivamente a armadilha do dólar
norte-americano.
A
Rússia e a China, dessa maneira, vão deixar de directa ou indirectamente
financiar os dispositivos de inteligência e militares que os Estados Unidos
estendem contra si.
Não
haverá multi-polarismo consequente, nem tendência consequente para o
desanuviamento e para a paz global, enquanto o dólar norte-americano (ou por
tabela o Euro ou outras “moedas apêndices” como a Libra Esterlina, ou
o Franco Suíço, por exemplo), for a moeda padrão usada nos intercâmbios
económicos, financeiros e comerciais internacionais!
Foto:
Painel que faz parte da Exposição sobre “a Terra vista do céu”, na
Marginal de Luanda e referente ao tema sobre o armamento e as despesas
militares: “as despesas militares aumentaram 5,1% por ano entre 2001 e
2009”, alerta o painel e isto apesar do fim da “Guerra Fria”, acrescento
eu.
A
consultar: “GASTO
MILITAR MANTÉM EQUILIBRIO DO TERROR FINANCEIRO NOS EUA” – http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/gasto-militar-mantem-equilibrio-do.html
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