Paula
Santos – Expresso, opinião
Criou-se
um ambiente de elevada expectativa quanto à constituição do futuro Governo.
Parece que tudo parou, embora isso não corresponda à realidade. O país não
parou. Neste período prosseguiu a exploração e o empobrecimento dos
trabalhadores e dos reformados, que teve tradução no atropelo dos direitos dos
trabalhadores, na destruição de postos de trabalho, nas dificuldades no acesso
à saúde ou nos inúmeros problemas sentidos no início deste ano letivo.
O
desemprego, a precariedade e a emigração estão presentes na vida de milhares de
trabalhadores e de famílias.
Os
trabalhadores da Unicer lutam e resistem contra o encerramento da fábrica de
sumos e refrigerantes em Santarém e a destruição de 140 postos de trabalho.
Os
trabalhadores da FNAC lutam e resistem contra as pressões exercidas pela
administração para reduzirem a duração do trabalho de 40 horas para 20 horas,
com a consequente redução dos salários. Os trabalhadores que não aceitaram
estas condições estão a ser deslocados para lojas longe da sua residência. O
objetivo por parte da empresa é muito claro – estão a fazer de tudo para os
trabalhos rescindam os contratos de trabalho.
Na
educação, o início do ano letivo está longe de ter decorrido com normalidade. A
Escola Pública continua confrontada com vários constrangimentos que levam a uma
enorme instabilidade e não garantem as condições adequadas no processo
ensino/aprendizagem como são exemplo, a constituição de turmas com mais de 30
alunos, a enorme carência de assistentes operacionais e de outros técnicos, a
insuficiente resposta no ensino especial, a existência de mega-agrupamentos, a
instabilidade do corpo docente que mantém um vínculo precário apesar de terem
mais de 10 ou 20 anos de serviço ou a retirada de horas para o desenvolvimento
de projetos de promoção do sucesso escolar e de combate ao abandono.
Agudiza-se
o descontentamento e a desmotivação junto dos profissionais de saúde, assim
como as dificuldades no acesso à saúde pelos utentes. Contrariamente a toda a
propaganda política pelos membros do Governo no período eleitoral, os problemas
agravaram-se. Os técnicos de ambulância de emergência lutam pela definição da
sua carreira.
A
derrota do PSD e CDS-PP nas eleições legislativas e a exigência de uma política
alternativa são também resultado da luta dos trabalhadores, dos reformados e
das populações. Se a unidade, a organização e a determinação da luta dos
trabalhadores e do povo conduziu à maior derrota eleitoral de PSD e CDS-PP, no
atual momento político do país, a luta dos trabalhadores e do povo é um
elemento determinante para a concretização da política alternativa. Este não é
um momento de esperar para ver o que vai acontecer, este é um momento de agir e
de intervir. Hoje, tal como no passado a luta dos trabalhadores nos locais de
trabalho em defesa dos seus direitos e dos postos de trabalho, a luta em defesa
dos serviços públicos e dos transportes públicos, a luta dos estudantes e dos
professores em defesa da escola pública ou a luta das populações em defesa do
direito à saúde são absolutamente determinantes para uma mudança política que
esteja ao serviço dos interesses dos trabalhadores e do povo, pelo
desenvolvimento do país e pelo progresso social.
A
recente decisão do Tribunal Constitucional, dando razão aos trabalhadores e às
autarquias, ao declarar inconstitucional a ingerência do Governo na celebração
dos acordos coletivos de entidade empregadora pública, reconhecendo o direito à
contratação coletiva e a autonomia do Poder Local para determinar o horário de
trabalho de 35 horas semanais, constitui uma vitória da luta dos trabalhadores,
demonstra que vale a pena lutar e dá ânimo para as lutas futuras.
Na
foto: Paula Santos
Sem comentários:
Enviar um comentário