sábado, 3 de janeiro de 2015

UMA FRUTA QUE NÃO CAIU! – V



 Martinho Júnior, Luanda (textos anteriores)

13 – O Movimento 26 de julho liderou o primeiro governo revolucionário, presidido por Manuel Urrutia Lleó, mas como a revolução era um processo abrangente, em julho de 1961, ano em que o analfabetismo foi erradicado de Cuba, estabeleceram-se as Organizações Revolucionárias Integradas, junto com o Partido Socialista Popular e o Directório Revolucionário 13 de Março, que se vieram a dissolver e a formar o Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba, em 26 de março de 1962.

O Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba, com a radicalização do processo, viria a dar origem ao novo Partido Comunista de Cuba, a 3 de Outubro de 1965; o carácter anti imperialista da revolução cubana, ciosa de independência e de soberania e contra qualquer tentativa de neo colonização, foi um dos determinismos dessa radicalização, instalando a capacidade de resistência que iria suportar todo o tipo de golpes do império até aos nossos dias.

O povo cubano e a sua revolução tinham todos os motivos para honrar os heróis da independência, em sua luta contra o colonialismo espanhol, assim como fazer a avaliação e o balanço da experiência amarga do oportunismo norte-americano que deu origem à porfiada tentativa de tornar Cuba em neo colónia.

Os Estados Unidos começaram os processos de desestabilização contra Cuba em 1805, quando o então Presidente Thomas Jefferson advertia o ministro inglês em Washington que "em caso de guerra contra a Espanha, os Estados Unidos se apoderariam de Cuba por necessidade estratégica".

Em 1823, John Quincy Adams, Secretário de Estado do Presidente Monroe, escrevia: "é praticamente impossível resistir à convicção de que a anexação de Cuba à nossa República Federal será indispensável."

Assim se desenhou a estratégia de esperar o momento propício para colher a "fruta madura"conforme à afirmação do Presidente McKinley, a 20 de maio de 1902.

Mesmo com o estertor da ditadura de Fulgêncio Batista, os Estados Unidos tentaram com a ascensão de moderados, impedir que o Movimento 26 de julho conquistasse o poder e formasse governo.

Ao fazer-se a ponte histórica, era garantida a abertura a todos os patriotas e sensibilidades sócio-políticas que se opunham à ditadura de Fulgêncio Batista, mas a radicalização do processo impunha-se por causa da necessidade de resistência face aos sucessivos dispositivos que o império viria a desencadear, à medida que fosse perdendo a sua capacidade directa de influência e os seus interesses no terreno e também por que não poderia ser com o imobilismo do Presidente Manuel Urrutia Lleó e do Primeiro-Ministro José Miró Cardona que a independência, a soberania e a revolução se poderiam defender.
  
14 – Antes da constituição do Partido Comunista Cubano a 3 de Outubro de 1965, duas administrações foram adoptando medidas contra a Revolução Cubana, praticamente desde logo que ela se instalou e iniciou os seus programas de independência, soberania e identidade para com o povo cubano.

Os Estados Unidos não esperaram que o novo Partido Comunista de Cuba fosse criado e instalado, para dar início às operações de desestabilização e, entre elas, a mais longa sucessão de operações encobertas que a CIA alguma vez produziu contra algum estado, algum país, ou algum povo.

Os Estados Unidos estavam aliás “de sobreaviso”: a 19 de abril de 1959 Fidel de Castro deslocou-se a Washington, convidado pelo Clube de Imprensa e acabou por ser recebido por Richard Nixon, que viria a ser Presidente dos Estados Unidos, a quem fez uma exposição desassombrada dos propósitos legítimos do Movimento 26 de julho.

Richard Nixon, que nesse encontro registou as disposições de Fidel de Castro, foi quem mais impulsionou, na sua fase inicial, os expedientes de desestabilização que desde então o império foi desencadeando contra Cuba.

Segundo Fidel (acerca desse encontro):

"En fecha tan temprana como el mes de abril de 1959 (el día 19) visité Estados Unidos invitado por el Club de Prensa de Washington.

Nixon se dignó recibirme en su oficina particular...

No era un militante clandestino del Partido Comunista, como Nixon con su mirada pícara y escudriñadora llegó a pensar.

Si algo puedo asegurar, y lo descubrí en la Universidad, es que fui primero comunista utópico y después un socialista radical, en virtud de mis propios análisis y estudios, y dispuesto a luchar con estrategia y táctica adecuadas”…

"Mi único reparo al hablar con Nixon era la repugnancia a explicar con franqueza mi pensamiento a un vicepresidente y probable futuro Presidente de Estados Unidos, experto en concepciones económicas y métodos imperiales de gobierno en los que hacía rato yo no creia”…

"Fue una entrevista muy franca por mi parte, porque le expliqué cómo veíamos la situación cubana y las medidas que teníamos intención adoptar.

En general, él no discutió, sino que se mostró amistoso y escuchó todo lo que tenía que decirle.

Nuestra conversación se limitó a aquello.

Tengo entendido que él sacó sus propias conclusiones de aquellas conversaciones.

Creo que fue después de aquello cuando comenzaron los planes para la invasión."

A administração republicana de Dwight Eisenhower começou por pressionar a Grã-Bretanha, a 13 de novembro de 1959, menos de um ano depois do derrube do ditador Fulgêncio Batista, a fim de impedir que se efectuasse a venda a Cuba de 15 aviões de combate para a defesa do país.

A 29 de junho de 1960, as companhias multinacionais de petróleo TEXACO, EXXON e SHELL, suspenderam o envio de petróleo para Cuba e orientam as suas refinarias em Cuba a não processar o petróleo oriundo da URSS.

A 6 de julho desse mesmo ano, os Estados Unidos cortam a quota de açúcar produzido em Cuba e a 3 de janeiro de 1961, vão fazer agora 54 anos, são rompidas as relações diplomáticas, por inteira iniciativa de Washington.

Com a ascensão da administração democrata de John F. Kennedy as medidas prosseguiram ainda mais contundentes:

A 31 de março de 1961 os Estados Unidos deixam de importar açúcar de Cuba e a 4 de Setembro o Congresso aprova a Lei de Assistência Exterior, que autoriza o Presidente a estabelecer e a manter um embargo total sobre o comércio entre os Estados Unidos e Cuba.

Entretanto em Abril de 1961 foi desencadeada uma das mais massivas operações da CIA contra Cuba: o desembarque em Praia Girón, que se saldou numa rotunda derrota das forças mercenárias que tentaram a invasão.

A 3 de fevereiro de 1962, vão fazer 53 anos, John F. Kennedy assina a Ordem Executiva Presidencial segundo a qual era imposto o bloqueio total do comércio dos Estados Unidos para com Cuba.

A 8 de julho de 1963 aprovam-se os Regulamentos para o Controlo dos activos cubanos e congelam-se as contas, que à época abrangiam 30 milhões de dólares.

Após o assassinato de John F. Kennedy, a 11 de fevereiro de 1964, o presidente Lyndon B. Johnson ordena a expulsão de todos os trabalhadores cubanos da base de Guantánamo, a menos que se façam residentes permanentes, ou gastem ali todo o seu salário em dólares…

15 – É nesse ambiente, com os contínuos processos de desestabilização contra Cuba instalados, que é criado o novo Partido Comunista de Cuba, na previsão que Cuba iria sofrer todo o tipo de acções ao longo das décadas que se seguiriam, passando a ser até um “laboratório experimental”preferencial para todo o tipo de ementas subversivas, manobras, manipulações e ingerências que o império depois utilizaria também em qualquer outra parte do mundo. 

Foto: Fidel – “Pátria é humanidade”!

OBAMA TENTA ESCREVER HISTÓRIA EM 2015




Presidente tem, na prática, um ano para deixar sua marca. Cuba e reforma na saúde foram um passo, mas agora ele enfrentará maior resistência republicana para continuar, opina Miodrag Soric, correspondente em Washington.

No fim de mandato, o relógio parece girar mais rápido para um presidente. E é essa experiência que Barack Obama está tendo agora: 2015 será, na prática, seu último ano. Depois, a corrida eleitoral para escolher seu sucessor vai dominar o calendário político. Por isso, muitos esperam ver nos próximos meses um presidente mais determinado e insistente, empenhado em dar a seu legado um lugar respeitável nos livros de história.

Primeiramente, ele defenderá aquilo que já conquistou, como a reforma no sistema de saúde. Caso os republicanos – como anunciado – tentem impedi-la, Obama usará seu poder de veto. Com o "Obamacare", o democrata deixou uma marca nos Estados Unidos que durará pelo menos mais alguns anos.

Uma marca que, infelizmente, ele não conseguiu deixar na reforma da política de imigração. Agora no controle da Câmara e do Senado, os republicanos continuam a bloquear leis que tornariam possível para 11 milhões de "imigrantes ilegais" regularizarem sua situação no país. Por isso, Obama vem recorrendo a decretos presidenciais para, pelo menos, garantir que eles não sejam deportados.

Mas cidadãos americanos ou não, todos entre Nova York e São Francisco ganham com um crescimento sólido. O motor econômico americano voltou a funcionar. Empregos estão sendo criados, e o preço dos imóveis sobe. A conjuntura é, em parte, fruto da brusca queda no preço da energia. E a situação parece boa para 2015: as ações deverão subir, e o dólar, ganhar valor em relação ao euro. O Federal Reserve (banco central americano) anunciou mudanças na taxa básica de juros. E Obama tem seu crédito por essa recuperação econômica.

Mas ele quer mais que isso. Nos bastidores, vem negociando com republicanos tratados de livre-comércio com Ásia e União Europeia. A ala mais de esquerda do Partido Democrata e membros de sindicatos já expressaram preocupação com a possibilidade, mas Obama passará por cima disso – se for necessário. Ele quer fazer história e, se não conseguir, seu sucessor provavelmente não poderá pôr o tema em pauta pelo menos até 2018. Seriam três anos perdidos para os EUA.

Em política externa, Obama teve até aqui pouca sorte. Tentou entrar para a história como o presidente que acabaria com as guerras do Iraque e do Afeganistão, mas as batalhas continuam. A situação na Síria é mais complexa do que nunca devido à ascensão do "Estado Islâmico". Obama continua a buscar uma estratégia para a região, mas há poucos motivos para acreditar que ele encontrará uma em 2015.

Também paira uma nuvem negra sobre as relações entre EUA e Rússia. Moscou não quer devolver a península da Crimeia, mas isso é algo que Washington não pode aceitar. Ocupar-se do Leste Europeu é algo impensável para Obama – e por isso ele delegou a função a seu vice. Mas Joe Biden é frequentemente emocional e pouco profissional.

Com expressões de simpatia e compaixão, Biden é de pouca ajuda aos ucranianos. Eles precisam mesmo de uma injeção de bilhões de dólares – e parece que vão ficar esperando em vão em 2015. Quanto maiores os problemas financeiros de Kiev, menos interessados os americanos ficam no resto da Ucrânia. É uma tragédia.

Obama não apenas despertou esperança de uma vida melhor entre o povo ucraniano. Ele também inspirou pessoas no Norte da África. Mas isso já parece distante demais no tempo. Desde então, o presidente americano trocou de lado, aproximando-se de generais no Cairo. Pelo menos no Ocidente ninguém vai criticá-lo por isso.

Em todo caso, Obama continua a buscar o balanço ideal na política para China; está sendo paciente nas negociações nucleares com o Irã; e conseguiu criar uma nova – pode-se dizer histórica – relação com Cuba. Esses são aspectos positivos para 2015. Ou, citando Goethe: Obama está escrevendo história para se livrar do passado.

Miodrag Soric (rpr) – Deutsche Welle, opinião

SOB O SIGNO DO “CANHÃO FROUXO”




Wallerstein aponta: grande ameaça ao mundo, na virada do ano, são Estados Unidos — brutamontes militar sem rumo, errático e perigoso

Immanuel Wallerstein - Tradução: Inês Castilho, em Outras Palavras

Em 27 de novembro, o New York Times publicou em manchete o artigo “Políticas conflitantes na Síria e no Estado islâmico corroem a presença dos EUA no Oriente Médio”. Mas isso não é novidade. A presença dos EUA no Oriente Médio (e em outros lugares) vem se deteriorando há quase 50 anos. A realidade é muito mais ampla do que a disputa imediata entre as forças anti-Assad na Síria e os seus apoiadores em outros lugares, por um lado, e o regime Obama nos Estados Unidos, por outro.

O fato é que os Estados Unidos tornaram-se, na expressão derivada de uma antiga prática náutica, um “canhão frouxo”, isto é, um poder cujas ações são imprevisíveis, incontroláveis e perigosas para si e para os outros. O resultado é que o país não é confiável para quase ninguém, ainda que vários países e grupos políticos lhe peçam ajuda para coisas específicas, a curto prazo.

Como é que o antes inquestionável poder hegemônico do sistema-mundo, e ainda de longe o mais forte poder militar, acabou nesse estado deprimente? Ele é insultado, ou pelo menos severamente censurado não só pela esquerda, mas também pela direita mundial, e até mesmo pelas poucas forças de centro que ainda restam neste mundo crescentemente polarizado. O declínio dos Estados Unidos não é devido a seus equívocos políticos, mas estrutural – ou seja, não pode realmente ser revertido.

Talvez seja útil rastrear os sucessivos momentos dessa erosão de poderio efetivo. Os Estados Unidos encontravam-se no auge de seu poder entre 1945-1970, período em que apareciam no cenário mundial 95% do tempo, em 95% dos assuntos – o que é minha definição de verdadeira hegemonia. Essa posição hegemônica era sustentada por um arranjo com União Soviética, a qual mantinha com os Estados Unidos um acordo tácito de divisão de zonas de influência — que não deveria ser ameaçado por nenhum confronto entre os dois. Isso era denominado guerra fria, com ênfase na palavra “fria”, e, pela posse de armas nucleares, uma garantia de “destruição mútua assegurada”.

O objetivo da guerra fria não era subjugar o presumido inimigo ideológico, mas manter sob controle os próprios países satélites de cada um dos lados. Este arranjo confortável foi inicialmente ameaçado pela resistência de organizações do então chamado “Terceiro Mundo” a sofrer as consequências negativas dessa ordem. O Partido Comunista Chinês desafiou a imposição de Stalin para comprometer-se com o Kuomintang e, ao invés disso, marchou sobre Xangai e proclamou a República Popular. O Viet Minh (“Liga pela Independência do Vietnã”) desafiou os acordos de Genebra e insistiu em marchar sobre Saigon para unir o país sob sua direção. A Frente de Liberação Nacional da Argélia desafiou a determinação do Partido Comunista Francês para que desse prioridade à luta de classes na França e lançou a guerra pela independência. E as guerrilhas cubanas que depuseram a ditadura de Batista forçaram a União Soviética a ajudá-las a se defender da invasão dos EUA ao tomarem, do grupo que tinha feito conchavo com Batista, o rótulo de Partido Comunista.

A derrota dos Estados Unidos no Vietnã resultou tanto da enorme drenagem de recursos do Tesouro norte-americano pelo conflito como do crescimento da oposição interna à guerra, pelos jovens recrutas de classe média e suas famílias – o que legou uma restrição permanente às futuras ações militares dos EUA, na chamada síndrome do Vietnã.

A revolução mundial de 1968 foi não apenas contra a hegemonia dos EUA, mas também contra o conluio soviético com os Estados Unidos. Coincidiu também com rejeição dos velhos partidos de esquerda (Partidos Comunistas, Partidos Social-democráticos, Movimentos de Libertação Nacional), com base em que, a despeito de chegar ao poder, eles não mudaram o mundo como prometeram e tornaram-se parte do problema, não da solução.

Nos governos dos presidentes Richard Nixon a Bill Clinton (inclusive Ronald Reagan), os Estados Unidos procuraram desacelerar seu declínio por meio de uma política tríplice. Convidaram os aliados mais próximos a mudar seu status de satélite para parceiro — com a condição de não se afastarem muito das políticas norte-americanas. Mudaram o foco na economia mundial — do desenvolvimentismo para uma demanda a que o Sul Global produzisse para exportar, sob as injunções neoliberais do Consenso de Washington. E procuraram frear a criação de novas potências nucleares para além dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, impondo a todos os outros países o fim de seus projetos de armamentos nucleares – um tratado não assinado e ignorado por Israel, Índia, Paquistão e África do Sul.

Os esforços norte-americanos foram parcialmente bem sucedidos. Eles tornaram mais lento, mas não reverteram o declínio dos EUA. Quando, no final dos anos 1980, teve início o colapso da União Soviética, os Estados Unidos ficaram na verdade decepcionados. A guerra fria não era para ser vencida, mas para manter-se indefinidamente. A consequência mais imediata do colapso da União Soviética foi a invasão do Kuwait pelo Iraque de Saddam Hussein. A União Soviética não estava mais lá para conter o Iraque, no interesse dos arranjos entre as duas potências.

E embora os Estados Unidos tenham vencido a Guerra do Golfo, mostraram logo sua fraqueza pelo fato de não poderem financiar seu próprio papel, dependendo, para cobrir 90% de seus custos bélicos, de quatro outros países – Kuwait, Arábia Saudita, Alemanha e Japão. A decisão do presidente George H.W. Bush de não marchar sobre Bagdá, mas contentar-se com a restauração da soberania do Kuwait, foi sem dúvida um julgamento sábio, mas muitos, nos Estados Unidos, consideraram-no como uma humilhação, pois mantinha Saddam Hussein no poder.

O próximo ponto de virada foi a ascenção ao poder do presidente George W. Bush e do círculo de intervencionistas neoconservadores de que se cercou. Esse grupo usou o ataque de 11 de Setembro pela al-Qaeda como pretexto para justificar a invasão do Iraque em 2003 e derrubar Saddam Hussein. Isso foi visto pelos intervencionistas como maneira de restaurar uma pálida hegemonia dos EUA no sistema-mundo. Muito ao contrário, foi um tiro no pé. De duas manerias: pela primeira vez os Estados Unidos perderam um voto no Conselho de Segurança da ONU; e a resistência iraquiana à presença dos EUA foi maior e mais persistente do que se imaginava. Em síntese, a invasão precipitou o declínio, o que nos traz aos esforços do governo Obama para lidar com isso.

A razão pela qual nem o presidente Obama, nem qualquer futuro presidente dos EUA será capaz de reverter esse processo é porque os Estados Unidos não querem aceitar essa nova realidade e ajustar-se a ela. O país ainda está tentando restaurar seu papel hegemônico. Perseguir essa tarefa impossível leva-o a desencadear as chamadas “políticas conflitivas” no Oriente Médio e em outros lugares. Como um canhão frouxo, Washington muda constantemente de posição, procurando estabilizar o navio geopolítico mundial. A opinião pública dos EUA está dividia entre as glórias de ser “líder” e os custos de tentar ser líder. A opinião pública ziguizagueia constantemente.

Ao observarem este espetáculo, os países e movimentos deixam de depositar confiança nas políticas norte-americanas. Cada qual persegue suas próprias prioridades. O problema é que canhões frouxos resultam em destruição, tanto para os que disparam como para o resto do mundo. E isso intensifica o papel que o medo desempenha nas ações de todos os outros, aumentando os perigos para a sobrevivência global.

Chile: Empresários e colégios resistem à reforma educacional proposta por Michelle Bachelet



Victor Farinelli, Santiago – Opera Mundi

Governo chileno que ver projeto de mudanças na educação do país, o mais importante da gestão, com trâmite legislativo concluído ainda em 2015

Marchas de pais de alunos e administradores de colégios. Reuniões de associações de empresários com ministros e parlamentares da base aliada. Situações que acontecem fora da vida institucional do Chile, mas que vêm se transformando nos maiores obstáculos para a agenda de reformas prometida por Michelle Bachelet.

O ano de 2015 é crucial para as pretensões do governo, que projeta a conclusão do trâmite legislativo da reforma educacional, seu projeto mais importante, e o início dos trabalhos sobre a reforma da Constituição e a das leis trabalhistas. Porém, em todos esses cenários, surge uma situação com a qual o governo não contava até a vitória eleitoral de 2013, que é a rejeição às reformas por parte de alguns grupos.

No primeiro fim de semana de novembro, duas organizações ligadas a colégios subvencionados realizaram uma marcha em Santiago que reuniu cerca de 30 mil pessoas. A manifestação foi a primeira organizada no Chile contra a reforma educacional promovida pelo governo.

Depois, foi a vez das organizações de empresários e industriais, na última semana do mesmo mês de novembro, aproveitarem o encontro anual das empresas para pressionar a presidente Bachelet e seus ministros sobre os rumos que as reformas vêm tomando, especialmente a educacional e a trabalhista.

Campanha antirreforma

Os colégios subvencionados são estabelecimentos públicos administrados por entes privados e recebem recursos estatais, mas, ao mesmo tempo, cobram mensalidades – são o exemplo de como funciona o modelo de financiamento compartilhado adotado no sistema público de educação no Chile desde 1989.

A marcha foi resultado de toda uma campanha organizada desde abril pela Confepa (Confederação de Pais de Alunos de Colégios Subvencionados) e pela Conacep (Confederação de Administradores), com divulgação na TV e nas redes sociais, contra os principais pontos da reforma, como a gratuidade e a proibição do lucro nas escolas subvencionadas. Essa campanha deve continuar com mais força em 2015, já que os pontos mais importantes da reforma referentes à educação básica e média foram aprovados na Câmara em outubro passado (link abaixo), e a votação decisiva no Senado deverá acontecer ainda no primeiro semestre deste ano.

A Conacep já tem programada uma agenda de manifestações em janeiro, aproveitando as férias escolares, e também em março, quando termina o recesso parlamentar e se comece a discutir os pontos da reforma referentes à educação universitária. Segundo o presidente da Conacep, Hernán Herrera, a campanha “não é contra Bachelet, nem contra a ideia de reformar a educação, mas a que o governo está apresentando é uma péssima reforma, acabará com os colégios e afetará principalmente a classe média”.

Por outro lado, aquela primeira manifestação contra a reforma não ficou isenta de polêmica, já que alguns colégios foram acusados de oferecer notas extras aos alunos se os pais participassem da marcha, o que não foi desmentido nem confirmado pelas entidades que os representam.

Com ou sem polêmica, o fato é que a campanha parece estar surtindo efeito, já que os números de apoio à reforma educacional no Chile vêm apontando uma tendência de baixa desde agosto, e em dezembro, três institutos diferentes apontaram desaprovação ao projeto variando entre 51% a 56%. Além disso, diminui o apoio da população às bandeiras do movimento estudantil. A gratuidade no sistema público é bem vista hoje por 62% da população – entre 2011 e 2013, os anos mais ativos do movimento, esse apoio variou entre 75% e 80%.

Hernán Herrera, da Conacep, defendeu que as manifestações nascem de uma preocupação dos colégios com o seu próprio futuro. “O sistema proposto pela reforma tornará inviável a continuidade de muitos colégios. Se a presidente Bachelet não nos ouvir, terá que lidar com as consequências de ver dezenas de colégios fechados e milhares de estudantes sem escola”.

Segundo o que prevê a reforma, os estabelecimentos subvencionados só poderão receber recursos estatais caso ofereçam educação gratuita. A reforma também prevê que o administrador, caso prefira continuar cobrando mensalidades, terá a opção de comprar o colégio e se transformar em um particular autônomo. Herrera questiona a proposta: “Querem empurrar para todos os colégios um teto de subvenção (valor máximo que uma escola pode receber do Estado), que não garante os recursos necessários para todos. Algumas escolas precisarão de mais dinheiro e não terão de onde tirar sem poder cobrar mensalidades, mas o governo vem sendo intransigente nesse aspecto”.

Em uma sessão da Comissão Mista de Educação do Congresso, em dezembro passado, o ministro de Educação, Nicolás Eyzaguirre, rebateu essa acusação, disse que tem conversado com todos os administradores para buscar um valor suficiente para todas as escolas, e apresentou uma estatística que causou polêmica no país: segundo um estudo feito pela Escola de Economia da Universidade do Chile, mais de 3.000 escolas de ensino básico e médio fecharam as portas no Chile entre 1994 e 2012 devido à “competição selvagem do mercado da educação no país”, segundo palavras do ministro.

Hernán Herrera contestou a acusação e disse que “o número é bastante exagerado, e embora seja verdade que colégios fecharam nos últimos anos, mas muitos casos não foram por causa do mercado, e sim devido a subvenções insuficientes”.

Empresários preparam ofensiva

No caso dos empresários, a disputa começou primeiro, com o projeto da reforma tributária, que já foi aprovada no Congresso e promulgada pela presidente Bachelet em novembro passado. Logo, surgiu outro projeto, o da reforma das leis trabalhistas, que não constava no programa de governo da candidata em 2013.

Diferente das organizações relacionadas aos colégios subvencionados, as entidades empresariais, como a CPC (Confederação de Produção e Comércio) e a Sofofa (Sociedade de Fomento Fabril), ainda não têm uma agenda clara nem uma estratégia preparada. Porém, para o porta-voz dos empresários, Andrés Santa Cruz, líder da CPC, será preciso também uma campanha sobre a reforma trabalhista, nos mesmos moldes da que foi feita pelos colégios contra a reforma educacional.

Santa Cruz defende sua postura citando a baixa no crescimento econômico do país como sintoma de risco. Em entrevista ao canal estatal TVN, o empresário lembrou que a Cepal diminuiu o prognóstico de crescimento do Chile para 2014 de 3,7% para 3%, e agregou que “esse e outros indicadores mostram que a economia chilena está se desacelerando, e talvez não seja culpa do atual governo, mas é um indício de que este não é o momento ideal para se fazer mudanças que afetam a produção”.

Durante o Enade (Encontro Nacional das Empresas), em novembro, Santa Cruz usou os mesmos argumentos referentes ao baixo crescimento para pressionar a presidente Michelle Bachelet, que estava presente no evento. A mandatária respondeu, em sua intervenção, dizendo que “o Chile já cresceu como país o suficiente para não permitir que as políticas sejam pautadas somente pela conjuntura do momento. Passamos os últimos 20 anos construindo uma institucionalidade política e econômica sólida, para que hoje possamos fazer transformações na sociedade e sem deixarmos de ser um país estável e confiável”.

O projeto de lei da reforma trabalhista de Bachelet será apresentado oficialmente ao Congresso no dia 5 de janeiro.

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Brasil – CARTAS DE FLÁVIO LEANDRO: SEPPIR DO “CALA A BOCA NEGRO”



Flávio Leandro - Afropress

Meus amigos e minhas amigas,

Lamentavelmente para a raça negra original – não a profissional, que vive da problemática da própria raça para objetivos escusos e pessoais – a indicação da nova ministra da SEPPIR é a única represente da raça negra num ministério composto de trinta e nove pastas.

Um Governo que durante a campanha contou com o apoio de negro pregando o evangelho, negro dançando e fazendo macumba, negro jogando capoeira, negro apresentando o reisado, negro apresentando o maracatu, negro sambando, negro preparando deliciosas culinárias, negros promovendo eventos artísticos e culturais diversos, e que foi primordial para a vitória da candidata Dilma.

Esse Governo, como seus antecessores, enfiou mais uma vez goela abaixo da negritude o cala a boca crioulos, chamado Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Negra, a massa fecal reciclada SEPPIR.

Enquanto a imensa maioria da população negra desconhece a existência da SEPPIR, a minoria que há décadas negocia os infortúnios da raça em gabinetes de políticos, em comitês partidários e nas secretarias de Governo, comemora a indicação da nova ministra.
Ministra que não terá projetos, propostas e nem verba do Governo da qual está agrilhoada. Mas vai viajar muito – com verbas públicas que deveria ir para construção e reforma de escolas públicas – por países africanos, europeus e asiáticos numa tal de pesquisa e desenvolvimento de atividades raciais intercambiais. Na Petrobras tem outro nome.

Não há o que se comemorar quando um país, que tem a sua formação cultural alicerçada na raça negra, recebe uma Secretaria de fachada para mantê-lo calado, exercendo o hediondo papel de ferramenta de manipulação.

Esqueceu-se de avisar ao governo do PT que a cultura deste país tem cor, tradição e essência, portanto é uma agressão sem precedentes presentear a raça com uma Secretaria cuja latrina de um botequim pé sujo tem mais serventia. Por que não o Ministério da Cultura? Temos excelentes nomes de cidadãos e de cidadãs negras para dar conta do recado.

Que a nova geração, a nossa juventude negra que desponta, não herde desses vendilhões e neo-traficantes da raça os resquícios nefastos que tanto males tem causado a raça negra brasileira.

Feliz 2015, verdadeiramente.

Abraços a todos (as).

Flávio Leandro


Brasil – DILMA 2015: OS DESAFIOS DO SEGUNDO MANDATO




O grande desafio de Dilma é manter o tripé que sustentou seu governo e o de Lula: políticas sociais, estabilidade econômica e melhoria da infraestrutura.

Antônio Lassance – Carta Maior

"Um pessoa nunca se banha duas vezes no mesmo rio. Da segunda vez, já não será a mesma pessoa, nem o mesmo rio" (Heráclito de Éfeso).

A presidenta que tomou posse para o segundo mandato já não é mais a mesma pessoa e não está mais no mesmo Brasil de quatro anos atrás.

Dilma tem agora mais experiência. Aprendeu por tentativa e erro e, também, aos trancos e barrancos, que precisará agir de forma diferente para sobreviver às constantes tentativas de cerco contra seu governo. Precisará ser outra Dilma.

Sua popularidade começa menor, comparada à de 2011. Seus partidos de apoio diminuíram de tamanho no Congresso e estão mais pulverizados. Os movimentos sociais veem boa parte de seu ministério com desconfiança.

A oposição partidária e midiática está mais agressiva do que nunca.

A economia vai mal. Vai mal praticamente no mundo inteiro, o que torna difícil qualquer cenário mais otimista.

A única boa notícia possível é a de que este ano tende a ser um pouco melhor do que anterior, mas não o suficiente para imaginar que o Brasil e a América Latina recuperem sua atividade econômica em ritmo mais intenso.

Dilma tem em mãos muitos grandes problemas. Os três principais são:

1) na política, a relação com o Congresso, com os movimentos sociais e com a mídia;

2) na macroeconomia, a sintonia fina para reforçar as contas públicas e controlar a inflação sem comprometer o emprego e retomando aos poucos o crescimento;

3) Nas obras de infraestrutura, o grande problema é que a espinha dorsal dos investimentos depende das estatais, em especial da Petrobrás, e das empreiteiras, todas elas enredadas em uma crise instalada pelas revelações da Operação Lava Jato.

O ano de 2015 será de vacas magras. O governo precisa imediatamente preparar a população para isso.

Terá deixar claro onde serão feitos ajustes e mesmo sacrifícios e a que preço.

O grande desafio de Dilma é manter o tripé que sustentou seu governo e o de Lula: políticas sociais de redução das desigualdades, estabilidade econômica e melhoria da infraestrutura.

Esses três ingredientes serão fundamentais para o sucesso ou fracasso de seu segundo governo e estarão sob constante disputa de todos os setores - esperemos também que os movimentos sociais estejam atentos para essa agenda.

Está claro que não basta eleger presidentes da República.

O Brasil, em 2015, é um carro com pouco combustível enfrentando um terreno esburacado e íngrime.

Precisará ser empurrado para o rumo certo por aqueles que torcem para que ele possa voltar a engrenar.

(*) Antonio Lassance é cientista político.


Brasil: OS POLÍCIAS E JUÍZES QUE REJEITAM “GUERRA ÀS DROGAS”




Desponta no Brasil organização de agentes da lei que vivem quotidiano das ações proibicionistas e dizem que, além de ineficientes, elas servem para criminalizar os mais pobres

 Luiza Sansão, na Ponte – Outras Palavras

“Sou coronel inativo na Polícia Militar, onde trabalhei por 33 anos, fui chefe do Estado-Maior Geral da PM e comandei batalhão, sempre com aquela ideia de que nós precisávamos combater os traficantes e, principalmente, os usuários. Percebi que o trabalho que nós fazíamos era como enxugar gelo. E eu pergunto: para quê? Por que tanta gente morta? Qual é a finalidade disso?”, conta o coronel reformado da PM Jorge da Silva.

Em busca de respostas, o coronel resolveu cursar Ciências Sociais “para refletir”. Hoje professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Silva tornou-se um dos porta-vozes do ramo brasileiro da Law Enforcement Against Prohibition, associação de agentes da lei contra a proibição das drogas.

“O proibicionismo é um modelo macabro, que produz mortes principalmente de pessoas pobres, que não têm voz e morrem como baratas no Brasil inteiro”, afirmou, em 24/11, durante o seminário “Drogas: Legalização + Controle”, uma iniciativa da Leap Brasil e do Fórum Permanente de Direitos Humanos da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Para Silva, legalizar não significa liberar. “Liberado é como está hoje. Nossa proposta é legalizar sob o controle do Estado, e não do mercado mundial de drogas”, afirma.

A Leap foi criada para dar voz a integrantes ou ex-integrantes da polícia e do sistema penal, que, vivendo na pele a política de guerra às drogas, decidiram “falar claramente sobre a necessidade da legalização e consequente regulamentação da produção, do comércio e consumo de todas as drogas”, explicou o delegado Orlando Zaccone, na abertura do evento.

Segundo Zaccone, a LEAP Brasil possui, hoje, 236 membros, dos quais 167 são policiais, a maioria deles na ativa. A entidade está presente em 21 estados brasileiros e no Distrito Federal, e conta com 1250 apoiadores. “Nós defendemos a legalização de todas as drogas. E sabem por quê? Porque nós somos ‘maus’”, ironizou Zaccone. “E somos ‘maus’ porque os ‘bons’ têm produzido um dos maiores genocídios da História”, completou.

Mãos sujas

“Estou muito cansado de ver policiais morrendo”, afirmou o detetive inspetor Francisco Chao, que atua há 19 anos na Polícia do Rio, com passagem por unidades como a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) e a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). “Eu gostaria muito, antes de me aposentar na polícia, e faltam dez anos, de ver o fim da insanidade dessa guerra, que não interessa à polícia e nem à sociedade.”

Chao, que fez uma participação no filme Tropa de Elite 2, contou que a guerra às drogas do mundo real é muito diferente do cinema, e não só porque “sangue cenográfico não fede”, mas principalmente porque a violência e a corrupção apagam as fronteiras entre mocinhos e vilões. “O informante da droga, a gente não encontra na igreja. Ele é um informante sujo, e não tem como mexer com sujeira sem sujar as mãos.”

Para o delegado Thiago Luís Martins, que durante três anos atuou na Delegacia de Combate as Drogas (DCOD) do Rio, o modelo proibicionista está na raiz dos abusos cometidos pelas polícias contra os moradores de favelas e periferias, embora o discurso oficial prefira culpar os indivíduos. “Quando a polícia mata um trabalhador, esse discurso parte da ideia de que o problema não é da política de combate às drogas, mas, sim, de um policial bandido que está na corporação, o que não é verdade”, afirmou.

A causa, segundo Martins, está numa segurança pública que opera pela lógica da guerra. O delegado afirma que o estresse dos confrontos é tão grande que há casos de policiais que “surtam” e disparam contra os próprios colegas. “Em tiroteio na favela, ninguém sabe quem atirou em quem”, disse. “A morte de inocentes, o policial que perde a noção na hora do combate e acaba se excedendo, são fenômenos produzidos pela guerra.”

Falando sobre as origens do proibicionismo, Martins disse que a separação entre drogas lícitas e ilícitas não se baseou em critérios científicos, e, sim, em preconceitos. O modelo proibicionista adotado pelo mundo nasceu nos Estados Unidos, onde, a partir dos anos 1920, o governo passou a proibir substâncias associadas, no imaginário americano, a grupos sociais marginalizados: a maconha, relacionada aos mexicanos; o ópio, aos chineses; e a cocaína, aos negros. “O racismo, a discriminação e o preconceito orientam a política antidrogas desde o seu início”, afirmou.

Em outros países

Também participaram do debate, entre outros, a médica Raquel Peyraube, assessora do Instituto de Regulação e Controle da Cannabis, órgão do governo uruguaio responsável pela política de regulação do mercado de maconha do país, e o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que falou sobre a experiência portuguesa com a descriminalização de todas as drogas.

Na sua fala, Peyraube deu a entender que a liberação da maconha no Uruguai pode ser apenas o começo. “Concordo com a posição da LEAP de que todas as drogas deveriam ser legalizadas, e estamos trabalhando para isso. Mas, culturalmente e politicamente, é muito difícil”, afirmou.

Na foto: Maria Lúcia Karam, juíza aposentada e presidente da LEAP Brasil


Moçambique - Eleições: Renamo anuncia marchas para contestar resultados




A Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, anunciou hoje a realização de "marchas políticas" em todo o país contra os resultados das eleições gerais de 15 de outubro, considerando-as "as mais fraudulentas da história".

"Estamos conscientes de que não existem caminhos fáceis para se alcançar a justiça e estamos hoje a iniciar, em todo o país, a marcha política tendente a resgatar a justiça eleitoral que o próprio Conselho Constitucional nos negou", disse Arlindo Bila, delegado político da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) na cidade de Maputo, perante centenas de militantes da organização.

Bila afirmou que Filie Nyusi, proclamado Presidente da República no dia 30 de dezembro pelo Conselho Constitucional (CC), não tem legitimidade para formar Governo, alegadamente porque ganhou num processo eleitoral viciado.

"A Renamo e o presidente Afonso Dhlakama exigem, em nome da concórdia e reconciliação nacional, a formação de um Governo de gestão", acrescentou o delegado político do principal partido de oposição em Moçambique na cidade de Maputo.

Arlindo Bila reiterou a acusação da Renamo de que a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, manipulou o CC para subverter os resultados das eleições.

"O Conselho Constitucional poderia ter feito melhor, mas entendemos que, neste país, a Frelimo manipula os órgãos de soberania, as instituições do Estado, a Constituição e as demais leis, a seu bel-prazer", acusou Bila.

O CC proclamou Filipe Nyusi Presidente da República e o seu partido, Frelimo, vencedor das eleições legislativas e das assembleias provinciais, seguidos pela Renamo e pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira maior força política do país.

Tanto a Renamo como o MDM não reconhecem os resultados proclamados pelo CC, alegando ter havido fraude no escrutínio.

A Renamo exige um Governo de gestão como solução para a alegada fraude eleitoral.

Lusa, em Notícias ao MInuto

Governo de Moçambique quer recensear 170 mil jovens para o serviço militar




O Ministério da Defesa moçambicano anunciou hoje a meta de recensear 170 mil jovens para o Serviço Militar Obrigatório, durante o censo militar a decorrer em todo o país entre os dias 05 do corrente e 28 de fevereiro.

Em comunicado enviado à Lusa, o Ministério da Defesa moçambicano diz que, além do território nacional, o recenseamento militar vai decorrer igualmente nas missões diplomáticas e consulares de Moçambique no estrangeiro.

"Nos termos da lei, o cidadão que não se apresentar ao recenseamento militar e não regularizar a sua situação militar é considerado faltoso e fica sujeito a sanções nos termos da lei", refere a nota de imprensa.

No comunicado, são exortados todos os jovens com idade entre 18 e 35 anos a afluírem em massa aos postos de recenseamento militar para a regularização da sua situação militar.

Entre os 170 mil jovens que se poderão recensear para o SMO, serão recrutados os que vão ingressar no Serviço Cívico de Moçambique, uma instituição criada pelo Governo com o intuito de desenvolver atividades de carácter administrativo, assistencial, cultural e económico, em substituição ou complemento do Serviço Militar para todos os cidadãos aptos não sujeitos a deveres militares.

O recenseamento militar em Moçambique não resulta imediatamente na incorporação, uma vez que o ingresso no exército está condicionado a provas de aptidão, ficando o remanescente dos mancebos numa lista de espera.

Lusa, em Notícias ao Minuto

RESPONSABILIDADE DE ANGOLA



Jornal de Angola, editorial

Angola iniciou a 1 de Janeiro Dia da Paz,, pela segunda vez, o mandato como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, um órgão do sistema  das Nações Unidas encarregado do estabelecimento e manutenção da paz e segurança no mundo.

O Conselho de Segurança da ONU, composto por 15 membros (cinco permanentes e dez não permanentes), é considerado o mais influente órgão desta organização mundial, pela natureza e alcance das suas decisões, que são de cumprimento obrigatório por parte de todos os Estados membros das Nações Unidas.

Angola volta a fazer parte do Conselho de Segurança, onde vai poder  defender posições do interesse do continente africano.  É a voz de um Estado com larga experiência ao nível da diplomacia mundial e com um profundo conhecimento de África, que tem inúmeros problemas a superar. A comunidade internacional vai poder contar com o contributo valioso à paz e segurança internacional.  Angola passou durante muitos anos por uma situação  de conflito armado de grandes proporções e conseguiu ultrapassá-lo com mecanismos eficientes e que hoje são fonte de ensinamentos  para outros povos.

Pelo seu constante empenho na busca de soluções para conflitos regionais em África, Angola é  um país a contar para a promoção de um bem que é comum a todos os povos do  mundo, a paz. A sua eleição para o Conselho de Segurança  da ONU com 190 votos dos 193 possíveis constitui prova do grande prestígio de que goza o nosso país.

É que na verdade se espera muito de Angola quanto à sua actuação diplomática em vários cenários complexos no continente africano, caracterizados por guerras que  se vão prolongando, com consequências nefastas para vários milhões de africanos. 

Há a expectativa de que o nosso país desempenhe um papel activo na configuração da concertação de África, no quadro da União Africana, para a abordagem no Conselho de Segurança dos grandes assuntos internacionais, em especial daqueles que têm a ver com o nosso continente.

O facto de Angola já ter sido membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, pode ajudar na organização de estratégias que viabilizem posições dos africanos, que pretendem  fazer valer naquele fórum os seus pontos de vista sobre diversos assuntos, sobretudo os que lhes dizem respeito. As crises existentes em África justificam uma actuação concertada dos países africanos cuja agenda deve ser colocada no centro das preocupações da comunidade internacional. Os problemas de África devem ter uma solução urgente. 

É previsível que Angola leve ao Conselho de Segurança da ONU a sua  experiência em resolução de conflitos, apresentando propostas realistas, que hão-de resultar do domínio  que tem  dos problemas, cujas causas estão identificadas. Vamos seguramente assistir a um grande protagonismo de Angola no Conselho de Segurança, desejado pelos países africanos que  confiam na capacidade do nosso país para impulsionar acções que vão ao encontro das aspirações do continente.

O embaixador do Brasil nas Nações Unidas, António Patriota, está optimista quanto ao desempenho de Angola no Conselho de Segurança, tendo afirmado que o nosso país “tem um papel estabilizador em África.”  Para o embaixador  português  Álvaro Mendonça  e Moura, é “muito importante”  que Angola tenha voltado ao Conselho de Segurança. “É  um país que pode dar uma  enorme contribuição  à solução de uma série de crises em África”, disse o diplomata luso. Sendo elevadas as expectativas em relação à actuação de Angola no Conselho de Segurança, resta aos angolanos estarem à altura do que se espera do nosso país, que conta com apoio da União Africana. Esta organização continental não  deixa certamente de tirar o máximo proveito das competências e sabedoria da diplomacia angolana, uma das mais solicitadas quando se trata de encontrar remédios para complexos problemas. 

É  grande a responsabilidade de Angola no Conselho de Segurança, mas os angolanos sabem que, na incessante luta pela paz, devem ser também promotores persistentes do bem-estar de todos os povos, ajudando a procurar as vias que permitam criar um mundo cada vez mais seguro e livre de conflitos. A experiência da diplomacia angolana vai seguramente ajudar a resolver conflitos que duram há demasiado tempo e cuja falta de solução cria instabilidade regional e mundial. O ano começa sob o signo da paz. O Conselho de Segurança tem a responsabilidade de que a paz seja efectiva em todo o mundo e particularmente no continente africano.



Angola: PEDINCHÃO DO ANO NOVO




Jornal de Angola - Cartoon de Casimiro Pedro

*Título PG

BES Angola: PAGUEM O QUE DEVEM




Uma das principais causas da derrocada do BES foi a fuga de capitais para Angola sem controlo, através do BES Angola (BESA).

PAULO MORAIS – Correio da Manhã, opinião

É cerca de três mil milhões o capital que o Estado português deve agora recuperar, sem hesitações. Este enorme buraco resulta, em grande parte, de empréstimos concedidos a personalidades ligadas a José Eduardo dos Santos (JES). No topo da lista está a sua irmã, Marta dos Santos, que usufruiu dum crédito de 800 milhões de dólares. Estes serviram para financiar negócios imobiliários em Talatona, numa parceria com o construtor José Guilherme. O conjunto de bafejados pelo BESA com muitos milhões é extenso, com destaque para membros da cúpula do MPLA, de Roberto Almeida a João Lourenço ou França Ndalu, entre outros. E muitas aquisições de angolanos em Portugal terão sido mesmo realizadas com o capital do BES. A herdade que os filhos de JES adquiriram em Aveiras de Cima resultava aparentemente duma entrada de dinheiro angolano em Portugal. Mas os milhões gastos pertenciam afinal aos depositantes do BES. Esta longa lista de empréstimos, já divulgada em Luanda, é ignorada pela Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES. Estranho! Até porque é ao Parlamento que compete decretar a recuperação do capital desviado; e destiná-lo à libertação das garantias de 3,5 mil milhões com que o estado português está comprometido no processo de resolução BES/Novo Banco. Os empréstimos que financiaram investimentos imobiliários em território nacional são de fácil recuperação: liquidação dos créditos ou confisco imediato das propriedades. Relativamente ao capital transferido para Angola, só uma operação diplomática junto de JES poderá obviar o problema. Mas mesmo esta será exequível, desde que todos os atores políticos façam valer a sua proximidade ao regime angolano. Começando pelo governo, cujo vice-primeiro-ministro visita frequentemente Luanda onde promove negócios; passando pelo Partido Comunista, que trata o MPLA como "partido irmão"; mas também pelo PS, parceiro do MPLA na Internacional Socialista. E finalmente por Cavaco Silva, que sempre se vangloriou das suas relações "verdadeiramente especiais" com o seu "caro amigo" Dos Santos. 

Como evitar a superlotação das urgências no inverno? 

Casas frias levam à generalização de doenças respiratórias. Uma boa medida seria a redução dos preços de eletricidade no inverno. Seria fácil, porque com as barragens cheias os custos de produção são bem menores. Quais as principais figuras hirasquicas do estado? Presidente da República, presidente do Parlamento e primeiro-ministro, por esta ordem, em função dos seus poderes constitucionais. Mas, na prática, o terceiro manda no primeiro e despreza a segunda. 

Papa Francisco 

O Papa condenou administradores públicos de Roma que desviaram dinheiro destinado a ajudar imigrantes pobres. A polícia italiana prendeu há um mês 37 suspeitos de pertencer a uma organização responsável pelo esquema "Máfia na Capital". Francisco defendeu que Roma precisa de "renovação moral e espiritual".

Portugal: O EPITÁFIO DE UM CAVACO SEM OUVINTES



Isabel Moreira – Expresso, opinião

Nada mais consentâneo com o ano novo do que um discurso fúnebre. Cavaco quer uma democracia "clara e mais esclarecedora". "Transparente", como ele.

Cavaco recusa o populismo, faz pedagogia através da "força do exemplo", como o dele, que preferiu a reforma ao salário de presidente.

Diz que há que ser cuidadoso com as promessas feitas. Rejeita facilidades. Recorda a disciplina orçamental. Não quer regredir a 2011 - imagina-se que está feliz com 2014 - e, sem demagogia, incita "o combate à corrupção".

Recorda coisas ótimas como a "diminuição do desemprego", existente na cabeça dele e, mais importante, quer "consenso". Interpela os agentes políticos a construírem apenas soluções estáveis.

Eis um democrata.

O homem que governou em minoria e com duas maiorias absolutas; o homem que foi presidente com um governo minoritário relativamente ao qual fomentou a instabilidade política rasca, com episódios inesquecíveis como a inventona de belém; e o homem que foi presidente de um governo maioritário pós-eleitoral, que apadrinhou, mesmo contra a Constituição.

A grande novidade de mais um discurso neutro foi precisamente apelar a um compromisso custe o que custar.

Pergunta-se então: por que raio, estão, não convocou eleições antecipadas? Porque Cavaco não é autêntico, nunca foi.

Cavaco está no seu último discurso em plenitude de funções. E com a fraqueza da sua legitimidade esmaga a vontade popular e atreve-se a indicar coligações pré-eleitorais ou pós-eleitorais.

O povo é que decide quem governa, coisa difícil de explicar a um Cavaco que acha por bem explicar como deve ser o próximo governo.

Cavaco, felizmente, não se substitui ao povo. Menos ainda quando depois das eleições terá a sua legitimidade formal e substancial restringida.

E não venha Cavaco rejeitar a discussão acerca das eleições antecipadas. Foi ele que introduziu o tema, e estamos recordados disso.

E o que é o consenso? Havendo um Partido com maioria absoluta que consenso quer Cavaco?

Havendo um Governo de minoria, qual é exatamente o drama?

Cavaco, no seu discurso, espelha a falta da sua própria exemplaridade.

Eu recordo-me de um prefácio de Cavaco em que os constrangimentos não eram suficientes para nos travar.

Aqui, Cavaco apresenta-se derrotado, um homem a dar um conselho: resignem-se.

Eis o PR com menos popularidade da nossa história.

Não o seguiremos.

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