quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

CABINDAS VÃO DIZER BASTA!




Cidadãos de Cabinda ameaçam sair à rua em Fevereiro para protestar contra aquilo que chamam de governação mafiosa de Aldina da Lomba Katembo, revela a VOA, acrescentando que o grupo de activistas dos direitos humanos do enclave diz estar tudo preparado para que a marcha tenha lugar no início do próximo mês.

Orlando Castro - Folha 8 Diário (ao)

Ocoordenador do grupo de activistas cívicos de Cabinda, Marcos Mavungo, disse à VOA que eles estão saturados com o tipo de governação que é levada a cabo em Cabinda pelo Executivo de Aldina Dalomba Katembo.

O grupo contabilizou, nos últimos três anos, 18 pessoas assassinadas e mais de 60 activistas cívicos detidos de forma arbitrária. Marcos Mavungo diz que tudo o que se diz na televisão sobre Cabinda não passa de meras declarações de intenções dos governantes que, em seu entender, executam uma governação mafiosa.

“Que haveria água em Cabinda, energia eléctrica, um porto de aguas profundas, um parque industrial e todas as condições para a população de Cabinda; tudo não passa de declarações de intenções porque a governação de Cabinda é de mafiosos que escondem interesses de terceiros poderosos que vão sugando e explorando o petróleo de Cabinda, usando a mão-de-obra, tiram tudo e não deixam nada”, acusa Marcos Mavungo.

Aquele activista diz ainda que qualquer um que queira reivindicar algo é perseguido e até morto e os números são assustadores.

“Instaurou-se uma perseguição sistemática a todos que queiram questionar, muitos activistas presos, hoje estamos num excessivo despotismo feudal que não permite questionamentos e os poderosos exploram cada vez mais este território”, continua Mavungo, que conclui: “nestes últimos três anos 18 assassinatos confirmados, duas senhoras violadas e 64 detenções arbitrárias sob pretexto de estarem ligados a igrejas ilegais”.

Por isso os activistas preparam para Fevereiro uma marcha de protesto contra a governação de Cabinda, como diz Alexandre Kuanga: “Vamos decretar uma marcha em Cabinda para exigir mais transparência na gestão dos fundos públicos”.

José Marcos Mavungo publicou no dia 26 de Julho de 2010, no Notícias Lusófonas, um artigo intitulado “O execrável calvário dos activistas de Cabinda”. Pela sua oportunidade aqui o reproduzimos:

“Sem falarmos na crise das instituições políticas e jurídicas, que invade toda a Angola, não é difícil adivinhar que o que se passa em Cabinda, terra com Estatuto Especial, é uma doença crónica. Se repararmos nos acontecimentos destes últimos sete meses, desde o ataque de triste memória contra a equipa do Togo, verificamos que o insólito das instituições políticas e jurídicas se abateu de forma aberta sobre Cabinda.

É factual e com alguma infelicidade se verificam de forma sistemática e sem justificação cabal as perseguições republicanas movidas contra os activistas dos Direitos Humanos aqui e acolá em todo o território de Cabinda quando se refira a espíritos irreverentes, reformadores, que não param de criticar, de imprimir uma nota constantemente progressiva às teorias/acções do Governo.

Estas contra sete activistas sob detenção são eventualmente outras de tantas perseguições do direito de opinião e de se informar, que assumiram proporções de um verdadeiro flagelo. Do ponto de vista jurídico, está claro que o “crime de outros actos contra a segurança de Estado” que lhes é imputado não procede. Simplesmente, os activistas detidos não acreditam no actual figurino sócio-político de assassinatos, detenções arbitrárias, de violência, porque acreditam na Justiça e na Paz; e intoxicam a opinião pública nacional e internacional, porque dão a conhecer ao Mundo o que se passa em Cabinda. O ataque contra a equipa de futebol togolesa foi apenas pretexto.

Assim sucede neste caso: aqueles que se exasperam contra tudo aquilo que constitui atropelo à dignidade humana – a violência e os fascismos – são indivíduos a abater. Portanto, não são nunca aqueles que estão por detrás do actual figurino sócio-político de anarquia de ideias e de interdições, de compadrios e outras conivências, de cleptocracia e de corrupção, de detenções arbitrárias e de perseguições republicanas, de assassinatos e de violações, de miséria e de crime.

Paradoxalmente e por fortuna, começa já a ser arcaica acusação do “crime de outros actos contra a segurança de Estado”. Agora também se pode constatar que os acusadores deste crime de modo descarado, não foram igualmente descarados em trazer uma só testemunha para provar que eles estivessem envolvidos em acções terroristas.

Cresce, em troca, o número de bodes expiatórios: Oliveira da Silva António de Almeida e João Gime Luemba, que tanto serviram a causa da classe política dominante, foram conduzidos à guilhotina, mesmo quando se levanta a hipótese de que o regime não vai sacrificar os seus.

Aliás, as palavras do Procurador Provincial de Cabinda, Dr. António Nito, no dia 22 de Julho de 2010, durante a audiência de instrução e julgamento inicial de Oliveira, parecem confirmar esta hipótese de Apologia do Director Adjunto da DPIC-Cabinda: “Oliveira retractou-se, não há mais razões para ser julgado, portanto deve ser absolvido”.

Observe-se que, neste processo dos sete activistas dos direitos humanos, uma das acusações mais tristes que se pode fazer contra a maioria das práticas políticas do regime – a cultura da classe política dominante – é a de que recompensam a hostilidade e o conflito, e penalizam, inclusive, a boa vontade.

Assim sendo, infeccionam a sociedade nas suas raízes, com o vírus da imaturidade adulta: a do poder exercido à revelia do conhecimento da razão jurídica e da dignidade de todo um povo.

Mas enquanto não houver política que instaure uma verdadeira justiça para Cabinda, não se pode pôr fim ao conflito ainda reinante, pois a actual gestão da especificidade de Cabinda terá sempre o mesmo valor semântico que “alienação”, “colonização”. Está claro, um figurino sócio-político herdado de uma descolonização desastrosa.

Isto aparece claramente que, enquanto perdurar esta condição, ˝o filho da terra˝ de Cabinda vai sempre “afirmar Cabinda ser colónia angolana”, se é que os tratados de protectorado – Chinfuma (1883), Chicamba (1884) e Simulambuco (1885) – ainda continuarão a ter validade, e, por conseguinte, não deixará de acreditar que é possível agir, em vista a ser de facto aquilo que é em projecto. Daqui a necessidade para Angola de curar o erro visual da falsa normalidade proposta aos olhos do mundo por esses 35 anos dos Acordos de Alvor.

Não queria terminar, sem alertar a opinião pública, que a actual violência em Cabinda vai produzir consequências graves e psicológicas para a humanidade, porque o que está em causa é a questão da justiça para todo um povo. Enfastiado de negócios com Angola, a governação mundial dos nossos tempos tem fracassado nas grandes dimensões vitais do direito do povo de Cabinda. Não! A humanidade não é assim, ela é, e será sempre esta afirmação do homem em face daquilo que lhe nega, lembrando, que o Direito Internacional também é para todos os povos.”


EUA - Jay Z fala sobre racismo nos EUA: "preconceito é ensinado em casa"




Master Class – série da apresentadora Oprah Winfrey – joga os holofotes sobre vários artistas, escritores, atores e músicos negros norte-americanos, para discutirem o movimento pelos direitos civis. No episódio mais recente, Jay Z falou sobre o papel que o hip-hop tem desempenhado na diminuição das tensões raciais nos Estados Unidos.

“Preconceito é ensinado em casa”, disse ele. “Acredito seriamente que o racismo é ensinado quando você é jovem”. Jay Z acrescentou: “Então é muito difícil ensinar racismo quando os seus filhos admiram Snoop Dogg”.

O rapper ainda seguiu: “Acho que o hip-hop fez mais pelas relações sociais do que a maioria dos ícones da cultura. O discurso de Martin Luther King nos fez perceber muitas coisas, a eleição do presidente Barack Obama também, mas o impacto da música, do hip-hop, mais especificamente, não influencia apenas as crianças das áreas urbanas; ela influencia as pessoas em todo o mundo”.

Jay Z também argumenta que o público de uma casa de shows na atualidade é o retrato nítido de como os movimentos pelos direitos civis foram vitoriosos. “Se você olhar a plateia e lembrar como ela se tornou integrada – antes, as pessoas se divertiam em clubes separados, havia os de hip-hop, os de techno – e agora as pessoas se divertem juntas.”

“Uma vez que você tem pessoas dançando, se divertindo, cantando juntas a mesma música, a interação flui normalmente após isso e, com o diálogo, nós descobrimos que somos mais parecidos do que distintos”, conclui Jay Z.

Pragmatismo Político


Brasil: Publicitário é vítima de racismo em boate de Sarandi, interior gaúcho



Oscar Henrique Cardoso, correspondente de Afropress no RGS

Sarandi/RS - O publicitário e produtor cultural, Nilo Feijó, foi vítima de racismo e ameaça por parte de policiais da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. O caso aconteceu por volta das 3h40min da madrugada deste sábado (03/01) no interior do pub Café do Vale, localizado na cidade de Sarandi, na região noroeste do Estado, a 333 Km de Porto Alegre.

Segundo o produtor cultural, também militante do Movimento Social Negro gaúcho, ele estava acompanhado de um cunhado quando, a certa altura, pediu para ir embora. Enquanto aguardava, um amigo que os acompanhava recomendou que aguardassem em um camarote do pub.

Violência

Ao entrar no camarote, Nilo ouviu de uma jovem que ele não poderia entrar naquele espaço porque era negro. Houve uma discussão e Nilo foi chamado pela jovem de “negro sujo”. A esta altura os seguranças da casa se aproximaram e o retiraram aos empurrões e com violência.

A Polícia Militar foi chamada e, de acordo com o publicitário, a confusão continuou na parte externa da boate. Nilo contou ter sido ofendido pelos brigadianos. “Ameaçaram me jogar gás de pimenta e também me intimidaram a não registrar ocorrência pelo episódio. Precisei sair da cidade e me esconder na casa de familiares porque fui ameaçado pelos policiais”, denunciou.

Em sua página pessoal na rede social Facebook, o publicitário disse que procurou a Policia para registrar ocorrência, porém, a Delegacia estava fechada e ele teve de fazê-lo na Brigada Militar, que se recusou a fazer o registro da ocorrência como racismo.

O caso foi registrado como ameaça. “Necessito da ajuda de todos os amigos da imprensa e também peço a mobilização da sociedade. Que este tipo de incidente nunca mais aconteça com pobre, negro, branco ou qualquer pessoa”, concluiu o produtor cultural.


Brasil: BOLSONARO, DEITA AQUI NO MEU DIVÃ!



Christian Ingo Lenz Dunker – Blog da Boitempo

Resumo da Ópera

Deputado federal, militar aposentado, declara para congressista, em espaço público e no exercício de suas funções: “jamais estupraria você porque você não merece”. Outro deputado federal, pastor neo-pentecostal, afirma: “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”.

Articulista de jornal de grande circulação comenta:

“De fato, não acredito que a humanidade aprenda muito em determinadas áreas, entre elas, romper a cegueira com a própria falha moral: dificilmente somos capazes de ver as coisas de modo claro quando está em jogo nossa autoestima e nossos interesses cotidianos. E quando (como no caso de “psicanalistas de esquerda”) se afirma que existe uma “clínica política” para questões como essas, o ridículo da coisa é maior ainda.” (Luis Felipe Pondé, “O quarto escuro”, Folha de S.Paulo)

Ao que é ecoado por outro luminar do pensamento liberal:

“E é possível observar a baba de ódio escorrendo do canto de suas bocas[dos psicanalistas de esquerda] quando falam dos “conservadores”, dos “liberais”, ou dos Estados Unidos e Israel. Pergunta: o psicanalista de esquerda arriscaria a própria vida para salvar Jair Bolsonaro numa eventual ditadura bolivariana?” (Rodrigo Constantino, “Psicanalistas de esquerda e a covardia moral, Blog da Veja)

Que por sua vez teria sido precedido por uma síntese de conjunto, uma afirmação mais ampla e circunstanciada, que inclui os casos anteriores:

“Sei, muitos ainda negam a ideia de que exista um processo de destruição da liberdade de pensamento no Brasil. Mas, uma das razões que fazem este processo ser invisível é porque a maior parte dos intelectuais, professores, jornalistas, artistas e agentes culturais diversos concorda com a destruição da liberdade de pensamento no Brasil, uma vez que são membros da mesma seita bolivariana.” (Luis Felipe Pondé, “Diálogo ou secessão”, Folha de S.Paulo)

O que fazer?

Declarações homofóbicas, misóginas, racistas, preconceituosas ou meramente agressivas como estas podem receber objeção, reprimenda jurídica ou reação institucional. O problema de tais discursos é que eles fazem com que pessoas propensas a atos de preconceito se sintam ainda mais legitimadas a pensar, dizer e finalmente agir de modo segregatório.

Contudo, como fazem parte de nosso debate público nos resta trabalhar para que aqueles que disseminam tais ideias sejam reprovados politicamente nas próximas eleições ou nas próximas consultas públicas para definir novos articulistas. Tais declarações despertam reações de protesto e críticas individuais ou coletivas, mas não um desejo de censura. A indignação é contida em nome da lei maior da liberdade de expressão, ou pelo espírito burocrático e leniente que ainda vigora quando o assunto são os crimes da palavra.

Parece pouco.

Alguns advogam que a melhor atitude neste caso seria a indiferença. Considerados como anacronismos sociais, tais exageros opinativos seriam gritos de quem resiste à mudança até o fim, uma espécie de intensificação do sintoma antes que ele seja abandonado. Ou então seriam expressão de um desejo de chamar a atenção, capitalizando o descontentamento com brados cada vez mais altos e intimidadores. Creio que esta tática de deflação narcísica, baseada na recusa ao reconhecimento, no silêncio obsequioso e na tolerância paciente, acredita demasiadamente que o debate público é uma questão de combate entre os “juntadores” de opinião. Cedemos assim à ideia de que tudo é uma questão de audiência, espetáculo ou de luta pela “aparecência”.

Ainda parece pouco.

Partilho do sentimento generalizado de que há uma pobreza de meios para lidar com tais excessos. Pobreza que nem uma lei de imprensa poderia evitar. Processos jurídicos, por difamação, calúnia ou injúria, execuções penais por crime de racismo, Comitês de Ética, falta de decoro parlamentar, até mesmo a execração pública de lado a lado são sentidos como instrumentos tímidos e impotentes. Quando questões de tratamento e respeito mútuo chegam neste acirramento o processo tende a caminhar pela força da lei ou pela arte da guerra. Ocorre que declarações como estas são de difícil trato em termos da coisa pública.

O que deveríamos fazer? Um plebiscito para saber se Bolsonaro merece ou não ser estuprado? Uma escola de re-educação, semelhante à que impomos aos maus motoristas, na qual Feliciano seria obrigado a passar alguns meses em convivência íntima com homossexuais? Um curso de estatística para fazer Pondé reaprender o conceito de “maioria” ou outro curso de filosofia para entender que significa “liberdade de pensamento”? Um exame toxicológico de hidrofobia para mostrar a Constantino que a “baba de ódio que escorre pela boca dos psicanalistas de esquerda” é imaginária, não contagiosa e tem poderes terapêuticos contra o neoliberalismo?

Divã político

Ainda que saibamos que não se pode recomendar a psicanálise para alguém, e que o tratamento só funciona se houver um movimento da própria pessoa de buscar ajuda, às vezes vem a tentação, vem o desejo de testar os limites do seu próprio desejo de analista. Isso provém do sentimento, quiçá delirante, de que muita humilhação e constrangimento poderia ser evitado, para o próprio e para os que o cercam, se o tal se dispusesse a falar livremente, em situação de sigilo e suspensão de julgamento, sobre seus fantasmas e tormentos. Sim, quero crer que está faltando um tanto de divã político para esta turma.

Se pudesse colocá-los todos no divã o primeiro passo do tratamento seria recusar a falsa divisão da qual eles acham que estão sofrendo, entre PT e anti-PT, entre bolivarianos e anti-bolivarianos, entre “inteligentinhos” e “burrinhos”, entre “nós” e “eles”, entre os que são contra a corrupção e os outros que seriam… o quê, a favor da corrupção? Melanie Klein chamou isso de posição esquizo-paranóide. Primeiro dividir entre bons e maus, depois demonizar o outro e em seguida sentir-se perseguido pelo que projetamos neste outro a partir do que não podemos suportar em nós mesmos.

Não é que não existam mais esquerdas e direitas, mas existem muitas esquerdas e muitas direitas. Quero crer que uma divisão mais aceitável em termos psicanalíticos se daria entre universalistas, que entendem que a essência universal do sujeito é dividida e vazia, e os particularistas, que tentam ocupar tal essência com traços positivos e contingentes, de sexo, de gênero, de religião, de raça, de orientação política ou de classe. O desafio para os universalistas está em saber como definir quem estaria além das palavras e da razão. Para um psicanalista estas figuras constituem o limite do analisável, a fronteira final que nosso desejo pode suportar. Casos limites para o exercício do método e da ética que lhe cabe.

Recentemente estive na exposição Topographie des Terrors [Topografia do terror] junto ao que sobrou do muro de Berlin. O material iconográfico detalha minunciosamente o processo jurídico e institucional pelo qual o nazismo se impôs como uma solução inesperada depois dos anos de avanço cultural e liberdade da República de Weimar. Um dado ressoou forte com nossa situação brasileira. A primeira lei, que uma vez aprovada parece ter desencadeado a progressiva institucionalização da barbárie, tratava de um assunto um tanto esquecido: a eliminação dos pacientes incuráveis ou terminais. Antes de judeus, ciganos, homossexuais, comunistas e demais formas de vida não arianas, o regime introduziu a ideia teste de que existem “certas pessoas” que “nós” não podemos suportar. Uma vez aceito este princípio de que há condições, crenças ou disposições morais que não têm direito à existência, está instituído o processo de segregação, cujo capítulo seguinte será a inexorável expansão do tipo de diferença sentida como intolerável. Portanto, o segundo ponto do tratamento conjectural desta nova direita brasileira passaria pela inoculação da dúvida sobre a consistência real de seus inimigos.

Estou certo que aqui Rodrigo Constantino voltaria a me perguntar sobre a idoneidade de minhas intenções e sobre a pureza de meu desejo de psicanalista. Mostraria então o título desta coluna: sim, estou disposto a arriscar a vida para salvar Jair Bolsonaro da ditadura bolivariana. Não quero que ele seja excluído da condição de voz ativa e saliente no debate público de nosso país. Mas, convenhamos, ele deve se comportar melhor. Há que se ter um pouco de compostura. Talvez a análise ajude com isso. Mais do que um reformatório militar.

O tratamento deste discurso não se justifica apenas em nome de algum sintoma ou diagnóstico que torna esta atitude uma figura patológica ou moralmente execrável. Você não precisa se reconhecer de saída como um fraco, covarde molestador de mulheres, basta admitir que existem pontos que talvez valha a pena colocar em discussão, digamos, em foro íntimo. É possível sim, rever pontos de vista, mesmo quando nossos interesses estão em jogo, mesmo que isso ofenda nossa autoestima, o método para isso chama-se psicanálise.

Gente como Habermas viu neste método um exemplo de exercício da razão comunicativa, outros como Foucault entendiam que ela seria um caso do dispositivo de confissão e disciplina. Veja, Bolsonaro, pela esquerda ou pela direita é possível que o senhor se sentisse em casa para rever suas posições e aceitar o palpite amigo de Reinaldo Azevedo: peça desculpas. A capacidade de voltar atrás é um grande sinal de saúde psíquica. Acredite, você não se tornará menos macho por pedir desculpas a uma colega de trabalho.

Este seria o momento de resistência do tratamento. Seria forçado a reconhecer que a expressão “psicanálise de esquerda” é, de fato, um contra senso, não sem antes lembrar que não fui eu a empregá-la pela primeira vez nesta conversa. Freud definiu a psicanálise como um método de tratamento, um método de pesquisa e uma teoria que reúne e se transforma a partir da clínica assim praticada. Há um grande consenso nesta matéria: a psicanálise é uma ciência laica, não é uma visão de mundo e, portanto, não pode ser nem conservadora nem liberal, nem comunista nem capitalista, nem de esquerda nem de direita.

Mas a psicanálise não opera sem psicanalistas e estes são muito mais terrenos do que os métodos nos quais acreditam. É por isso que desde Lacan entende-se também que a psicanálise é uma ética. Uma ética que coloca em seu centro o desejo em sua dimensão trágica. Uma ética que começa pela suspensão do julgamento e do interesse no serviço dos bens baseando-se em seguida na associação livre. Neste ponto talvez nos depararemos com a ideia de que a experiência psicanalítica tem no seu centro o conflito, tratando pela palavra, gerido no interior de uma relação. Aqui o conflito não será eliminado pela força, mas tratado pela palavra, exatamente como na política. Tanto faz se contra isso enfrentaremos ilusões de bondade ou de maldade sobre nós mesmos, teremos que atravessar tais ilusões.

Chegará então o momento em que ficará claro que seu psicanalista não pode ser parte de uma “seita bolivariana” porque ele não opera a partir de sua própria identidade de classe, gênero e orientação moral. Ele não está tentando convencer você a ser outra pessoa, apenas tentando entender porque você precisa tanto de inimigos.

Aqui nos lembraremos de Pondé para quem a psicanálise é uma ética sem consequência política, para perceber que uma análise nestes termos é operação ganha-ganha. Se esta ética, que busca o bem individual, não tem nada que ver com a política, que orienta-se pelo bem comum, então não há risco, só potenciais ganhos. Por dever de ofício estamos impedidos de julgá-los em praça pública, que é o que está acontecendo agora. Pensem bem, os senhores que defendem a cura gay, a cura pela palmada, a cura pelo estupro, não estariam mais à vontade com algo bem mais simples e tradicional, como a cura pela palavra?

Estou sugerindo que muitas vezes é mais fácil assumir processos jurídicos, responder a comitês de ética, fazer cursos e penitências nominais e públicas, pagar indenizações, do que um gesto mínimo de mudança subjetiva como pedir desculpas. É grátis. Quase tão simples quanto instruir seu filho a não participar de comícios e manifestações públicas de massa com um revólver na cintura. Não temam. Se Pondé e Constantino estão certos, em nenhum caso a sua reflexão ética afetará suas disposições políticas. Uma viagem de palavras, sobre nossos inimigos imaginários mais privados não vai alterar jamais suas crenças públicas sobre mulheres, educação, sexualidade ou o sentido da família e da comunidade, incluindo-se aí bandidos e estupradores. Então, Bolsonaro, vem aqui, deita no meu divã!

A Boitempo prepara para breve o novo livro de Christian Dunker: Mal-estar, sofrimento e sintoma: a psicopatologia do Brasil entre muros. A integrar a coleção Estado de Sítio, coordenada por Paulo Arantes, o livro parte de uma psicanálise da vida em condomínios para desenvolver uma aprofundada reflexão interdisciplinar sobre a privatização do espaço público e a inserção da psicanálise no Brasil. Confira a aula dele, no Café filosófico do CPFL Cultura, sobre as transformações no sofrimento psíquico: VER VÍDEO

Christian Ingo Lenz Dunker é psicanalista, professor Livre-Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Analista Membro de Escola (A.M.E.) do Fórum do Campo Lacaniano e fundador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP. Autor de Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica (AnnaBlume, 2011) vencedor do prêmio Jabuti de melhor livro em Psicologia e Psicanálise em 2012, seu livro mais recente é Mal-estar, sofrimento e sintoma: a psicopatologia do Brasil entre muros (Boitempo, no prelo). Desde 2008 coordena, junto com Vladimir Safatle e Nelson da Silva Junior, o projeto de pesquisa Patologias do Social: crítica da razão diagnóstica em psicanálise. Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas. 

Na foto: Deputado Jair Bolsonaro forma um coração com as mãos durante sessão, no Plenário em 10.12.2014. Ele pediu a palavra para reiterar suas ofensas à deputada Maria do Rosário.

GOVERNO DE HONG KONG ADMITE ALTERAR PROPOSTAS PARA A REFORMA POLÍTICA




Hong Kong, China, 08 jan (Lusa) -- A secretária-chefe de Hong Kong, Carrie Lam, disse hoje que o Governo está preparado para alterar as propostas para a eleição do chefe do executivo, em 2017, de modo a obter o apoio necessário à aprovação no Conselho Legislativo (LegCo).

A número dois do Governo de Hong Kong reconheceu, em entrevista à Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), que o consenso sobre a reforma política é cada vez mais difícil de obter, sobretudo depois da campanha de desobediência civil "Occupy".

Carrie Lam disse que as opiniões estão bastante polarizadas e que está pouco otimista quanto à obtenção do apoio de dois terços dos deputados para a aprovação da proposta final sobre a reforma política.

A responsável afirmou também que o Governo não vai desistir e que vai considerar fazer alterações às propostas para conseguir o apoio dos pró-democratas no LegCo. Não obstante, indicou que as alterações deverão estar de acordo com o quadro restritivo estabelecido por Pequim.

O Governo central decidiu no final de agosto que os residentes de Hong Kong podem eleger o próximo chefe do executivo em 2017, mas apenas depois de os dois ou três candidatos ao lugar serem previamente validados por um comité. A decisão esteve na origem dos protestos que ocuparam as ruas de Hong Kong durante mais de dois meses, até 15 de dezembro.

No programa da RTHK, Carrie Lam disse ainda que o Governo vai analisar com especial atenção a proposta de "voto em branco" apresentada pelo professor de Direito e membro da Comissão da Lei Básica Albert Chen Hung-yee.

O académico defendeu, na semana passada, a ideia de que a eleição para o chefe do executivo seja declarada inválida caso sejam apurados mais de metade dos votos em branco quando os candidatos oficiais forem finalmente submetidos à votação da população.

O secretário para os Assuntos Constitucionais de Hong Kong, Raymond Tam, disse também, citado hoje pelo jornal South China Morning Post (SCMP), que a proposta de Albert Chen merece ser considerada.

Por outro lado, afirmou que os deputados da bancada pró-democrata iriam enfrentar consequências se vetarem a proposta final de reforma política na votação no LegCo.

A segunda consulta pública sobre a reforma política foi lançada na terça-feira e vai decorrer durante dois meses.

Entre outros aspetos, a nova consulta pede a opinião dos residentes sobre se os aspirantes a candidatos a líderes de Hong Kong devem garantir pelo menos 100 a 150 recomendações dos 1.200 membros do comité de nomeação antes de passarem por uma votação interna naquele órgão.

Tal como na primeira fase de consulta, a que está atualmente em curso preconiza o apuramento pelo comité de nomeação dos dois ou três candidatos oficiais que serão finalmente sujeitos ao voto direto da população.

FV // VM

China: LÍDER ESTUDANTIL DE HONG KONG CRITICA AUTORIDADES EM TRIBUNAL




Hong Kong, China, 08 jan (Lusa) - Joshua Wong, o jovem rosto dos protestos pró-democracia de Hong Kong, criticou hoje as autoridades durante uma sessão em tribunal relacionada com a sua participação na campanha de desobediência civil que ocupou as ruas da cidade por 79 dias.

Wong foi um dos 29 ativistas que compareceu numa audiência preliminar no Tribunal de Última Instância sobre possíveis acusações do crime de desobediência por tentar impedir os trabalhos de remoção das barricadas nos locais de protesto, em novembro.

Na origem da contestação está o descontentamento com a proposta de reforma política apresentada por Pequim. Há muito que tinha sido prometido que Hong Kong poderia eleger o líder do Governo em 2017 por sufrágio universal, mas o Governo Central anunciou em 2014 que tal só vai acontecer se os candidatos forem selecionados por um comité de número reduzido e que é visto como próximo do poder.

A decisão gerou uma onda de protestos que durou mais de dois meses e que foi considerada ilegal, com a polícia a prometer acusar "os principais instigadores".

Os ativistas tiveram a oportunidade de falar ao tribunal e alguns gritaram "Quero democracia verdadeira", um pedido que teve eco entre apoiantes sentados na galeria aberta ao público.

"O Governo está a usar os procedimentos legais para reprimir o Movimento dos Guarda-Chuvas", disse Wong, referindo-se ao nome pelo qual ficou conhecida a campanha pró-democracia de Hong Kong por usarem guarda-chuvas amarelos nos protestos.

"É gastar dinheiro dos contribuintes para impedir as pessoas de tomar ações no futuro", criticou.

Wong, de 18 anos, é o fundador do grupo Scholarism e tornou-se uma das vozes mais proeminentes do movimento pró-democracia.

Outro líder estudantil, Lester Shum, de 21 anos, acusou as autoridades de "abusar dos procedimentos legais".

"O tribunal está a ser usado como instrumento político para a repressão", acusou.

O departamento de justiça disse hoje que vai avançar com casos de desobediência criminal contra 22 ativistas, incluindo Wong e Shum, mas não apresentou ainda uma acusação oficial, pedindo mais tempo para recolher documentação.

ISG // VM

EDIÇÃO ONLINE DO JORNAL DO PC CHINÊS LANÇOU PORTAL EM PORTUGUÊS




Pequim, 08 jan (Lusa) - A edição online do Diário do Povo, órgão central do Partido Comunista Chinês, lançou hoje um portal em português para "promover a comunicação e o intercâmbio" com os países de língua portuguesa.

O novo portal (acessível através do site http://portuguese.people.com.CN) propõe-se difundir "notícias de economia, política, sociedade, educação, cultura, desporto, ciência, turismo e outras áreas", assumindo-se como "um esforço para promover o intercâmbio e o entendimento entre os internautas de língua portuguesa e a China".

A iniciativa insere-se na "estratégia global de desenvolvimento do Diário do Povo online", que já tem também versões em inglês, russo, espanhol, japonês, árabe, alemão e coreano.

O lançamento da versão em português coincide com a abertura do primeiro encontro ministerial do Fórum China-CELAC (Comunidade dos Estados da América Latina e das Caraíbas), que reúne até sexta-feira em Pequim governantes de 34 países.

Além do Diário do Povo online, também a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua e a Rádio Internacional da China têm um serviço em português.

O ensino do português na China registou grande desenvolvimento nos últimos anos devido às crescentes relações económicas e comerciais com os países de língua portuguesa, sobretudo Brasil, Angola e Portugal.

No início do século XXI, em todo o continente chinês havia apenas duas universidades com licenciaturas em português. Hoje há 18.

AC // VM

Timor-Leste tem "excelente ambiente para o investimento externo" - Heineken




O presidente regional da Ásia e Pacífico da Heineken considerou hoje que Timor-Leste oferece "excelente ambiente para o investimento externo", algo evidente nas negociações para a construção da fábrica que a empresa vai iniciar nos arredores de Dili.

"Encontrámos um excelente ambiente para o investimento externo", disse à agência Lusa em Dili, Roland Pirmez.

"Durante as negociações com as autoridades locais encontrámos um ambiente muito amigável. Fomos muito bem recebidos como investidores internacionais. O processo é muito bem gerido, conhecemos gente muito profissional e estamos muito contentes", afirmou.

Pirmez falava à Lusa depois de assinar em Díli com Veneranda Martins, a secretária de Estado timorense para o Apoio e Promoção do Setor Privado, o acordo mediante o qual a cervejeira vai construir uma fábrica em Timor-Leste num investimento superior a 40 milhões de dólares.

O projeto, aprovado no ano passado pelo Governo timorense depois de apenas cerca de um ano de negociações poderá criar até mil postos de trabalho, 200 diretos e 800 indiretos.

"Esperamos começar a fábrica o mais rapidamente possível. E esperamos tê-la a funcionar dentro de dois anos", disse ao referir que o break-even do investimento será alcançado antes de 2020.

Do lado timorense e como estímulo ao investimento, explicou, a cervejeira recebeu incentivos fiscais e um "acordo de arrendamento da terra vantajoso e a longo prazo".

Pirmez explicou que o objetivo é vender especialmente para o mercado timorense, apesar da cervejeira estar aberta a "ver oportunidades no futuro" na região mais próxima.

Confirmou ainda que além das marcas já produzidas pela Heineken, a unidade de Timor-Leste pode vir a ter uma marca própria timorense.

Para Fernando La Sama de Araújo, vice-primeiro-ministro timorense o projeto é um exemplo de que "Timor está a ganhar a confiança de grandes empresas" internacionais.

"Esperemos que, com esses gestos para o futuro, consigamos deixar de falar da dependência só no petróleo", disse.

"A classe média está a crescer e o governo em si está a investir muito no país. Acreditamos que o setor privado é o parceiro mais importante do Governo para o desenvolvimento do país", considerou.

Na sua intervenção na cerimónia de hoje, Veneranda Martins destacou o rápido desenvolvimento que tem ocorrido em Timor-Leste, com a liderança política a estar "empenhada em criar condições para o investimento nacional e internacional" no país.

Para isso, recordou, nasceu a 1 de janeiro a recém-criada Agência Especializada do Investimento (AEI) que pretende ser "catalisadora da captação de investimento de qualidade, para a diversificação da economia nacional e a redução da dependência no petróleo".

"Esta é uma ocasião histórica para o povo de Timor-Leste. Um setor privado forte em Timor-Leste representa a criação de mais postos de trabalho e um desenvolvimento económico mais forte", disse.

Segundo dados da AEI, desde 2006 o Governo timorense já concedeu 163 certificados a investidores - 110 estrangeiros, 51 nacionais e dois consórcios, um dos quais o projeto luso-timorense para a criação do Serviço Nacional de Cadastro (SNC).

Em causa estiveram investimentos totais de mais de 880 milhões de dólares representando a criação de 17.541 postos de trabalho.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Timor-Leste: PARLAMENTO LAMENTA AS CONDIÇÕES DOS RESTAURANTES



08 de Janeiro de 2015

Os deputados no Parlamento Nacional lamentam as condições dos restaurantes existentes no país, nomeadamente as casas de banhos, segundo o Suara Timor Lorosa’e. 

“Segundo a nossa observação o ambiente e o serviço prestado nos restaurantes são bons, mas pedimos ao Estado através do Ministério da Saúde, do Ministério do Turismo e do Ministério do Meio Ambiente para fazerem uma colaboração de modo a tratarem deste assunto referente às casas de banhos, porque a maioria dos restaurantes na cidade não têm boas condições. O turismo é uma das áreas mais importantes para o desenvolvimento do país, quando o petróleo acabar”, informa o deputado da bancada da Fretilin, Francisco Miranda Branco.

Por outro lado Mericio Akara, diretor da organização não-governamental “Luta Hamutuk” e um dos estudantes da Universidade da Paz (UNPAZ) dizem que se o Ministério do Turismo tem um bom plano e se conseguir desenvolver a área do turismo, noo futuro Timor-Leste irá receber a visita de muitos investidores e turistas porque o país tem a sua própria riqueza.

SAPO TL com STL 

FILIPE NYUSI, UM ANÓNIMO NA PRESIDÊNCIA DE MOÇAMBIQUE




Do anonimato à presidência da República, é a forma mais ajustada para resumir o percurso de Filipe Nyusi, novo Presidente de Moçambique. Nunca fez carreira política e nem liderou nenhum órgão do seu partido, a FRELIMO.

Ministro da Defesa foi o cargo mais alto que Filipe Nyusi ocupou, de 2008 a princípios de 2014. Este ministério ficou apagado depois do fim da guerra civil em 1992. Com a vitória na primeira volta das eleições gerais de 15 de outubro último, será o quarto Presidente de Moçambique e sucessor de Armando Guebuza.

Investidura no dia 15 de janeiro de 2015

O Conselho Constitucional (CC) moçambicano fixou o próximo dia 15 para a investidura de Filipe Nyusi como novo Presidente da República. "O Conselho Constitucional designa o dia 15 de janeiro de 2015, para a investidura do cidadão Filipe Jacinto Nyusi no cargo de Presidente da República de Moçambique, eleito nas eleições presidenciais no dia 15 de outubro de 2014", diz o acórdão da entidade.

A investidura do novo chefe de Estado vai seguir-se à cerimónia de posse dos 250 deputados da Assembleia da República, marcada para o dia 12 de janeiro. Filipe Jacinto Nyusi, candidato da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) venceu com 57%, seguido de Afonso Dhlakama, da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), com 36,6%, e Daviz Simango, do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), com 6,4%.

Um deconhecido político

Até a sua nomeação como candidato da FRELIMO, o partido no poder, Nyusi era um deconhecido político até para a comunicação social local.

Esta ascensão política meteórica, entretanto, foi marcada pelos confrontos militares entre o exército governamental e os homens da RENAMO, que duraram mais de um ano e meio.

Durante esse período o seu ministério, que passou a ter visibilidade, foi duramente criticado pela oposição e analistas, por exemplo, pela gestão dos confrontos e fraco preparo dos seus militares, o que terá resultado em muitas baixas.

Filho da FRELIMO com perfil tecnocrata

Ao contrário de todos outros Presidentes de Moçambique, Nyusi não fez carreira política, é um tecnocrata por excelência. No seu Curriculum Vitae destaca-se principalmente o seu percurso de gestor empresarial.

Até assumir os comandos da Defesa era admnistrador executivo da empresa estatal Caminhos de Ferro de Moçambique, desde 2007. Entrou para a empresa em 1992, onde foi também responsável pela região norte. Em paralelo foi presidente de um clube de futebol, o Ferroviário de Nampula, equipa ligada à empresa para qual trabalhava.

Filho de combatentes da luta armada de libertação nacional contra o colonialismo português, nasceu em Cabo Delgado, bastião da FRELIMO, a 9 de fevereiro de 1959. Aqui estudou na Escola da FRELIMO e ingressou em 1973 no Movimento. Nyusi fez a preparação político-militar em Nachingwea, na Tanzânia.

Depois da independência do país em 1975 entrou para a Universidade Eduardo Mondlane onde começou o curso de Engenharia Eletroténica, que interrompeu no segundo ano para ir estudar Engenharia Mecânica na antiga Checoslováquia, onde fez o mestrado em Engenharia, em 1990. Em 1999 concluiu uma pós graduação na área de gestão na Victoria University, em Manchester, Inglaterra.

O norte rico na voz do comando pela primeira vez

Em 2014 entra para a corrida à presidência de Moçambique pela mão do Presidente Armando Guebuza. Durante a campanha eleitoral deixou claro que a sua gestão será marcada pela continuidade.

A campanha da FRELIMO, o partido no poder, foi a mais bem preparada e cara, com uma assessoria de marketing forte. Aqui os dotes de dançarino do candidato do norte ficaram para a história.

Mas como todos os candidatos deixou as suas promessas de melhorias das condições de vida para a população: "Vamos todos unidos trabalhar pela coesão e o crescimento de Moçambique. A necessidade de melhoria de acesso a água potável, o saneamento do meio continuarão a ser prioritários nas zonas rurais e urbanas."

Mas a sua eleição como candidato às presidenciais no comité central da FRELIMO, o principal órgão decisório do partido, foi uma surpresa considerando o curriculum dos seus adversários.

Filipe Nyusi é o primeiro Presidente do norte a governar Moçambique desde a independência em 1975. A sua escolha é vista como uma tentativa de acalmar os ânimos dos nortenhos que acusam os líderes sulistas de concentrarem entre si o poder. Até agora todos os Presidente foram do sul. E nós ultimos tempos o norte ganha importância devido as suas grandes jazidas de gás.

Que interesses servirá o novo Presidente?

É visto no país como um delfim de Armando Guebuza que deverá continuar a garantir a mesma linha de governação e o bom andamento dos negócios do último Presidente.

Mas há quem não acredite que a sua governação tome esse caminho, como por exemplo, Silvestre Baessa, especilialista moçambicano em boa governação: "Inicialmente assim pensava, mas creio que nos últimos tempos Nyusi começou a mostrar-se muito independente. Não estou muito certo que ele vaio continuar com a forma de governar de Guebuza."

Segundo justificação de Baessa "primeiro porque ele se identifica com um outro grupo que não é necessariamente um grupo que teve grandes benefícios ao longo dos últimos 10 anos. Nyusi representa também interesses dos makondes, da etnia dele, dos antigos combatentes, que têm também agendas próprias e interesses muito próprios que em condições normais não são compativeis com os interesses de Guebuza."

Mas a grande questão é se Filipe Nyusi assumirá também o cargo de presidente do partido, atualmente ocupado por Armando Guebuza. É prática corrente na FRELIMO o Presidente do país ser também presidente do partido. É que esse é o cargo mais importante para que o novo Presidente tenha, realmente, poder de decisão na FRELIMO e por conseguinte no país.

Nádia Issufo – Deutsche Welle

Moçambique: “Nem sei classificar a decisão da polícia porque não vi nenhum mandado”




Porta-voz de Dhlakama diz que há pessoas que estão insatisfeitas com a sua eleição a deputado. Diz ainda que a violência verbal que pratica corresponde à medida dos que atacam a Renamo.

Vinte e quatro horas depois deter sido detido e solto, António Muchanga “abriu o livro” sobre o polémico processo que o conduziu às celas do porto de Maputo.

O porta-voz do líder da Renamo diz que a sua detenção, terça-feira última, foi ilegal, até porque não lhe foi apresentado nenhum mandato de captura, nem sequer foi formalizada. Muchanga diz ainda estar a ser vítima de perseguições por parte de um grupo denominado “G-40” e alguns oficiais da polícia, que “não estão satisfeitos com o facto de ser deputado e membro do Conselho de Estado”.

Irónico, disparou: “Eu nem sei classificar isto, porque não vi nenhum mandado de busca. Não vi nenhum auto. O que sei é que nunca andei foragido da justiça.

Na segunda-feira, fui à Presidência da República buscar uma requisição para meter na revisão a viatura que estou a usar do Conselho de Estado. Essa avaria tornou-se grave e, no mesmo dia, ficou na sede da Renamo”, começou por explicar António Muchanga.

O País (mz)

Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»

Angola: A PÁTRIA E OS COMBATENTES



Jornal de Angola, editorial

No ano em que comemoramos 40 anos de Independência Nacional, importa reconhecer os grandes feitos realizados por uma camada da população que libertou e defendeu o Povo Angolano, dando exemplos ímpares  de amor  à Pátria, consentindo sacrifícios para que os angolanos vivessem livremente .

São os antigos combatentes e veteranos da Pátria.Todos sabemos que a luta de libertação contra o colonialismo e a defesa da nossa independência e soberania foram duras e nada mais justo do que prestarmos  a merecida homenagem àqueles  que se envolveram, na sua juventude,  no combate  pela liberdade. Um combate em que foi  derramado  o sangue de muitos filhos da Pátria, na guerrilha e nas cadeias  do regime colonial, ou mesmo em áreas agrícolas em que camponeses reivindicavam melhores  condições de vida. José Quipungo, um bispo da Igreja Metodista Unida, que viveu na região da Baixa de Cassanje, onde a 4 de Janeiro de 1961 os colonialistas massacraram centenas de camponeses, disse  que  “o sangue derramado por todos os angolanos e angolanas é um valor insubstituível”, tendo apelado ao respeito pelos  “símbolos da nossa Pátria”. 

O que os antigos combatentes  e veteranos da  Pátria fizeram deve ser do conhecimento de todos, para que se conheça  a dimensão das realizações na  luta de libertação,  de  compatriotas n que  decidiram entregar as suas vidas a uma causa nobre. Os antigos combatentes  escreveram páginas brilhantes no combate ao colonialismo, os seus feitos contribuíram para a construção de uma sociedade melhor no nosso país. Os seus sacrifícios não foram em vão. As actuais gerações têm tomando conhecimento, com orgulho,  do labor dos que abriram caminho para que hoje pudéssemos  ter uma Nação forte  e unida.

A independência de Angola, duramente conquistada, é resultado desse labor que a colectividade deve  permanentemente valorizar. Os jovens , esses, devem conhecer as virtudes   dos antigos combatentes e  veteranos da Pátria, que são muitas, para os ajudar a construir o bem-estar para todos. Devemos conhecer o carácter e as acções daqueles que deram exemplos ímpares de solidariedade humana  e de amor ao próximo, para que  tenhamos uma sociedade justa e próspera. A solidariedade foi no passado praticada por homens e mulheres angolanos que acreditavam que era possível superar o egoísmo  e a injustiça ,tendo lutado contra todos os males que atentavam contra direitos e a dignidade humanos.

É bom que se saiba que o humanismo foi uma das principais características dos nossos antigos combatentes. Por isso, nas comunidades devem prevalecer valores que nos levem a assumir condutas correctas que vão ao encontro  de princípios  plasmados na nossa lei suprema e fundamental, a Constituição, e  que consagram a construção de uma sociedade em que reine  a paz e a igualdade. Somos nós que temos de construir o nosso bem-estar, objectivo nada fácil, tendo em conta a complexidade  dos problemas da nossa época, pelo que devemos estar preparados para um percurso de duro trabalho. Na edificação de uma Nação, há naturalmente dificuldades de vária ordem, razão pela qual convém que nos inspiremos na persistência daqueles que em épocas anteriores não temeram obstáculos  e ousaram ultrapassar situações adversas, para assegurarem uma vida melhor às gerações vindouras. Os antigos combatentes e veteranos da Pátria esperam das actuais  gerações contributos que  coloquem o país na rota do desenvolvimento pelo qual afinal eles lutaram. Uma forma de enaltecermos o valor desses antigos combatentes e veteranos da Pátria é trabalharmos incessantemente para realizarmos as necessárias transformações sociais e económicas.

Em 40 anos de independência muito se fez em prol  das populações. É preciso dizer que muito mais podia ter sido feito se não fosse um longo período de conflito armado entre angolanos, que durante muito tempo desviou os angolanos de tarefas necessárias ao nosso progresso. Felizmente, a guerra terminou há 12 anos e a paz é hoje uma realidade, estando os  angolanos  concentrados na reconstrução de um país que estava muito pobre e destruído. 

Ao recordarmos o mérito das obras daqueles que lutaram e defenderam a nossa independência e soberania, devemos  continuar a trabalhar para executarmos e aperfeiçoarmos  as nossas tarefas, na perspectiva de vivermos numa Nação desenvolvida. Com sabedoria, talento, empenho e patriotismo, havemos todos de  dar um  grande contributo à  edificação de uma sociedade harmoniosa.

Leia mais em Jornal de Angola

O secretário executivo da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), Ntumba Luaba, está desde ontem em Luanda, para durante três dias abordar com as autoridades angolanas a situação política e de segurança na...

Angola: UNITA QUER GOVERNAR O PAÍS A PARTIR DE 2017




A UNITA, a segunda força política do país, prepara-se para mudar a história da governação do país, 40 anos depois da Independência Nacional, em que o país é liderado pelo MPLA, desde 1975. Quem o diz é o secretário provincial do Huambo, Liberty Chiyaka

Esta é a mensagem que este jovem quadro da UNITA, foi transmitindo aos milhares de militantes de Chinjenje, Ukuma, Longonjo, Caála, Ekunha, Mungo, Bailundo e Cachiungo durante a segunda quinzena de Dezembro, cuja actividade serviu para encerrar o ano político, que inicia a 10 de Janeiro de cada ano.

O manifesto denominado de “A Transição Democrática e A Alternância Pacífica do Poder”, serviu de “cavalo de batalha” durante o ano político, 2014, que terminou a 20 de Dezembro, tendo realçando durante os comícios nos municípios visitados que a governação do actual partido no poder, tem os dias contados.

A referida mensagem transmitida ao povo do Huambo e subscrita por si, Chiyaka refere que Angola, a África e o Mundo preparam-se para testemunhar um momento histórico de transcendental importância para os povos, culturas e relações internacionais. Liberty Chiyaka diz ainda no seu manifesto que o seu partido apresenta uma transição democrática e pacífica de poder, de “um regime oligárquico para um regime verdadeiramente democrático”.

O político acrescenta que nos últimos doze anos de vivências políticas e sociais, no Huambo, constataramse situações que ameaçam a democracia, a convivência e a segurança nacional, por isso, “ em defesa dos interesses de todos os angolanos obriga-nos a contribuição patriótica colocando em primeiro lugar a nossa Pátria e interesse nacional”.

Fim da oligarquia

Durante a sua digressão pelo interior da província planáltica do Huambo, Liberty Chiyaka, acompanhado pelos seus principais colaboradores, foi dizendo que o fim do Estado Partidocrático está a chegar ao fim, apesar do rasto de “violência, desconfiança e vítimas que ainda persistem havendo a perseguição de políticos da oposição, por elementos a mando do partido no poder, como aconteceu em Outubro contra si, mas sem sucesso.

Na visão de Chyaka, durante 40 anos, Angola tem sido governada e condicionada pelo mesmo Partido Político por políticas de exclusão, cultura de hegemonismo de grupos pela falta de visão estratégica. Para mudar este quadro, o jovem político e também deputado à Assembleia Nacional acredita seguramente que em 2017, será a primeira vez que o país terá um novo Presidente da República.

Terá também uma nova maioria parlamentar, novas políticas nacionais, novo programa de governo centrado no angolano e nova cultura política baseada na responsabilidade, na transparência, no serviço público desinteressado, na sensibilidade humana, um governo de povo pelo povo e para o povo.

Acusações contra governantes

Segundo o político, os dirigentes do actual regime, por desespero de causa têm criado obstáculos à mudança e alternância que Angola reclama, reforçando que o país está numa encruzilhada entre o triunfo da democracia autêntica e o triunfo da oligarquia absolutista, apontou.

Para se sair desta encruzilhada, o político vê como solução a revisão do relacionamento entre a UNITA e o MPLA, deplorando que em vez de se viver o presente, há sectores que continuam fixados no passado.

“ Uns e outros precisam de compreender que Angola é o nosso berço comum e que ninguém é mais do que o outro”, apontou.

Para a fonte, se os homens e as mulheres de Angola se decidirem com fé no futuro e espírito de missão, podem alterar o curso da história.

De acordo com o secretário provincial do Huambo, ao longo “da nossa história como Povo e Nação, vivemos momentos sombrios como os actuais, mas tivemos dirigentes sábios, líderes com visão, patriotas, inteligentes e corajosos que souberam elevar os interesses nacionais, aos interesses individuais e de grupos.

Não à exclusão

No seu manifesto, Liberty Chiyaka diz que não se deve afastar, perseguir e humilhar ninguém, porque Angola tem e terá de pertencer a todos os angolanos, oprimidos e opressores actuais, ricos ou pobres, letrados ou não, partidários ou apartidários, religiosos ou não, do Norte ou do Sul, do Centro, do Leste ou do Litoral.

A fonte criticou também a partidarização dos órgãos de defesa e segurança (Polícia Nacional, Forças Armadas, Serviços de Informação e Segurança de Estado-SINSE) a instrumentalização da Comunicação Social do Estado, a violência policial, a discriminação e a exclusão de angolanos não partidários do actual regime são inaceitáveis e reprováveis.

Sobre a competição política, Chiyaka entende que não devia significar luta pela sobrevivência de pessoas e grupos, mas devia ser uma disputa de ideias, de programas e de visões diferentes que no fim produziria mais unidade, compreensão, respeito mútuo, aceitação das diferenças, confiança e desenvolvimento sustentado do nosso belo e grande país, concluiu.

Para a abertura do próximo ano político na província, o secretariado provincial do Huambo programou uma série de actividades político-partidárias que serão anunciadas em tempo oportuno pelo responsável, segundo disse Liberty Chiyaka durante o mega comício realizado na vila de Cachiungo, sede da antiga Bela Vista, a mais de 60 quilómetros a Leste da cidade do Huambo.

O País (ao)

Leia mais em O País (ao)

Numa fase em que os ânimos dos cidadãos comuns parecem acirrados por causa do aumento do preço dos combustíveis, José Severino, presidente da Associação Industrial de Angola, é um dos poucos líderes associativos que tem dado a cara apoiando a retirada paulatina dos subsídios que tornavam a gasolina, gasóleo e o petróleo mais baratos. Nessa conversa, que aconteceu dois dias depois do aumento dos preços, o empresário apresentou os seus...

Mais lidas da semana