sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

NARCOTRÁFICO FORTALECIDO COM CRISE POLÍTICA NA GUINÉ-BISSAU


Paulo Guilherme*

A Guiné-Bissau é ainda um importante pólo no tráfico de drogas da América do Sul para a Europa, com a “cumplicidade” entre militares e traficantes. Assim conclui um recente relatório da Jane´s Intelligence Review, agora reforçado por uma investigação da revista de relações internacionais Foreign Policy, que considera mesmo que a atual crise política fortaleceu as ligações dos narcotraficantes aos militares.

Quase quatro anos depois de um golpe de Estado fomentado por oficiais ligados ao tráfico de droga, que levou o assunto ao Conselho de Segurança da ONU, a investigação da Foreign Policy faz um retrato desolador dos esforços de combate ao narcotráfico no país, sumariada no título “Como Não Consertar um Narco-Estado Africano”. Apesar do apoio europeu e das acusações contra António Indjai, Bubo Na Tchuto e outros, a força continua do lado do narcotráfico, conclui.

Alguns “atores chave” numa administração pública “reconhecidamente corrupta” continuam a apoiar o narcotráfico, tirando partido da “persistente instabilidade política”. A atual crise política desencadeada pela demissão do primeiro-ministro Domingos Simões Pereira pelo presidente da República, José Mário Vaz, veio agravar a situação”

O conflito entre as duas figuras do PAIGC “aprofundou uma crise política que fortaleceu a determinação de oficiais militares de proteger o tráfico de cocaína como fonte fundamental de receitas”, escreve a Foreign Policy.

Além de “muita da elite dirigente” ser vista como implicada no tráfico, alguns “elementos seniores das Forças Armadas asseguram segurança e logística a cartéis sul-americanos em troca de dinheiro e droga”

O representante do gabinete anti-drogas da ONU (UNODC) em Bissau estima que dezenas de toneladas de cocaína ainda transitem pelo país todos os anos, de que apenas “uma pequena fração” é apreendida todos os anos. A quantidade transitada é menos do que no passado, mas mais do que o orçamento das Forças Armadas de muitos países da região.

A revista dá como exemplo da falta de capacidade das autoridades o caso de um militar colocado nas Bijagós, arquipélago que se acredita ser um dos epicentros dos fluxos de narcóticos no país. Tendo como missão combater o narcotráfico promovido por grandes cartéis internacionais com meios sofisticados, relata à revista que não tem sequer equipamento de comunicações – apenas um telemóvel.

*África Monitor

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