Paulo
Guilherme*
A
Guiné-Bissau é ainda um importante pólo no tráfico de drogas da América do Sul
para a Europa, com a “cumplicidade” entre militares e traficantes. Assim
conclui um recente relatório da Jane´s Intelligence Review, agora reforçado por
uma investigação da revista de relações internacionais Foreign Policy, que
considera mesmo que a atual crise política fortaleceu as ligações dos
narcotraficantes aos militares.
Quase
quatro anos depois de um golpe de Estado fomentado por oficiais ligados ao
tráfico de droga, que levou o assunto ao Conselho de Segurança da ONU, a
investigação da Foreign Policy faz um retrato desolador dos esforços de combate
ao narcotráfico no país, sumariada no título “Como Não Consertar um
Narco-Estado Africano”. Apesar do apoio europeu e das acusações contra António
Indjai, Bubo Na Tchuto e outros, a força continua do lado do narcotráfico, conclui.
Alguns
“atores chave” numa administração pública “reconhecidamente corrupta” continuam
a apoiar o narcotráfico, tirando partido da “persistente instabilidade
política”. A atual crise política desencadeada pela demissão do
primeiro-ministro Domingos Simões Pereira pelo presidente da República, José
Mário Vaz, veio agravar a situação”
O
conflito entre as duas figuras do PAIGC “aprofundou uma crise política que
fortaleceu a determinação de oficiais militares de proteger o tráfico de
cocaína como fonte fundamental de receitas”, escreve a Foreign Policy.
Além
de “muita da elite dirigente” ser vista como implicada no tráfico, alguns
“elementos seniores das Forças Armadas asseguram segurança e logística a
cartéis sul-americanos em troca de dinheiro e droga”
O
representante do gabinete anti-drogas da ONU (UNODC) em Bissau estima que
dezenas de toneladas de cocaína ainda transitem pelo país todos os anos, de que
apenas “uma pequena fração” é apreendida todos os anos. A quantidade transitada
é menos do que no passado, mas mais do que o orçamento das Forças Armadas de
muitos países da região.
A
revista dá como exemplo da falta de capacidade das autoridades o caso de um
militar colocado nas Bijagós, arquipélago que se acredita ser um dos epicentros
dos fluxos de narcóticos no país. Tendo como missão combater o narcotráfico
promovido por grandes cartéis internacionais com meios sofisticados, relata à
revista que não tem sequer equipamento de comunicações – apenas um telemóvel.
*África
Monitor
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