José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
Se
o caso dos 15 + duas fosse um desafio de xadrez, a anunciada amnistia,
recentemente aprovada, a qual liberta todos os condenados até 12 anos por
crimes não violentos, poderia ser considerada uma jogada muitíssimo hábil por
parte do governo. Trata-se de um improvável xeque-mate, num jogo que, até ao
momento, estava a ser claramente dominado pelos revús. Com esta jogada o regime
encerra uma longa e burlesca série de desvarios e disparates, que o vinha
corroendo por dentro e por fora. Consegue, além disso, não perder inteiramente
a face: os revús saem, sim, mas não inocentados. Esta jogada pode impedir
também os 15 + duas de perseguirem judicialmente o Estado angolano.
Não
se tratando de um desafio de xadrez, mas da vida de pessoas inocentes, não há
como não nos alegrarmos. Alegramo-nos por saber que se encerra uma situação de
aflitiva injustiça, ainda que essa alegria não atenue a revolta. Os jovens
democratas permaneceram presos durante um ano. Não consigo nem imaginar o
sofrimento por que passaram ao longo de todos esses meses, juntamente com as
respectivas famílias. O Estado angolano roubou-lhes um ano de vida. Sujeitou-os
a um sem fim de pequenas humilhações e de enormes injustiças. Troçou deles e do
país inteiro.
E
fica assim mesmo?
Ninguém
é responsabilizado? Não se indemnizam as vítimas?
Pode
ser que este seja o fim do processo dos 15 + duas. O fim de um jogo. Contudo, o
torneio continua. Outros jogos começam agora, com os mesmos jogadores. Não é de
prever que os revús baixem os braços. Saem para a liberdade com uma audiência
que nunca tiveram; com uma grandeza que sempre foi deles, mas que os
adversários se recusavam a ver e, finalmente, com uma tremenda autoridade
moral.
Há
um ano atrás poucos os escutavam. Hoje, todos – dentro e fora do país – os querem
escutar. Li com atenção as entrevistas que Domingos da Cruz e Luaty Beirão
concederam ao Rede Angola. Li outras entrevistas e declarações. São, todas
elas, uma comovente lição de solidariedade e generosidade. Não percebi nelas
uma sombra de rancor. Os jovens revús manifestam-se preocupados com as
condições dos presos de delito comum. Reconhecem qualidades humanas em
muitos dos guardas e dos funcionários do sistema prisional. Mostram-se sempre
mais preocupados com os outros do que com eles próprios.
A
luta pela democracia ainda está longe do fim. Nos próximos meses irá ganhar um
novo fôlego, uma outra força. Quando um dia, democratizado e pacificado o país,
se escrever a história do combate por uma Angola melhor, os 17 nomes dos jovens
revús terão largo destaque.
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