O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) garantiu à Lusa que se manteve isento, "como funcionário
internacional", na adesão da Guiné Equatorial, há dois anos, apesar da
relação familiar com o Presidente equato-guineense, Teodoro Obiang.
A
Guiné Equatorial aderiu à CPLP a 23 de julho de 2014, na cimeira de Díli, no
final de um processo polémico em que Portugal foi o país que levantou mais
objeções. A CPLP definiu um roteiro de adesão, que pressupunha que Malabo
cumprisse alguns critérios, entre os quais a abolição da pena de morte, a
introdução da língua portuguesa e maior abertura democrática.
Murade
Murargy, que há quatro anos foi designado por Moçambique para o cargo de
secretário-executivo da CPLP, disse, em entrevista à Lusa, que a sua relação
familiar com Teodoro Obiang, que lidera a Guiné Equatorial há 35 anos, não
interferiu no processo de adesão.
O
diplomata moçambicano afirmou que, quando foi nomeado, já a sua filha namorava
com um dos filhos do Presidente equato-guineense, e informou disso o Governo e
o então Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, antes de iniciar funções na
CPLP. A relação mantém-se até hoje e o casal tem um filho.
"Eu
disse: para que fique claro, essa relação não tem nada a ver nem vai intervir
neste processo da Guiné Equatorial", relatou à Lusa.
A
Guiné Equatorial tornou-se observador associado da CPLP em 2006 e desde 2008
que ambicionava integrar a organização como membro de pleno direito, pretensão
sucessivamente adiada até 2014.
"Nunca
me envolvi ou influenciei quem quer que seja. Mantive a minha isenção de
funcionário internacional, apenas seguindo as decisões que eram tomadas pelos
órgãos competentes", sublinhou o diplomata.
Murargy
acrescentou que, apesar de poder intervir, sempre optou por não falar nos
Conselhos de Ministros (dos Negócios Estrangeiros) da organização.
"A
minha opinião não conta, os Estados-membros é que decidem", disse, acrescentando:
"Não é um relatório pessoal meu que vai ao Conselho de Ministros. Eu
relato os factos, sem tirar conclusões".
A
entrada da Guiné Equatorial ocorreu após "um minucioso processo",
como descreve a CPLP na sua página oficial, e foi recebida com protestos,
principalmente em Portugal, do meio político e cultural e também de
organizações de defesa dos direitos humanos.
O
regime de Teodoro Obiang, no poder desde outubro de 1979, é acusado por várias
organizações da sociedade civil de constantes violações dos direitos humanos e
perseguição a políticos da oposição.
As
autoridades de Malabo dizem que a pena de morte foi suspensa desde a adesão à
CPLP, mas falta a ratificação da decisão pelo Presidente.
JH
// EL - Lusa
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