José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
O
MPLA está a realizar o seu sétimo congresso em 59 anos anos de existência.
Parecem-me poucos congressos para uma tão extensa vida política. Feitas as
contas, temos uma média de um congresso de oito em oito anos. O número sugere
um défice de qualidade (procurei uma expressão simpática) na democracia interna
do partido no poder. Os camaradas conversam pouco entre si, porque quase nunca
se encontram, e quando se encontram, a acreditar no mais-velho Ambrósio Lukoki,
também não conversam: “aos militantes são impostas posições que têm de aprovar
sem discussão”, afirmou.
O
facto de José Eduardo dos Santos ser o único candidato à liderança do partido
também não é um bom sinal. Das duas uma: ou o MPLA está de tal forma
empobrecido de militantes com atributos de liderança que não consegue
apresentar uma alternativa ao actual inquilino da Cidade Alta, ou os militantes
têm medo de se assumir como concorrentes. A impressão que tenho é que ambas as
situações são verdadeiras.
A
UNITA, convenhamos, está a ganhar a corrida da democratização. Embora um pouco
mais jovem do que o MPLA – o partido do galo negro foi fundado em 1966 – já
realizou doze congressos. Nos últimos, como se sabe, foram apresentadas listas
concorrentes à do presidente em exercício. O partido ainda tem um longo caminho
a percorrer, como por exemplo afastar-se por completo da imagem de Jonas
Savimbi, um homem cruel e tirânico, mas pelo menos já começou a percorrer esse
caminho.
O
MPLA perde com a incapacidade em democratizar-se e, logo, em modernizar-se. Na
verdade, perdemos todos. Consigo imaginar uma transição para a democracia sem o
MPLA, mas receio que esse movimento dificilmente ocorra de forma pacífica.
Seria uma tragédia para o país e representaria, muito provavelmente, o fim do
partido dos camaradas.
Não
é possível escutar José Eduardo dos Santos no seu discurso contra os “falsos
empresários”, sendo interrompido, a todo o instante, por unânimes salvas de
palmas, sem experimentar um sentimento de violenta incredulidade: “Não devemos
confundir estes empresários com os supostos empresários que constituem ilicitamente
as suas riquezas, recebendo comissões a troco de serviços que prestam
ilegalmente a empresários estrangeiros desonestos, ou que façam essas fortunas
à custa de bens desviados do Estado ou mesmo roubados. Angola não precisa
destes falsos empresários.”
É
como escutar o Lobo Mau a defender o vegetarianismo, ao mesmo tempo que,
alegremente, devora os três porquinhos.
O
mais triste é que haverá sempre porquinhos a aplaudir – enquanto são devorados.
O
regime de José Eduardo dos Santos está apodrecido. Arrasta-se a custo. Mal se
mantém de pé. Todos sabemos disso. Contudo, não vejo ninguém a preparar-se para
o dia seguinte. Vai sendo tempo de pensarmos nisso. O MPLA precisa da ajuda de
todos para se democratizar.
Partidos
políticos da oposição, revús, igrejas, organizações não governamentais,
académicos independentes e as personalidades e correntes democráticas que ainda
persistem no seio do MPLA, deveriam juntar-se num grande encontro que
permitisse, por um lado, reflectir sobre a transição pacífica para a democracia,
e, por outro, mostrar ao mundo que existe um pensamento angolano.
No
fundo, trata-se de mostrar que existem alternativas à ditadura e também ao
caos. Mostrar que quando José Eduardo dos Santos se for, a bem ou a mal, ainda
haverá Angola. E que é possível construir, sem ele, uma Angola melhor.
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