quinta-feira, 7 de julho de 2016

LIBERDADE PARA JULIAN ASSANGE




Começa campanha internacional em favor do dissidente político que desconcerta os EUA. Seu confinamento revela: “democracias” ocidentais já não toleram jornalismo que revele segredos do poder

Ignacio Ramonet – Outras Palavras - Tradução: Inês Castilho - Imagem: Sam Spratt

Já se completaram quatro anos desde que, em 19 de junho de 2012, o ciberativista australiano Julian Assange, paladino da luta pela liberdade de informação, viu-se obrigado a se refugiar nas dependências da embaixada do Equador, em Londres. O pequeno país latino-americano teve a coragem de lhe oferecer asilo diplomático, quando o fundador do WiliLeaks encontrava-se perseguido e acuado pelo governo dos Estados Unidos e vários de seus aliados (Reino Unido e Suécia, principalmente). A justiça sueca exige que Assange apresente-se em Estocolmo para testemunhar pessoalmente sobre as acusações de agressão sexual feitas por duas mulheres a quem ele haveria mentido sobre o uso de preservativo.

Julian Assange rechaça essas acusações, sustenta que as relações com essas duas pessoas foram consentidas e afirma ser vítima de um complô organizado por Washington. O fundador do WikiLeaks nega-se a ir à Suécia, a menos que a justiça do país lhe garanta que não será extraditado para os Estados Unidos, onde poderia ser detido, conduzido a um tribunal e talvez, segundo seus advogados, condenado à pena de morte por “crime de espionagem”.

Por diversas vezes, Assange também se propôs a responder por videoconferência às perguntas dos encarregados da investigação suecos. Mas estes rejeitaram essa possibilidade, argumentando que ele fugiu da Suécia, embora soubesse que havia uma investigação aberta contra ele. O Supremo Tribunal sueco rejeitou novamente, em 11 de maio de 2015, sua demanda para anular a ordem de detenção que pesa sobre ele.

Na verdade, o único crime de Julian Assange é ter fundado o WiliLeaks. Em vários lugares têm acontecido debates acalorados sobre se o WikiLeaks fez ou não prosperar a causa da liberdade de imprensa; se terminou sendo bom ou mau para a democracia; se essa plataforma deve ou não ser censurada. O que se sabe com certeza é que o papel do WikiLeaks na difusão de meio milhão de informes secretos sobre abusos cometidos por militares no Afeganistão e no Iraque, e de uns 250 mil comunicados enviados pelas embaixadas dos Estados Unidos ao Departamento de Estado, constituem “um marco na história do jornalismo”, definindo dois períodos — um antes e um depois deles. O WikiLeaks foi criado em 2006 por um grupo de internautas anônimos, tendo Julian Assange como porta-voz, e assumiu a missão de receber e tornar públicas informações filtradas (leaks), garantindo a proteção das fontes (1).

Recordemos as três razões que, segundo Julian Assange, motivaram sua criação. “A primeira foi a morte em escala mundial da sociedade civil. Fluxos financeiros via transferência eletrônica de fundos, que se movem com velocidade maior que a penalização política ou moral, destroçando a sociedade civil em todo o mundo. […] Nesse sentido, a sociedade civil está morta, já não existe; uma ampla classe de pessoas tem consciência disso e se aproveita para acumular riqueza e poder. A segunda […] é que há um enorme e crescente Estado de vigilância disfarçado, que está se expandindo pelo mundo, com base principalmente nos Estados Unidos. […] A terceira é que os meios de comunicação internacionais são um desastre, […] o ambiente da mídia internacional é tão mau e deformador que seria melhor que não houvesse nenhum meio, nenhum”.

Assange traz uma visão radicalmente crítica do jornalismo. Numa entrevista chega inclusive a afirmar que, “dado o estado de impotência do jornalismo, me pareceria ofensivo ser chamado de jornalista. […] O maior abuso foi a guerra [do Iraque e do Afeganistão] relatada pelos jornalistas. Jornalistas que participam na criação de guerras por sua falta de questionamento, sua falta de integridade e pelo covarde bate-bola com fontes governamentais”.

A filosofia do WikiLeaks baseia-se num princípio fundamental: os segredos existem para ser descobertos. Toda informação oculta nasce com a vocação de ser revelada e colocada à disposição dos cidadãos. As democracias não devem esconder nada; tampouco os dirigentes políticos. Se as ações públicas destes últimos não são incompatíveis com sua atuação pública ou privada, as democracias não deveriam temer a difusão de “informação vazada”. Neste caso – e só neste caso – significaria que são moralmente exemplares e que o modelo político que encarnam – julgado como “o menos imperfeito de todos”– poderia de fato estender-se, sem nenhum obstáculo ético, ao conjunto do planeta. Por que os jornalistas teriam de calar-se numa democracia, quando um político afirma uma coisa em público e a contraria na esfera privada?

O WikiLeaks oferece aos internautas a possibilidade de tornar públicos, por meio de sua plataforma, gravações, vídeos ou textos confidenciais sem indagar como foram obtidos, mas cuja autenticidade verifica. O WikiLeaks vive de doações dos internautas e de fundações e não aceita ajudas governamentais nem publicidade. Um bom número de instâncias públicas reconheceu a utilidade de seu trabalho. Em 2008 recebeu o Prêmio de Índice de Censura, outorgado pelo semanário britânico The Economist, e em 2009 a Anistia Internacional lhe concedeu o prêmio de melhor “novo meio de comunicação” por ter trazido à luz, em novembro de 2008, um documento censurado sobre um caso de malversação de fundos realizado pelo grupo do antigo presidente do Quênia, Daniel Arap Moi.

Desde sua criação, o WikiLeaks tem sido um banquete permanente de segredos, uma verdadeira fábrica de novidades. Difundiu bem mais revelações do que muitos meios de comunicação de prestígio em décadas… Entre os maiores escândalos que trouxe à tona destacam-se:

> Os documentos que denunciavam as técnicas usadas pelo banco suiço Julius Baer Group para facilitar a evasão fiscal;

> O manual de comportamento penal do Exército norte-americano na base de Guantánamo;

> A lista de nomes, endereços, números de telefone e profissão dos membros do Partido Nacional Britânico (BNP, de extrema direita), na qual figuravam policiais;

> A lista pormenorizada de mensagens de email trocadas com o exterior pelas vítimas dos atentados do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001;

> Os documentos que provavam o caráter fraudulento da quebra do banco islandês The New Kaupthing;

> Os protocolos secretos da Igreja da Cientologia;

> O histórico dos e-mails pessoais enviados durante a campanha eleitoral por Sarah Palin, candidata republicana à vice-presidência dos Estados Unidos, a John McCain, de seu computador profissional (o que é proibido pela legislação estadunidense);

> Os expedientes do julgamento do assassino Marc Dutroux, inclusive a lista com números de telefone, contas bancárias e endereços de todas as pessoas investigadas neste célebre caso de pedofilia.

Por tudo isso, assim como Edward Snowden e Chelsea Manning, Julian Assange é parte de um novo grupo de dissidentes políticos que lutam por um modo diferente de emancipação e são rastreados, perseguidos e assediados, não por regimes autoritários mas por Estados que pretendem ser “democracias exemplares”…

Em fevereiro passado, o Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária da Organização das Nações Unidas (ONU), um braçop do Comitê de Direitos Humanos da ONU, declarou que Julian Assange encontra-se “detido arbitrariamente” tanto pelo Reino Unido como pela Suécia. Os especialistas internacionais independentes também afirmaram que tanto as autoridades suecas como as britânicas deveriam “por fim a sua prisão” e “respeitar seu direito a receber uma justa compensação”. Conforme esse veredito internacional, Julian Assange foi submetido a diferentes formas de privação de liberdade: “detenção inicial na prisão de Wandsworth em Londres” em regime de isolamento, “seguida de prisão domiciliar e, depois, do confinamento na Embaixada do Equador”.

Embora o pronunciamento do Grupo de Especialistas Internacionais da ONU não seja vinculante, supõe uma grande vitória moral para Julian Assange no campo das relações públicas, ao dar-lhe a razão em sua longa luta contra as arbitrariedades das autoridades suecas e britânicas.

A esse respeito, o presidente equatoriano Rafael Correa informou que seu governo oferece asilo e proteção ao fundador do WikiLeaks porque “Assange não tem garantias de respeito a seus direitos humanos e a seus direitos em matéria de justiça”. De sua parte, o chanceler equatoriano, Guillaume Long, declarou que o Equador “mantém preocupações legítimas sobre os direitos humanos de Assange” e que Quito considera haver, contra ele, algum tipo de “perseguição política”, motivos pelos quais o Equador continua oferecendo asilo.

Para pedir a liberdade de Julian Assange, seus amigos de todo o mundo organizaram, entre os dias 19 e 24 de junho passado, em várias capitais do planeta (2) (Atenas, Belgrado, Berlim, Bruxelas, Buenos Aires, Madri, Milão, Montevidéo, Nápoles, Nova Iorque, Quito, Paris, Saravejo) uma série de atos e conferências com a participação de importantes personalidades e grandes intelectuais (Noam Chomsky, Edgar Morin, Slavoj Zizek, Arundhati Roy, Ken Loach, Yanis Varoufakis, Baltasar Garzón, Amy Goodman, Ignacio Escolar, Emir Sader, Eva Golinger, Evgeny Morozov).

Em Quito (Equador), o simpósio foi organizado pelo Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (Ciespal e contou com uma intervenção do próprio Julian Assange por meio de videoconferência. Por cinco dias debateram-se temas como: O caso Assange à luz do Direito Internacional e dos Direitos Humanos, Geopolítica e Lutas no Sul, Tecnopolítica e Ciberguerra e Dos Pentágono Papers aos Panamá Papers.

O acadêmico espanhol Francisco Serra, diretor do Ciespal, declarou: “Cremos que, na verdade, o problema de Julian Assange é esse: a liberdade de informação. Quando não há liberdade de informação, de movimento nem de reunião, não há direitos humanos. E portanto, o primeiro direito é o direito à comunicação, e é preciso colocar em evidência que o caso Assange é um problema grave de direito à comunicação” (3).

Esses eventos solidários, ocorridos em todos os quadrantes da geografia mundial, definiram dois objetivos. Em primeiro lugar: reivindicar os direitos que foram negados a Julian Assange, como a presunção de inocência ou a liberdade de movimento. E em segundo lugar: recordar o que representa o WikiLeaks, quer dizer, o desafio tão atual da liberdade de informação e de comunicação num mundo permanentemente vigiado.

Notas
(1) Ver Ignacio Ramonet, La Explosión del periodismo, Clave Intelectual, Madrid, 2011.
(2) www.freeassangenow.org
(3) http://www.andes.info.ec/es/noticias/cuatro-anos-libertad-negada-julian-assange-seran-tratados-evento-academico-ciespal.html

PORTUGAL JOGA A FINAL DO EURO2016 COM A FRANÇA



FRANÇA 2 – ALEMANHA 0

Portugal vai disputar, no próximo domingo, às 20 horas, a final do Euro 2016 com a França.

Os gauleses venceram, no Estádio Vélodrome, em Marselha, a meia-final com Alemanha, por 2-0.

Griezmann marcou os dois golos. O primeiro através de grande penalidade, aos 45 minutos, e o segundo aos 71 minutos, após um erro tremendo de Kimmich.

A França chegou às meias-finais depois de golear a surpreendente Islândia, por 5-2, nos quartos de final, e de conseguir uma reviravolta diante da República da Irlanda, por 2-, nos oitavos, tendo antes vencido o grupo A, no qual cedeu apenas um 'nulo' perante a Suíça.

Jornal de Notícias

Euro2016. EMPATA QUE GANHAS E VAIS À FINAL. E AGORA?



Pedro Santos Guerreiro saúda com um Bom Dia os que o lêem no Expresso Curto. Isso é pela manhã. Acontece que às duas da tarde já a saudação deve ser Boa Tarde. Esta é a nossa parte porque no PG o matinal Expresso Curto sofreu a nossa abordagem tardiamente. Porque mais vale tarde que nunca aqui lhe deixamos o dito viciante cafeínico do costume. Olhe, tome-o após o almoço. Esta é uma boa hora para isso. Boa tarde. Seja feliz.

Evidentemente que agora chamam heróis aos jogadores e outros da seleção nacional que disputa o Euro2016. Passaram de bestas a bestiais. Ainda bem. Por aqui há a convicção de que finalmente os “heróis” do relvado jogaram a sério. Nos jogos anteriores não jogaram patavina e estamos pasmados como mesmo assim vão disputar a final. Talvez com fortes possibilidades de virem a consagrar-se campeões do Euro2016. E esta, hem!

Não há dúvida que ontem a equipa lusitana jogou a sério. Atacaram bem. Defenderam melhor. Jogaram, em vez de engonharem. Comeram a relva que a equipa do País de Gales deixou porque esses passaram o tempo todo, depois dos dois golos de Portugal, a comer relva numa luta digna de se ver. E Portugal a defender, a cortar as vazas ao adversário, que foi tão digno, tão lutador. Assim sim. Deu gosto ver futebol. Até o Reinaldo deu um ar de sua graça e marcou com uma cabeçada elevada mais perto de Deus e dos anjos que dos mortais. Aquilo é que foi elevação! Inspirou-se e a estrelinha brilhou para ele e para todos nós. O segundo golo também saiu de um rasgo de Reinaldo mas ia dar em nada se não fosse Nani corrigir a trajetória para a baliza indefensável. Boa. Chama-se a isso uma equipa a sério. Goooolo!

E pronto. Final em Paris com a Alemanha ou a França. Depende de quem vencer o derbi de hoje.

Os portugueses por todo o mundo exultaram… E ainda exultam. Vai ser festa até ao próximo domingo, quando encostarmos a barriga ao balcão para sabermos quem passa e é campeão ou quem paga. Empatar não vale. Pena. Lá nisso esta equipa tem sido especialista. Não será por isso que não exultaremos se vencerem na final e sagrarem-se vencedores do Euro2016. Um feito nunca antes conseguido. E brilharão. Apesar de terem andado foscos e nebulados em umas quantas disputas anteriores.

Continuemos pasmados com o facto de uma equipa especialista em empates ir disputar a final e até poder vencer à Alemanha ou à França (a que fôr). Se vencer poder-se-à dizer: empata que ganhas? Scolari, questionado pela TSF disse que “é o regulamento”. Pois.

Apesar de tudo que vençam. Dêem-nos essa alegria e a vós próprios. E não se esqueçam que a bola é esférica. Força! Portugal! Portugal! Vá lá vedetas, domingo pode ser que seja o primeiro dia do resto das vossas vidas nessas contendas. Esmerem-se. Obrigadinho. Força. Pois.

Mário Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Pedro Santos Guerreiro – Expresso

O voo dos heróis

Aquela é a imagem nítida da vitória. A imagem nitida de uma equipa que tinha tudo para perder e fez tudo para ganhar. O voo do Ronaldo para o 1-0 na meia final. O voo que o suspende acima da humanidade dos outros. O voo para o golo. O voo da seleção. O voo de Portugal. O voo para a final do Europeu de futebol.

É a imagem que está na primeira página do Record, “UM VOO IMORTAL”, ou “o voo fantástico de Cristiano Ronaldo [que] deu asas ao nosso sonho”, como escreve o diretor António Magalhães. A imagem que está na primeira página d’ O Jogo, “LINDO”. “PORTUGAL, JE T’AIME!”, titula A Bola. Tudo em letras maiúsculas. Percebe-se porquê.

Ficou 2-0. “Estamos na final! E, se perdermos, que se f...”, escreveu a Mariana Cabral, citando sem medo o herói maior, Cristiano Ronaldo, no texto sobre a noite de ontem que tem de ler se não puder ler mais nenhum. “Ainda há outros deuses (do futebol moderno) que de vez em quando nos fazem lembrar que o futebol também é jogar com o coração. Como o capitão português, Cristiano Ronaldo”.

Mas se quer ler outros textos, leia este, do Pedro Candeias, sobre Ronaldo. Foi escrito antes do jogo e deve ser lido depois. Como a contra-crónica habitual, que desta vez não deu para ser do contra porque na segunda parte tudo correu bem. “O único fact-checking que interessa é este: a jogar bem ou a jogar mal, estamos na final”, escreve o Azar do Kralj. “Renato acabou o jogo com a mesma idade com que começou”. Outra crónica, do Lá Em Casa Mando Eu: 22 análises especiais e uma palavra para Pepe, ex-paramilitar a soldo. E outra crónica, de José de Pina: “Fernando Santos é engenheiro eletrotécnico. É um homem da técnica e não da arte. O nosso engenheiro não tem um sistema de jogo, tem um sistema elétrico.”

O melhor em campo é o homem que voa”, porque Ronaldo negou as leis da física. Mas herói não é só Ronaldo. Nem só o discreto prodigioso Fernando Santos. Nem o Patrício, o Pepe, o miúdo que agora começa os jogos, o Rebelde que os termina, o meio-campo, a defesa. É a equipa que estava fragilizada, que só empatava, que não dava show. A seleção que se superou e nós com ela.

“Nunca mais é domingo”, escreveu o Expresso cinco segundos depois de o jogo acabar. A final será contra a França ou contra a Alemanha. Disse Ronaldo: “sonhar é grátis”. Sonhar é já voar.

OUTRAS NOTÍCIAS

Depois do “desvio colossal” de Gaspar, o “desvio enormíssimo” de Centeno. Mas o que é “um desvio do plano de negócios de três mil milhões de euros na Caixa”? Menos receitas? Mais custos? Imparidades? O ministro das Finanças não explicou e, pasme-se,nenhum dos deputados perguntou. O Negócios explica: a derrapagem resulta de descida dos juros, quando os planos iniciais esperavam um aumento; e o Económico especifica que esse desvio é acumulado entre 2014 e 2017.

Mário Centeno falava no Parlamento, onde arrancou ontem aComissão Parlamentar de Inquérito à CGD, e responsabilizou o PSD pelos problemas. Passos Coelho ficou em silêncio mas Leitão Amaro falou: “Ministro misturou tudo e deu mais uma machadada na Caixa”.

Se a Caixa está à espera do novo presidente, o Novo Banco está… à espera de novo presidente. Stock da Cunha saiu, como anunciara. Aguarda-se a confirmação da entrada de António Ramalho.

Hoje há debate do Estado da Nação no Parlamento. Quer saber qual é? Veja-o em 12 gráficos. Fomos ver o estado da economia mas também quanto gastam os portugueses em saúde, se a criminalidade aumentou e qual a popularidade do Governo.

A Comissão Europeia decidiu não sancionar Portugal e passar a bola para o Ecofin. A novela prossegue, pois. No Público, António Costa esperar "serenamente".

“Mais do que com sanções, estamos preocupados com medidas adicionais”, diz a agência de rating DBRS, no Observador.

Marcelo Rebelo de Sousa só vai ficar "descansado" quando for aprovado no Parlamento o Orçamento do Estado para 2017.Também no DN.

A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) revela que um problema informático atrasou os reembolsos do IRS.

Menos impostos é o que pedem os exportadores portugueses, cujas associações se reuniram com António Costa em São Bento.

Perto de 50 infrações nas primeiras horas de funcionamento dos novos radares, noticia o Público. O primeiro dos 30 novos radares em pontos “extremamente críticos” das estradas portuguesasfoi instalado ontem na A5. O ACP diz que a existência da rede “é positiva” mas defende que os dispositivos devem ser colocados em “pontos negros”.

No fim da A5 está Cascais, que quer mais gente a andar de bicicleta e transportes públicos: terá até ao fim do próximo ano 70 quilómetros de ciclovias, 1200 bicicletas partilháveis e 1280 lugares de estacionamento automóvel gratuito junto às estações de transportes.

Foram reveladas as conclusões da Deloitte sobre se a resolução ou liquidação do BES seria pior para os credores: o relatório diz quenum cenário de liquidação os credores comuns receberiam 31,7% da exposição que tinham ao antigo BES.

A Espírito Santo Property já reembolsou a segunda tranche de papel comercial, no montante de 4,8 milhões de euros. Estão já reembolsados 12 milhões de euros, 40% dos 30 milhões em causa. Se o programa continuar a ser cumprido, em 2020 esta sociedade terá sido a primeira do antigo Grupo Espírito Santo a reembolsar integralmente o papel comercial junto de investidores.

Sete anos de inquérito depois, foram reveladas as conclusões do relatório sobre a Guerra do Iraque. Segundo John Chilcot, presidente da comissão que investigou o envolvimento britânico no conflito armado, "concluímos que o Reino Unido escolheu juntar-se à invasão do Iraque antes de esgotar as opções pacíficaspara um desarmamento. A ação militar não era, na altura, o último recurso". Tony Blair é fortemente criticado, o que o levou a publicar um comunicado dizendo que agiu no “melhor interesse” do Reino Unido, admitindo “pena, arrependimento e culpa”.

“A guerra no Iraque não foi um disparate nem um erro. Foi um crime”, escreve Owen Jones no The Guardian.

O Parlamento Europeu aprovou uma espécie de “programa de Governo” da UE: as prioridades estratégicas para o Programa de Trabalho da Comissão para 2017, num momento em que se debate o Brexit.

A libra continua a desvalorizar depois do referendo que aprovou o Brexit. Estás no valor mais baixo dos últimos 31 anos, explica o Financial Times. Baixou de 1,5 para 1,3 dólares no último mês.

Felipe González propõe que o PSOE aceite negociar com Mariano Rajoy. E que este forme governo o quanto antes. O ex-presidente do governo de Espanha defende-o em artigo de opinião no El Pais.

Oscar Pistorius foi condenado a seis anos de prisão pelo assassinato da sua namorada, Reeva Steenkamp. No New York Times.

O Tribunal Supremo de Angola abriu um processo disciplinar ao juiz que condenou ativistas políticos, incluindo Luaty Beirão, noticia o Público.

Dois homens, Mohammed Amri e Ali Oulkadi, acusados de terem ajudado Salah Abdeslam, o suspeito chave dos atentados de Paris, foram entregues pela Bélgica às autoridades francesas.

“A hipótese de um atentado em Portugal não deve alarmar a sociedade, mas também não pode ser descartada”, diz Alexandre Guerreiro, que esteve sete anos na secreta portuguesa, e publicou o livro “Islão, o Estado Islâmico e os Refugiados” (Quimera).

“Saddam Hussein era um gajo mau, certo? Ele era um gajo mau, mesmo mau (…) Mas sabem o que ele fazia bem? Ele matava terroristas”. Donald Trump defende que o Médio Oriente estaria melhor se os ditadores Saddam Hussein e Muammar Kaddafi permanecessem no poder. Num discurso de ontem, Trump não só elogiou Saddam como disse estar arrependido de ter retirado da sua conta no Twitter uma imagem considerada anti-semita, conta o New York Times.

A dois meses do início do ano letivo, o governo lançou um plano contra as praxes. Haverá medidas de prevenção. E uma linha telefónica e endereço eletrónico para denúncias de praxes abusivas.

Os sindicatos dos médicos querem uma reunião urgente com o Ministério da Saúde "exigindo um claro compromisso" para resolver " graves problemas", noticia o DN: incluindo a reposição do pagamento integral das horas extraordinárias, revisão da grelha salarial e a criação de incentivos são alguns dos pontos da lista.

"O povo português está a desaparecer", explica o Nicolau Santos. É o 2:59 desta semana.

Mas está sempre a aparecer. Heróis? Sim, ainda. Dulce Félix conquistou a medalha de prata nos 10 000 metros dos Europeus de Atletismo, que decorrem em Amesterdão.

FRASES

"Como havia um cogumelo grande que servia de apoio ao mais pequeno, ocorreu-me como é importante a posição do Presidente relativamente ao governo quando tem de enfrentar dificuldades”.Marcelo Rebelo de Sousa, citado no DN.

“A NATO pode ter muitos defeitos mas ainda é o único sítio onde os europeus pensam estrategicamente e o culpado disso chama-se EUA”. Bernardo Pires de Lima, no DN.

“A Comissão Europeia poderá propor sanções, mas é ao Conselho, onde a família PPE representa seis governos apenas, que competirá decidir. Os socialistas são muitos mais. Sanções a Portugal, só se a Esquerda quiser.” Nuno Melo, no Jornal de Notícias.

“O plano económico do governo ainda não tem pés, tronco e cabeça”.André Macedo, no DN.

“Graças à ganância do ecossistema do futebol, os melhores jogadores do mundo chegam mortos-vivos aos momentos mágicos da carreira.” Pedro Ferreira Esteves, no Negócios.

O QUE EU ANDO A LER

Tome já nota: ainda não é este sábado, mas a partir do seguinte (16 de julho), que o semanário Expresso passa a oferecer a coleção essencial de Camilo Castelo Branco. Aqui se falará entretanto disso, e do “Amor de Perdição”, primeiro livro distribuído. Mas hoje é dia de heróis. E “o que eu ando a ler” é o que o caro leitor devia ver e mostrar aos amigos, aos filhos, aos filhos dos amigos e aos amigos dos filhos. Porque se para quem sabe a história este documentário é um prodígio para a memória, para quem não sabe ele é um ensinamento.

Ele era ainda criança quando viu a mãe ser mortalmente atropelada. Teve "de criar-se a si mesmo", "de cantar, de rir-se mais alto que os outros", de "criar esta personalidade que o ajuda a crescer", "mais extrovertido, mais contador de histórias, mais risota". "Ele como pessoa era um falso alegre", "tinha uma tristeza natural de ter ficado órfão muito cedo".

Em criança ele era o Fernando, no liceu era o Maia, na história ficou Salgueiro Maia. Na história do 25 de abril. Na história de Portugal.

Era um aspirante que fazia perguntas, a pergunta "porquê?", numa voz “que se notava”, com "um certo sentido de humor", ele "era uma pessoa de ação". O 25 de abril começou para ele em novembro. Na madrugada certa, a coluna marchou para Lisboa. A coluna que a mulher, Natércia, viu por entre as frinchas dos estores.

"Há ali a construção de um sonho. E é uma construção a dois. E ele vai-se embora". Pausa. Lágrimas. "É difícil." Ele dissera à saída: "Se isto correr mal, se eu chegar a Lisboa e não aparecer ninguém eu escaqueiro aquilo tudo". "Ele ia para os cornos do boi". E foi.

Em Lisboa, avançaria contra o tanque na Rua do Arsenal com uma granada no bolso. "Os únicos atos individuais de coragem foram feitos pelo Fernando, quando ele vai sozinho enfrentar os carros de combate na Ribeira das Naus" ou quando entra no Quartel do Carmo, "ele vai sozinho, não arrasta ninguém com ele. É um ato de coragem individual muito grande". De coragem e respeito. “Fez a continência ao primeiro-ministro que prendeu”.

“Vencer sem combater”, foi o que ele fez. "É no limite que as coisas não correm desastrosamente", quer na rua do Arsenal, “quer depois no Carmo", quando o helicóptero sobrevoa. “É nosso”, disse ele. Não sabia se era.

Seria depois maltratado pela hierarquia militar, posto na prateleira, "nunca lhe perdoaram ele ser o herói do 25 de abril". Mas o pior trato seria do cancro que o matou, o cancro de que já toda gente sabia menos a mulher, que ele quis poupar. No fim "o gajo ganhou". O gajo era o cancro. Quis ser enterrado em campa rasa "no caixão mais barato que houver", pediu que cantassem a Grândola Vila Morena, para que os oportunistas ao menos tivessem de a cantar ou ouvir.

"O capitão que enganou a tristeza" é um documentário em vídeodo Expresso sobre o herói Fernando Salgueiro Maia. Um trabalho documental, histórico, testemunhal, que está para ser visto e fica para ser revisto. O trabaho da Manuela Goucha Soares e do João Santos Duarte, com grafismo do João Roberto, deixa-nos emocionados. Do princípio ao fim.

"Estamos a fazer isto para que ninguém mais tenha de sair de Portugal por causa do que diz, escreve ou pensa", disse Salgueiro Maia no Carmo a Adelino Gomes, que fora seu colega de liceu. E o jornalista explica:

"É uma definição da liberdade".

É uma definição da liberdade.

Tenha um dia bom. Afinal, hoje é dia de heróis.

Euro2016: TIMOR-LESTE INDEPENDENTE, O PAÍS DAS BANDEIRAS PORTUGUESAS




Portugal venceu ontem o País de Gales no Euro2016. Ganhou passagem para a grande final a disputar em Paris. O delírio invadiu ontem à noite, em Portugal, os portugueses. Em França a festa foi de arromba para a comunidade portuguesa, sendo que muitos deles(as) já são franceses, lusodescendentes. O município de Paris, gentil, iluminou a Torre Eifel com as cores da bandeira de Portugal. Os portugueses pelo mundo festejaram a vitória da seleção portuguesa. A seleção dos empates que passo a passo chegou à final a jogar em Paris no próximo domingo. O adversário ainda é desconhecido porque falta saber que equipa será apurada no duelo entre a França e a Alemanha. Quem vencerá? Quem vai estar a confrontar-se com a seleção de Portugal para conquistar o título de campeão do Euro2016? Alemanha ou França? Daqui por algumas horas já saberemos.

Se é verdade que existem portugueses espalhados por quase todos os cantos do mundo há também os que sem serem portugueses sentem Portugal de modo muito especial, incluindo no futebol. Foi isso que vimos em Timor-Leste. Pelo relatado e pelas imagens partilhadas as manifestações de alegria e de apoio à seleção lusa extravasaram o que muitos viam e sentiam nos timorenses de forma minimalista. E então foi o espanto, a comoção, a lágrima no canto do olho por ver que a dezenas de milhares de quilómetros de Portugal, no traseiro do mundo, nos antípodas, há um povo que em grande número tem Portugal no coração – no futebol e em muito mais.

Testemunha disso foi (é) o insuspeito enviado residente da Agência Lusa, o jornalista António Sampaio, que em Díli fez a cobertura do acontecimento, da “festa” que em caravanas medonhas comemorou a vitória da seleção portuguesa. O seu texto está esparramado na postagem a seguir, aqui no PG. O que ali não está tão livre, comovido, singelo, alegre, grato e espantado é a sua reação a algo que nunca vira nem imaginava poder ser tão imenso: a ligação dos timorenses a Portugal, aos portugueses. Ainda bem que a viu e sentiu. Não sabemos se rolou uma lágrima pelo canto do olho mas dá para apostar que sentiu muitos arrepios. A prova está naquele curto desabafo no Facebook. Diz ali o jornalista António Sampaio (e junta vídeo):

“Em Timor já vi grandes manifestações, incluindo as gigantes pré-referendo em 1999, algumas grandes caravanas partidárias e dias de celebração de vários tipos. Mas confesso que nunca tinha visto nada assim. Nem sabia que havia tantas bandeiras portuguesas em Díli. Aliás, acho que nunca na história de Timor-Leste houve tantas bandeiras portuguesas em Timor. Pode dizer-se muita coisa e haverá quem possa querer tirar leituras disto. O que vi hoje foi alegria genuína, gente jovem e não tão jovem, famílias montadas em motas, camiões carregados de jovens, muitos deles para quem a ligação a Portugal nunca existiu, formalmente. Alegria e uma celebração sem precedentes a mostrar uma ligação com 500 anos, que se marcou com formalismos e um caravela em novembro do ano passado, com missas e concordatas também em 2015 mas que se sente nestas coisas. Nesta festa timorense de uma vitória portuguesa. E sim. Há aqui quem não veja valor na ligação a Portugal, à sua língua, à história e cultura comum. Esses hoje devem ter ficado a pensar o que motiva tanta gente a sair à rua. Sem que ninguém os obrigue, sem ordens de partidos, governos, ideologias, visões sobre identidade. Só para cantar uma vitória que todos nós que falamos português ou a esta língua e história que nos une, celebramos hoje. Obrigado timorenses por esta lição que nos deram, a Timor e a Portugal. E, já agora, aos vizinhos aqui mais próximos. E agora vamos para a festa rija na final!"

António Sampaio, no Facebook

Há muitas mais bandeiras portuguesas em Timor-Leste

Depois disto é evidente que Timor-Leste e os timorenses são um país e um povo muito especiais para Portugal e para os portugueses. E vice-versa. Não só no futebol. Existem muitas provas disso. A distância geográfica que nos separa, em milhas ou quilómetros, em oceanos, tem tido o condão de nos aproximar como a nenhuma outra ex-colónia, e mesmo nos tempos da terrível colonização essa era a evidência que aqueles que conhecem Timor-Leste experimentavam. Timor no coração, quem, de nós, não o tem?

Refere António Sampaio no texto: “Mas confesso que nunca tinha visto nada assim. Nem sabia que havia tantas bandeiras portuguesas em Díli. Aliás, acho que nunca na história de Timor-Leste houve tantas bandeiras portuguesas em Timor.”

Quem não vê é como quem não sabe. Mas agora António já sabe. Muitos outros ficaram a saber. Viram, sentiram, ficaram siderados por aquela visão e calor que só os timorenses sabem dar… quando sentem e querem. Há ainda muitas mais bandeiras de Portugal em Timor-Leste, portugueses.

Obrigadu barak, mauns timoroan.

Mário Motta / PG

Euro2016. TIMORENSES CELEBRAM VITÓRIA DE PORTUGAL EM FESTA SEM PRECEDENTES



Díli, 06 jul (Lusa) - Milhares de timorenses aos gritos com "Viva Portugal", coloridos com milhares de bandeiras portuguesas dominam desde o final do jogo de Portugal contra o País de Gales nas ruas de Díli, numa longa caravana que parece não ter fim.

Em motas, carros, camiões de caixa aberta e até a pé, famílias inteiras gritavam "Portugal" e "Porto" (diminutivo utilizado pelos timorenses para falar do país que hoje se apurou para a final do Europeu de Futebol de 2016), os timorenses celebravam como se a vitória também fosse deles.

Uma longa caravana de festejos começou praticamente assim que se ouviu o apito final do jogo, em cenas com poucos precedentes em Timor.

Em multidões que fazem recordar as grandes caravanas para o referendo de 1999, as celebrações estão a marcar o amanhecer em Timor-Leste, onde hoje é feriado porque se assinala o fim do Ramadão.

A seleção portuguesa de futebol qualificou-se hoje para a final do campeonato da Europa de futebol de 2016, ao vencer o País de Gales por 2-0, na primeira meia-final da prova, disputada em Lyon.

Cristiano Ronaldo, aos 50 minutos, e Nani, aos 53, apontaram os golos da formação portuguesa, que vai disputar domingo a segunda final da sua história, 12 anos depois do desaire por 1-0 com a Grécia, em Lisboa, no Euro2004.

No domingo, pelas 21:00 locais (20:00 em Lisboa), Portugal vai encontrar no Stade de France, em Saint-Denis, o vencedor do embate entre a anfitriã França e a detentora do título mundial Alemanha, que se defrontam na quinta-feira.

ASP/ALU // SB


Euro2016. A FESTA DO FUTEBOL EM MACAU FEZ-SE PELA MADRUGADA



Macau, China, 07 jul (Lusa) -- O sol estava quase a romper quando os adeptos de Portugal finalmente festejaram em Macau, surpreendidos pelos golos depois de uma primeira parte morna e com elevadas expectativas para o jogo final do euro2016 de futebol.

"Estamos na final, estamos na final!", gritava Nuno Gomes, rodeado dos amigos. Entre o grupo a reação era ainda de algum espanto.

"Achava que empatávamos, mas pronto", comentou Mário Carvalho. Ainda que surpreendido, o colega Pedro Pimenta considerou o resultado "inteiramente merecido. Apesar de os primeiros jogos não terem sido grande coisa, desta vez foi espetacular", elogiou.

Ao intervalo, o ambiente neste bar de Macau, lotado apesar do avançar da hora (o jogo começou às 03:00), era bem diferente da festa que se instalou no final. Com Portugal sem golos, alguns mostravam desânimo, enquanto outros mantinham um otimismo cauteloso.

"Está a ser um jogo equilibrado, no início, o País de Gales atacou mais um bocadinho, mas Portugal equilibrou o jogo. Não sei como vai ser a segunda parte, mas espero que Portugal consiga ganhar", dizia à Lusa Afonso Biscaia.

O amigo Duarte Torres era o mais pessimista: "Está um futebol muito fraco, acho que vamos a penáltis."

Quando o relógio marcava 04:06, André Pinto assegurava que "o sonho" era ainda possível.

Entre os apoiantes da equipa das 'quinas' estava também Miguel Senna Fernandes, que, ao intervalo, lamentava a prestação da seleção: "Não é tão pragmática quanto os galeses (...) dá-me impressão que são mais letais quando têm a bola na área portuguesa. Mas vamos ver, é a nossa esperança."

No final do jogo, com dois golos marcados, acabaram-se as incertezas. "O Cristiano acordou, foi ali marcar golos e vai marcar mais golos na final e vamos ser campeões na França, vai ser maravilhoso", exultava Nuno Gomes.

As expectativas quanto ao adversário na final dividiram-se: para uns, França é temida, para outros, é um inimigo que importa vencer.

Para a final, Mário, Pedro e Nuno preferiam enfrentar a seleção francesa: "Para tirar uns dissabores que tivemos há algum tempo atrás."

"É jogar para a vingança mesmo", gracejou Pedro.

No mesmo bar, outro grupo -- João, Armando, Vítor e Ana -- tem opinião oposta: "Domingo [é preferível jogar] contra a Alemanha, porque se for contra os franceses... temos um mau presságio com os franceses, é melhor não."

Armando era o único do grupo que não reside em Macau, cidade onde veio reencontrar velhos amigos e, acreditam, dar um empurrãozinho à seleção.

"Há 20 anos que não via estes dois [João Telo Mexia e Vítor Teixeira], vim de Portugal para a Malásia e da Malásia vim aqui de propósito. Fantástico!", gritava Armando Alves.

"Se não fosse o Tó [Armando], a gente não tinha ganho tão facilmente", confirmou João.

ISG // VR


DOIS DIRIGENTES DO INSTITUTO PÚBLICO DE MACAU SUSPEITOS DE ABUSO DE PODER



O Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) de Macau encaminhou para o Ministério Público um caso suspeito de abuso de poder por parte de duas chefias do Instituto para Assuntos Cívicos e Municipais que alegadamente encobriram faltas injustificadas de funcionários.

Em comunicado, hoje divulgado, o CCAC indica que um titular de um cargo de chefia e um ex-titular, ambos do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), encobriram atrasos e saídas antecipadas de dois funcionários, cujas mais de 600 faltas injustificadas ao serem indevidamente pagas resultaram num prejuízo na ordem de meio milhão de patacas (56.490 euros) para o Governo.

Segundo o CCAC, ao longo de quase quatro anos, ambos os dirigentes tiveram conhecimento de que dois trabalhadores do IACM "chegavam atrasados e saíam antecipadamente do local de trabalho com alguma frequência", não tendo, contudo, agido "em conformidade com as competências e os deveres atribuídos (...), não tomaram quaisquer medidas para impedir as infrações disciplinares dos respetivos subordinados, nem informaram o seu superior sobre tais práticas".

"Ao invés, continuaram a permitir" essa situação, a qual se reporta ao período entre 2011 e 2014, refere a mesma nota.

De acordo com o CCAC, "um dos titulares de cargo de chefia envolvidos, estando ciente de que os seus atos estavam em violação dos procedimentos legais, aceitou como justificadas as dezenas de faltas dos seus subordinados sem provas e sem justificação bastante, com a intenção de esconder o encobrimento ilícito dos atos praticados pelos seus subordinados".

À luz do regime legal da função pública, as faltas injustificadas determinam, para além da instauração de processo disciplinar, a perda da remuneração correspondente aos dias de ausência.

Contudo, "não obstante as mais de 600 faltas injustificadas dadas pelos dois trabalhadores do IACM, durante um período de quatro anos, o IACM, em consequência do encobrimento dado, (...) pagou-lhes indevidamente as respetivas retribuições, causando um prejuízo ao Governo da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] no valor de mais de 550 mil patacas".

DM // MP - Lusa

HOMENS DA RENAMO ATACAM LOCALIDADE NO CENTRO DE MOÇAMBIQUE - polícia



Homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) atacaram na madrugada de hoje a sede da localidade de Banga, no distrito de Tsangano, província de Tete, informaram as autoridades locais, citadas pela Rádio Moçambique.

De acordo com o comandante provincial da Polícia da República de Moçambique em Tete, Fabião Pedro Nhancololo, o grupo invadiu a residência do chefe da localidade de Banga e as instalações do registo civil, além de roubar todos os medicamentos do posto de saúde.

A Rádio Moçambique avança que houve vítimas mortais, mas o número ainda é desconhecido.

As autoridades moçambicanas dizem que a segurança foi reforçada no local e decorrem operações para a captura dos autores do ataque.

Moçambique tem conhecido nos últimos meses um agravamento dos confrontos entre as forças de defesa e segurança e o braço armado da Renamo, além de acusações mútuas de raptos e assassínios de militantes dos dois lados.

O Governo moçambicano e a Renamo retomaram em finais de maio as negociações em torno da crise política e militar em Moçambique, após o principal partido de oposição ter abandonado em finais de 2015 o diálogo com o executivo, alegando falta de progressos no processo negocial.

O principal partido de oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória eleitoral.

EYAC // EL - Lusa

PRIMEIRO-MINISTRO INDIANO NARENDA MODI INICIA VISITA A MOÇAMBIQUE



O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, inicia hoje, em Maputo, um périplo de cinco dias a quatro países africanos.

Durante a visita, Moçambique e Índia deverão assinar dois acordos nos domínios agrícola e alimentar e também da aviação civil.

Segundo o jornal Times of India, o Executivo de Nova Deli aprovou na terça-feira um memorando de entendimento para a produção de leguminosas a ser apresentado às autoridades moçambicanas e que prevê apoio a Moçambique na obtenção de sementes de qualidade, melhoria das técnicas agrícola, bem como a aquisição de toda a produção alcançada ao abrigo do acordo.

O jornal cita o Alto Comissariado da Índia em Moçambique, referindo que a visita de Modi deverá ser igualmente marcada pelo aprofundamento da cooperação entre os dois países nas áreas de hidrocarbonetos, segurança marítima, comércio e investimento.

A deslocação de Modi, a primeira de um primeiro-ministro da Índia a Moçambique em 34 anos, prevê reuniões ao mais alto nível com as autoridades moçambicanas, nomeadamente com o chefe de Estado, Filipe Nyusi, uma visita ao parlamento e um encontro com a diáspora indiana em Maputo.

Segundo dados divulgados pelo Times of India, um quarto dos investimentos indianos na África Oriental estão aplicados em Moçambique.

O comércio entre os dois países aumentou cinco vezes nos últimos cinco anos e representa atualmente cerca de dois mil milhões de dólares anuais (1,8 mil milhões de euros).

Depois de Moçambique, o primeiro-ministro segue para a África do Sul, tendo ainda previstas visitas à Tanzânia e Quénia.

EL (HB) // EL - Lusa

DHLAKAMA ANUNCIA CHEGADA DE MEDIADORES A MOÇAMBIQUE



O líder da RENAMO diz que os mediadores internacionais das negociações para a paz estarão em Moçambique até ao próximo dia 11 de julho. Afonso Dhlakama acusa o Governo de não estar interessado na estabilidade.

"Por aquilo que o chefe negocial da RENAMO [José Manteigas] me disse, está previsto até ao dia 11 que todos os mediadores estejam prontos em Moçambique, faltando apenas saber o exato dia do início ou arranque das negociações", afirmou o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) ao canal privado moçambicano STV.

O principal partido da oposição moçambicana deve chegar a consenso com a sua contraparte do Governo para o fim dos confrontos militares no centro, disse ainda Afonso Dhlakama.

Os ataques a veículos militares e civis têm aumentado no centro do país. O presidente da RENAMO não se refere diretamente às emboscadas a alvos civis, mas diz que o movimento tem estado a defender-se de alegadas investidas das Forças de Defesa e Segurança.

"Quem anda 1.500 quilómetros para vir bombardear aqui no centro são os da FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique]", acusou Dhlakama, referindo-se ao partido que governa o país desde a independência em 1975.

Mediação internacional

A União Europeia (UE) e a Igreja Católica foram formalmente convidadas pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, para mediarem o fim da crise política entre Governo e a RENAMO.

Segundo fonte comunitária citada pela agência de notícias Lusa, a delegação da UE em Maputo recebeu uma carta do chefe de Estado, endereçada ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, com o convite formal para integrar a equipa de mediadores nas negociações de paz.

O porta-voz da Conferência Episcopal de Moçambique e bispo auxiliar de Maputo, João Nunes, também confirmou à Lusa um convite de Nyusi entregue na Nunciatura Apostólica na capital moçambicana, na qualidade de representante do Vaticano, para que a Igreja Católica também seja mediadora na crise.

O Governo da África Sul foi a terceira entidade convidada para o processo de mediação. Até ao momento, desconhece-se uma resposta oficial ao convite que lhe foi endereçado.
Em junho, Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama anunciaram terem chegado, por telefone, a um consenso sobre a participação de mediadores internacionais nas negociações para o fim dos confrontos.

A RENAMO recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014 e continua a dizer que pretende governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.

Novo ataque no centro

Homens armados da RENAMO terão atacado quarta-feira (07.07) a sede da localidade de Banga, no distrito de Tsangano, província de Tete, informaram autoridades locais, citadas pela Rádio Moçambique.

Segundo o comandante provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Tete, Fabião Pedro Nhancololo, o grupo invadiu a residência do chefe da localidade de Banga e as instalações do registo civil, além de roubar medicamentos do posto de saúde.

As autoridades anunciaram ainda que a segurança foi reforçada no local, decorrendo neste momento operações para a captura dos autores do ataque.

Lusa, em Deutsche Welle

Angola. LUATY BEIRÃO - A GRANDE ENTREVISTA



Luaty Beirão fala sobre o dia-a-dia na prisão, a ligação familiar ao MPLA e as eleições gerais de 2017. Mantém as críticas ao partido e ao presidente, e reafirma as intenções políticas do processo judicial.

Ao fim de pouco tempo Luaty Beirão desce as escadas de calções, chinelo e t-shirt. Tem a barba curta e no final da entrevista, quando chega a altura de fazer as fotografias, veste uma camisola pintada pela tia. Nessa altura, a mulher, Mónica, faz questão de dar um jeito na imagem do músico e activista. O almoço está quase pronto.

Depois de mais de um ano em prisão preventiva, o grupo de 17 cidadãos condenado pelos crimes de actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores, viu o Tribunal Supremo dar provimento a um pedido de habeas corpus. A partir do momento em que o tribunal aceita o recurso da condenação em primeira instância, a lei prevê a restituição à situação anterior até que nova decisão seja anunciada.

Mesmo com algum atraso, o Tribunal Supremo decretou, como medida de coacção, o termo de identidade e residência. O que significa que o grupo dos 17 revús, que condenados entre dois e oito anos de prisão, voltou para as suas casas e tem de se apresentar uma vez por mês no tribunal. Até quando? Não se sabe. Também não podem viajar para fora do país. A libertação aconteceu quarta-feira e foi seguida de uma passeata até à sede da União dos Escritores Angolanos, no Largo das Escolas, em Luanda.

“Neste momento aquilo que mais me preocupa é a situação do Nito Alves, que continuou preso, e do Dago Intelecto, que foi condenado a oito meses de prisão por ter gritado dentro da sala do tribunal, durante o julgamento”, recorda Luaty Beirão, que chegou a passar 36 dias em greve de fome.

A partir do momento em que oficializaram o recurso sobre a condenação em primeira instância, o discurso passou a ser que a vossa detenção era ilegal. Estavam à espera de serem libertados na quarta-feira?

Os advogados transmitiram-nos sempre o que estavam a fazer e o que não devia ter acontecido. Tínhamos a noção que a partir do momento em que o recurso é aceite pelo juiz em primeira instância, a pessoa volta para a situação em que estava antes de ser pronunciada a sentença. Tínhamos noção da violação da lei mas deixámos as coisas andar um bocado – os advogados também têm de fazer o seu trabalho. Sabíamos que as coisas estavam a ser resolvidas, até porque os tribunais andaram a atirar responsabilidades de um lado para o outro. Tentámos fomentar o debate à volta desta questão até para ver como a nossa sociedade e a comunidade internacional iam reagir.

Estavas nervoso com isso, achavas que nunca iria acontecer ou, pelo contrário, era apenas uma questão de tempo?

A maioria de nós foi sempre tentando manter as expectativas em baixo, até por uma questão de sanidade mental e de controlo emocional. Tentámos sempre olhar para o pior cenário possível. “Isto é política, depende da ordem do José Eduardo [dos Santos], o que ele quiser é o que qualquer tribunal vai decidir, então mais vale estarmos focados noutras coisas”. Mas há sempre aquela ponta de esperança, que não se admite totalmente, mas que está lá.

A lei prevê a libertação mediante a apresentação de recurso. O texto é explícito.

Se formos pela lei não devíamos ter sido detidos, não devíamos estar presos e por aí adiante.

Não se agarravam um pouco à ideia de justiça, de no final do dia a lógica prevalecer?

Neste caso só posso falar por mim. Eu tentava não pensar muito. Tínhamos de nos focar. Eu sei o que a lei diz e nas visitas dos advogados pedi para falarmos no habeas corpus e no efeito suspensivo – e explicar às pessoas o que isso significa. Mas vi, na Tv Zimbo, que a própria jornalista também não sabia muito bem se a decisão é definitiva, se é apenas mais um passo. Temos de explicar às pessoas. Temos de nos focar. Nestes últimos tempos, com a data do “aniversário” da nossa detenção [que ocorreu a 20 de Junho de 2015], decidimos começar a falar do assunto. Escrevemos uma carta, que foi estrategicamente direccionada aos serviços prisionais mas é uma carta aberta à sociedade. Começámos a pedir que as pessoas se concentrassem no efeito suspensivo da condenação quando o recurso é aceite pelo tribunal. A pontinha de esperança existia e tínhamos um plano para pressionar da nossa maneira, dentro do estabelecimento prisional (com várias formas de protesto), para que o tribunal se pronunciasse – sobretudo em relação ao habeas corpus. Havia uma réstia de esperança, mas por uma questão de sanidade tentámos não nos agarrar a isso como se fosse uma tábua de salvação.

Quem te deu a notícia de que iriam ser libertados?

Foi o Nélson [Dibango]. Nós estávamos na parte da frente da prisão, onde só víamos a TPA. Os outros dez, que estavam noutra zona do estabelecimento prisional, é que tinham acesso à Tv Zimbo. Eu estava a ler e, por volta do meio-dia, o Nélson disse-me que tinha ido ao outro lado e que tinha passado na televisão que o habeas corpus tinha sido aceite.

O que sentiste?

Nem sequer senti uma euforia contida, não, foi tipo “ok, era o que tinha de acontecer. É o normal”. Mas comecei logo também a pensar o que quererá dizer, qual é a mensagem, a decisão está relacionada com a conjuntura actual? Será um passo para nos puxarem o tapete de novo? Por isso é que não estou muito no espírito do “ganhámos, vamos em frente”. Ainda estou a tentar perceber o que se está a passar. O que se quer é que isto termine de uma vez por todas. Não quero uma liberdade provisória, o que queremos é saber que ler um livro não é proibido, pensar diferente, exprimir-mo-nos, não é algo proibido. Acompanhando o último ano, mesmo na imprensa convencional, é curioso verificar que alguns espaços estão a ser conquistados por todos.

Ou então, a propósito das eleições gerais de 2017, vamos ter um país fantástico nos próximos 365 dias. Através da campanha eleitoral.

Ou isso, são as eleições a tornar o país num pequeno oásis.

Agora que conheceste vários estabelecimentos prisionais, que conheceste o outro lado, com certeza formaste uma opinião muito concreta sobre o nosso sistema prisional. Qual é a tua visão?

Antes de responder a essa pergunta, e porque também tinha uma péssima opinião, gostava que conseguisses resumir a imagem que tinhas dos estabelecimentos prisionais.

A imagem que eu tenho e os relatos que conheço é que as condições básicas são más ou muito más – há falta de água potável, a comida não é boa, o acompanhamento médico é deficiente. Alguns estabelecimentos estão sobrelotados, há excesso de prisão preventiva e enfrentam péssimas condições de habitabilidade. E que tudo isto resulta em violações dos direitos humanos.

Vou responder da seguinte maneira – antes de ir imaginava todas as prisões iguais aos filmes, tipo “Carandiru” [referência a um filme sobre as más condições da Casa de Detenção de São Paulo, no Brasil, onde mais de 100 detidos foram mortos pela polícia, em 1992] e cenas assim.

Não iria tão longe.

Também eu imaginava que as coisas fossem como descreves, então fiquei agradavelmente surpreendido ao não encontrar merda nas paredes e condições caóticas e de ar irrespirável. A primeira prisão onde estive foi Kalomboloca e achei o ambiente bastante asseado. Tanto fiquei impressionado que os meus primeiros escritos na prisão são de surpresa em relação às condições. E estava numa cela de punição, isolada, não tive contacto com a população prisional. Obviamente que existem coisas a criticar, como em qualquer instituição, sobretudo em Angola.

Quais são os pontos críticos?

É um facto que existe uma dificuldade no abastecimento de água e que a alimentação deixa a desejar. As duas únicas vezes que comi em Kalomboloca – sou semi-vegetariano, não como carne e a comida vem sempre misturada, por isso evitava – até nem achei a comida tão má assim. Uma das vezes foi funje de milho com um molho de repolho meio aguado, mas eu estava mesmo cheio de fome, e a outra vez foi o mesmo funje de milho com feijão. Não era péssimo, mas claro que me ponho a imaginar quem tem de comer aquilo todos os dias. As refeições são sempre iguais. Não encontrei um ambiente tão trágico assim e percebi que há um grande esforço dos serviços prisionais para lidar com toda a logística necessária.

Na verdade, situações como falta de água potável, por exemplo, são lutas que todos os angolanos enfrentam.

Claro, tentamos entender, podemos compreender, mas não devemos aceitar. Obviamente que há momentos em que a situação ficava caótica. Curiosamente, os outros reclusos diziam que bastava a nossa entrada nas celas para que a comida ficasse melhor, para que dessem mais quantidade, tinham logo acesso aos banhos de sol e à televisão… E quando fomos embora diziam que tudo voltaria ao “normal”.

Como foi a vossa relação com os outros detidos?

A maior parte das pessoas que vinham interagir connosco (pelo menos eu senti isso, nós não estávamos todos juntos), pelo menos 90 por cento, estavam solidárias. Muitos diziam que o próximo crime ia ser político, que também iam ser activistas [risos]. Gostavam de conversar e aqui tenho de particularizar – comigo o pessoal gostava de fazer perguntas, de ouvir, e aparentavam um grande respeito pelo que fazemos. Senti uma grande solidariedade da população prisional em geral. Obviamente que há um caso ou outro em que sentes maior hostilidade, mesmo só pelo olhar, percebes que não simpatizam contigo. Mas nunca tive um caso, como às vezes vejo e oiço noutros locais, de nos desejarem a morte ou a prisão perpétua.

Que tipo de conversas tinham, falavam de política, da vida em geral?

Interagíamos de forma bem fixe. Obviamente que alguns tinham cometido crimes chocantes e, nesse sentido, fui obrigado a rever a minha forma de estar e os meus preconceitos em relação a uma série de coisas. Deixavam-me um pouco confuso intelectualmente. Pessoas que admitem que matam e violam depois de matar… Ficava na dúvida se realmente tinham feito aquilo ou se era uma espécie de gabarolice para ter estatuto entre os criminosos e para serem mais bem tratados.

Há um sistema de classes dentro das prisões?

Sim, há. São os próprios reclusos que tratam da limpeza, são os próprios reclusos que tratam da disciplina. Eles entendem-se entre si. Eu achei muito fixe a existência de um sistema que acaba por afastar um pouco os serviços prisionais da vida das pessoas. E depois tudo está relacionado com a respeitabilidade que cada um consegue granjear.

Também se utiliza um código de conduta entre os presos?

Sim, que é organizado por caserna. Uns são mais rigorosos, outros mais permissivos e todos aplicam sanções. As sanções são coisas como limpar a sanita durante algum tempo e situações desse género.

Alguma vez foste sancionado?

Não. Éramos logo colocados como chefes das celas, eu tenho de dizer que sempre fui muito bem recebido por toda a gente. Não tenho nenhuma má recordação. Também fiquei surpreendido com muitos agentes dos serviços prisionais. É evidente que muitos têm um baixo nível de escolaridade e de formação, mas são pessoas de quem sentia um nível de humanidade muito grande. Tem de se parabenizar, de certa forma, e não incondicionalmente, o trabalho que eles tentam fazer. Sobretudo ao nível da humanização dos agentes, porque sentia realmente essa sensibilidade. Mas não havia a capacidade, em temos práticos, de concretizarem aquilo que devem fazer. Veja-se a situação dos reeducadores, que agora chamam reabilitador. É esta figura que deve trabalhar com o recluso para o sensibilizar, para não voltar a cometer crimes.

É um psicólogo?

Boa parte das vezes, sim. Mas connosco havia uma preocupação especial, eles eram indigitados para se ocuparem de nós. Os outros reclusos queixavam-se que nunca viam aquelas pessoas, que nunca conversaram com eles.

E faz falta uma aproximação desse tipo em ambiente carcerário?

Para alguns casos, sim, faz falta. Para nós acho que não, não cometemos crime nenhum. Os psicólogos que falaram connosco sentiram alguma dificuldade, eles perguntavam: “Estás arrependido?” E nós dizíamos: “Esquece, obrigado pelo teu trabalho mas precisas de perceber melhor porque estamos aqui”.

Alguma vez conseguiram debater o assunto com os reabilitadores?

Quando estavam dispostos a isso, sim, conversávamos. Muitas vezes, sobretudo os agentes mais baixos (da ordem interna), mostravam algum interesse. Outras vezes, mesmo que não pedissem, tentávamos sensibilizá-los. Explicávamos que não tínhamos nada contra eles. Ao mesmo tempo eram o nosso elo de ligação, eram a ponte com quem dá as ordens. “Quando nos chateamos não é nada pessoal”, dizíamos. E eles percebiam, pelo menos afirmavam que percebiam. A tarefa dos guardas prisionais é ingrata, eles explicam que têm de cumprir ordens e se não cumprem são penalizados. Estamos a falar de jovens inseridos numa estrutura castrense.

A maior parte dos agentes prisionais são jovens?

Sim, a maior parte. Alguns vêm da polícia e do exército. Tentávamos sensibilizá-los porque a mentalidade deve mudar connosco – se obedecemos cegamente a ordens que não são legítimas também corremos o risco de responder por elas. Quem manda não vai colocar certas ordens por escrito. De cada vez que fazíamos um pedido (uma pendrive para ver filmes, por exemplo), obrigavam-nos a fazê-lo por escrito. Tudo tinha de ficar escrito. E nós dizíamos, ok, mas se negarem o pedido escrevam também – já não. Já não pode ser. Então propusemos escrever mas os serviços davam também uma cópia para confirmar que o pedido foi bem recebido – já não. Já não pode ser. Já não se comprometem. Da parte de quem manda não há comprometimento com nada.

Nem com o cumprimento da lei?

Cobrávamos isso, não podiam esperar que nós cumpríssemos e eles não. Vou dar um exemplo, que não sei se chegou até ti: há mentalidades a mudar, mesmo dentro do sistema castrense. Quando estávamos em prisão preventiva, numa situação com o Benedito, alguém ordenou que se ele se mexesse o guarda prisional deveria utilizar a arma de fogo. Ou seja, se o Benedito se mexesse levava um tiro. O guarda prisional pousou a arma e disse: “Eu não fui formado para isso”. E foi-se embora. Soubemos depois que ele teve uma semana de punição e acabei por não saber o nome do agente. Mas gostava de saber quem é para lhe dar uma força. São exemplos que nos dão esperança. Não se pode mais viver num país assim. Estes pequenos exemplos devem ser exaltados.

Um ano depois continuam com a sensação que todo o processo tem motivos políticos?

Acho que posso arriscar responder por todos os colegas, neste caso. Todos os 17 estão convictos que é um assunto meramente político. Não há matéria de crime, não há provas, o julgamento foi uma farsa sem piada nenhuma. Tentámos satirizar a coisa mas obviamente que é uma vergonha para a nossa Justiça e para o país. Apresenta-se uma brochura de um livro, um quadro e algumas insígnias como prova – e depois ainda saem com a cartada da associação de malfeitores. Não vejo outra interpretação possível. Alguns tão jovens e tão rapidamente comprados e assimilados por este regime estão aí para defender estas teses. Mas alguém com bom-senso e capacidade de análise percebe que não há mais nada para além de uma questão política. E a vontade vem de cima, vem directamente do palácio presidencial.

São acusações de ingerência na Justiça que são recorrentes.

É claro que as pessoas podem sempre dizer que essas alegações são baratas. Temos de respeitar essas opiniões. Estamos a tentar construir um país democrático, então temos de conseguir respeitar esses posicionamentos. Ainda bem que existem e que podemos debater os assuntos. Grande parte do nosso trabalho foi ajudado pelo regime – conseguimos fomentar um debate acerca da nossa sociedade e da nossa demo… bem, não ouso ainda chamar democracia ao que existe no nosso país. Mas pelo menos fomos capazes de trazer a discussão e de trazer para o centro do debate pessoas que não eram ouvidas. São algumas pequenas conquistas.

Achas que há alguma relação entre as eleições e a liberdade condicional que vos foi concedida?

Acho que vão tentar evitar que a nossa libertação sirva como arma de arremesso da oposição contra o MPLA. Vão querer evitar o assunto. A ligação entre a nossa saída e a campanha eleitoral pode ser considerada com seriedade. Antes de sermos libertados, a dúvida seria se era estrategicamente melhor para o MPLA manterem-nos presos, porque não sabem o que podemos fazer com a força que esta exposição nos deu. As pessoas estão insatisfeitas, é fácil de medir. É natural, especialmente numa sociedade em crise. E ainda temos as nossas particularidades. O que seria mais vantajoso para o MPLA? Ter-nos lá dentro e arcar com a dificuldade de ter de responder por isso durante a campanha ou livrar-se desse peso?

Qual é a tua opinião?

O facto de nos terem libertado denota, claramente, que eles decidiram que é mais fácil poder descartar essa arma de arremesso, que seria sempre utilizada pela oposição. Os políticos fazem política e o nosso caso corre o risco de marcar a campanha eleitoral. Agora vai ter um impacto menor, porque estamos soltos (até quando, não sei). Mas connosco fora das prisões terá menos eficácia como crítica. Dentro das duas hipóteses, fica patente que para eles é mais vantajoso terem-nos em liberdade.

E sobre o futuro de JES? Ontem foi apresentada a sua candidatura oficial à liderança do MPLA. É a única candidatura, como sempre. Acreditas na sua retirada da política activa em 2018?

Quando ele anunciou que planeava retirar-se em 2018, por acaso ainda estávamos em prisão domiciliária. A SIC, de Portugal, ligou-me e a minha opinião mantém-se – JES já disse a mesma coisa em 2001. Coitados daqueles que se voluntariaram para o substituir. Desta vez já ninguém foi na conversa e então é o único candidato à própria sucessão. No outro dia, na TPA, o Dino Matrosse deixou fora de hipótese qualquer alternativa. É uma música que já ninguém dança. Não o vejo a sair em 2018. Na eventualidade de sair, estamos a ver o encaminhamento das coisas. Os filhos estão em lugares estratégicos, seja o Zenú, a Isabel ou a Tchizé. Está a garantir que não o vão atraiçoar no dia em que abandonar o cargo.

Qual seria o caminho ideal para a saída de JES, na tua opinião?

Seria algo que eu não o vejo com capacidade de fazer, porque seria admitir fraqueza. Para o resto dos angolanos seria um sinal de magnanimidade. A magnanimidade passaria por assumir as falhas e promover uma real abertura ao diálogo a todas as franjas da sociedade. O primeiro passo seria liberar a imprensa, que está sequestrada pelo poder, autorizar a criação das milhentas rádios que estão encalhadas no INACOM e deixar as pessoas conversarem. Ouvir toda a gente. JES não tem capacidade para isso, seria admitir uma fraqueza e admitir que a sua governação falhou. Sinceramente, gostava muito de estar errado, mas não acho que ele tenha capacidade para o fazer.

Há uma proximidade familiar, devido à figura do teu pai, entre ti e o MPLA. Há outras pessoas na mesma situação (são parentes ou amigos muito próximos de figuras ou antigas figuras do partido), que concordam com as críticas que fazes, mas não são visíveis e também não estão disponíveis para isso. Consideras que emerges do seio da “grande família” do MPLA? Também podemos considerar que és um dos poucos rostos visíveis da uma possível contestação interna?

Em relação a isso, gostaria de responder da seguinte forma: o máximo que posso fazer é abrir o livro sobre mim, sobre o meu percurso de vida, onde me encaixo dentro dessa família ou dentro dessa estrutura. Mas depois cabe aos jornalistas, que ouvem e analisam os factos, às pessoas de uma maneira geral, de me atribuírem esse papel, de decidirem se realmente faço parte da família do MPLA. Nunca me identifiquei com o MPLA. Lembro-me das eleições em 1992, era muito pequeno. Não é que me identificasse com o MPLA mas tinha medo do resto. Tinha medo. Mas não me agarrava às saias do partido por saber que eles me protegiam. Estava ao abrigo deles, estava sob sua protecção. Antes de 1992 tinha de ser assim, querendo ou não o MPLA era o povo.

Com essa idade as pessoas, normalmente, dependem dos pais. A política é uma coisa de adultos. Por outro lado, antes de 1992, Angola vivia um regime de partido único, era o MPLA e mais nenhum.

Não havia opção, eras do MPLA e acabou.

Então a ligação não é tanto de estares envolvido como militante do MPLA, porque ao que se sabe não há registos de actividade política. A tua ligação ao partido é familiar e simbólica, apenas isso. Mas é um simbolismo que pode levar-nos a outras conclusões pouco visíveis, sobretudo no que diz respeito à existência de várias tendências e de um sentimento negativo que também existe no seio do MPLA (ainda que em minoria, talvez) em relação à liderança de JES.

Obviamente que eu beneficiei de todo o sistema que o MPLA criou. O MPLA, o meu pai, que fazia parte das estruturas do partido (se não fizesse, não tinha os cargos todos que teve e muito menos teria sido director-geral da FESA – Fundação José Eduardo dos Santos), deu-me a possibilidade de estudar, de ter os meus cursos, de viver onde vivi e de ter o percurso de vida que tive. Eu estive do lado dos beneficiados da hegemonia do MPLA.

A minha associação entre o teu percurso e o MPLA é exactamente nesse sentido.

Exacto, tenho de reconhecer que sim, que vim de lá de dentro. Mas nunca frequentei nenhum Comité de Acção do Partido (CAP), nunca me envolvi em nenhuma actividade partidária. Aliás, desde o momento que comecei a pronunciar-me sobre a vida em sociedade, através da música, sempre o fiz com uma mensagem crítica. De que o país não está fixe, que não vamos lá assim. Sempre fui um bocado, não a ovelha negra, não é por aí, mas sempre tive uma perspectiva crítica sobre o país. Que num primeiro momento era tolerada, se calhar até para mostrar que havia esse espaço. Mas nunca fui conivente, nem solidário com a realidade. Sentia-me angustiado por não fazer mais e achava que a música não era suficiente.

Curiosamente, JES associou o vosso caso à purga que se iniciou no dia 27 de Maio de 1977 e que foi um problema interno do MPLA. Ele próprio construiu uma ligação interna entre vocês e o MPLA. Acreditas que o teu activismo e a tua história pessoal pode, de forma indirecta, apressar o surgimento de um debate interno sobre a liderança e destapar algumas vozes críticas, que existem, mas que a direcção do partido se esforça por apagar?

Gostava de acreditar nisso… Mas sinceramente falta ver quem são as vozes críticas que referiste. Obviamente que temos o mais-velho Kasesa [Mário d’Almeida, ex-ministro da Saúde e ex-deputado], que de vez em quando escreve umas coisas bem mordazes no Novo Jornal, temos há alguns anos o Marcolino Moco ou o Silva Mateus. Sabemos que antes das últimas eleições também o mais-velho Ambrósio Lukoki levantou-se, sozinho, no meio daquela gente toda, para contestar JES. Mas são poucos.

Nos últimos dias, segundo algumas notícias, terá havido um encontro entre o grupo parlamentar do MPLA e Isabel dos Santos, por causa da sua nomeação para a Sonangol. E a reacção dos deputados não terá sido totalmente pacífica.

Era fixe começar a ver quem são essas pessoas. Claro que há pequenos indícios de insatisfação, mesmo no MPLA. Ainda recentemente foi lançado um livro sobre o Agostinho Neto e a Alexandra Simeão, uma voz activa nas críticas à governação, foi convidada para estar presente. Creio, apesar de não ter a certeza absoluta porque não estava lá, que a própria Maria Eugénia Neto acabou por fazer um paralelismo entre a luta de libertação e a nossa detenção. Estas pequenas coisas são grandes coisas. Há rupturas que começam a ser mais difíceis de esconder. Ainda bem que é assim, a unanimidade permanente é completamente anti-natural e anti-democrática.

O que sentiste quando JES fez a comparação com o 27 de Maio, um episódio trágico e violento que até hoje não está bem resolvido?

Ele também desempenhou algum papel durante esse período e safou-se por causa do papel que teve. Quanto à comparação entre o nosso caso e o 27 de Maio, feita por JES, a única coisa que me ocorreu é que, pronto, tinha sido dado o sinal de condenação. A voz dele é a voz de comando e nós tínhamos de ficar presos. Foi a minha primeira leitura – achei que foi aberrante e vergonhoso. Depois fiquei a pensar que aquilo não era para nós mas antes um alerta interno, para o interior do MPLA.

Em que sentido?

A mensagem era do género: “se estes miúdos não fizeram nada e estão naquela situação, então pensem bem o que vos pode acontecer”. Fiquei na dúvida, talvez o objetivo fosse interno e também externo. Só JES poderá dizer. Às vezes parece que está a perder algumas faculdades, ainda que eu não tenha grandes dúvidas sobre a sua inteligência. A gente percebe que é uma pessoa hábil, estratega e com muita astúcia. Mas ficou tantos anos no poder, a ser adorado, a promover a própria adoração, que já não sabe bem para onde se virar e não se adaptou aos sinais dos tempos. E agora parece que o factor saúde não está muito bem. Gostava de vê-lo sair por cima, gostaria que assim acontecesse, e há sempre essa possibilidade.

O que vais fazer agora, depois da entrevista e depois de alguns meses na prisão?

Não posso sair do país mas hoje, por exemplo, vou ver o meu sogro. Há um ano que não saio de prisões, apesar de reconhecer que estar em casa, em preventiva, é uma prisão bastante melhor. Sou bué caseiro mas quero passear um bocado – e quero a minha bicicleta de volta.

Miguel Gomes (texto) – Rede Angola - Ampe Rogério (fotos)

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