Ricardo
Marques, jornalista, do Expresso, serve o Curto com boa cafeína, daquela que dá
tesão e levamos os dia cheios de speed. Os diretores do Expresso e das ilhargas
dessa condição estão mais recatados neste período… de férias, andam na sorna ou
estão de férias? É que nestes últimas semanas há mais jornalistas a servir o
Curto. Sabem, por aqui não existe nenhuma aversão especial a diretores, sejam
eles de onde forem, o que existe é o conhecimento que há muitos que não
adquirem aquela categoria por mérito profissional mas sim por serem lambe-botas
e estarem desprovidos de coluna vertebral.
Olhai, para certos e incertos exemplos e era assim. Ainda é assim? Por exemplo, olhai prá RTP de há tempos (e de agora?) Olhai como eram
promovidos por vezes verdadeiros fulanos obtusos, quase analfabetos, com mais faces
quadradas que um cubo. E pronto, lá tínhamos alguns “senhores diretores” que,
como a canção, “Sobe, sobe, balão sobe” iam por ali acima até estourarem ou
passarem para secretários de Estado e mais(?), e etc. Porquê? Porque eram objetos
assimilados, verdadeiros seres gelatinosos para com os seus chefes de partidos
e o que mais conviesse para “subir na vida”. E lá iam (lá vão) de “tacho” em “tacho”
até se esturricarem ou já nem poderem ser usados de tanto sarro que adquiriam.
Atenção,
não estou a afirmar que no Expresso é assim. Só divaguei porque vivi e
sobrevivi a ver que em muitos sítios é assim que a “peste” funciona. Uns
maloios mentecaptos e chefes, e diretores e… Por aí acima. E elas, algumas, talvez poucas, subiam na vida por causa daquilo mais abaixo (no corpo), quando outras é
que tinham todo o mérito intelectual, profissional e de caráter, mas ficavam a
marcar passo. Pronto. Já sei que agora me vão desancar. Vá, que eu não fujo às
balas. Já estou habituado, velho e de pele curtida, grossa como a de um
dinossauro. Fogo!
Agora
por fogo… Uma boa entrada ou abertura está aqui no Curto que vem a seguir e é
lavra de Ricardo Marques, jornalista (só) do Expresso. Ele pega num barco para
se embrenhar no fogo cíclico que é negócio de uns quantos. Além disso há os “más-línguas”
ou clarividentes. Uns que dizem que os partidos do Arco da Governação – que são
quem tem partilhado os governo há décadas - fazem sempre as coisas para haver
fogos monumentais sempre que possível e que depois sempre entra algum € nos
cofres lá dos burgos, no Caldas, na Lapa, no Rato. Irra, que são mesmo más-línguas.
Outros lembram aquela moda de quando os campos e florestas começavam a arder
quando passavam aviões e avionetas (já foi há uns anos atrás). E agora ainda é
assim? Tempos idos era disso que muito falavam: “Passou o aviãozinho, ouvi uma
pequena explosão… e pouco depois começaram a aparecer labaredas.” A descrição
era quase sempre neste estilo.
Quem montou a banca do negócio dos fogos em Portugal? Quem
deliberou e ordenou que a Força Aérea se arredasse para montarem o negócio? Foi
um dos governos mas a minha memória já lá vai em certos pormenores. Só tenho a
certeza que era um governo do Arco da Governação, ou PS, ou PSD, ou CDS, ou
todos juntos… Ena, “todos juntos”. Até parece uma canção. Pois. Uma canção dos
bandidos. Uma negociata? Pois. Quanto rendeu? Quanto renderá? Ou tudo isso são só más-línguas? São? Pois.
Basta.
Aqui já não canto mais. Senhores e senhoras, agora vai cantar o jornalista do
Expresso que excecionalmente está a servir o Curto com muito creme e cafeína da
melhor. Tio Balsemão, faça desta exceção uma regra, por favor. O poder aos
jornalistas no Expresso Curto. Atenção, mesmo jornalistas. Eles existem e até
muitos são muito bons, se deixarem. Pois.
Mário
Motta / PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Ricardo
Marques – Expresso
A
cidade e as cinzas
Imagine
que todos os anos o obrigam a entrar num barco velho e esburacado, sempre o
mesmo, para uma viagem de dois meses, e que todos os anos lhe dizem que,
mais cedo ou mais tarde, mais depressa ou mais devagar, por culpa própria ou do
mar, que está bravo, o barco acabará no fundo. E não, não há volta a dar – tem
mesmo de subir a bordo.
Os
mais avisados poderão levantar a hipótese de começar a reparar o barco com
a colaboração de todos, aos poucos e por muito trabalho que dê, ainda que
demore uns anos e que, pelo meio, a coisa vá mesmo ao fundo uma ou duas
vezes.
O problema é que ninguém os quererá ouvir, porque o resto da malta, já com
água pela cintura, estará, pelo enésimo ano seguido, a aplaudir de pé o tipo
que se lembrou, outra vez, de comprar mais boias - mesmo sabendo que nunca
haverá boias suficientes.
E no ano seguinte, como em todos os anteriores, resgatado o barco às
profundezas e pronto para deixar o cais com os buracos do costume e ainda mais
alguns, a discussão sobre a compra de boias recomeçará.
Nisso, a água é igual ao fogo.
Vejamos três frases da época:
A) “Meios obsoletos e falta de legislação são cúmplices dos incendiários.”
B) “O país assiste, impotente e perplexo, à progressiva destruição da sua
imensa riqueza florestal.”
C) “Por mais meios que tenham (e serão sempre insuficientes), eles não
permitirão colocar um vigilante junto de cada árvore, com equipamento de
primeira intervenção, 24 horas por dia.”
Eis as palavras que acompanham os dias das cinzas, das paisagens negras e
do cheiro a terra queimada. As serras ficam de luto e a cidade olha-as
horrorizada. Chegam pela televisão aqueles segundos de pânico, de gente a
chorar, a correr e a ver o fogo levar em segundos o que lhes levou uma vida
inteira a conquistar numa aldeia de nome estranho. O horror. O barco a ir
ao fundo diante dos nossos olhos e nem uma boia por perto.
Estes são os dias que sempre foram, porque nunca foi de outra maneira. Ouvimos
o que se diz hoje com a incómoda sensação de estarmos a escutar um eco. Ou a
repetitiva balada das cigarras, que cantam sempre no verão.
Não há prevenção. Ninguém cuida da floresta. Os bombeiros não têm meios. Os
bombeiros estão cansados. Os aviões não chegam. Casas ameaçadas. Aldeias
cercadas, em risco, destruídas. Pessoas que perdem tudo. Pessoas que perdem a
vida. É o inferno e o pesadelo e o terror, quando não os três ao mesmo
tempo. Mas para o ano será melhor, nunca mais será tão mau, vamos estudar
isto e apostar naquilo. Que Diabo, vamos gastar mais. Vem de Lisboa o ministro
e o secretário de Estado, vem a homenagem e a solidariedade à gente das serras.
Das cinzas. Fazemos contas à área ardida. Eesperamos encolhidos de medo
que passe essa onda de fogo que grassa – para nossa desgraça.
É tudo verdade, porque já lemos coisa igual há dez anos e porque daqui a vinte
não será mentira, e lá estarão os jornais para o confirmar.
“Os efeitos da catástrofe que na última semana atingiu o País em chamas são
terríveis. Mas quando chegar a estação das chuvas, o pesadelo esbater-se-á,
como de costume, na memória de todos nós. E o País só se voltará a lembrar do
pesadelo no Verão seguinte da prevenção, do ordenamento da floresta, dos
incendiários e pirómanos, da falta de civismo dos que atiram cigarros pela
janela dos automóveis e dos desnecessários foguetes das romarias.”
Eis o retrato do país nesta sexta-feira, 12 de agosto de 2016 – só que foi
escrito por Cáceres Monteiro, o eterno repórter, num dia de agosto de 2004.
Lembra-se das três frases que vieram antes, a A, a B e a C? Leia
de novo, se for preciso. A primeira é um título do Expresso de outubro de 1977.
A segunda foi escrita há 30 anos, por Nuno Brederode Santos. A última tem treze
anos, escreveram-na Fernando Páscoa e Rui Silva.
O verão das águas calmas é sempre o das chamas furiosas. É o das cidades
desertas que choram na praia a sorte das aldeias cheias.
O verão é o dos números marcados na página que conta os incêndios.Às 08h00 havia seis situações
graves: nos concelhos de Mondim de Basto, Sever do Vouga, Anadia, Caminha,
Arouca e Águeda. Ao todo, estavam ativos 82 incêndios. O verão é o das promessas feitas no chão queimado, das histórias de
solidariedade (esta é nacional e há outra, que vem de Arouca, aqui) e das polémicas que nos fazem olhar para o lado.
Sim, o verão é isto tudo, e mais o canto das cigarras.
Mas já não consegue ser uma surpresa.
OUTRAS
NOTÍCIAS
Segue-se uma
volta rápida pela atualidade na véspera do fim de semana mais longo de
agosto.
Em última hora, uma série de explosões na Tailândia. Nove
rebentamentos - que as autoridades classificam como atos de sabotagem sem
qualquer relação com terrorismo internacional - registados em cinco cidades
diferentes nas últimas horas. Pelo menos duas pessoas terão morrido e cerca de
duas dezenas ficaram feridas nos ataques que atingiram zonas turísticas. Há um
ano, a 17 de agosto, um ataque na capita tailandesa provocou 20 mortos.
Quem
é mais rápido? Marcelo a promulgar diplomas ou o P3-C da Força Aérea que
ontem voou baixinho junto à praia da Costa Nova, em Aveiro e
deixou muita gente assustada?
O
que é mais quente? O calor que este fim-de-semanapromete ou a temperatura que parece estar a subir
outra vez na Crimeia? Depois de mais uma troca de acusações entre Moscovo e
Kiev, as autoridades ucranianas decidiram colocar as tropas em alerta.
O
que aconteceu aos quatro argelinos que há umas semanas desataram a
correr pela pista do aeroporto de Lisboa? Após três dias de julgamento, foram condenados a quatro anos de pena suspensa.
Os
media norte-americanos, escrevi aqui há uma semana, estão
completamente obcecados e em estado de alerta máximo com Donald Trump. Vale a
pena perder cinco minutos a espreitar as notícias em destaque em sites como o
do New York Times, da CNNou do Washington Post e perceber que até quando falam
de Hillary estão na verdade a falar de Trump. Por este andar, correm o risco de
chegar a dezembro e o único assunto ser mesmo o Donald.
Da
terra do empresário-milionário que quer ser presidente, vem também a
história de um casal que tem empregos normais, casa própria (com sete quartos),
carro (na verdade, um mini-autocarro), 13 filhos e dinheiro para os enviar a
todos para a faculdade e planos de reforma antecipada. A única coisa que este
casal não tem é dívidas. Saiba como é possível.
Em
Espanha, Mariano Rajoy e Albert Rivera parecem cada vez mais próximos e
já fazem planos para a tomada de posse – algures no final do mês ou na primeira
semana de setembro. Antes, claro, o líder do PP tem de garantir que o partido aprova as seis condições
impostas pelo homem que lidera o Ciudadanos.
Lembra-se
dos ingleses, aqueles que votaram para sair da União Europeia? A discussão
por estes dias é quando devem fazê-lo. O Independent olhou para o calendário e chegou à conclusão de que a primeira-ministra
Theresa May está a ser pressionada para rapidamente desencadear o processo, uma
das condições do Tratado de Lisboa. Ela garantiu que não será antes de 2017,
mas há quem defenda (os mais preocupados em sair) que não pode ser depois: o
processo demorará dois anos e ficará concluído em 2019, um ano antes das
próximas eleições britânicas – que podem levar ao poder um Governo menos
disposto a sair.
Como
o tempo parece correr devagar, atrevo-me a sugerir uma ligação para o que
promete ser um excelente artigo do The New York Times sobre o mundo em que
vivemos. Foram 18 meses de investigação para escrever uma história que
começa com a invasão do Iraque, em 2003, e que termina com a ameaça do Daesh e
com a imensa crise dos refugiados que atinge a Europa.Verifique a bateria antes
de abrir a ligação para “Fractured Lands: How the arab world came apart”.
Já
que se falou no início de barcos que vão ao fundo, tenho de confessar que
“tiburón” é uma das minhas palavras preferidas em espanhol. Hoje tenho também
de agradecer a um jornal espanhol, o El Pais, por este artigo que conta a
vida de um tubarão que vive quatro séculos. Como eles dizem acerca de um destes
bichinhos capturado por acidente há uns anos: “Nació antes de que
Velázquez pintara Las Meninas” (1656). Conheça aqui a história do tubarão da Gronelândia (inclui ligação para o artigo original, da Science).
Manchetes
Correio
da Manhã: "96 mil jovens sem estudo nem trabaho"
Diário de Notícias: "Governo pressiona juízes para prender mais
incendiários"
Jornal de Notícias: "Há mais jovens que nem estudam nem
trabalham"
Público: "Governo
vai contactar pais de alunos sem vaga na rede pré-escolar"
I: "Toda
a história de Paulo, o homem de 24 anos que decidiu acabar com a Madeira"
O
QUE ANDO A LER
Hoje é mais o que ando a ver (há uma série de portugueses a competir esta sexta-feira). E o que ando a pensar sobre o que o ando a
ver. E sendo que na última semana tenho dormido pouco por ficar horas a
ver os Jogos Olímpicos, dei comigo a pensar por que razão tenho perdido tantas
horas de sono. A culpa, concluí, é da câmara lenta. Da câmara superlenta. Tão
lenta que na repetição de uma jogada ténis de mesa conseguimos perceber a
rotação da bola enquanto se encaminha em direção à raquete de uma tenista que
nem sequer pestaneja (juro).
O desporto, qualquer desporto, quando praticado ao mais alto nível é
espetacular. Que sorte é estar vivo numa altura em que Michael Phelps atravessa piscinas à velocidade de uma lancha, em que
Simone Billes diz adeus ao tapete e se lança no ar, e em que Usain Bolt acaba de correr 100
metros nove segundos depois de começar – assistir a tudo isto é mesmo um
privilégio.
Mas o melhor mesmo é a certeza de que podemos ver tudo outra vez, em
câmara lenta, atentos a cada pormenor, a cada movimento dos olhos, dos
músculos. É a certeza de que, tal como nós, os próprios atletas e
treinadores estudam cada imagem à exaustão e que, por isso, corrigirão as
imperfeições e serão ainda melhores – tal como serão as mais espetaculares as
imagens que veremos.
Este fascínio pela câmara lenta é a coisa mais estranha dos nossos dias vividos
a mil à hora.
Adiante, que se faz tarde.
Esta noite começa a Liga Portugal, com um Rio Ave – Porto (20h30) e
nada melhor do que ler sobre o jogo, e o campeonato todo, na Tribuna – onde só tem lugar o melhor jornalismo
desportivo e, claro, os leitores do Expresso. A Tribuna é a mais
recente aposta do seu jornal de sempre, já está em campo e não é um mero
candidato ao título. Faz parte dele.
Há Diário às seis da tarde, há Expresso na banca amanhã(com Novelas do
Minho, de Camilo Castelo Branco), e disponível online toda a informação e mais a da Tribuna, a
qualquer hora.
Tenha um dia descansado, um excelente final de férias, se for o caso,
um excelente início de férias, se for o caso contrário, mais um bom
fim de semana e um extraordinário feriado. Terça-feira cá estaremos.
Talvez já haja alguém a pensar que não é mesmo má ideia perder tempo a arranjar
o barco.