Geert
Wilders, o líder do Partido da Liberdade, declaradamente xenófobo e
anti-islâmico, não venceu as eleições na Holanda. Dir-se-ia que essa é razão
suficiente para se respirar de alívio, no entanto, não creio que assim
seja.
Na
verdade, o mal já está feito e não estou certa que Wilders fique
particularmente aborrecido por ter saído derrotado das eleições até porque o
seu discurso colhe particularmente bem fora de uma governação que tão mal está
a correr, por exemplo, a Donald Trump. Wilders teria dificuldades acrescidas
num contexto em que a negociação faz parte do jogo político, jogo esse que o
líder do Partido da Liberdade não saberia jogar.
Com
efeito, sem partidos para se coligar, desde logo Wilders teria poucas hipóteses
de conseguir governar e mesmo se conseguisse vencer poderia sempre jogar a
cartada da vitimização por mais ninguém estar interessado numa eventual
coligação.
Seja
como for, repito, o mal está feito: Wilders cresceu, ganhou ainda mais
notoriedade, e veio trazer à luz do dia as divisões no seio de uma sociedade
que, aparentemente, estaria no bom caminho da integração.
Quanto
ao resto da Europa, designadamente as acéfalas lideranças europeias, não será
prudente respirarem de alívio. O recrudescimento do populismo e até da
extrema-direita não são indissociáveis de políticos apostados em fazer da
Europa uma Europa a várias velocidades ao mesmo tempo que manifestam uma
exasperante incapacidade de resolver os problemas sócio-económicos e de
integração que assolam a Europa. Wilders, tal como Le Pen, e outros que por aí
pululam, não são efémeros e alimentam-se do ódio, da exiguidade inerente à
ideia de futuro, da intolerância e da incapacidade dos partidos tradicionais
abordarem os problemas - ingredientes que, tal como no passado, contribuem para
um receita desastrosa.
*Ana
Alexandra Gonçalves, em Triunfo da Razão
Na
foto: Mark Rutte pode escolher coligar-se com os democratas-cristãos e os
liberais MICHAEL KOOREN/REUTERS, em Público
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