MK
Bhadrakumar, Indian Punchline - Dario Alok – Tradução Vila Vudu
A
guerra civil em Washington entre presidente Donald Trump e seus detratores não
dá sinal de amainar. Todos os dias, a luta recomeça. O mais recente movimento
foi na 2ª-feira, na audiência na Comissão de Inteligência da Câmara de
Deputados, onde o diretor do Federal Bureau of Investigation, FBI, James
Comey, reconheceu que há investigação em andamento em sua agência sobre suposta
intervenção russa na eleição presidencial, com hacking para ajudar o
candidato Republicano Trump a chegar à Casa Branca.
Verdade
que Comey nada tinha para mostrar a guisa de prova, mas o testemunho dele
implicou que as investigações prosseguem. Podemos esperar que haja longa lista
de audiências desse tipo, no forno. Uma "grande nuvem cinzenta"
apareceu sem mais, do nada, como disse o presidente da Comissão de Inteligência
da CD Devin Nunes. A nuvem só evanescerá se os vários inquéritos em
andamento absolverem Trump conclusivamente ou, então, se Trump renunciar – o
que acontecer primeiro.
Esses
inquéritos tem um modo só seu de sofrer mutações, lentamente, na câmara de
combustão. Comey admitiu que é difícil para ele "dar aos senhores uma
previsão confiável de quando estará concluído." E há também uma subtrama –
o próprio Comey está sendo investigado pelo Departamento de Justiça dos EUA.
O
próximo grande dia será 28 de março, quando duas coloridas personalidades no
sistema de inteligência durante o governo Obama – o ex-diretor da inteligência
nacional James Clapper e o ex-diretor da CIA John Brennan –
comparecerão ao painel da Câmara de Deputados. Os dois foram utilíssimos na
avaliação, em janeiro, de que, sim, os russos teriam intervindo nas eleições
presidenciais, numa tentativa para beneficiar Trump. Clapper tem considerável
currículo de perjúrios; e Brennan é poodle de Barack Obama. Deve-se
esperar que os dois recorram a insinuações contra Trump e parceiros, batendo
diretamente onde mais dói. (Sessão será transmitida "ao vivo".)
Em
minha avaliação, é hora certa para começar a pensar em mundo sem
"América". Quero dizer, um sistema internacional do qual os EUA
estejam suspensos, pagando pena de "tempo fora do jogo". É bom?
Ora... Já está tendo algum efeito salutar sobre o clima internacional. As
tensões globais reduziram-se consideravelmente. Se virou lugar comum nos tempos
de Obama discutir uma guerra potencial entre Rússia e os EUA, inclusive guerra
nuclear, hoje já ninguém se excita com essas coisas.
Pode-se
argumentar que, se a guerra civil nos EUA prosseguir com a selvageria que se viu
até agora, entre as elites do país, e se a luta fratricida prosseguir por mais
quatro ou oito anos – idealmente, durante todo o tempo que Trump permanecer na
presidência – será como uma bênção para a comunidade mundial. Nunca mais o
mundo terá de ouvir a cantoria de que o mundo não sobrevive sem os EUA. E as
elites governantes, em países como a Índia, também terão a oportunidade de
habituar-se a viver sem "América".
Claramente,
o "excepcionalismo" dos EUA estaria exposto como a total falcatrua
que é. Segundo, quanto mais durar a guerra civil, menor a possibilidade de
intervenções militares pelos EUA em outros países. Bem obviamente, vimo semana
passada que a pode superar os EUA na missão de "manter a cabeça fria"
e não inventar guerras contra a Coreia do Norte. Para mim, o secretário de
Estado dos EUA Rex Tillerson parecia aliviado, no momento em que concordou com
os chineses, para os quais a única escolha é insistir na via diplomática no que
tenha a ver com o problema Coreia do Norte.
Mais
uma vez, está aparecendo certo grau de previsibilidade nas relações China-EUA,
dado que a última coisa que Trump deseja agora é conflito com a China. Também
para nós asiáticos, é extraordinariamente gratificante que não haja guerra à
vista na região. Foi o que disse o porta-voz do Ministério de Relações
Exteriores da China hoje cedo, em reunião de briefing com a mídia em
Pequim:
Durante
a estadia do secretário de Estado Tillerson na China, os dois lados
estabeleceram um claro consenso no sentido de garantir desenvolvimento claro
das relações China-EUA num novo ponto de partida, em espírito de não conflito,
não confronto, mútuo respeito e cooperação ganha-ganha. Não deve ser
interpretado como vitória de qualquer dos lados. Trata-se apenas do modo
correto de China e EUA, dois grandes países, conviverem. Não conflito, não
confronto, mútuo respeito e cooperação ganha-ganha resumem a razão do
crescimento constante dos laços China-EUA em anos recentes, que devem ser
levados adiante e desenvolvidos. Gostaríamos de ampliar a comunicação, a
compreensão e a confiança mútuas com os EUA, de modo a trabalharmos
adequadamente as diferenças, expandirmos a cooperação bilateral, regional e
internacional e elevar as relações China-EUA a patamar mais alto, num novo
ponto de partida.
É
visível que o nível de conforto em Pequim está subindo de modo palpável.
Finalmente, há também outros bons sinais, não visíveis a olho nu, mas nem por
isso menos importantes. Nas condições de guerra civil nos EUA, com tanta poeira
e tanto ruído no ar em Washington, e visibilidade tão baixa em todos os
lugares, Trump vai silenciosamente fazendo algumas poucas coisas à margem – que
ele prometeu fazer.
Boa
amiga minha, que observa Síria e Iraque com binóculos 24 horas/dias, sete dias
por semana, escreveu-me há alguns dias que Trump está fazendo algumas coisas
incríveis lá pela vizinhança de onde ela vive. Aqui parafraseio e resumo a
avaliação dela:
Trump
realmente deu prioridade à luta contra o terrorismo. Está trabalhando em
silêncio (...) A CIA fechou totalmente a torneira das armas para
rebeldes na Síria, e os EUA estão realmente bombardeando a Al Qaeda e grupos
dela aliados – algo que Obama dedicadamente evitou fazer (e tentou impedir que
Rússia/Síria/Irã fizessem.) Assim também, Trump está bombardeando a Al-Qaeda no
Iêmen. E no Iraque Trump postou-se de lado, enquanto o grupo Hashd ash-Shabi
treinado pelo Irã vai aniquilando o ISISno oeste de Mosul e cortando o
caminho do ISIS para a Síria. Obama, ao contrário, não deixou que o
grupo Hashd combatesse várias dessas batalhas. Agora Trump não apenas deu luz
verde, mas agora se vê a Força Aérea do Iraque participar de raids de
bombas anti-ISIS também na Síria. Dito em poucas palavras: se as políticas
do governo Obama não apenas deram origem ao ISIS e à Al-Qaeda no
Iraque e Síria, Trump agora está realmente combatendo contra aqueles
terroristas e, muito importante, está permitindo que os inimigos regionais dos
EUA – o Irã e grupos de milícias apoiadas pelo Irã – combatam também, sem
qualquer impedimento, contra os terroristas.
Enquanto
isso, Tillerson provavelmente estará em Moscou dia 12 de abril. Como diz o
ditado, os cães ladram, mas a caravana passa. A comunidade mundial não poderia
querer mais.
Sim,
sempre há elementos que não se encaixam – britânicos e alemães, por exemplo.
Mas é perfeitamente compreensível. Esses percebem que Trump os vê como forma
inferior de vida – abaixo de piolhos e carrapatos. Esses desejam ardentemente
que Trump seja derrotado na guerra civil, e que seja derrotado bem rapidamente.
Sem os EUA a liderá-los, aqueles países temem perder a força gravitacional que
os mantêm nas respectivas órbitas, na política mundial. Para nós, asiáticos, as
coisas também parecem promissoras. Esperemos que a cortina esteja mesmo se
fechando sobre o "ocidente" que conhecemos na história moderna.
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