Alegado
caso de violação da Lei de Probidade Pública pelo ministro moçambicano dos
Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, está a alimentar uma grande
polémica no país. Mesquita diz que "não tem nada a esconder".
O
caso está relacionado com o facto do ministro dos Transportes e Comunicações,
Carlos Mesquita, ter assinado, na qualidade de titular da pasta, memorandos que
concedem facilidades às suas próprias empresas, a Cornelder de Moçambique e
Cornelder Quelimane.
Os
referidos memorandos prevêm uma redução nas tarifas portuárias e na prestação
de serviços de cabotagem, que variam entre 40 e 60%.
Ao
deliberar esta semana sobre o caso, a Comissão Central de Ética Pública
confirmou a existência de conflito de interesses e remeteu o processo ao
Gabinete Central de Corrupção.
O
ministro Carlos Mesquita já reagiu a esta decisão. Afirmou que a assinatura dos
memorandos tinha sido pública e foi feita com toda a transparência necessária.
Mesquita
disse ainda que a concessão de facilidades nas tarifas portuárias e na
prestação de serviços resultou de uma decisão do Governo que mandatou o seu
Ministério para executar o trabalho.
Esclarecimento
definitivo da situação
Ele
refere que não tem "absolutamente nada a esconder quanto a esse
assunto" e acrescentou que está aberto a prestar todo o apoio e
colaboração para o esclarecimento definitivo da situação.
Para
o maior partido da oposição, a RENAMO, teria sido lícito que Carlos Mesquita
não tivesse aceite ocupar o cargo de ministro dos Transportes e Comunicações
porque "é uma área em que ele tem interesses.”
O
porta-voz da RENAMO, António Muchanga, disse a DW África que "o Governo
tem um ministro do Pelouro que tem que assinar os acordos. Só tinha que ser
ele. Entretanto, ele devia ter declarado a escusa, fazer ver o Governo que ele
tem interesses naquela área, portanto não é a pessoa indicada para assinar o
acordo".
Muchanga
admitiu por outro lado, que uma das consequências de tal decisão seria "se
calhar poderia significar que o Presidente da República o exonerasse do lugar
para indicar outra pessoa".
António
Muchanga, defende ainda que as entidades legais, o Gabinete de Combate a
Corrupção, têm que se pronunciar. "A própria Comissão de Ética tem que
aconselhar o Governo a tomar uma atitude: ou ele efetivamente abandona a
sociedade [na empresa Cornelder] para ficar ministro ou deixa aquele Ministério
e passa para outro ou sai então do Governo."
"Ninguém
está acima da lei"
Recorde-se
que a Comissão Central de Ética tem ainda em mãos um outro caso de alegada
violação da Lei de Probidade Pública envolvendo o ministro dos Transportes e
Comunicações, Carlos Mesquita.
Este
outro processo, que não está encerrado, tem a ver com a contratação de uma
empresa de transportes da família de Carlos Mesquita, por ajuste direto, para a
prestação de serviços de carga ao Instituto de Gestão de Calamidades (INGC),
violando mais uma vez, ao que tudo indica, a Lei da Probidade Pública. A alinea
a) do artigo 25 desta lei diz que o servidor público está proibido de usar o
poder oficial para conferir privilégios para si próprio, seus familiares ou
amigos.
Questionado
recentemente sobre o assunto, o Primeiro Ministro, Carlos Agostinho do Rosário
escusou-se a fazer qualquer comentário.
Agostinho
do Rosário remeteu o caso às instâncias competentes, nomeadamente a Comissão de
Ética e a Procuradoria-Geral da República, mas afirmou que "ninguém está
acima da lei".
A
DW África ouviu igualmente o analista Tomás Vieira Mário. Ele considera
positivo que o ministro tenha reagido de forma serena ao veredito da Comissão
Central de Ética, mas acrescenta "não me parece que o senhor ministro
possa ficar, digamos assim, ilibado de responsabilidade invocando que cumpriu
apenas uma ordem do Governo. As ordens do Governo devem ser certificadas de que
são legais. Tal como ordens de qualquer outra entidade, deve-se verificar a sua
legalidade antes do seu cumprimento."
Leonel
Matias (Maputo) – Deutsche Welle
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