O
Presidente de Moçambique está de visita ao Japão e, entre outras coisas, leva
na bagagem "uma dor de cabeça": o ProSavana. Maputo não mede esforços
para concretizar o projeto agrícola e a sociedade civil para o parar.
Filipe
Nyusi viaja a convite do primeiro-ministro nipónico, Shinzo Abe. A visita
oficial de quatro dias visa o reforço da amizade e das relações de cooperação
entre Moçambique e o Japão, segundo a Presidência moçambicana. O Estadista
faz-se acompanhar por uma comitiva composta por vários ministros e
vice-ministros. Parcerias novas podem estar em vista em diversas áeras, com
destaque para o setor do gás.
Entretanto,
há o projeto agrícola ProSavana, que envolve o Japão e o Brasil e prevê o
desenvolvimento de uma agricultura industrializada em 700 mil hectares de
terras, principalmente no norte de Moçambique. Mas o projeto tem causado muita
polémica em Moçambique. Entre vários motivos, ele é contestado por supostamente
prejudicar o meio ambiente e empurrar os camponeses para terras marginais.
A DW
África conversou sobre as expetativas em relação ao ProSavana no âmbito da
visita de Nyusi com o coordenador da Ação Académica para o Desenvolvimento das
Comunidades Rurais (ADECRU) e membro da Campanha Não ao ProSavana, Jeremias
Vunjanhe.
DW
África: O Presidente Filipe Nyusi está de visita ao Japão num momento em que o
projeto ProSavana, financiado também pelo Japão, está em águas pouco claras.
Espera-se um novo rumo para o projeto com esta visita?
Jeremias
Vunjanhe (JV): Em princípio, sim, por aquilo que é a posição oficial. A
visita acontece depois do Governo de Moçambique ter enviado duas
delegações: a primeira nos finais do ano passado, chefiada pela vice-ministra
da Agricultura, e a segunda no início deste ano, chefiada pela vice-ministra
dos Negócios Estrangeiros. Isso quer dizer que todas as tentativas fracassadas de
desbloquear o financimento para o avanço do ProSavana, sobretudo na sua
componente do plano diretor, acredita-se que aconteça neste momento com a
visita do Presidente da República, que entre outras coisas obviamente irá
tratar das questões do ProSavana, da Misui, da provável entrada na
produção de gás na Bacia do Rovuma e também em relação ao projeto de
desenvolvimentos das estratégias do Corredor de Nacala, que tem sido visto com
um grande impulsionador económico, sobretudo daquela região.
DW
África: Trata-se de uma visita de Estado, em que o Presidente está acompanhado
de vários ministros e vice-ministros. Não há menção na imprensa de
representantes da sociedade civil envolvidos no ProSavana na sua comitiva. No
momento de diálogo e de alcance de acordos, a ausência dessa voz pode ser ainda
mais penalizadora para o país?
JV: Esta
exclusão da sociedade civil é o reflexo do que tem acontecido em Moçambique.
Penso que o Governo de Moçambique tem estado a ser coerente com a sua própria
estratégia de não querer dialogar com organizações e cidadãos que não assumem a
posição do Governo. Penso que nesta ida ao Japão poderão estar alguns membros
do Mecanismo de Coordenação da Sociedade Civil do Corredor de Nacala. Mas se se
vier a confirmar que não há nenhum membro da sociedade civil ligado à Campanha
Não ao ProSavana, então significa que o Governo insiste em manter a sua
estratégia de não ter diálogo a nível interno, mas ao mesmo tempo tentar passar
uma [boa] imagem ao nível internacional.
DW
África: No meio da contestação ao ProSavana, surgiram entretanto duas fações ou
alas, que até já fez menção a elas anteriormente: o Mecanismo de Coordenação da
Sociedade Civil do Corredor de Nacala e a Campanha Não ao ProSavana.
A falta de uma posição única por parte da sociedade civil moçambicana não
vem minar a luta contra o ProSavana?
JV: Em
princípio, acredito que não. E penso que não se trataria de uma facção, penso
que se trata sim de um processo de aliciamento e cooptação de uma parte das
organizações da sociedade civil que faziam parte da Campanha Não ao ProSavana.
Quero dizer, os proponentes do ProSavana, o Brasil, Moçambique e sobretudo o
Japão, através da Agência Internacional para a Cooperação Internacional,
consequiram aliciar uma parte significativa das organizações que faziam parte
da Campanha Não ao ProSavana, sediadas no Corredor de Nacala, fornecendo
recursos financeiros, inclusive contratando organizações da sociedade civil
para que sejam essas organizações a liderar toda a componente de divulgação
do ProSavana de discussão do plano diretor nas comunidades.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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