O
economista Francisco Louçã disse hoje que Portugal "não tem nenhuma
possibilidade de sustentar os juros da dívida", se a mesma não for
reestruturada, estando a ser exigido o que nenhum outro país europeu alguma vez
conseguiu.
"Portugal
está hoje numa situação que não tem sentido, porque não tem nenhuma
possibilidade de sustentar os juros da dívida. Estão a pedir a Portugal que
responda à dívida que foi acumulada pelo aumento dos juros, com uma política
que nenhum outro país conseguiu fazer", afirmou o antigo coordenador do
Bloco de Esquerda
Louçã
falava na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda sobre "Os
riscos da economia portuguesa e os remédios possíveis", tendo considerado
a dívida e o sistema financeiro os dois grandes riscos para a economia
portuguesa.
Quanto
à primeira, sublinhou que "não há nenhuma economia europeia, nem a grega,
que tenha um pagamento de juros tão importante na escala do seu produto"
como a portuguesa e que, para chegar a uma dívida de 60% do Produto Interno
Bruto (PIB) como obrigam os tratados, teria de ter todos os anos um 'superavit'
primário (excedente das receitas dos impostos sobre as despesas do Estado) a um
nível que nem a Alemanha conseguiu manter, no espaço de 15 anos.
"Nenhuma
empresa aceita um juro acima daquilo que consegue produzir", ilustrou o
catedrático de economia e membro do Conselho Consultivo do Banco de Portugal na
palestra em Águeda, um concelho fortemente industrializado, defendendo que os
juros devem ser adequados ao crescimento da economia.
"Se
o juro da dívida não fosse de 3,5% ou 4%, mas sim de 1%, o que o Banco Central
Europeu pode aceitar sem qualquer dificuldade, Portugal reduziria a dívida em
cerca de 40% do seu produto [interno bruto]", concretizou.
Sobre
o sistema financeiro, Francisco Louçã disse ter um problema particular: "O
sistema bancário que opera na nossa economia, com a aquisição do Novo Banco por
um fundo norte-americano, passa a ter apenas 25% de capital detido por
nacionais".
Explicou
que não é por uma posição de princípio contra os estrangeiros, mas que o
problema está no facto de os bancos, ao criar crédito, ficarem com conhecimento
estratégico, que pode ser determinante na disputa do mercado globalizado pelas
empresas nacionais.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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