segunda-feira, 19 de junho de 2017

A TRAGÉDIA DÓI | 62 mortos, 62 feridos. A trovoada seca e a estrada mais triste de Portugal



Expresso... curto - se considerarmos as dimensões gigantescas das tragédias em Pedrógão e arredores. Só quem não tiver consciência ficará indiferente ao que aconteceu e continua a acontecer naquela região. Infelizmente esses tipos e tipinhas existem. 

Agora anda-se à procura dos culpados… Santa ignorância aos que nem por sombras imaginam os poderes de destruição das forças da natureza. Ainda mais se nos pusermos a jeito e em condições de aumentar a catástrofe. Os eucaliptos, senhores. A falta de limpeza das propriedades privadas que mesmo sendo evidente não lhes caem em cima com coimas das pesadas ou até expropriação. Fazer que fazem não resulta. Ou é ou não é. Políticos e governos de faz-de-conta que temos tido, que andam de abraços e beijocas aos das celuloses e outros que são o grande capital é que têm sido os principais incendiários. Mas desta foi o raio. E foi. A inspirar-nos para "o raio que os parta!"

Como não estamos para muito mais palavras recorremos ao pão, pão, queijo, queijo, do parágrafo de abertura do Expresso Curto da responsabilidade e tristeza de Martim Silva. Adiante e até amanhã. Talvez. Porque nada é certo nesta vida e neste mundo.

“Hoje não é um bom dia e este é um Expresso Curto bem amargo (como se percebe pela foto que aqui coloco, do Marcos Borga, um dos repórteres do Expresso no local do incêndio de Pedrógão Grande)”

MM | PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Martim Silva | Expresso

62 mortos, 62 feridos. A trovoada seca e a estrada mais triste de Portugal

Hoje não é um bom dia e este é um Expresso Curto bem amargo (como se percebe pela foto que aqui coloco, do Marcos Borga, um dos repórteres do Expresso no local do incêndio de Pedrógão Grande)

Apesar de este ser infelizmente um país de incêndios florestais frequentes, intensos e violentos, o que aconteceu no sábado à noite permite algo como este título: "não há memória de um incêndio assim". O balanço foi sendo revisto ao longo do fim de semana e está agora em 62 mortos e outros tantos feridos. A maioria das vítimas mortais encontrava-se em carros que se viram cercados nos percursos entre Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera. Os relatos que lemos, vemos e ouvimos são impressionantes. O país está oficialmente de luto três dias. O incêndio prossegue e ainda está longe de controlado. E entre os relatos de dor, discutimos muito as causas e os porquês disto tudo e o que fazer agora.

O que aconteceu

Como começou o incêndio de Pedrógão? Até agora a resposta é 'trovoada seca' e a PJ foi célere em garantir que tudo começou num raio que atingiu uma árvore. O MP já deu início a uma investigação criminal, o que não significa obviamente uma contradição, dado o elevado número de mortes violentas, que obriga precisamente a este tipo de procedimento.

Aqui e aqui pode perceber rapidamente a cronologia das horas fatais.

Dos ínumeros testemunhos lidos e ouvidos ao longo do dia de ontem, vale a pena fixar este, de uma mulher que voltou ao local para contar como conseguiu escapar com vida do carro onde estava. "O lume agarrou-se ao cabelo".

Destaco também estas notas de reportagem escritas pelos jornalistas do Expresso que foram de imediato para o local (Ricardo Marques, Christiana Martins e Hugo Franco - a somar ao pessoal da fotografia Marcos Borga, Lucília Monteiro, Rui Duarte Silva). Em NodeirinhosAvelar, outra vez em Avelar, e ainda na "Estrada mais triste de Portugal" (sim, aquela em que vemos um conjunto de carros calcinados...) e com a mulher que salvou sete pessoas da morte.

Este piloto é claro ao garantir que o que se passou no local foi absolutamente anormal e, mesmo, algo nunca visto.

Embora ainda sejam escassas as informações sobre as vítimas, uma autarca de Castanheira de Pera revelou queboa parte seriam turistas e não residentes no local.

No sábado à noite, mal soube do sucedido, Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se ao local e trocou um sentido abraço com o secretário de Estado da Administração Interna (aqui pode ficar a saber melhor quem é Jorge Gomes). Ontem, mais formal, falou ao país neste "momento de dor e de combate". E prometeu já hoje voltar ao terreno.

Se não inédito, pelo menos muito pouco habitual foi o clima de verdadeiras tréguas políticas a que assistimos nas últimas horas. O Público lembra-o e bem. O mesmo faz o DN na edição de hoje.

Observador explica quem são e o que fazem as equipas especializadas na identificação dos corpos. Ainda neste jornal digital, vale a pena olhar para esta reportagem no terreno.

As consequências

As causas e as consequências do que aconteceu são outro ponto forte do debate das últimas horas. O que fazer com a ministra? Temos os meios suficientes e adequados?

As interrogações são muitas mas do que li parece-me que o ângulo mais sério, profundo e importante é o que se prende com a avaliação do estado da nossa floresta, o estado a que a deixámos chegar e as medidas que podemos tomar para a tornar menos perigosa (ainda no ano passado, depois de uma época de incêndios intensa, o Governo anunciava medidas que iam até ao tirar das terras a quem não as tratasse convenientemente).

Estaremos condenados a ver as tragédias repetirem-se? A pergunta é do editor de Internacional do Expresso, Rui Cardoso, que recorda o terrível incêndio de Águeda em 1986 e o que mudou desde então. Aqui pergunta-se o que é que falhou este sábado.

Embora discorde totalmente deste artigo de opinião do meu colega de direção aqui no Expresso Nicolau Santos, que se apressou a pedir a demissão da ministra da Administração Interna, é um ângulo de abordagem ao assunto que merece referência. Em sentido oposto, o Daniel Oliveira escreve, em texto a publicar esta tarde no Expresso Diário, que “Precisamos de responsabilidades e de consequências. Precisamos de ordem. Mas há um tempo para todas as coisas. Este é o tempo dos mortos. Porque precisamos disso e estamos a deixar de saber fazê-lo, sempre com a pressa de sermos os primeiros a dizer qualquer coisa relevante”.Também o Pedro Santos Guerreiro escreveu a sua opinião sobre a tragédia.

Aqui critica-se o fim dos serviços de guardas florestais (tecla em que também Marques Mendes bateu).

Como explicar a tragédia às crianças? A resposta está no DN.

A solidariedade

Perante a onda de solidariedade que rapidamente se fez sentir, o Expresso fez este artigo a meio da tarde em que explicava as movimentações da sociedade civil no sentido de ajudar. Figuras públicas também se associaram, como o treinador de futebol André Villas Boas, que doou 100 mil euros. Ou Aga Khan, que doou 500 mil euros.

À noite, a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, teve de vir a público pedir às pessoas que deixassem de enviar comida, porque o problema estava a tornar-se oposto: excesso de mantimentos que colocavam dificuldades logísticas.

O Papa Francisco também transmitiu a sua solidariedade ao "querido povo português" perante os acontecimentos.

As imagens de drone captadas pela SIC são das melhores do local.

Nos jornais de hoje o impacto da tragédia é refletido de forma esmagadora (na véspera nem todos conseguiram devido à hora tardia). O i faz a sua capa toda a negro, o DN opta pelo oposto, uma primeira integralmente branca, e o Público coloca uma foto de um automóvel incendiado e pergunta "Porquê?"

OUTRAS NOTÍCIAS (existem mesmo outras notícias hoje?)

Cá dentro,

Como um mexicano nos roubou aquela que poderia ter sido a única boa notícia do dia. Assim titula a Tribuna a crónica do Portugal-México, da primeira jornada da Taça das Confederações, que terminou empatado a dois

Três mestrados em Finanças da nossas universidades integram o ranking de melhores do mundo que é elaborado pelo Financial Times.

Portugal paga oito vezes mais ao FMI do que pagaria no mercado, afirma o Negócios.

Em época de exames escolares, o Público pergunta se esta forma de avaliação dos alunos pode ter os dias contados.

Sem nenhuma relação ou semelhança com os incêndios, um raio atingiu ontem Leça da Palmeira, junto ao Porto, alarmando a população.

Faleceu Carlos Macedo, antigo ministro dos Assuntos Sociais e fundador do PSD.

Lá fora,

Um morto e oito feridos é o balanço de um “potencial ataque terrorista” em Londres. Uma carrinha abalroou peões junto a uma mesquita no norte de Londres e elementos da população detiveram o condutor, entregando-o às autoridades, que admitem poder-se tratar de novo ataque terrorista de cariz islâmico.

Em França, a segunda volta das eleições legislativas confirmou a maioria absoluta para o partido liderado por Emmanuel Macron, que assim tem maior margem para a sua governação - uma maioria, um presidente. Dado significativo de nota é, por um lado, a queda incrível do PS, que fica com pouco mais de 40 deputados (tinha sete vezes mais) e o facto de Marine Le Pen ter sido eleita pela primeira vez para a Assembleia Nacional. Jorge Almeida Fernandes analisa o resultado do escrutínio e fala em “mudança radical e fim de um ciclo político”.

Pedro Sanchez confirma-se como líder incontestado (pelo menos para já) dos socialistas espanhóis, que estiveram reunidos em congresso este fim de semana.

Hoje é o diz em que União Europeia e Reino Unido iniciam formalmente as negociações do Brexit, na sequência das recentes eleições no país em que Theresa May e os seus Conservadores ficaram sem maioria parlamentar, sendo forçados a um acordo com os unionistas irlandeses para se manterem no poder. Será que, como muita gente vaticina, as condições para um brexit hard, como defendia May, deixaram de existir e o que vamos assistir é a algo muito mais suave?

2016 foi o ano com mais gente deslocada à força.

Uma colaboradora próxima de Trump, de nome Lynne PAtton, que organizava torneio de golf para Trump e foi a responsável pelo casamento de um filho do presidente dos EUA foi agora nomeada para o considerado decisivo departamento governamental de Habitação.


Ainda sobre as novidades na trumpland, o genro de Trump Jared Kuschner prepara uma deslocação a Israel e à Palestina.

FRASES

“O inferno que mostravam quando era pequeno na catequese vi-o aqui”, Valdemar Alves, presidente da Câmara de Pedrógão Grande

“É preciso convencermo-nos que deixámos criar uma floresta assassina”, Vital Moreira, constitucionalista

“A nossa dor neste momento não tem medida”, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

“Eu transmito a minha proximidade ao querido povo português, atingido por um incêndio devastador”, Papa Francisco

“Estou chocado e horrorizado com a quantidade de vidas que se perderam”, António Guterres, secretário-geral da ONU

O QUE ANDO A LER

Nos últimos dias, deixei-me prender pelo primeiro volume da biografia da dinastia Romanov, que comandou a Rússia do início do século XVII até 1917. “Os Romanov 1613-1825, A Ascensão”, de Simon Sebag Montefiore, editado pela Editorial PResença
Uma incrível história de luta, de poder, de uma corte viciada na intriga, em que o envenenamento era arma política, e em que a violência, mesmo entre familiares, era não só comum como particularmente bárbara.

Mais um incrível livro de história a sair da pena de Simon Sebag Montefiore (autor de obras como Estaline, que o Expresso distribuiu recentemente) e que nos agarra pela escrita, pela minúcia da investigação e pela capacidade de nos transpor para dentro dos muros do Kremlin. O grande personagem que emerge deste livro é Pedro, o Grande. Autocrata brutal, genial, o impulsionador da modernização da Rússia, criador de São Petersburgo, amante de orgias de embriaguez intermináveis, cruel até ao limite, capaz de assassinar o próprio filho.

Neste ano em que se assinalam os 100 anos da Revolução Soviética na Rússia (que põs termo de forma sangrenta ao reinado dos Romanov), eis uma leitura absolutamente imprescindível.

Por hoje é tudo, ao longo do dia cá estaremos para atualizar o que se passa em Portugal e no mundo. Pelas seis da tarde, tem o Expresso Diário.

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