domingo, 19 de novembro de 2017

Angola | 11 DE NOVEMBRO DE 1975 – UMA EPOPEIA DECISIVA - II



Martinho Júnior | Luanda

Em saudação ao 11 de Novembro de 2017, 42º aniversário da independência de Angola, com uma atenção especial em relação a Cabinda.

Nota prévia:

Há questões que os historiadores, que se debruçam sobre os fenómenos da colonização e da descolonização, parece deixar deliberadamente em aberto, ou abordar “de-ânimo-leve”, por que elas respondem às sensibilidades no sul, quando eles, no mínimo por que prevalece uma “lei do menor esforço” (e não é só isso, são questões doutrinárias e ideológicas que estão em jogo), se limitam à focagem que vai interessando, ou é da conveniência ao norte!

Perguntas sobre a mesa:

Há também aí o impacto da preocupação sobre o “mercado”?... só se vendem novidades quando elas se coadunam com as sensibilidades correntes a norte?

A visão sustentada pelos argumentos a sul “não dão lucro”?

Estaremos nós a sul atentos a esse fenómeno que coloca em tensão os renitentes estruturalistas face a face àqueles que perfilham as fórmulas dialécticas de abordar as questões históricas?

Teremos capacidade crítica para tocar nessas “feridas”?

Há em relação a Cabinda coisas deliberadamente escondidas que possibilitam a mentalidade sistematizada de ingerência e manipulação na tentativa de inibirem as capacidades do movimento de libertação em África e apoiarem a subversão em torno da(s) Flec(s)?

Quando a este nível se está presente em debate de ideias no âmbito do interminável diálogo norte – sul, por que razão os historiadores a norte se têm sentido inibidos ao retrair o leque de suas fontes, num ambiente cada vez mais disponivelmente globalizado?

Estarão ou não esses historiadores a produzir obra que é uma sequência contemporânea da linha panfletária da “a-psic” colonial?

Até que ponto se passou da descolonização físico-geográfica para a descolonização mental?

Por que razão, apesar de tanto manancial informativo, os historiadores a norte estão a esquecer que as autoridades coloniais portuguesas ao assumirem “a africanização da guerra” têm que ver com a orientação dos etno-nacionalismos (no caso angolano têm que ver com a FNLA, com a UNITA e com a FLEC), contra o movimento de libertação em África e, em Angola, deliberadamente contra o MPLA?

Por que razão os historiadores portugueses de contingência, esquecem-se da abordagem do historiador René Pélissier que destrinçou movimento de libertação dos etno-nacionalismos?

Porquê tanta auto-censura, ainda hoje, a norte, no Portugal do 25 de Novembro de 1975?

Não será a questão de Cabinda um constante e disponível “cavalo de tróia” semeado pelo mais obscurantista e conservador colonialismo, na tentativa do náufrago Diogo Cão das caravelas sobreviver à tona de qualquer líquido até hoje?

Por quê e para quê a persistência deste contencioso sempre latente

Prova contemporânea do saudosismo colonial que é cultivado pela mentalidade não descolonizada e filtrada a partir dos Estados Unidos – “SANZALANGOLA” – https://www.facebook.com/groups/96499976034/


...

4- Conforme explica John P. Cann em “O modo português de fazer a guerra”, a contrassubversão do colonialismo português implicou, para além da quadrícula de ocupação militar e da intervenção com unidades especiais das Forças Armadas Portuguesas, a integração dum conjunto de dispositivos de angolanos (recrutamento local) e de outras nacionalidades, abrangidos pelos conceitos e capacidades “operativas”, assim como pela manobra de “a-psic” e “contrassubversão” assimétrica e com “geometria variável”.

Logo em 1961, apesar da surpresa mas tirando partido do estágio do espanto e do terror, foram integrados nos dispositivos improvisados e expeditos de defesa das fazendas no norte do país os “fiéis bailundos” e a contento as autoridades chegaram até a formar nos Dembos (Quibaxe), a “Brigada Salazar”, que na época serviu os desígnios da contrapropaganda colonial.

Nas áreas rurais foi implantada pouco a pouco a Organização Provincial de Voluntários da Defesa Civil de Angola (OPVDCA)…

Até 1974 o colonialismo integrou paulatinamente os “Fiéis catangueses” (efectivos refugiados que haviam servido o fantoche Moise Tschombe no Catanga), os “Leais” (efectivos refugiados de origem zambiana, barotse), os “Flechas” (recrutamento bosquímano no Cuando Cubango e sul do Moxico) e, refinadamente, por via da Operação Madeira, deram enquadramento a Savimbi e à UNITA…

Enquanto os “Fieis catangueses”, os “Leais” e os “Flechas” eram adicionados aos dispositivos de quadrícula e intervenção por todo o leste de Angola (Lunda, Moxico e Cuando Cubango), o colonialismo português tirou partido da implantação de Savimbi mais ao centro do país (Bié), próximo da nascente do Lungué Bungo e já na região central das grandes nascentes, articulando todo o expediente de contrassubversão essencialmente organizando obstáculos à penetração do MPLA conjugando os distintos esforços operacionais de todos os intervenientes, a partir desse fulcro (triângulo leste do quadrilátero angolano, constatem aqui neste “caso de estudo”, a publicação “Cooperação civil militar na contra insurreição: leste de Angola, 1971 1973”).

Como a PIDE/DGS e as Forças Armadas Portuguesas tinham missões e objectivos distintos, a informação genérica e o acompanhamento da evolução da situação passou a ser tarefa dos SCCIA, Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Angola, organizados em função da estrutura do quadro administrativo cobrindo todo o território, como instituição vocacionada para as acções correntes que iam desde o inventário sócio-administrativo, ao reordenamento humano, até ao reordenamento rural (“sanzalas da paz”) e à “a-psic”.

O enquadramento deliberado de organizações etno-nacionalistas como a UNITA e como a FLEC (TE), permitiu projecções futuras em relação às quais, depois do 25 de Novembro de 1975, a social-democracia portuguesa, duma maneira ou de outra, foi tirando partido para levar a cabo ingerências e manipulações, quer enquanto durou Mobutu, quer enquanto durou o “apartheid”, quer com Bicesse e depois de Bicesse, até aos nossos dias!

5- Para Cabinda o colonialismo tirou partido da experiência que ia acumulando e criou as Tropas Especiais com um sentido híbrido de “contrassubversão” assimétrica e com “geometria variável”, adaptado à pequenez do território, às vulnerabilidades do Congo e do Zaíre, ao aproveitamento da existência de facções na FLEC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda), após formação desta em 1963, fazendo fermentar mais um etno-nacionalismo para Angola e por fim, tirando partido para efeitos de recrutamento e mobilização, da estratificação social implementada, com a disponibilidade dum restrito quadro de “assimilados” e um relativamente mais amplo manancial de “indígenas”.

Disseminar etno-nacionalismos fazia parte integrante de “O modo português de fazer a guerra”, mas esse assunto só muito superficialmente veio aflorado nesse livro… até onde temporalmente chegou o espectro da censura da PIDE/DGS, que evitou esse tipo de “dissabores” antes, como nas mentes dos pesquisadores e historiadores depois do 25 de Abril de 1974…

Só com bastante pesquisa de dados, contínua investigação, clarividência e espírito crítico pesando tudo repetidas vezes nos pratos das balanças, se pode chegar hoje a essa conclusão: a internacional fascista fez tudo para semear “post mortem” sequelas jamais previstas pela imaginação!

Se para o MPLA a sua IIª Região Político Militar era considerado um “laboratório”, do outro lado, o lado mais refractário do“front” internacional fascista, também o era nas exigências das contramedidas face aos riscos, particularmente o risco mais contraditório, o do MPLA (por alguma coisa recorriam à interpretação da existência da “Guerra Fria” só quando abordavam as questões que se prendiam ao MPLA!).

As Tropas Especiais de Cabinda passaram a actuar numa região muito maior que o fulcro (território de Cabinda), a fim de confundir o MPLA e a FNLA e tiveram como comandante uma figura escolhida a dedo: Alexandre Taty.

De facto as autoridades coloniais portuguesas estavam a tirar partido da colocação em Kinshasa de um meio diplomático como António Monteiro, a coberto da Embaixada da Espanha representativa do regime fascista de Francisco Franco, situada muito próximo da sede da FNLA…

O perfil de Alexandre Taty, que foi nomeado como chefe das Tropas Especiais de Cabinda, adequavam-se homens e meios aos objectivos criados, explorando inclusive a confusão da existência das diversas facções da FLEC para se fazerem (ele e os seus subordinados) melhor passar como tal.


Os processos de “assimilação” e “indigenato” permitiam as variantes da “a-psic” aplicados na manobra de “contrassubversão”, influindo nos perfis e métodos de actuação operativa, quer a nível individual, quer a nível colectivo, pelo que a ideia de desalojar uns (no caso da FLEC uma das facções), para instalar os outros (as Tropas Especiais travestidas em FLEC), funcionava tal qual a lição dum pequeno animal que vive no fundo dos ambientes marinhos, o “casa alugada”, que desaloja o proprietário original da concha, para se instalar ele nela!...

Foi assim com Savimbi e a UNITA (o mesmo tipo de inventário de medidas mas com variantes adaptadas aos enredos da localização físico-geográfica-ambiental-humana da região central das grandes nascentes) e seria assim por parte de muitos outros que fluem seus interesses movimentando esse tipo de instrumentos “no terreno”, inclusive desde a inauguração, em finais da década de 80, dos impactos do capitalismo neoliberal nos processos de domínio da hegemonia unipolar.

Com a terapia neoliberal em curso, à ideia original do “casa alugada” nem o MPLA escapou, em função das transformações que se foram operando (por muitas razões se acabou com um Partido de Trabalho em vias de organização, para se fazer a trasladação após Bicesse para o “partido de massas que estamos com ele”)…

… Mas vale a pena voltar à ficha de Alexandre Taty, exposta em várias fontes, das quais escolhi a versão que melhor pode contribuir para esclarecer, a do livro “Contra-insurreição em África – 1961/1974, o modo português de fazer a guerra”, de John P. Cann, que merece ser aqui chamada (pag. 135), a fim de ilustrar o “enquadramento” conforme ao colonialismo português em Cabinda:

“Tropas Especiais

Chamadas Tropas Especiais (TE) devido à natureza especial do seu recrutamento, estar forças tiveram a sua origem na deserção, em1965, de Alexandre Taty, ministro do armamento da UPA/FNLA/GRAE e proeminente cabinda.

Taty, que estudara para padre e trocara a batina por um emprego nos correios, denotava uma grande propensão para as mulheres e para a bebida.

Roubou os correios para manter esses interesses e, quando foi descoberto fugiu para o Congo Belga; mais tarde, juntou-se à organização de Holden Roberto.

Depois tentou substituir Roberto e falhou; posteriormente, através de agentes portugueses da PIDE, negociou o perdão do roubo nos correios e o seu regresso a Angola.

Trouxe consigo cerca de 1.200 tropas leais, metade das quais permaneceram no Congo para reunir informações.

Taty foi fundamental para ajudar os portugueses a controlarem Cabinda e a adjacente fronteira norte de Angola.

As operações do outro lado das fronteiras eram rotineiras para as TE, totalmente compostas por tropas negras que não possuíam nenhum bilhete de identidade português.

As suas missões eram minuciosamente planeadas e preparavam-se para elas praticando nos seus campos a norte de Angola, em modelos de tamanho natural dos seus alvos”…

(Nota de rodapé: “general Joaquim Miguel Mattos Fernandes Duarte Silva, entrevistado pelo autor, 3 de Abril de 1995, Lisboa. Quando era major, o general Duarte Silva foi oficial de ligação do exército português à operação TE com o nome de código Lourenço, entre 28 de Janeiro de 1966 e 14 de Julho de 1967”).

6- Enquanto o general António Spínola (António Sebastião Ribeiro de Spínola) esteve no poder após o 25 de Abril de 1974 em Portugal, repartiu com o presidente do Zaíre, Mobutu, a colecção de “órfãos” e encargos que haviam sido utilizados contra o MPLA, algo que tem tudo a ver com o encontro do Sal (a 15 de Setembro de 1974), um obstáculo conspirativo de vulto à descolonização de Angola.

A historiadora Alexandra Marques, em “Segredos da descolonização de Angola”, entre outras coisas que falha nas abordagens (em nome do equidistância que se tornou só possível com o 25 de Novembro de 1975, mas não era possível com o 25 de Abril de 1974), é nesse enredo entre Spínola e Mobutu, que também cindiu o MFA, pelo que não explica as razões de como com o almirante Rosa Coutinho, as preferências terem recaído sobre o MPLA: por que não podiam recair antes de mais sobre os próprios spinolistas e suas acções, sobretudo as que sucederam ao colapso político daquele general!...

O almirante Rosa Coutinho, conhecedor do carácter de poder instalado em Kinshasa, na curta trilha que teve em Angola, compreendeu as razões da distinção entre etno-nacionalismos e movimento de libertação e, tal como foi anulando a acção dos spinolistas (entre eles a do brigadeiro Themudo Barata em Cabinda e a favor da FLEC), pouco a pouco foi mesmo favorecendo o MPLA, por colapso de opções por causa do auto-desmascaramento dos próprios etno-nacionalismos relativamente ao seu papel em função das ingerências e manipulações externas!…

A FLEC “ganhou asas” com o colonialismo português (Tropas Especiais), com os spinolistas, com Mobutu e com quaisquer outros sistemas de apoio que factores externos possam eventualmente produzir, de forma a aproveitar o argumento a fim de procurar tornar determinantes seus próprios interesses.

Essa é uma forma de sobrevivência que obriga a ideologias conformes às que a seu tempo as produziram, ideologias que estão bem presentes num quadro de globalização neoliberal como o que se está a viver.

A FLEC e a FNLA já estavam ao serviço de Kinshasa e só existiam em função das ingerências e manipulações externas emanadas de Mobutu, ou melhor por sua via (inclusive o grosso de sua capacidade militar eram as Forças Armadas Zairenses que supriam)… o MPLA, conforme a emergência popular em Luanda (onde havia fermentado a sua luta clandestina mais importante, a que teve de travar desde 1961), tinha na capital de Angola não só o seu reduto lógico, mas sobretudo a maior base de mobilização humana para as suas fileiras e isso é imperdoável que os historiadores não consigam cobrir, muito menos entender, também por que a tendência dos oficiais portugueses mais conservadores, parece que ainda hoje lhes “lavam o cérebro”: eles “esclareciam” na época e alguns ainda hoje, que a guerra em Angola estava por eles ganha!... Que ilusão!

7- É lógico que quando Spínola foi afastado da Presidência da Junta de Salvação Nacional, à sua maneira e de acordo com a sua estrita trilha de ingerências e de interesses Mobutu chamou a si “órfãos” e encargos, sobretudo em relação a Cabinda e norte de Angola, incluindo a FNLA (Holden Roberto), a FLEC de Nzita Tiago, os TE que nessa facção se integraram (às ordens de Alexandre Tati), o Daniel Chipenda em trasladação a favor do “apartheid” e até o ELP, sob liderança do coronel Santos e Castro, por que uma parte dos portugueses fazendeiros no norte de Angola fizeram opção por essa “corrente” ou projectos similares convergentes, não fosse gente que perfilasse as mais refractárias ideologias da ocasião!

Ainda que discretamente, Mobutu integrou também interesses sul-africanos nos seus projectos que de 25 de abril de 1974 a 11 de Novembro de 1975 foram sendo paulatinamente “reconvertidos”, até ao momento em que também ele ficou órfão de Spínola: da abandonada intenção de ataque ao colonialismo português que foi detectado em tempo pela aliança do Tratado que deu pelo nome de Exercício ALCORA, Mobutu configurava agora uma múltipla invasão, ingerência e manipulação, deixando-se instrumentalizar por Henry Kissinger e pela CIA (Operação Iafeature)!


A Operação Iafeature foi uma condicionante para a utilização da unidade de artilharia do “apartheid” que mais tarde actuou, sem efectividade, “extemporaneamente” no Ambriz (e foi evacuada por uma fragata do “apartheid” que acompanhava ao largo os acontecimentos em terra)!

Em Cabinda, o “Governador do Distrito” Tenente-General Manuel Freire Themudo Barata (à época brigadeiro), um assumido“cristão democrata” que mais tarde seria Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, toda a vida garantiu a orfandade que se lhe ofereceu com a exclusão do poder em Portugal do general António Spínola, ou seja, a sua “irremediável” aproximação à FLEC, fora dos acordos dos portugueses com as organizações angolanas… todas as características de ser um homem do “Le Cercle”disposto a “jogos africanos”, (à “boa maneira” de Jaime Nogueira Pinto, obreiro da efémera FRA, Frente de Resistência de Angola)!...

Não foi único nesse aspecto, se atendermos ao carácter de outros, conforme a entrevista do general Leonel Cardoso e coronel Amaro Bernardo, meio spinolistas, ou escondidos spinolistas (também de certo modo “repescados” no âmbito do 25 de Novembro de 1975)…

É de spinolistas, de meio escondidos spinolistas, ou de escondidos spinolistas que tem vindo a rezar a sequência do 25 de Novembro de 1975 em Portugal!

Os acontecimentos em Cabinda a favor da FLEC precipitaram-se graças ao seu papel no âmbito dessa orfandade e até ao fim de sua vida manteve as ligações e contactos com gente da FLEC e em acordo com a subtil aprovação e consonância do representante em vida da casa monárquica portuguesa!

É evidente que para isso valeu-lhe essa “repescagem” que foi feita e só possível ao sabor das correntes social-democratas portuguesas filtradas pela aristocracia financeira mundial, com o 25 de Novembro de 1975!

Constate-se, conforme “Segredos da descolonização de Angola – toda a verdade sobre o maior tabu da presença portuguesa em África”, da autoria de Alexandra Marques (pag. 92/94):

“Em Cabinda estava prestes a rebentar o primeiro confronto entre o MPLA e a FLEC.

Depois do 25 de Abril, o governador de Cabinda, João António Pinheiro, foi substituído pelo brigadeiro Themudo Barata.

O líder da FLEC, N’Zita, era um dos presos políticos libertados em Maio e abrira uma dependência em Cabinda.

O MPLA apenas dominava a região de Maiombe.

Em Agosto, num comício da FLEC, no Estádio Municipal, foi dito que todos os portugueses teriam lugar numa Cabinda independente e o governador até poderia ajudar na formação do futuro exército nacional.

Em marcha ordeira, os manifestantes dirigiram-se ao Palácio, onde Themudo Barata prometeu colaborar com activistas dentro dos condicionalismos impostos pelas suas obrigações!

N’Zita julgou ter carta-branca das autoridades locais e começou a formar um exército.

As Tropas Especiais, embora ainda dependentes das FAP, integravam-nos.

Em resposta, os angolanos de Cabinda do MPLA manifestaram-se pelo integrismo territorial de Angola: encontravam-se a apenas 120 quilómetros de distância e se decidissem fazer uma incursão até à cidade, haveria problemas.

Foi o que fizeram nos dias 29 e 30 de Agosto quando entraram em Cabinda 199 elementos do MPLA para conquistar a parte nordeste de Cabinda e nela instalar no interior o seu Estado-Maior.

Em 2 de Setembro, a FLEC apelou à população para não os deixar entrar – estabeleceu postos de controlo nas entradas da cidade e as TE saíram arbitrariamente dos quarteis, percorrendo as ruas da cidade em jipes, que N’Zita dizia terem sido oferecidos por Mobutu.

Duas semanas depois na reunião com Easum, Mobutu defendeu que a desanexação seria a solução lógica.

O Ruanda e o Burundi também se tinham tornado países autónomos com o fim do império belga – eram dois maus exemplos pois tinham incentivado a guerrilha secessionista no Catanga.

Para Easum, Mobutu referiu-se-lhes como dois precedentes relevantes – se esses dois países se tornaram independentes com a saída dos belgas, era legítimo que o mesmo sucedesse a Cabinda, com a partida dos portugueses.

Apesar de só existirem 85.000 cabindas no enclave, a sua reduzida dimensão geográfica e populacional não deveria constituir impedimento à autodeterminação pois existiam muitos outros microestados em várias partes do mundo – as Seychelles, o Luxemburgo, o Mónaco, etc.

No final de Outubro, as FAPLA sitiaram a cidade perante a resistência oferecida pela FLEC.

No dia 31, civis e Tropas Especiais da FLEC manifestaram-se em protesto contra a eventual concessão de maiores facilidades ao MPLA.

No dia seguinte foram montadas barricadas, o aeroporto foi ocupado e ocorreram confrontos.

Colocado em Cabinda em Outubro de 1973, Manuel Figueiras recordou que um ano depois coube à sua companhia receber todo o pessoal do MPLA que, por determinação de Luanda, passou a bivacar no Dinge e a receber inclusive alimentação do nosso rancho.

Por ter travado amizade com soldados do MPLA passou a saber o que fazia N’Dozi, comandante dos quase 200 angolanos que lá estavam.

Quando em finais de Outubro constou que N’Dozi ia a Luanda, disse ao governador que algo estranho parecia preparar-se.

O comandante das FAPLA poderia ir buscar armas ou mais homen; Themudo Barata ordenou que dois grupos de combate avançassem para a cidade de Cabinda.

No dia 29 de Outubro soube que a FLEC estava a ser atacad por uma coluna mistade militares prtuguesese guerrilheiros do MPLA comandados por capitães do batalhão do Dinge.

Segundo o Director da Gulf Oil, nos confrontos da noite de 31 de Outubro tinham rebentado granadas e morteiros.

Na manhã seguinte, os manifestantes cujo número aringia já algumas centenas, bloqueavam as principais entradas da cidade, revistaram automóveis em busca de armas e impediram os negros de entrarem e saírem da cidade que teve o efeito de uma greve geral.

Oficiais e subalternos da guarnição militar de Belize tinham-se sublevado contra o Comando por facilitar a actividade política da FLEC.

Uma companhia de infantaria das FAPLA e outra de artilharia tinham ocupado a PSP e os acessos ao Congo.

Em 2 de Novembro uma força do MPLA em colaboração com efectivos do Exército (metropolitano) ocupou as posições-chave.

O governador e comandante militar e alguns oficiais superiores ficaram detidos.

O Comando do Sector Militar foi assumido pelo tenente-coronel Oliveira, comandante do batalhão de Belize, enquanto o capitão Castro informava que o Estado-Maior e o brigadeiro Themudo Barata tinham sido depostos do Comando por vontade dos sublevados.

Foi quando o capitão Maneta colocou todas as viaturas da companhia de intendência à disposição dos civis que pretendessem deslocar-se para as áreas libertadas do MPLA”…

O brigadeiro Themudo Barata pelo seu critério e actuação, bem se pode considerar inspirador (se não mentor ideológico)de uma personagem que surgiria já no início do século XXI: o padre Congo!

Entre a deposição do general António Spínola e o exercício pleno do Presidente Mobutu ao assumir as rédeas da “colecção de órfãos”, o episódio de Cabinda foi jogado até ao fim numa tentativa de, mesmo sem fazer parte dos acordos de descolonização, a FLEC, à revelia do carácter do próprio MFA, assumir grátis o controlo daquele território, parte integrante de Angola!

As transformações “de última hora” em Cabinda, ao não ser possível concretizar um objectivo dessa natureza com o etno-nacionalismo que foi criado com a participação de autoria das autoridades coloniais, contribuíram para motivar a cartada final de Mobutu, o instrumento da CIA “preparado” para a batalha decisiva que se iria travar naquele território, (tal como na direcção de Quifangondo)!...

Martinho Júnior - Luanda, 13 de Novembro de 2017

Imagens:
Caetano, Spínola e Mobutu;
Panfleto da “a-psic”;
Contra-Insurreição em África – 1961 – 1974, o modo português de fazer a guerra;
Tenente-General Manuel Freire Themudo Barata, na passagem por Cabinda tinha a patente de brigadeiro (já falecido);
Segredos da descolonização de Angola.

Consultas de Martinho Júnior:
A liberdade que se alcançou está sedenta de amor e de vida – http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/11/angola-liberdade-que-se-alcancou-esta.html
Os conflitos contemporâneos na África Sub Sahariana – http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/08/os-conflitos-contemporaneos-na-africa.html

A consultar:
Mobilização de efectivos locais – http://www.guerracolonial.org/index.php?content=130
A desmobilização dos combatentes africanos das Forças Armadas Portuguesas da Guerra Colonial (1961-1974) – https://lerhistoria.revues.org/484
Forças irregulares portuguesas na Guerra do Ultramar – https://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7as_irregulares_portuguesas_na_Guerra_do_Ultramar
Tropa de elite portuguesa em África – https://www.youtube.com/watch?v=txPEyrS5dmA
Os Cabindas – Angola 1966, Guerra do Ultramar – Colonial – https://www.youtube.com/watch?v=dHKTW_EdjGc
Organização Provincial de Voluntários da Defesa Civil de Angola (OPVDCA) – https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_provincial_de_volunt%C3%A1rios_e_defesa_civil
COOPERAÇÃO CIVIL MILITAR NA CONTRA INSURREIÇÃO: LESTE DE ANGOLA, 1971 1973 – HTTPS://WWW.REVISTAMILITAR.PT/ARTIGO.PHP?ART_ID=467
SCCIA, Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Angola, (http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4311435)
Tenente-General Manuel Freire Themudo Barata (à época Brigadeiro) –  https://www.publico.pt/1999/01/10/jornal/themudo-barata-80-anos-o-culto-do-patriotismo-122877
Themudo Barata – ligação à FLEC – http://www.cabinda.net/ThemudoBarata.htm
Segredos da descolonização de Angola – toda a verdade sobre o maior tabu da presença portuguesa em África

A consultar:
Mobilização de efectivos locais – http://www.guerracolonial.org/index.php?content=130
A desmobilização dos combatentes africanos das Forças Armadas Portuguesas da Guerra Colonial (1961-1974) – https://lerhistoria.revues.org/484
Forças irregulares portuguesas na Guerra do Ultramar – https://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7as_irregulares_portuguesas_na_Guerra_do_Ultramar
Tropa de elite portuguesa em África – https://www.youtube.com/watch?v=txPEyrS5dmA
Os Cabindas – Angola 1966, Guerra do Ultramar – Colonial – https://www.youtube.com/watch?v=dHKTW_EdjGc
Organização Provincial de Voluntários da Defesa Civil de Angola (OPVDCA) – https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_provincial_de_volunt%C3%A1rios_e_defesa_civil
COOPERAÇÃO CIVIL MILITAR NA CONTRA INSURREIÇÃO: LESTE DE ANGOLA, 1971 1973 – HTTPS://WWW.REVISTAMILITAR.PT/ARTIGO.PHP?ART_ID=467
SCCIA, Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Angola, (http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4311435)
Tenente-General Manuel Freire Themudo Barata (à época Brigadeiro) –  https://www.publico.pt/1999/01/10/jornal/themudo-barata-80-anos-o-culto-do-patriotismo-122877
Themudo Barata – ligação à FLEC – http://www.cabinda.net/ThemudoBarata.htm
Entrevista ao general Leonel Cardoso e ao coronel Amaro Bernardo – http://santeiro.blogspot.com/2008/05/os-bravos-do-peloto-wwwportugalcluborg.html
Por que não conquistamos Luanda – http://jornalf8.net/2017/nao-conquistamos-luanda/
“História de Cabinda” – http://www.cabinda.org/historia.htm
 Discutir Angola com que sensibilidades? – http://www.centrodehistoria-flul.com/congressoangola.html
O papel do 25 de Novembro de 1975 na "amnistia" dos PIDES... Cada vez há mais elementos de vária ordem que essa foi uma decisão premeditada!... De onde vem e quem faz a "guerra psicológica" que Angola tem sofrido ao longo dos anos a partir de Portugal?... - http://www.dw.com/pt-002/historiadora-defende-comiss%C3%A3o-da-verdade-para-esclarecer-crimes-coloniais-em-%C3%A1frica/a-41159651
Que "história de Angola", com este tipo de "caixas de ressonância"?... - https://www.facebook.com/jornalfolha8/posts/1106682132765548 

Sem comentários:

Mais lidas da semana