Grupo de advogados acusa alguns
magistrados da Guiné-Bissau de estarem a mandar prender cidadãos sem indício de
crimes para depois negociarem a sua libertação. Ministério Público promete
analisar denúncias.
Quatro advogados guineenses
denunciaram esta terça-feira (20.03) a existência de uma alegada rede criminosa
no interior do Ministério Público. Alguns magistrados estariam a mandar prender
cidadãos sem indícios de crimes para depois negociar a sua libertação a troco
de dinheiro, segundo a acusação.
O advogado Fernando Gomes, antigo
ministro da Função Pública, referiu em conferência de imprensa que já houve
vários casos de cidadãos alegadamente vítimas de abuso de poder.
"Alguns magistrados que
tornaram essa prática num modo de vida", afirmou Gomes. "Mandam
cidadãos para cadeia e depois negoceiam a libertação, sem nenhum indício de
crime. Ou seja, é um tipo de associação criminosa criada por alguns
magistrados."
Frente contra corrupção na
Justiça
O grupo de advogados anunciou
ainda a criação da Frente Nacional de Luta Contra a Corrupção no Poder Judicial
para defender os direitos fundamentais dos cidadãos.
O advogado Fernando Gomes
considera inadmissível que membros da Justiça se envolvam em práticas de
corrupção.
"Ouvimos discursos em que
quase todos reconhecem que, de facto, existem casos de corrupção no aparelho
judicial da Guiné-Bissau", disse Gomes. "Muitos advogados queixam-se
de casos de corrupção praticados por alguns magistrados do Ministério Público.
E o que é que se fez? Nada. Nenhum magistrado é processado, julgado ou levado
às barras da Justiça. Então, entendemos que temos que fazer algo, apesar dos
riscos que corremos."
Apelo a "limpeza" no
Ministério Público
Ao tomar posse, em novembro de
2017, o Procurador-Geral da República da Guiné-Bissau, Bacari Biai,
manifestou-se determinado em combater a corrupção no aparelho de Estado,
"doa a quem doer".
Mas o advogado Vítor Mbana
entende que o procurador devia começar pelo próprio Ministério Público:
"Queremos que comece a lavar a própria casa, para que os delegados do
Ministério Público possam ficar 'limpos' e avancem para a perseguição dos
outros."
Contactado pela DW África, o
Ministério Público prometeu que vai analisar as denúncias do grupo de advogados
e só depois se pronunciará oficialmente sobre o assunto.
Braima Darame (Bissau) | Deutsche
Welle
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