Associação da Guiné-Bissau
denuncia que "centenas de crianças" estão a faltar às aulas para ir
às barracas de circuncisão e pede ao Estado para agir. Responsável por
circuncisão diz que ritual "não pode" ser adiado.
Centenas de crianças estão a sair
das suas casas para realizar o ritual de circuncisão. Ao invés de ir à escola,
seguem o caminho das barracas, locais no mato onde o ritual é realizado.
Segundo a Associação de Amigos da
Criança (AMIC) da Guiné-Bissau, há pelo menos dois locais nos arredores de
Bissau onde estão a ser realizadas circuncisões, alegadamente sem a autorização
do Governo.
Fernando Cá, administrador da
AMIC, diz não compreender como, em plena época das aulas, as autoridades ficam
em silêncio ao ver passar nas ruas de Bissau crianças que vão para as barracas
perto do mar, acompanhadas de familiares e amigos.
"Apesar de estarmos num país
em que o Governo é fraco, antes de praticar qualquer coisa dessa natureza, os
pretendentes têm de ter autorização prévia da entidade competente. Neste
momento, na barraca já há cerca de 400 a 500 crianças, que obviamente
abandonaram a escola e foram para o ritual", afirma.
Ritual "não pode" ser
adiado
Em entrevista à DW África, um dos
responsáveis pela circuncisão garante que informou as autoridades. Lufundam Cá
diz que não pode adiar o ritual.
"Tudo isso tem a ver com
Irã, a força divina. Quando chega o ano de praticar o fanado [ritual da
circuncisão], não podes adiar. Realizamos sempre a circuncisão de
fevereiro até maio, antes da época das chuvas. Fui ao Ministério do
Interior dar conhecimento às autoridades do país", justifica.
Lufundam Cá frisa que nunca
forçou as crianças a sair de casa dos pais: "Nunca peguei ninguém na mão
para levar à barraca. Peço-lhes apenas os números dos telefones dos pais,
para informar. Não sei se vão à escola ou se são analfabetos como eu. Acho que
os pais é que devem controlar seus filhos em casa. Mas quem vier até aqui, não
posso fazer nada", adverte.
Cá cita a lei da barraca, que
prescreve que, uma vez no local, as crianças têm de fazer o ritual da
circuncisão.
A AMIC observa, no entanto, que é
preciso que o Governo crie leis sobre o período de realização do ritual, a
fim de evitar faltas na escolas. A associação pede ainda o envolvimento
das autoridades na problemática da circuncisão, tal como fez em relação à
questão da excisão genital feminina, oficialmente criminalizada na Guiné-Bissau
desde 2011.
Contactado pela DW África, o
Governo não quis comentar o assunto.
Braima Darame (Bissau), Agência
Lusa | Deutsche Welle
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