Há semana e meia, quando se
cumpriram dois anos sobre a tomada de posse de Marcelo como presidente da
República, Bernardo Ferrão questionava no «Expresso» se ele já conquistara um
ligar na História. A pergunta era parva e condizia com quem a formulava, porque,
olhando para este tempo de mandato podemo-nos questionar o que já contribuiu
Marcelo para que os portugueses vivam hoje melhor do que quando preparava
ativamente a sua conquista do poleiro através das suas charlas dominicais na
TVI? Propôs ou decidiu algo nesse sentido? Saiu da sua cabeça alguma proposta
ou projeto, que a desocupasse das suas costumeiras elucubrações invariavelmente
traduzidas em intrigas contra quem elege, no íntimo, como inimigos de estimação?
Se o PIB cresce, contam-se menos
desempregados e o rendimento médio sobe, apenas se deve à boa governação da
equipa de António Costa e ao apoio dos partidos das esquerdas parlamentares.
Para além de selfies e
abraços, que papel tem sido o de Marcelo? Há substância consistente, que negue
a volatilidade da frenética atividade mediática a que se entrega com a noção de
ser a única com que poderá enganar os incautos, garantindo-lhe aprovações
amplamente maioritárias?
E, no entanto, se o embaixador
Seixas da Costa formulava o desejo de ver “o segundo presidente civil oriundo
da direita política” a usar “da sua autoridade para ajudar esse mesmo
setor a distanciar-se do regime que vigorou até 1974”, ele demonstraria não ser
esse o seu objetivo, quando assinou uma deplorável nota a respeito da morte de
Varela Gomes.
Dias atrás apostei com um casal
amigo em como ele não se atreverá a concorrer a um segundo mandato se o PS
conseguir a maioria absoluta nas legislativas. O orgulho não lhe permitirá
ver-se reduzido à função de corta-fitas sem ter o veneno do escorpião, que
gosta de destilar tão só a ocasião se lhe proporcione. Não tenha ele continuado
a fazer mais do que o até aqui produzido e que terá a História para registar
sobre a sua passagem por Belém? Much ado for nothing, como Shakespeare
intitulou uma das suas mais singulares comédias.
Publicada por jorge rocha | em Ventos Semeados
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