Quando se quiser perspetivar a
diferença entre um governo de direita e um de esquerda, o exemplo do Hospital
do Senhor do Bonfim, em Vila do Conde, pode ser dado como elucidativo.
Inaugurado há três anos trata-se de uma instituição privada pertencente ao empresário
Manuel Agonia, que se veio agora queixar do risco de o fechar, por não estarem
a ser cumpridas as promessas de financiamento das suas atividades pelo governo
anterior.
A lógica desse investidor é a
comum à da maioria dos que mostram a sua veia empreendedora segundo a regra de
ver os investimentos beneficiados com lucros só para os próprios, porque
havendo prejuízos, deverão ser «democraticamente» distribuídos pelos
contribuintes através dos subsídios estatais.
Para o patrão de tal Hospital de
pouco importa que os clientes pagantes não sejam suficientes para lhe
garantirem os almejados proventos. A culpa está em quem deveria canalizar
recursos do Serviço Nacional de Saúde para que essas expetativas se cumprissem.
Já não é só o célebre raciocínio de um histórico dirigente do CDS para o qual
«quem queria saúde teria de a pagar», porque o cabisbaixo queixoso considera
que deverá ser o Estado a colmatar-lhe os prejuízos do seu azarado investimento.
Mas, voltando ao início, teremos
dúvidas em que, se Passos Coelho tivesse continuado à frente dos destinos do
país esse Hospital apresentaria lautos proveitos ao seu proprietário? Não
aconteceria assim com outros Agonias, que apostariam em negociatas semelhantes
em que parecendo oferecer um chouriço às respetivas comunidades, teriam a
certeza de, através de governo amigo, conseguirem ficar com o porco todo?
Publicada por jorge rocha em Ventos Semeados
À margem
“Somos todos irmãos perante Deus,
mas tão diferentes. Deus a mim beneficiou-me, mas na óptica de outros
castigou-me porque eu sou escravo do trabalho. Começo a trabalhar às 6 da
manhã. Nunca ninguém me viu sentado num café na terra onde nasci, Póvoa de Varzim,
que gosto muito. Nunca ninguém me viu sentado na mesa dum café a vida inteira.” Manuel
Agonia em declarações a uma rádio local.
"O Manuel Fominha", por título | em
Crónicas Varzim
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