O caso Feliciano Barreiras Duarte
(FBD) é um exemplo de como algum jornalismo se deixou capturar por
interesses alheios à função de informar com rigor e isenção.
FBD foi secretário de Estado do
governo de Passos Coelho durante vários anos e nunca ninguém se lembrou de
analisar o seu currículo, do qual constavam já os elementos falsos, nem de
verificar a informação sobre a sua morada que não era no Bombarral como declarou
ao Parlamento.
Como outros já escreverem aqui e aqui,
até FBD ser escolhido por Rui Rio como secretário-geral do PSD, nenhum
órgão de comunicação social se lembrou de investigar o seu currículo académico
nem a veracidade das informações prestadas sobre o seu local de residência.
Bastou porém que Rui Rio fosse eleito como secretário-geral do PSD para que
o semanário
Sol e o jornal electrónico Observador, assumidamente
críticos da liderança de Rui Rio, trouxessem a público os dados que agora se
conhecem sobre as irregularidades cometidas por FBD.
É evidente que a divulgação das
irregularidades praticadas por FBD faz parte do escrutínio dos agentes
políticos que cabe ao jornalismo fazer. É porém legítimo perguntar porque razão
não foram divulgadas antes, quando FBD era membro do governo de Passos
Coelho, já que ser secretário-geral de um partido não é mais relevante do que
ser membro do governo.
A conclusão é óbvia: FBD foi
“protegido” enquanto foi membro do governo de Passos Coelho e deixou de o
ser quando se tornou secretário-geral com Rui Rio na liderança do partido .
Continuasse Passos a ser líder do partido e FBD teria escapado ao escrutínio do
Sol e do Observador.
Ao contrário do que se
escreve aqui, não
é irrelevante que um jornalista se questione sobre os objectivos de uma
fonte que, sob anonimato, lhe fornece uma informação que foi
convenientemente escondida durante anos, apesar de o visado ser há muito
um político conhecido. Independentemente da veracidade da informação que lhe é
oferecida, ao aceitar divulgá-la omitindo a fonte o jornalista está
objectivamente a servir os interesses obscuros dessa fonte que no caso de FBD
são óbvios, isto é, criar dificuldades ao novo líder do PSD.
Tivessem o Sol e o Observador
explicado porque só agora na liderança de Rui Rio divulgaram as irregularidades
de FBD e teriam agido com transparência. Não o tendo feito, nem tendo
identificado a fonte que os conduziu à “descoberta” das falcatruas de FBD,
prestaram-se um “servicinho” aos adversários de Rui Rio.
Aliás, do ponto de vista
jornalístico não sei o que seria mais bombástico: saber que FBD
falsificou o currículo ou conhecer quem o quis tramar e a Rui Rio. Agora que a
primeira “bomba” produziu efeitos, seria interessante despoletar a segunda:
“quem tramou Rui Rio?”
Estrela Serrano | em Vai e Vem
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