Poucas alternativas restam ao
Governo nas negociações com detentores das dívidas públicas, diz economista.
Mas outro economista não vê motivos para alarido na rejeição da proposta de reestruturação
feita por Maputo.
Os detentores das dívidas
públicas, que envolvem empréstimos ocultos contraídos com o aval do Governo
para empresas do Estado entre 2013 e 2014, rejeitaram a proposta de
reestruturação apresentada pelo Governo Moçambicano.
Para o Grupo Global de Detentores
de Títulos de Dívida de Moçambique, que detém mais de 80% da dívida, a proposta
não serve para início de conversa. Maputo propôs um perdão de 50% da dívida
atrasada, ou seja, 318 dos 636 milhões de dólares de dívida que já devia ter
sido paga.
Face ao arranque pouco auspicioso
das negociações, que alternativas restam ao Governo moçambicano?
Muzila Nhansal é economista
moçambicano e distancia-se de posições alarmistas: "Não acredito que seja
um fracasso, trata-se de uma proposta apresentada pelo Governo, o que é muito
normal quando se trata de negociação de dívida, em função daquilo que devia ser
a sua capacidade de poder honrar com o compromisso. Os detentores das dívidas
não aceitaram, estão no seu direito."
Sem o FMI nada feito
Já o economista Alfredo Mondlane,
igualmente convidado a comentar sobre possíveis saídas para o Governo,
apresenta várias hipóteses, mas sublinhando sempre que o sucesso de qualquer
negociação neste caso está sujeito a uma condicionante: "A curto prazo não
nos restam grandes alternativas na medida em que esta rejeição deriva de um
fator: a não existência de um alinhamento entre o Governo moçambicano e o FMI.
Repare que estes investidores só compraram esta dívida porque o FMI foi aos
mercados e disse que Moçambique era um país ideal para se investir. Enquanto o
FMI não der o aval, esta negociação nunca vai passar."
E o economista entende ainda que
"outra alternativa é o Governo trabalhar internamente em reformas fiscais.
Resta ao Governo acelerar o processo de liquidação dessas empresas. A outra
alternativa é acelerar as reformas económicas para melhorar o ambiente de
negócios."
E o bom nome de Moçambique onde
fica?
E quem está a torcer para para
que este mau começo negocial não representasse um revés para Moçambique é
Muzila Nhansal.
O economista gostaria de ver
minimizadas as suas consequências negativas: "Espero que esta notícia não
agite os mercados e que não se faça disso um alarido no sentido de se querer
agitar mercados e que depois venham aqui desaguar em desvalorização da moeda e
andar a pôr o nosso nome [Moçambique] em questão."
Possibilidade de rebaixamento a
categoria de "lixo"
Mas o economista Alfredo Mondlane
pauta por uma posição oposta, preferindo já apontar as prováveis consequências
negativas de curto prazo relativas à falta de entendimento.
"Depois deste fracasso os
mercados serão mais céticos ainda em relação a Moçambique. Dentro de uma ou
duas semanas, as agências internacionais vão fazer um downgrade (rebaixamento)
de Moçambique, colocando o país na categoria de lixo, que é a última, porque
com o ligeiro crescimento dos indicadores económicos o outlook de
Moçambique era negativo com perspetivas boas", advinha Mondlane.
Gás, a aposta de risco
Entretanto, Moçambique parece
insistir em apostas de grande risco. Em Londres, o Governo propôs ainda uma
espécie de suavização das prestações das dívidas nos próximos anos, aceitando
pagar mais no final de cada período, de 10 ou 16 anos, contando com as receitas
do gás natural, que deverão ser uma realidade a partir de 2022.
Para o economista "isto não
é nada mais nada menos do que rolar a dívida, quer dizer, pegar numa dívida e
financiar com outra dívida de longo prazo com maior custo."
Alfredo Mondlane fala dos efeitos
em cadeia desse tipo de cartadas: "O primeiro problema que temos é este, é
que esta dívida primeiro vai nos custar mais ainda. O segundo ponto é que as
fontes de receitas que esperamos arrecadar para fazer face a dívida são
muito empoladas, dependem do preço das commodities no mercado
internacional, vai depender muito do gás e carvão."
"E a possibilidade dos
preços das commodities estarem em baixo e não gerarem as receitas
suficientes é maior e considerando também que temos a mudança da matriz
energética mundial que vai mudar para as energias renováveis", sublinha o
economista.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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